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3. DISCUSSÃO DOS CONCEITOS QUE PERMITIRAM ANALISAR A

3.5 DESTINOS TURÍSTICOS

O turismo nos destinos 3S (sun, sand and sea) tem experimentado um dinamismo permanente graças ao apelo derivado do ócio. Soares Ivars e Gandara

35 Telfer, DJ e Sharpley, R. Tourism e Development in a Developing world. Abingdon (Oxon) e Nova

(2016) a partir de estudos aplicados nos destinos turísticos litorâneos de envergadura no Brasil e na Espanha tem destacado que os impactos de tal crescimento ocorrem em diversas perspectivas propondo modelos explicativos para sua evolução com a recopilação de variáveis que destacam o impacto urbanístico e demográfico (SOARES, IVARS, GANDARA, 2012). Da mesma forma, Milne & Ateljevic, (2001) atribui que a evolução dos destinos litorais está atrelada aos efeitos da globalização nos mercados locais, onde a relação global tende a homogeneizar mercados e produtos, quando o desenvolvimento turístico no litoral apresenta uma diversidade na medida em que, na expressão de Anton-Clavé (2012) os câmbios estruturais que lhe afetam provocam distintos efeitos dependendo da especificidade dos destinos (SOARES, IVARS E GANDARA, 2016)

Na visão de Saarinem (2004) destinos turísticos são vistos como unidades históricas dinâmicas com identidade especifica caracterizada por uma hegemonia de outros discursos os quais produzem a noção do que o destino é e representa no tempo (SAARINEN, 2004, p.1). Por sua própria natureza, o conceito do destino turístico é problemático. No turismo pode ser referida a diversas escalas espaciais os níveis de representação: continentes, estados, províncias, municípios, e outra qualquer unidade administrativa; também pode ser um resort turístico ou, ainda, um produto turístico único. Opinião compartilhada com Buhalis (2000) em cuja visao, os destinos turísticos são uma amalgama de produtos turísticos oferecidos em uma experiência integrada para o turista. Tradicionalmente destino era visto e bem definido como área geográfica, como pais, ilhas ou cidade. Não obstante, é cada vez mais reconhecido que um destino também pode ser um conceito, que pode ser interpretado subjetivamente pelos consumidores, dependendo de seu itinerário de viagem, background cultural, objetivo da visita, nível educacional e experiência passada. (BUHALIS, 2000, p.17)

Para Saarinem, as escalas espaciais, previamente determinadas, definidas com base em critérios administrativos ou outras unidades semelhantes são também muito usadas e práticas, porém, teoricamente elas tendem a analisar o fenômeno turistico do destino turistico a partir de uma abordagem espacial e geográfica exclusivamente técnica e estática:

In tourism geography destinations are traditionally seen as spatial units for the economic activity of tourism with supporting infrastructure. From the perspective of the spatialisation of social theory, the geographical concept of region offers a basis for defining, describing and analysing the tourist destination as a socially constructed ’locality’and spatial structure where

global processes all come together and are manifested in a place specific and concrete way. (SAARINEM, 2004, p.2)

Barrado Timon (2004) defende que o destino deve ser entendido como um subsistema formado por elementos espaciais, administrativos e produtivos; assim como pelo conjunto de suas inter-relações e dos efeitos que produzem, que são fundamentalmente setoriais e geográficos. Setoriais, porque os bens e serviços são produzidos e consumidos in situo, geográficos pelas novas realidades de paisagem, mudança nas relações territoriais previamente existentes, percepção do território e imagens, que se estabelecem para o uso turistico.

De tal forma que o destino turistico, nas palavras de Barrado Timon (2004) nem é só território, nem é tudo o território. Isto é, os elementos turísticos não ocupam todo a totalidade do território onde se desenvolve o destino. Trata-se de um sistema de relações de interdependência que se produz num âmbito espacial determinado, e que está submetido a processos geográficos, alguns, gerais, outros exclusivos, da produção e o consumo turistico. (BARRADO TIMON, 2004, p56). Em outro artigo, Barrado Timon (2016) avança na reflexão ao colocar que, ante a impossibilidade de transladar muitos dos recursos turísticos, na medida em que estes recursos se encontram ligados a um tempo (cultura) e um espaço determinados (geografia), tampouco é possível transladar os produtos turísticos construídos com esses recursos, assim, o destino turistico é uma variável independente do desenvolvimento do território: “Lo que sucede es que con el proceso de producción y consumo turístico se genera uma nueva realidade socioespacial diferenciada que es el destino, y que participa al mismo tiempo de aspectos sectoriales-productivos y geográficos- territoriales” (BARRADO TIMON, 2016, p246). Assim, a natureza do destino, a morfologia e a organização devem variar segundo fatores tais como a percepção do turista, a densidade do desenvolvimento e a escala.

