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Capítulo IV – Resultados do Trabalho de Campo

4.1.4. Análise das entrevista à psicóloga, sobre as crianças em estudo (E8,

Com estas entrevistas, pretendemos ficar a conhecer a opinião técnica da psicóloga do CES sobre as atitudes e os comportamentos das cinco crianças, compreender a alteração que os maus-tratos sofridos provocaram na personalidade das mesmas, conhecer as reacções de cada uma delas à integração neste centro, assim como a sua adaptação.

Para conhecer comportamentos e atitudes é preciso conhecer: Características de personalidade Comportamentos diários Atitudes face a situações mais violentas Concepção que a criança tem de família.

Perante a nossa questão relativamente aos motivos subjacentes à integração das crianças no CES e à forma como estas viveram a experiência do afastamento do meio familiar onde sofreram maus-tratos e como encontraram a sua nova vida num meio totalmente novo, as opiniões da psicóloga serviram para formularmos o nosso próprio juízo.

As entrevistas realizadas permitiram-nos constatar que antes da sua integração no CES, todas as crianças tinham um ambiente familiar violento, instável e repleto de carências, a nível económico e social, como se verifica pelos testemunhos seguintes.

Pensa-se que era instável, a criança por vezes ficava em casa, ou na casa de uma vizinha enquanto a mãe ia aos bailes.(E8)

Poderemos concluir que o CES contribuiu para melhorar a vida das cinco crianças em estudo, sob vários aspectos, proporcionando-lhes alimentação adequada, subsistência económica, bem-estar físico e educação.

(…) a criança era proibida de comer batida quando ia ao frigorífico buscar comida, por ter fome. (…) e era vítima de violência por parte de um tio com quem ficava após a escola. (E8)

A vida da criança melhorou com a vinda para o CES, na medida em que [este] lhe permitiu ter condições de habitabilidade, de segurança e de higiene. (…) A criança era vítima de violência, dormia num sofá num quarto sem condições. (E12)

Podemos igualmente confirmar que a mudança das crianças para o CES se traduziu num melhorar das suas condições de vida. Como se depreende, esta melhoria e um contacto mais afectuoso com os pares e os adultos conduziram a alterações comportamentais, nomeadamente no cumprimento de regras, na forma de estar, na relação com os outros, na aquisição de posturas correctas à mesa e na segurança que sentem. A criança 5, inclusivamente, deixou de ser assustada, para confiar mais nos que a rodeiam.

Verificaram-se mudanças em todas as crianças, desde a sua integração no CES. Algumas atitudes e comportamentos sofreram bastantes alterações e houve outras em que as modificações foram reduzidas.

De um modo geral, as evoluções comportamentais manifestadas pelas crianças são positivas. Para além de se sentirem mais felizes e seguras, referem também que dispõem de tempo para brincar.

Alguns dos seus comportamentos e atitudes alteraram-se nomeadamente no saber estar à mesa, no modo de falar e no cumprimento de regras. (E9)

(…) Costumava bater muito nos irmãos e nas crianças mais novas. (E10) Melhorou significativamente, era uma criança assustada e não confiava nas pessoas. Tornou-se uma criança mais segura de si e feliz. (E12)

Como é lógico, todas as crianças têm uma forma muito particular de encarar o facto de viverem num Centro de Acolhimento.

No que respeita ao cumprimento das regras e dos horários existentes no CES, as crianças 1 e 3 reagem bem, mas as outras três nem sempre estão de acordo, o que desencadeia reacções negativas.

Como todas as crianças, por vezes não concorda com algumas coisas, mas de um modo geral reage positivamente às regras e aos horários. (E8)

Nem sempre cumpre os horários e as regras estabelecidas. (E12)

Na maioria dos casos, as crianças manifestam atitudes de confronto e de desobediência em relação aos adultos, ainda que para isso recorram à mentira (criança 3), ao choro (criança 2) e às birras (criança 4)

Com os pares, surgem frequentemente conflitos verbais e físicos (crianças 2, 3 e 4). A criança 1 assume um carácter de excepção, considerando-se que não é geradora de conflitos.

O seu comportamento/ atitudes para com os adultos é sempre uma atitude de confronto, de ir contra as indicações do adulto. Com o grupo de pares está sempre a tentar desafiá-los tirando-lhes coisas. (E9)

É uma criança que tenta fazer o que entende mesmo que isto signifique mentir aos adultos. (E10)

Com os adultos se contrariado ou confrontado com algo reage: chora, atira com as coisas, bate as portas, com os pares bate-lhes.(E11)

Relativamente à forma como reagem, pela análise da entrevista podemos afirmar que as cinco crianças em estudo adoptam atitudes violentas, essencialmente quando são provocadas por outras, quando são contrariadas ou confrontadas.

Podemos constatar que foram essencialmente as circunstâncias da vida, tais como a falta de afecto dos progenitores e a sua já longa estadia no CES, que tornaram estas crianças mais violentas e irrequietas.

A criança manifesta atitudes violentas quando é contrariada ou quando quer algo que não lhe pertence e luta por ter.(E9)

As causas que tornaram a criança irrequieta e com atitudes violentas foram o facto da sua longa estadia no CES, e o perceber que os seus irmãos encontram-se com a mãe e ele e a irmã não.(E11)

Um traço comum à personalidade de todas estas crianças é a carência afectiva. Aprofundando no perfil de cada uma, podemos dizer que a criança 1 possui baixa auto- estima, que as crianças 2 e 4 se caracterizam por terem baixa tolerância à frustração, e que a criança 5 é insegura e facilmente influenciável.

Tem uma baixa tolerância à frustração é uma criança com grandes carências afectivas e revoltada. (E11)

É uma criança carente, insegura, é facilmente influenciada pelos outros. (E12) Duas das crianças (2 e 5) não manifestam saudades de nada nem de ninguém ligado à sua vida anterior à entrada no Centro. No entanto, as restantes crianças sentem saudades dos seus familiares, particularmente da mãe e dos irmãos.

Sente saudades dos irmãos e da mãe. (E11)

À excepção da criança 2, que nunca se mostra ansiosa, os níveis de ansiedade das outras crianças parecem estar relacionados com a família, concretamente com as visitas que recebem e com o atraso dos familiares aos encontros marcados. Acontece também esta perturbação ocorrer por antecipação face às saídas com as famílias amigas ou com vontade extrema de voltarem a fazer parte de um novo núcleo familiar.

Demonstra-se também ansioso por ter uma família. (E12)

As crianças 1, 3 e 5, quando percepcionam o perigo, tentam sempre refugiar-se no adulto. Já as crianças 2 e 4, não parecem aperceber-se de situações perigosas.

Quando percepciona o perigo a criança pede ajuda a um adulto. (E8)

À excepção das crianças 2 e 5, as restantes três mantêm contacto, mais ou menos regular, com alguns dos seus familiares.

Os pais são assíduos e telefonam todos os dias, no entanto, a relação como filho é um pouco distante, fria.(E8)

Não mantém contacto com a família. (E9)

O contacto com a família não é regular, no entanto gosta muito das visitas da mãe e da irmã. (E11)

As perspectivas de futuro para estas crianças nem sempre passam pela possibilidade de reintegração na família de origem, pois para a maioria delas (crianças 2, 4 e 5), esta hipótese não é viável, carecendo de orientações diferentes, como sejam a adopção ou o acolhimento definitivo em instituições da especialidade.

4.1.5. Análise das entrevista às crianças em estudo (E13, E14, E15, E16, E17):