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3. DISCUSSÃO DOS CONCEITOS QUE PERMITIRAM ANALISAR A

3.4 DESENVOLVIMENTO

3.4.2 Abordagens funcionais: Do Distrito Industrial ao Cluster

Outro bloco teórico na interpretação do desenvolvimento do ponto de vista das experiências recolhidas em nível mundial refere-se à Terceira Itália, onde o surgimento de um modelo de desenvolvimento ancorado nas pequenas empresas organizada no chamado distrito industrial, teve sua síntese realizada por autores como Piore e Sabel (1987), Garofolli (1994), Putnam (1993) e Becattini (1987, 2002). apresenta coesão analítica, proveniente dos estudos oriundos das aglomerações produtivas tradicionais de pequenas e médias empresas localizadas na Região Centro-Oriental da Itália34.

Em linhas gerais o conceito de Distrito Industrial concebido como um sistema sócio territorial delimitado historicamente traz subjacente vários atributos os quais interagem como determinantes sociais, culturais, políticos e econômicos, e se influenciam no desenvolvimento de uma cultura comunitária facilitando a sinergia entre agentes locais. O sistema de valores locais (e regionais) criado, é fundamental na gestação dos resultados obtidos por tais distritos, corroborando a afirmação de que a nova ordem não revaloriza qualquer território como simples espaço físico, mas sim, o conjunto social nele localizado graças a especialização flexível (PIORE, SABEL; 1987).

Para Piore e Sabel não existe uma trilha tecnológica determinada para as sociedades. A escolha de um paradigma tecnológico é feita para um longo período a partir de momentos específicos, e determinada por circunstâncias históricas peculiares, além de depender diretamente da forma como o poder e a riqueza estão divididos na sociedade. Os detentores dos recursos, que acabam tendo o real poder de decisão ante a sociedade, escolhem como paradigma aquele mais favorável para a manutenção do status-quo, o que nem sempre é o mais eficiente em termos produtivos e o melhor em termos sociais. (MARCH, OLSEN, 1997b).

Putnam (1993) aprofunda a visão do capital social na Terceira Itália, apontando que as regiões que tiveram maior cultura associativa, expressa em uma “comunidade

34 A região da Terceira Itália, engloba as seguintes microrregiões: Vêneto, Trentino, Friuli-Venezia,

cívica”, se desenvolveram mais rapidamente. Por trás desta associação, entre o grau de associativismo e desenvolvimento econômico, é que um volume grande de informações flui nas relações sociais, muitas vezes com um nível elevado de credibilidade, o que faz com que elas sejam informações altamente eficientes.

Por outro lado, Putnam assegura que a existência de laços de confiança mutua reforça os mecanismos de cooperação entre os membros da comunidade e favorece o desempenho das instituições. Nas relações sociais também são geradas estruturas de relações pessoais que fomentam a credibilidade entre os agentes. O capital social forjado nessas ligações é, por sua vez, muito importante para reduzir os custos de transação na economia e, por conseguinte, fortalecer um círculo virtuoso que contribui para acelerar o desenvolvimento econômico (PUTNAM, 1993)

Portanto, a informação nesta estrutura apresenta maior liquidez dada a interação entre agentes produtores, fornecedores, clientes e instituições) e o intercâmbio de mão de obra entre empresas e entre as várias fases do processo de produção. Isto permite uma atualização contínua dos agentes no relativo a novas tecnologias, produtos, processos, componentes, insumos e técnicas de marketing, comerciais e financeiras, facultando ao setor melhor eficiência produtiva.

Ou seja, o desenvolvimento nos Distritos Industriais Italianos decorre da coordenação das diferentes fases de produção e controle da regularidade dos processos ao interno, ao invés de depender de regras rígidas preestabelecidas e de mecanismos hierárquicos, está submetida ao mesmo tempo ao jogo de mercado e a um sistema de sanções sociais aplicado pela própria comunidade local. Há, assim, um balanço eficiente entre cooperação e competição por intermédio de uma forte concorrência entre empresas que realizam exatamente as mesmas atividades e de uma acentuada colaboração entre empresas que realizam atividades diferentes. (PUTNAM, 1993).

Becattini (1987, 2002), por sua vez, adverte que não se pode considerar os distritos industriais como fruto apenas de heranças culturais ou de condições históricas e naturais. Mais do que isso, é preciso considerar o processo virtuoso de interação dinâmica que envolve a divisão do trabalho, expansão de mercados para os produtos e formação de redes permanentes de relacionamentos entre os distritos e os mercados externos. Neste sentido, o conceito de eficiência coletiva (SCHIMITZ, 1997) e a vantagem competitiva das empresas aglomeradas acabam refletindo os efeitos espontâneos (não-planejados), e aqueles conscientemente buscados (planejados),

sendo, consequentemente, definidos como a vantagem competitiva derivada das economias externas locais e das ações conjuntas deliberadas ou planejadas das empresas e do setor público.

