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2 METODOLOGIA

2.1 MÉTODO E METODOLOGIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Pearce (2003), quando comenta sobre pesquisas realizadas em destinos litorâneos nas ilhas do Pacífico, considera que a maioria tem-se preocupado com o papel e a estrutura das organizações turísticas das economias ocidentais desenvolvidas, deixando as dos países em desenvolvimento essencialmente

3A geografia econômica evolutiva e dentro deste universo, o turismo, caminha para o uso de um

conceito de moda, o da hibridização, isto é, a complexidade dos fenômenos é tal que um método exclusivamente quantitativo ou qualitativo não espreme a realidade como um todo, que se apresenta de forma mais emaranhada mesmo dentro de situações aparentemente similares nas suas trajetórias.

4 Goeldner, Charles R.; Ritchie, J.R. Tourism: principles, practices, philosophies / Charles R. Goeldner,

inexploradas, e aponta que até agora, foi feita pouca pesquisa comparativa institucional. (PEARCE, 19955 apud PEARCE, 2003). Ainda o autor discute que:

...”as pesquisas comparativas e os estudos individuais de países mostram que as organizações turísticas surgem de várias formas e maneiras; podem ter vários objetivos sociais, econômicos e outros; podem ser mono ou multifuncionais, quer dizer, exercem uma ou mais funções, como marketing, desenvolvimento, planejamento, pesquisa, atendimento ao visitante, lobby ou regulamentação” (PEARCE, 2003, p178)

Neste estudo de caso optou-se pela pesquisa qualitativa, pois viabiliza uma imersão integral do pesquisador sobre a realidade investigada, desconstruindo os discursos realizados durantes as entrevistas do conselho diretor do cluster turístico de Puerto Plata, para facilitar a compreensão do contexto do qual faz parte (LIMA, 2004; CARDOSO, 2004), e a trajetória do destino turístico ao longo do período em análise. Como afirma Cardoso (2004, p.105), a contribuição principal deste tipo de pesquisa é à volta ao trabalho de campo na presença dos atores sociais, com um suporte nos discursos, que ganham carne e osso e deixam de ser autômatos por ser apenas referenciados teoricamente. Ante a realidade da entrevista, os atores, podiam atuar dentro do roteiro, criticá-lo ou ainda, abandoná-lo ao negar responder determinados aspectos ou a pesquisa, deixando assim o pesquisador sem resposta ao problema. De fato, a abordagem qualitativa no estudo de caso, abrange diversas formas de pesquisa e auxilia o pesquisador a compreender e explicar o fenômeno social imerso no ambiente (GODOI e BALSINI, 2006).

O estudo de caso, além disso, caracteriza-se como descritivo e analítico, pois procura descrever as características de um fenômeno, mensura um evento ou atividade, ou estabelece relações entre variáveis (RICHARDSON, 1999; HAIR JUNIOR et al., 2005), em que o pesquisador observa e descreve a realidade, mas as descrições científicas são tipicamente mais acuradas e precisas do que uma observação casual (BABBIE, 1998).

O presente trabalho de tese foi organizado como um estudo de caso exploratório do cluster turístico de Puerto Plata, a partir de dois processos combinados, o de Grounded Theory, ou teoria fundamentada e o da observação participante com entrevistas em profundidade (Figura 2.1). Entre as várias abordagens e métodos qualitativos de pesquisa, se enfatiza a metodologia denominada Teoria

5 Pearce, D. Tourism in the South Pacifi: patterns, trends and recent research”. Progresss in Tourism

Fundamentada ou Grounded Theory (LECOMPTE, SCHENSUL, 1999, KAWULICH, 2005).

Existem duas grandes diferenças entre esta metodologia, outras abordagens de pesquisa qualitativa e sua ênfase sobre a teoria de desenvolvimento. A primeira, é que o pesquisador pode atuar em várias escalas da teoria quando está usando os procedimentos de grounded theory. A metodologia indutiva-dedutiva que se aproxima do assunto a ser investigado com uma ou mais abordagens teóricas que guiem a observação, neste caso, o Ciclo de vida do Destino Turístico e a Geografia Econômica Evolutiva, a partir de codificações pré-estabelecidas com base no instrumental metodológico dos modelos (Top-Down). A intervenção do pesquisador inicia pela sua interpretação a partir dos aportes relevantes propostos por outras teorias, trabalhando num mesmo endereçamento ou em tópicos semelhantes (LECOMPTE, SCHENSUL, 1999).

