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CAPÍTULO 3 – OBJETIVOS E METODOLOGIA

3.2 Abordagem e tipo de pesquisa

Assim como Alves-Mazzottti e Gewandsznajder (2004), entendemos que não há um modelo único para se construir conhecimentos confiáveis nas ciências sociais, bem como não há modelos “bons” ou “maus” em si mesmos, e sim modelos adequados ou inadequados ao

que se pretende investigar. Esses autores discutem a existência de três paradigmas de pesquisa em ciências sociais na atualidade: construtivismo social, pós-positivismo e teoria crítica. As principais correntes filosóficas do construtivismo social são a fenomenologia e o relativismo. Esse paradigma baseia-se na interpretação subjetiva dos fenômenos sociais. Adota uma epistemologia subjetivista, pois as realidades existem apenas nas mentes das pessoas; assim os resultados são criados pela interação entre o pesquisador/pesquisado; em sua metodologia, “as construções individuais são provocadas e refinadas através da hermenêutica e confrontadas dialeticamente , com o intuito de gerar mais construções sobre as quais haja um significativo consenso entre os respondentes”, como apontam os autores citados (p. 134).

O pós-positivismo enfatiza o uso do método científico como forma válida de construir conhecimentos confiáveis, com princípios próximos aos das ciências naturais, e para tanto utiliza testes de hipóteses tendo como objetivo a formulação de teorias explicativas de relações causais. Seus adeptos rejeitam a noção positivista de que todos os conceitos teóricos sejam necessariamente traduzidos em termos observacionais. Admitem que teorias que venham a ser adotadas exercem influência na observação dos fenômenos pesquisados. O conceito de objetividade está relacionado a critérios de qualidade e padrões de procedimentos, que não asseguram certeza quanto aos resultados, mas evitam erros grosseiros; é crucial para a objetividade da pesquisa a aceitação da tradição crítica, entendendo que a investigação deve ser o mais possível aberta à análise, à crítica e ao questionamento da comunidade científica. Esse paradigma assume uma epistemologia objetivista-modificada, pois mantém a objetividade como um “ideal regulatório”, mas admite que o pesquisador pode apenas se aproximar dela, contando, para isso, com a tradição crítica e a comunidade crítica. Metodologicamente, pode utilizar uma triangulação que se vale de várias fontes de dados e procurar corrigir desequilíbrios de sua origem por meio de métodos qualitativos e mais teorias fundamentadas.

Por sua vez, na teoria crítica o termo “crítica” tem dois significados diferentes. A crítica interna, significando uma análise rigorosa da argumentação e do método, e nisso se aproximam dos pós-positivistas. Mas destacam que as regras e os padrões da metodologia científica são historicamente construídos e vinculados a valores sociais e a relações políticas específicas. O segundo sentido da palavra crítica trata da ênfase dada à análise das condições de regulação social, desigualdade e poder. Dessa forma, os teóricos-críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da sociedade. O sentido da pesquisa é fazer com os sujeitos atinjam o nível da consciência verdadeira, necessária à transformação do mundo. A

epistemologia é subjetivista, pois os valores do pesquisador estão presentes na escolha do problema e em todo o processo de investigação; a metodologia é dialógica, transformadora.

O método utilizado na presente pesquisa considerou a coexistência desses dois últimos paradigmas: o pós-positivismo e a teoria crítica, tomando emprestado alguns aspectos destes. Nesse sentido, buscamos estabelecer critérios e procedimentos de qualidade para a investigação e análise das fontes de dados e informações, bem como partimos do entendimento de que a pesquisa está inserida em um contexto social e tem importância na transformação dessa realidade.

Considerando a classificação dos tipos de pesquisa conforme seus objetivos, elaborada por Gil (2007), nossa investigação foi em parte do tipo descritiva e em parte do tipo explicativa. Pesquisas do primeiro tipo têm como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Dentre as pesquisas descritivas, destacamos as que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, opiniões, atitudes, crenças etc. As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. São também as mais solicitadas por organizações como instituições educacionais, empresas comerciais, partidos políticos etc.

Pesquisas explicativas, segundo o autor, têm como finalidade precípua identificar e analisar fatores que contribuem para a ocorrência de fenômenos. Em nossa pesquisa, as entrevistas realizadas com dirigentes tiveram como uma de suas finalidades identificar quais foram os principais problemas que ocorreram na concepção e implantação dos novos campi, bem como entender quais seriam os fatores que teriam contribuído para esses problemas e respectivos desafios. De modo análogo, em nossa investigação, a análise quantitativa dos dados obtidos buscou identificar e discutir fatores (ou variáveis) que diferenciam entre alunos de cursos dos novos campi e estudantes de cursos análogos no campus Darcy Ribeiro e, em que medida, esses fatores contribuiriam ou não para a democratização do acesso à UnB.

Quanto aos procedimentos de coleta de dados, essa pesquisa foi mista, de caráter qualitativo e quantitativo, em virtude da proposta de objetivos elencados na investigação. O objetivo explicitado na alínea “a” exigiu uma abordagem qualitativa, enquanto que o objetivo discriminado na alínea “b” demandou, prioritariamente, uma perspectiva quantitativa de análise. Portanto, esta se caracterizou como qualitativa, posto que foram utilizadas entrevistas

individuais semiestruturadas, e como quantitativa, pelo emprego da quantificação tanto na coleta quanto no tratamento dos dados.