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CAPÍTULO 1 – ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

1.5 Novos direcionamentos na política de educação superior

Nos dois mandatos do governo Lula [Luís Inácio Lula da Silva] – 2003 a 2010 –, numa perspectiva mais voltada aos problemas sociais, o Estado voltou-se à implantação de políticas públicas de fortalecimento da educação básica e democratização do acesso à educação superior pública, a despeito de algumas contradições apontadas em Sousa (2009 e 2013). Verificaram-se expansão das vagas públicas e interiorização de campi universitários, diversificação da oferta com a criação de cursos a distância e institutos de formação técnica e tecnológica; concessão de bolsas de estudo e financiamento estudantil em instituições privadas. Além do mais, foi incentivada a criação de cursos noturnos e de formação de professores; e observaram-se modificações no processo seletivo das universidades com implantação de reservas de vagas ou bonificação para negros e ou estudantes de baixa renda, isenção de taxas e, mais recentemente, o sistema integrado de seleção com a utilização de notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Sisu).

No início do governo Lula da Silva, a política de educação superior esteve voltada à criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e à formulação da proposta de Reforma da Educação Superior por meio do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), que visava ao desenvolvimento, à reestruturação e à democratização das IFES. O SINAES foi regulamentado pela Lei n. 10.861, de 15.04.2004, que “ampliou a dimensão avaliativa do Exame Nacional de Cursos (ENC) incorporando a autoavaliação das instituições, a avaliação externa e um programa de verificação das condições de oferta de ensino, da pesquisa e da extensão” (DANTAS; SOUSA JUNIOR, 2009, p. 7).

O projeto de reforma foi amplamente debatido por gestores, parlamentares e a comunidade. Em 2004, publicou-se a primeira versão com os seguintes temas: autonomia e financiamento; acesso e permanência; estrutura e gestão; conteúdos e programas; e avaliação. Somente em 2006 foi apresentado o Projeto de Lei (PL) n. 7.200/2006 ao Congresso Nacional, onde ainda encontra-se em tramitação. A reforma não foi aprovada de imediato; diante disso, o governo federal valeu-se de “pequenas reformas” para efetivar as políticas direcionadas à educação superior.

As principais políticas educacionais implantadas e/ou em processo de implantação com o intuito de democratizar o acesso são o Programa de Expansão e Interiorização das IFES (2004 – 2010); a Universidade Aberta do Brasil (UAB); o Programa Universidade para Todos (ProUni); o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni); O

Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES); a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET). Em relação ao processo seletivo, intensificaram-se a adoção de políticas de cotas sociais ou raciais e a implantação do Sistema de Seleção Unificada (SISU). Somam-se a essas ações dois projetos de lei: o Projeto de Lei da Reforma da Educação Superior e o Projeto de Lei n. 3.627/2004, que propõe a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e minorias étnicas nas universidades federais, aprovado e transformado em Lei n. 12.711 em 29 de setembro de 2012.

Em relação à política de educação superior, embora o governo não tenha desconsiderado o mercado para a manutenção da economia, houve busca pela quebra de paradigmas – estratégia que se refletiu nas políticas de educação superior, como relataram Dantas e Sousa Junior (2009). As ações propostas resultaram em aumento do orçamento das IFES, expansão de universidades e campi universitários, recomposição e incremento do quadro de docentes e técnicos administrativos e aumento salarial.

Em relação ao financiamento, um dos objetivos do novo governo era elevar o valor do PIB gasto em educação, de modo que a partir de 2006 foi possível perceber aumento no recurso destinado às IFES em relação ao PIB (AMARAL, 2008). Os recursos do tesouro nacional destinados às instituições federais de ensino, após apresentarem queda constante na década de 1990, voltaram a sinalizar crescimento nos anos de 2004 e 2006, considerando que parte dos recursos foi dirigida ao financiamento da expansão das IFES (AMARAL, 2008). Todavia, conforme esse autor, o orçamento precisaria continuar aumentando para cumprir com as metas estipuladas no Plano Nacional de Educação, por exemplo, atender 30% dos jovens de 18 a 24 anos na educação superior. Considerando que a inclusão de alunos no setor privado já está comprometida em função da renda per capita das famílias brasileiras, uma das soluções seria investir na educação superior pública, bem como em financiamentos para estudantes da educação superior.