Para Saraniemi e Kylanen (2011, apud DOMARESKI et al., 2015, p.763); destino turístico é “um espaço físico ou virtual, onde transações e atividades mercadologicamente orientadas ocorrem, modificando a tradicional dicotomía entre produçao e consumo” (SARANIEMI; KYLANEN, 2011).

Um destino turístico, segundo Valls (2006), é um espaço geográfico determinado, com características de clima, raízes, infraestruturas e serviços próprios; com certa capacidade administrativa para desenvolver instrumentos comuns de planejamento; que adquire centralidade atraindo turistas mediante produtos perfeitamente estruturados e adaptados às satisfações buscadas, graças à

valorização e ordenação dos atrativos disponíveis; dotado de uma marca e que se comercializa tendo em conta seu caráter integral. (VALLS, 2006; p.16).

Na visão de Valls, há pelo menos cinco características que configuram um destino turistico, a primeira delas é o espaço geográfico homogêneo, associado a uma unidade territorial que tenha vocação de planejamento e possa dispor de certa capacidade administrativa para desenvolve-la. A segunda característica comum do destino e que este adquira centralidade, de tal forma que se torne motivo de visitação pela sua capacidade de oferecer determinadas experiências turísticas; a terceira é a possibilidade de oferecer uma oferta estruturada para satisfazer o turista, num sistema integrado, ou como uma série de instalações e serviços capazes de atender a combinações individuais. A quarta caraterística, segundo Valls, refere-se à existência de uma marca que represente em forma de imagem e facilite a sua identidade no mercado. Já a quinta é a importância de comercialização conjunta com a cooperação vertical em termos de marketing. (VALLS, 2006, p15-16).

Em relação ao marketing, Buhalis (2000) destaca que os destinos precisam diferenciar seus produtos e desenvolver parcerias entre os setores público e privado localmente, a fim de coordenar a entrega. Aproveitando-se que as novas tecnologias e Internet também permitem que os destinos aumentarem a sua visibilidade, reduzindo custos e melhorando a cooperação local e a competitividade. Marketing de destino deve levar à otimização dos impactos do turismo e à consecução dos objetivos estratégicos para stakeholders interessados (BUHALIS, 2000, p17).

Em um destino turístico se observam estágios característicos em sua trajetória de desenvolvimento que representam entornos competitivos particulares e respostas de mercado específicas ao momento vivido, à maturidade alcançada ou a estratégia utilizada (GÂNDARA; DOMARESKI-RUIZ; CHIM-MIKI; BIZ, 2013). De acordo com Valls (2006), a estratégia tem significativa importância no processo de desenvolvimento turístico, pois sustenta o processo. Dessa forma, reúne os agentes, seus valores, de modo que, através de uma plataforma público-privada, estabeleça as bases de cooperação entre todos a serviço do destino, e assim, mobilizam um consenso sobre o processo de desenvolvimento sustentável (GÂNDARA; DOMARESKI-RUIZ; CHIM-MIKI; BIZ, 2013)

Pearce (2014) ao sistematizar o conceito de destino em alguns artigos e capítulos de livros, destaca que na literatura sobre o tema há a existência de elementos específicos do destino, que variam e se atribuem em maior ou menor importância em níveis distintos, dentre os que se destacam três características comuns e recorrentes:

i) Os destinos se compõem de uma amalgama, pacote ou conjunto de produtos, serviços, experiências ou lugares, tais elementos são interdependentes e, juntos, proveem ou constituem uma experiência, produto ou marca integrada ou total (BUHALIS, 2000)

ii) Os produtos, serviços, experiências ou lugares tem uma importante dimensão geográfica, dada sua associação com determinados lugares, localidades, áreas, regiões ou terrritorios com uma escala que vai desde o local até o macro-regional. (BARRADO TIMON, 2004) Assim, surge certo debate sobre os limites desses destinos assim configurados: se são claros ou difusos, administrativos ou funcionais;

iii) Os destinos costumam ser definidos desde a perspectiva da demanda ou da oferta, de tal forma que os dois primeiros conjuntos de características se interpretam em termos das necessidades e percepções dos visitantes (perspectiva da demanda) ou bem, em relação aos múltiplos fornecedores do setor privado (regularmente MPYMES) e as organizações do setor público envolvidas que oferecem uma ampla gama de produtos e serviços (perspectiva da oferta). (SAARINEM, 2001) Em ocasiões inclui-se a comunidade anfitriã, outras, se adota uma definição mais elástica que combina tanto a oferta como a demanda (PEARCE, 2014, p22).

Na argumentação do Pearce, se perfilam quatro grandes grupos de conceitos gerais em relação aos destinos: i) distritos, clusters e milelieux; ii) redes; iii) sistemas e iv) constructos sociais. Os conceitos, na visão do autor, não são claros, nem rígidos, já que os conceitos têm sido utilizados de diferentes maneiras em distintos lugares do mundo, “em função da bagagem pessoal do pesquisador e da natureza do problema em estudo” (PEARCE, 2012, p23). Na opinião do autor, os quatro enfoques de destino têm implicações para a gestão turística, por indicar onde se depositam as prioridades dos gestores do destino e quais seriam as soluções possíveis. Como exemplo, apresenta a conceptualização do destino como cluster: ela tende a colocar ênfases nas relações entre empresas u organizações, aspecto importante para saber quem é gerido e que estrutura de governança para a gestão do destino é a mais apropriada (PEARCE, 2014, p29).

No caso do exemplo, a pesar de o conceito de cluster converter a dinâmica relacional num elemento clave da gestão turística, chama à atenção que as redes, clusters ou distritos concedem pouco interesse ao tema da gestão de produtos ou

experiências, assim como também ao contexto, especialmente à questão da inclusão das comunidades locais, outros setores e os fatores ambientais (PEARCE, op.cit, p30). Outra crítica ao uso do conceito se fundamenta em que, embora apareça uma preocupação por identificar estruturas e relações que favorecem a inovação, o uso do conceito cluster foca nos destinos num momento determinado, os retrata como si fossem estáveis, e, portanto, restam importância à gestão de processos (que é de mudança permanente). O Autor considera que seria distinto se considerasse os destinos e seus governanças como constructos sociais que valorizem os fatores locais, e os impactos que a atividade exerce sobre os residentes, destacando o processo de transformação dos destinos por e para o turismo. (PEARCE, 2014).

“Por el contrario, las representaciones de destinos como constructos sociales y los estudios geográficos, tales como el de Barrado Timon (2004), subrayan el rol de los factores locales; hacen hincapié en el compromiso con, y el impacto sobre, los residentes; y destacan el proceso de transformación de los destinos por y para el turismo. La gestión de destinos desde esta postura permitiría adoptar un enfoque más holístico; reflejar las idiosincrasias locales en vez de intentar adoptar unas estructuras de gestión provenientes de otros lugares; y ser más dinámica y ágil. (PEARCE, 2014, p.30)

Nessa esteira, o autor conclui que a definição de um destino como sistema aberto ou cerrado, ou como um subsistema dentro de outro maior, ou alternativamente como uma entidade completa em si própria, influirá sobre o enfoque das ações dos organismos de gestão do destino (OGDs ou governanças), isto é, se será externa, interna ou se encontrará num meio termo entre ambos os extremos, afetando diretamente o desenvolvimento de uma imagem externa, da promoção de conexões diretas com o mercado, da intervenção de intermediários na cadeia de valor e da qualidade numa ampla gama de serviços (PEARCE; 2014, p.32).

Outro autor, Saarinem (2004) confirma a importância do destino e sua relação com a sua governança ao destacar a importância de novas conceptualizações para o destino turístico,

“Therefore, its important to analyse the representations and their production in tourism. This requires new conceptualisations of tourist destinations, and not only economic but also pluralistic, socio-cultural and historical perspectives of tourism destinations and their representations in order to cope with the potential crisis of representation in academic research” (SAARINEM, 2004, p.7).