No roteiro, a resposta da pesquisa de campo pode confirmar, recusar, modificar ou esclarecer as teorias existentes, explicando o resultado do objeto de pesquisa, tendo em vista que a realidade pode ser explicada por um leque de alternativas distintas das escolhas metodológicas assumidas (LECOMPTE, SCHENSUL, 1999, p.219). Embora as classes de perguntas de um estudo de caso remetem a questões para os informantes de: como e por quê? (YIN, 2014. p.10), essas questões aparecem como respostas dos informantes, à medida que as entrevistas reconstroem ações passadas, ou se realiza a relação entre os perfis individuais e os comportamentos do grupo em estudo e a instituição a qual detém o peso da representação social (PALACIOS,1999).

Usada no desenvolvimento de uma teoria fundada em dados e constructos sistematicamente coletados e analisados previamente, a teoria evolui durante a pesquisa real e o faz devido à contínua interação entre análise e coleta de dados (STRAUSS & CORBIN, 1997). As anotações do diário de pesquisa apontam para essas mudanças. O pesquisador analisa os dados de modo a entender determinada situação, como e por que seus participantes agem de determinada maneira, como e por que determinado fenômeno ou situação se desdobra deste ou daquele jeito (GLASER & STRAUSS, 19676, apud STRAUSS & CORBIN, 1997).

6 Glaser, B, & Strauss, A. The discovery of grounded theory: Strategies for qualitative research. Chicago.

Adicionalmente, por meio de métodos variados de coleta de dados e pesquisa documental, reuniu-se um volume de informações sobre o fenômeno observado. Comparando-as e decodificando-as foram extraindo-se as regularidades, enfim, seguindo detalhados métodos de extração e triangulação que deram sentido a estas informações. Então, o pesquisador termina nas suas conclusões, com algumas teorias que emergiram dessa análise sistemática. Nessa perspectiva, a teoria vem a ser o ajuste daquilo com que o pesquisador encerra seu trabalho e não como ele o inicia (KAWULICH, 2005). Não é aquilo que vai ser testado, mas o que se conclui depois de uma pesquisa e da análise comparativa dos dados dela resultantes. Assim, por ser um método geral de análise comparativa constante, a teoria fundamentada é citada frequentemente como método comparativo e ajuda o pesquisador a ter uma melhor noção do contexto (KAWULICH, 2005).

A segunda diferença decorre da observação participante (bottom-up), Lecompte, Schensul (1999, p.78-80), aponta para a construção de baixo para cima, indicando vantagens da forma de construção desse processo, pois a observação participante permite ao pesquisador:

i) Identificar e guiar as relações com os informantes;

ii) Ajuda a perceber como são organizadas e priorizadas as coisas, como se inter-relacionam entre si e quais são os parâmetros culturais. Mostra o que os membros de uma instituição (neste caso, da governança) consideram importante quanto ao comportamento, liderança, politica, interação social e tabu;

iii) Ajuda o pesquisador a ser conhecido pelos membros (da governança) e dessa forma facilitar o processo de pesquisa; e, v) provê de uma fonte de informações direta que podem ser questões a serem trabalhadas junto aos informantes.

Desta forma, pode-se considerar que a abordagem qualitativa escolhida na presente tese, além de ser uma opção do pesquisador, justifica-se por ser uma forma adequada para entender um fenômeno social (RICHARDSON, 1999). O caráter qualitativo da pesquisa está relacionado à apreensão e registro de fatos e fenômenos identificados na linha do tempo e no contexto, a partir do pesquisador como elemento- chave no processo, valorizando o contato do mesmo com os processos presentes no meio, descrevendo os fatos para compreensão das complexidades relativas ao tema e objeto em análise (GODOY, 1995), onde a própria complexidade da pesquisa

qualitativa surge devido ao seu universo se relacionar com as interpretações das realidades sociais pré-existentes.

Na figura 1 sugere-se o caminho da pesquisa: de um lado um esforço analítico paralelo ao esforço descritivo da realidade presente na província de Puerto Plata, situada ao norte da ilha Hispaniola7, na República Dominicana, onde se encontra o Destino Turístico chamado Puerto Plata ou Costa Âmbar. Como objeto de pesquisa estão o Destino Turístico Puerto Plata e a sua governança, chamada de cluster turístico e cultural de Puerto Plata.

A metodologia adotada pela pesquisa foi de estudo de caso com análise exploratória e entrevista em profundidade do processo de desenvolvimento do cluster turístico e cultural de Puerto Plata, e, buscando identificar os instrumentos das políticas foram realizadas as seguintes etapas:

7Quando da descoberta do Cristovão Colombo, a ilha foi chamada da Hispaniola. Era uma única ilha e

foi justamente em “La Isabela”, em homenagem a rainha Isabel a Católica, o primeiro assentamento urbano da Espanha no “Novo Mundo”.