Garofoli (1994) ao aprofundar a discussão sobre o desenvolvimento nos distritos industriais, traz como aporte que a transformação da economia e da sociedade local a favor do desenvolvimento ocorre como consequência de pelo menos três grupos de fenômenos:

i) os fatores externos, que incidem profundamente na estrutura produtiva e social local, como decorrência do estabelecimento de um novo empreendimento (de relativa dimensão) de empresas externas;

ii) Fatores internos (ou locais) que colocam em movimento um processo de transformação da economia local que proporcione uma valorização dos recursos locais no mercado, tal como o aparecimento de um novo empreendimento, a aplicação de conhecimentos técnicos externos a recursos locais específicos;

iii) Reações a mudanças externas (tecnológicas ou organizativas) por meio de projetos de desenvolvimento local, prevalecendo o uso de instrumentos de regulação social e com um processo de valorização de recursos locais que, via de regra, não passam pelo mercado, mas por formas de cooperação e colaboração entre empresas (GAROFOLI, 1994).

As ideias disseminadas do terceiro grupo tem sido as mais debatidas no turismo. M. Porter (1993), representa o outro corpo teórico de importância para explicar o desenvolvimento, vinculado à Escola de Harvard, base de pesquisas do autor, quem afirma que as vantagens competitivas de uma nação no mundo globalizado acabam derivando de um conjunto de fatores locais geograficamente restritos, os quais ao determinarem o desempenho de uma indústria específica arrastam competitivamente atividades correlatas (clientes e/ou fornecedores), através do intercâmbio de informações, de tecnologias e de fatores produtivos, além de estímulos à inovação, da sustentação recíproca da competitividade e dos efeitos de transbordamento (PORTER, 1993). Objetivando tornar mais compreensíveis os condicionantes do desenvolvimento da vantagem competitiva de uma nação, Porter elaborou a Teoria do Diamante, fundamentada em quatro vetores, que ao se

associarem constroem um sistema auto reforçado, uma vez que o efeito de um dos vetores se reflete nos demais vetores, considerando como vetores:

a) as condições de fatores, expressos na disponibilidade de insumos básicos (terra, mão de obra, capital, infraestrutura, recursos naturais e conhecimentos específicos);

b) as condições de demanda, dependentes da disponibilidade de procura local, nacional ou internacional pelo produto; as indústrias relacionadas ou de apoio, vinculadas à presença (ou ausência) de fornecedores com capacidade competitiva internacional;

c) os contextos de estratégia, estrutura e rivalidade das empresas, expressos nas condições que determinam a forma como as firmas são criadas, organizadas e gerenciadas, bem como,

d) a estrutura da competição doméstica.

A teoria dos aglomerados ou clusters de Porter se fundamenta numa visão ampla e dinâmica da competição entre empresas, localidades e nações. Mais do que a escala das empresas individuais, a competitividade é positivamente influenciada pelas interrelações e pelo fortalecimento mútuo, gerados pela proximidade geográfica. Para Porter, embora a globalização torne o acesso aos fatores clássicos de produção cada vez mais facilitados, a vantagem competitiva é determinada pelo conhecimento diferenciado, habilitações desenvolvidas e ritmo de inovação, o que depende por sua vez de pessoal habilitado e do ambiente sócio institucional.

Essas condições sofrem grande influência da localização, pois é a combinação das condições nacionais com as eminentemente locais que estimula a vantagem competitiva. Ou seja, Porter ressalta que as empresas espacialmente concentradas tendem a apresentar um desempenho competitivo superior, porque conseguem obter acesso a serviços e informações que estão disponíveis para os diversos produtores localizados no entorno da concentração.

Assim, nas aglomerações produtivas, chamadas pelo autor também de clusters, se destaca entre outras caraterísticas, o fato de que a coordenação das ações entre os agentes permite a realização de investimentos mais expressivos num contexto mais específico e os projetos coletivos de empresas passam a ganhar maior relevância até mesmo com o apoio do Estado e das instituições de pesquisa, catalisando os recursos de uma economia.

Outro ponto relevante é que o cluster desenvolve-se sobre a vocação regional e pode conter empresas produtoras de produtos finais, verticalizar-se a jusante (com serviços) ou a montante (com fornecedores), além de incluir associações de suporte privadas ou ligadas ao governo (CASAROTTO, 2001, p.381).

Finalmente, como já visto no início deste capítulo, o cluster pode ter um ciclo de vida onde sua trajetória demarca a evolução dos arranjos dentro de um sistema produtivo, que coincidentemente, nos destinos turísticos converge com o desenvolvimento do ciclo de vida dos destinos (ANDERSSON et al, 2004). Assim, um cluster pode ser considerado maduro quando contém vários consórcios ou corresponde a um único consorcio regional, pode no seu início, não conter consorcio algum, onde as relações de parcerias são todas informais, apenas comerciais, ou de negócios (CASAROTTO, 2010, p.381). Assim, enquanto a abordagem de análise de cluster desenhado por Porter busca melhorar a competitividade, a abordagem do desenvolvimento (regional-local) tem por objetivo a qualidade de vida na região.