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3. DISCUSSÃO DOS CONCEITOS QUE PERMITIRAM ANALISAR A

3.4 DESENVOLVIMENTO

3.4.1 As tipologias recentes no debate sobre o desenvolvimento

A questão do Desenvolvimento continua a suscitar debates e interpretações. Até aqui, os autores apresentados reforçam a importância os conceitos da história, das relações sociais, das instituições e do espaço combinados numa região e nos territórios. Nesta análise, propositadamente tem-se feito abstração sobre debates paralelos referidos à falta de desenvolvimento (subdesenvolvimento) e a dependência (centro-periferia), para focar no modo de superar os gargalos estruturais ao desenvolvimento nas regiões.

Na sequência, outras tipologias que tem influenciado de forma incisiva aos estudos da Geografia do Turismo. Iniciando pelos neo-schumpeterianos este grupo

33Outro grupo de técnicos da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL-ILPES,

2004) defende o desenvolvimento local como processo, pois, ao identificar a existência de heterogeneidade estrutural nas regiões da América Latina e do Caribe, é possível privilegiar processos de produção e acumulação que impliquem o desenvolvimento de inovações tecnológicas para construir, dessa maneira, a competitividade sistêmica natural.

de autores assigna a inovação tecnológica o papel de elemento-chave na dinâmica do desenvolvimento, as estratégias corporativas e as políticas públicas são fundamentais no processo de promoção da inovação, na organização e ampliação das redes de relacionamento com fontes externas de informação, conhecimento, capacitação e consultorias.

Dessa forma, o ambiente interno em que as empresas se encontram inseridas, a institucionalidade local e a proximidade das empresas podem determinar o grau de fluidez da difusão tecnológica promover o desenvolvimento mediante efeitos de externalidades e a emergência de novos processos evolutivos compostos que seriam responsáveis pelas inovações e aprendizados de um novo ciclo de produtos e processos. Na mesma medida esses processos tendem a adaptar os arranjos institucionais e os próprios arranjos moldam as condutas individuais. Essa interação pode afetar positiva ou negativamente as trajetórias evolutivas delimitando caminhos para novos produtos e serviços, e determinando a intensidade desses processos (COSTA, 2013; COSTA e NASCIMENTO, 2010; COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006).

Assim o resultado do processo de concorrência regional não é predeterminado, mas depende de uma interação complexa de forças que se modificam ao longo do processo -mecanismos dependentes do histórico das suas trajetórias. A concorrência assim descrita sugere o surgimento permanente e endógeno de diversidade no sistema regional, reforçada pela ocorrência de inovações. A redução ou omissão de inovações podem estar indicando o arrefecimento do processo de desenvolvimento. Por isso, tendo em vista que as inovações aparecem em pontos no tempo e no espaço da evolução de uma região conformando um espaço descontínuo, desarmonizado e desequilibrado ou assimétrico o sistema institucional e a governança assumem importância vital para manter ou gerir a endogeneização do processo em todo o território e o equilíbrio regional.

O grupo de estudos sobre os mecanismos de indução do desenvolvimento (regional) dialoga com as teorias de J. Shumpeter a partir da Destruição Criadora. Schumpeter pondera sobre os ciclos da economia capitalista indicando a existência de ciclos longos nos quais o processo de acumulação está diretamente ligado às tecnologias emergentes.

Schumpeter (1984, p. 112-113) nomeou Destruição Criadora ao processo “que revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos (...). As rupturas

industriais acabam moldando paradigmas tecnológicos que condicionam, na visão dos neo-schumpeterianos, o surgimento de ciclos longos de desenvolvimento. Essas revoluções não são permanentes, num sentido estrito; ocorrem em explosões discretas, separadas por períodos de calma relativa. O processo como um todo, no entanto, jamais para, no sentido de que há sempre uma evolução ou absorção dos resultados da evolução, ambos formandos o que é conhecido como ‘ciclo econômico’ (...) Este processo de destruição criadora é básico para se entender o capitalismo. É dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a empresa capitalista para sobreviver.”

Schumpeter afirmava que cada flutuação cíclica da economia constitui uma unidade histórica que não pode ser explicada senão mediante uma análise histórica detalhada de numerosos fatores que concorrem em cada caso. Para o autor, cada ciclo capitalista é resultante de uma conjunção ou combinação de inovações que acabam criando um setor líder na economia, capaz de abrir inúmeras “janelas de oportunidades” de amplitudes temporais e multidimensionais, através de uma avalanche de transformações e destruições criativa, impulsionando o crescimento da economia para um período de prosperidade.

A análise tradicional neo-schumpeteriana costuma dividir o ciclo capitalista em três momentos: desenvolvimento, maturidade e estandardização. A fase de desenvolvimento tem início com o surgimento de novas tecnologias, produtos e processos, com o motor do crescimento fundamentando-se basicamente no acúmulo de capital, onde taxas elevadas de poupança alimentam os fundos que financiam os investimentos em fábricas e equipamentos, ampliando, assim, o estoque de capital da economia. Referido processo de acumulação de capital perdura enquanto a taxa de retorno do investimento for alta o suficiente para atrair o capital financeiro. Isto ocorre até o momento em que as inovações são difundidas por completo.

Todavia, quando as tecnologias induzidas pelo setor líder se tornam praticamente incorporadas ao sistema de produção, ou se difundem por quase todos os setores, o retorno dos investimentos tende a diminuir. Neste ponto, o sistema entra na fase de maturidade, a taxa de produtividade cai, arrastando consigo o retorno do capital, o capital financeiro se retrai e, em consequência, a economia para de crescer.

A economia passa então a entrar na fase de estandardização onde um novo ciclo se organiza para encontrar uma forma de incrementar a taxa de retorno do investimento, revertendo a situação e tornando o ciclo novamente ascendente, o que

só poderá ocorrer mediante o progresso tecnológico e o uso efetivo das inovações geradas no interior do aparato produtivo. (SHUMPETER, 1984).