FIGURA 1 ORGANOGRAMA DO CAMINHO DA PESQUISA

Fonte: O autor (2017).

Levantamento das informações secundárias. Análise das fontes secundárias disponíveis referentes a algumas variáveis espaciais como: a população e migração; a infraestrutura; o sistema produtivo; os diagnósticos dos Planos de Desenvolvimento do Turismo Sustentável (PEDETS) Levantamento da legislação, decretos e normas vigentes para o desenvolvimento da linha do tempo institucional, tanto da República Dominicana como de Puerto Plata. Foram também considerados os dados do Banco Central da República Dominicana relativos aos fluxos de turistas, renda gerada pelo turismo, número de hotéis e leitos, investimentos, gastos e perfil do turistas e visitantes (cruzeiristas) geral (no país) e regional (Puerto Plata). Os dados do censo, do IDH e do mapa da pobreza da Oficina Nacional de Estatística (ONE), do Ministério do Planejamento e Desenvolvimento (MEPyD) que contribuíram na construção do ponto de partida necessário para aprofundar a análise qualitativa.

Outro grupo de informações secundárias foram os dados dos cadernos regionais (das províncias) editados pelo MEPyD, levantamentos que permitiram a

análise comparativa da realidade que seria encontrada em campo, pois os municípios da região não possuem planos de ordenamento territorial e o Ministério de Planejamento tem um vice ministério que neste exato momento estuda formas de implementar esses planos em todas as províncias.

Análise Comparativa de Dados. Levantamento dos dados oficiais. A partir dos dados oficiais a organização de análise comparativa dos dados avançaram na identificação de diversos tipos de vulnerabilidades e pontos fortes na região e serviram de base para reforçar perguntas nas entrevistas.

O levantamento de campo se iniciou com visita aos municípios preliminarmente demarcados na região turística de Puerto Plata, com base no critério das leis e decretos que definiram ao longo da década dos setenta o polo de desenvolvimento de Costambar. Visitados no mês de janeiro de 2016. Posteriormente e sobre a mesma base, os municípios contemplados no Cluster turístico e cultural de Puerto Plata, indicados por decreto lei do Governo Central da República Dominicana. A pesquisa de campo foi realizada por tanto, em dois momentos, janeiro e abril de 2016, com a identificação dos elementos turísticos nos municípios contemplados na pesquisa.

As entrevistas foram um elemento fundamental dentre os instrumentos de coleta utilizados de forma direta. Estas foram relacionadas no capítulo 2 e posteriormente a sua análise no capítulo 5. Durante as visitas, tanto do mês de janeiro como do mês de abril de 2016, e posteriormente no mês de maio de 2017 foram documentados boa parte dos recursos turísticos da região com uma série de fotografias realizadas ao patrimônio cultural e histórico, aos agentes entrevistados e a um inúmero de espaços públicos ou privados relevantes para compor a análise que se apresenta, em especial os atrativos turísticos naturais e construídos, amostras de degradação ambiental e do ordenamento territorial existente na sede de Puerto Plata.

As entrevistas foram gravadas e transcritas. Como indicado, inicialmente se utilizou a o membro representante do cluster diretivo da Câmara de Comercio e Indústria de Puerto Plata como elo condutor de reconhecimento dos atores, tendo em vista a

dificuldade de não conhecer a região e, ao mesmo tempo, do autor não dispor de muito tempo de pesquisa e análise etnográfica. A abertura facilitada pelo diretor técnico da Câmara de Comercio de Puerto Plata, foi fundamental para quebrar o gelo inicial de uma pesquisa de campo e permitir elos de sinergia com a proposta de investigação que se lhes apresentava. Em janeiro foram realizadas três entrevistas. Boa parte do material para análise de diagnóstico: bases de dados, artigos, revistas e outro tipo de referências secundarias, foram recolhidas nessa viagem. Coincidentemente, boa parte da direção do cluster encontrava-se em janeiro na FITUR 2016 na Espanha, informação que só se obteve estando em campo.

No mês de abril, já se havia estabelecido outros contatos com a secretaria executiva do cluster. Explicou-se o objetivo da proposta e a necessidade de restringir a participação na pesquisa aos diretivos do Cluster Turístico e Cultural de Puerto Plata. Foi assim que em uma semana, se completou o quadro de entrevistas disponíveis. A pesar dos percalços enfrentados, somadas, foram aproximadamente 25 horas de entrevistas com 240p de transcrição, com a análise de conteúdo de discurso e percepção dos atores envolvidos na construção do cluster turístico e cultural de Puerto Plata.