Amaral (2010) realizou estudo sobre as projeções de financiamento das IFES entre 2011 e 2021 necessárias para atender as seguintes metas: a) expandir a oferta de educação superior (ES) para atender 30% dos jovens com idade entre 18 a 24 anos19; b) expandir a educação superior para que 40% das matrículas estejam nas instituições públicas; e c) elevar o volume de recursos financeiros aplicados em educação para se atingir o patamar de 10% do

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Em 2009, o Brasil atingiu os percentuais de 26,7% e 14,4% de escolarização bruta e líquida na educação superior, considerando a faixa etária de 18 a 24 anos (INEP, 2012).

PIB. Essas metas fariam parte do novo PNE (2011-2021), a ser aprovado pelo Congresso Nacional. O autor simulou o quantitativo de jovens entre 18 a 24 anos com base nas simulações de crescimento da população realizadas pelo IBGE. A partir dessa análise, simulou o quantitativo de vagas e matrículas nas IFES, bem como o de recursos necessários para atender essa meta. A conclusão foi de que o orçamento necessário para atender 30% dos jovens entre 18 a 24 anos e 40% das matrículas da educação superior no setor público é compatível com a meta de investimento de 10% do PIB em educação.

Vale ressaltar que os investimentos em educação alcançaram 6,1% do PIB em 2011, de acordo com dados divulgados no sítio do MEC. Por sua vez, o Projeto de Lei n. 8.035/2010 – “aprova o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 e dá outras providências” –, que deveria estar em vigor desde 2010, foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2012; este tem como meta o investimento de 10% do PIB brasileiro em educação e, ainda, de elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de dezoito a vinte e quatro anos, assegurando a qualidade da oferta. No entanto, o referido PL ainda necessita de aprovação do Senado Federal, além da sanção do Presidente da República para entrar em vigor.

Em relação à diversificação institucional, no Governo Lula destacaram-se a criação e a expansão de cursos tecnológicos públicos, como mencionado. Essa ampliação está acontecendo mediante a criação de 38 Institutos Federais de Ciência e Tecnologia (IFET) – instituições federais que ofertam cursos de ensino médio integrado, cursos superiores de tecnologia e licenciaturas, voltados ao desenvolvimento tecnológico e à formação profissional. Consultando os dados do INEP, percebe-se que nesse segmento houve um aumento significativo das matrículas na educação superior, de quase quatro vezes. Porém, esse segmento representa pouco mais de 5% do total de matrículas das instituições públicas, representando um ganho modesto na democratização do acesso à educação superior, como conclui Velloso (2011).

Como vimos, no governo Lula houve reorientação da política educacional, com algum fortalecimento do sistema público, especialmente das universidades federais. A partir de 2003, entrou em curso uma série de políticas de expansão e financiamento voltadas à democratização do acesso e à inclusão de grupos sociais e étnicos pouco representados entre os estudantes de cursos superiores. Contudo, a despeito dos avanços constatados por diversos pesquisadores no financiamento e expansão da IFES, estas ainda enfrentam muitos desafios e contradições: a taxa de escolarização, apesar de ter aumentado, é aquém da meta e o sistema enfrenta o desafio de dar continuidade à expansão – garantindo financiamento adequado e

qualidade –, preocupações explicitadas por Sousa (2013). Ademais, não observou-se nas politicas de expansão adotadas uma proposta clara de diversificação das instituições, conservando instituições de pesquisa de ponta e fortalecendo as atividades de ensino e formação tecnológica.