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O conceito de acção social, neste capítulo, surge por considerarmos que o mesmo é uma componente importante na análise de todos os dados, tanto daqueles que decorrem ao longo da investigação empírica, como da investigação bibliográfica.

Vários são os sentidos e âmbitos utilizados na designação de acção social. Ela pode indicar: i) quer o conjunto das intervenções sociais, públicas e privadas, face aos problemas societais, ii) quer os dispositivos e técnicas facilitadores e de acompanhamento dos processos de inserção social, iii) quer, ainda, o ramo da política de segurança social, cujas medidas cobriram os riscos não abrangidos pelo esquema previdenciário (Rodrigues, 2003: 11).

A presente reflexão sobre acção social está relacionada com o terceiro ponto acima referido, pois é nele que se encontra enquadrado o tema abordado na dissertação.

A acção social, tem como objectivos fundamentais a prevenção de situações de carência, disfunção e marginalização social e a integração comunitária. Destina-se ainda a assegurar especial protecção aos grupos mais vulneráveis, nomeadamente crianças, jovens, deficientes e idosos, bem como a outras pessoas em situação de risco, que não sejam, ou não possam ser superadas através dos regimes de segurança social (Artigo 33º, Lei da Segurança Social n.º28/84, de 14 de Agosto).

Quando a protecção social se revela inexistente ou insuficiente, a acção social permite auxiliar ou complementar a protecção social, garantida pelos regimes legais. Do sistema de segurança social fazem parte as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). É o estado quem promove e apoia as IPSS, tendo como finalidade o auxílio na execução dos objectivos do Sistema de Segurança Social. Uma das principais formas de associativismo tem sido afirmada pelas IPSS através de um grande património. Estas instituições representam um pólo aglutinador organizado e fulcral. Deste modo, estas, juntamente com o estado, são complementares na realização da justiça social, apresentando-se como um componente imprescindível à acção social – a da solidariedade.

As IPSS não apresentam finalidades lucrativas, sendo criadas através da iniciativa de particulares. Pretendem dar uma significação organizada ao dever de

justiça e de solidariedade, sendo independentes administrativamente de qualquer corpo autárquico ou do Estado.

Os seus principais objectivos face à prestação de serviços e à concessão de bens são: apoiar crianças/jovens, apoiar a integração comunitária e social, proteger dos cidadãos a invalidez e a velhice, proteger e promover a saúde, educar e formar profissionalmente cidadãos e resolver problemas relacionados com a habitação das pessoas.

No passado, a acção social estava relacionada com a pobreza, mas nos dias que correm ela também se encontra associada ao fenómeno da exclusão social. O desenvolvimento e conteúdo substantivo da Acção Social foi sendo informada por diferentes conceitos de pobreza (nomeadamente o de pobreza relativa e absoluta) e de protecção social (Rodrigues, 2003: 11).

Tem sido proposta à acção social, a operacionalização de medidas de cariz mais selectivo ou universal e diversas funções, com efeitos ao nível do aumento ou diminuição dos direitos. No entanto, estas modificações não estiveram associadas a reflexões analíticas, causando um aumento da ambiguidade existente em torno do conteúdo da acção social.

Apesar da acção social e das políticas sociais emergirem com o capitalismo, de forma a encarar a questão social, é em pressupostos diferentes que assenta a origem de cada uma delas. É do acordo estabelecido entre movimentos sociais e sindicais e o poder instituído, que derivam as políticas sociais. A acção social apresenta-se como uma apropriação do estado na versão de componente da Segurança Social, ignorando-se as razões e o peso dos interlocutores conhecidos no seu surgimento e respectivo desenvolvimento. Algumas são as razões que podem ajudar a compreender a ausência destes interlocutores: i) quer o facto de os interlocutores não serem habitualmente públicos destinatários da própria Acção Social, e ii) quer, ainda, pela circunstância de que os destinatários de Acção Social não se constituírem reconhecidamente em interlocutores (Rodrigues, 2003: 18). Estas diferenciações demonstram no seu interior interesses contraditórios e diferenciados, mas apresentam uma dupla função ideológico- política. Ao mesmo tempo visam a coesão e harmonia social, têm um potencial legitimação do poder instituído, e constituem-se também em espaços de acesso a recursos e direitos da população excluída (Rodrigues, 2003: 18). A população mais desfavorecida, através do alcance a um conjunto de garantias sociais e benefícios, pode ser vista socialmente e apresenta grandes possibilidades de ver realizada a sua condição

e exercício de cidadania (ainda que do ponto de vista social, de uma maneira muito restrita).

5.2. Encaminhamento e acompanhamento das crianças e jovens acolhidos

Ao longo deste capítulo intitulado A acção social surge a necessidade de sabermos quando as crianças e jovens são acolhidos, qual é o seu encaminhamento e acompanhamento.

No projecto de vida das crianças, o primeiro passo é o acolhimento em lares. A responsabilidade incumbida aos serviços de Segurança Social é a de acompanhar em todo o processo de acolhimento a definição de procedimentos, os princípios a realizar e ainda a obrigação de discutir com os lares o acompanhamento do projecto de vida definido para as crianças.

Estas instituições assumem a finalidade de proporcionar às crianças desprovidos de meio-familiar, condições de vida idênticas às das estruturas familiares, facilitando- lhes o seu bem-estar e um desenvolvimento saudável a nível intelectual, físico e emocional.

Estas instituições, pelos objectivos que se propõem cumprir, devem votar a sua actividade às crianças e aos jovens que acolhem; o funcionamento da instituição em função de si própria e das normas e regras por si impostas não permite cumprir os objectivos a que se propõe enquanto lar de acolhimento de crianças e jovens (Lares de Crianças e Jovens – Caracterização e Dinâmicas de Funcionamento, 2000: 102). A instituição não deve ver como uma ameaça a abertura à comunidade envolvente, nem às famílias dos menores acolhidos, nem à rotina ou ordem estabelecida. Quando é o interesse das crianças que está em causa, verifica-se que, quanto maior for a estreiteza de contactos com o mundo exterior, menores serão os efeitos negativos da institucionalização. Se se seguir esta orientação, constata-se que crianças e técnicos obtêm mais facilmente o acesso a oportunidades de experienciarem e absorverem afectividades e referências enriquecedoras.

Quando é possível os lares de crianças manterem alguma proximidade com a família de origem ou outras pessoas que mantinham ou mantêm relações de afectividade, verifica-se que essa proximidade é, na maioria das vezes, fulcral para um saudável desenvolvimento emocional. De facto, todos temos um passado, que

condiciona aquilo que somos; ignorá-lo ou escamoteá-lo é levar estas crianças a crescerem interiorizando nas suas identidades a ideia de que uma parte das suas vidas não é (ou não deve ser) aceite (Lares de Crianças e Jovens – Caracterização e Dinâmicas de Funcionamento, 2000: 102).

Aos Serviços de Segurança Social sugere-se o estabelecimento de contactos mais próximos com os lares, divulgando às instituições as vantagens de abertura ao mundo exterior. À Segurança Social é-lhe incumbido o papel de fornecer pareceres e apoios precisos às alterações das culturas institucionais no sentido de uma maior abertura.

PARTE II

INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA