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Capítulo IV – A Institucionalização

4.3. A intervenção e a sua programação

É extremamente importante neste trabalho, abordar a intervenção e a sua programação, uma vez que a nossa investigação empírica é desenvolvia num Centro de Acolhimento, onde a população alvo se encontra institucionalizada.

A Institucionalização surge quando se esgotam as várias respostas às crianças em perigo, essencialmente a situação de internato. Só se internam menores quando não existem outras possibilidades de intervenção. Pretende-se que a institucionalização promova, para além de cuidados essenciais de bem-estar, um sentimento de pertença a um grupo, onde se promova a sua estabilidade emocional e auto-confiança. É muito importante que na institucionalização se desenvolva um sentimento de bem-estar emocional, físico e um sentimento de segurança.

É necessário estarmos conscientes que, em internatos, a educação está para além da sala de aula, do gabinete do psicólogo e do grupo terapêutico. O comportamento e a personalidade da criança são directamente influenciados pelos adultos que com ela passam grande parte do tempo, e são influenciados através de reacções e de acções.

A sociedade possui problemas que lhe estão interiorizados, como é o caso das crianças em perigo, sendo as Instituições de Solidariedade Social um meio para resolver esse problema. A maioria das crianças acolhidas pelas instituições sofre de exclusão social. A necessidade de prevenir a exclusão e a marginalidade, passando pelo reforço da autonomia, da auto-estima e das competências sociais da criança e do jovem, durante a sua permanência de Internato leva ao desenvolvimento de actividades que proporcionam novas vivências, na descoberta e construção da sua personalidade, envolvendo a comunidade neste processo (Marta, 2004: 38). O caso do Centro de Emergência de Alverca funciona como uma garantia de bem-estar e saúde, pois proporciona relações sociais e pretende criar estabilidade emocional.

No contexto institucional, é através de uma rigorosa planificação que se delineia, define e fundamenta a intervenção. O contexto institucional deve ser baseado nas leis correspondentes à família, à criança e aos respectivos mecanismos protectores. Um programa institucional deve conter uma estrutura que especifique aspectos, como:

- enquadramento legal: critérios e disposições legais dos planos regionais correspondentes aos programas institucionais;

- tipologia e definição: refere os tipos de serviço e critérios exclusivos e inclusivos;

- população-alvo: menores a quem se aplicam os serviços;

- funções e objectivos: quais são os objectivos e o papel da instituição;

- recursos humanos: os profissionais e os trabalhadores são definidos assim como as suas funções;

- organização e administração: coordenação no interior do sistema de protecção, organização educativa, gestão financeira, suporte e planificação documental, órgãos de gestão e sua participação e planificação laboral;

- critérios e princípios da instituição;

- o acolhimento e a respectiva avaliação: para se efectuar uma avaliação contínua dos serviços da instituição são precisos métodos, mecanismos e instrumentos.

Tanto as famílias como as crianças que se encontram institucionalizadas, por diferentes motivos, dividem histórias e problemas que as põem em risco.

Em cada criança é necessária uma constante avaliação das suas necessidades, intervenções e seguimento individualizado para que a programação da intervenção institucional seja vista como um plano que envolve metas, objectivos e funções. Assim, no sentido de um acompanhamento completo e constante, que apresenta como suporte o

trabalho e a colaboração multidisciplinar, torna-se fulcral uma contínua recolha de dados, de maneira a recriar o processo, tanto a nível dos contextos ecológicos em que a criança se encontra rodeada, como a nível das suas interacções e actividades.

Quando um trabalho individualizado é programado, deve conter uma primeira avaliação das necessidades da criança, segundo dados facultados por técnicos de infância (avaliação social, pedagógica e psicológica) e educadores (professores, educadores da instituição e pais), seguindo-se o estabelecimento de um plano de objectivos, recursos e actividades para se efectuar uma avaliação do cumprimento dos objectivos, assim como dos progressos atingidos.

Relativamente à intervenção em contexto institucional, em 1987 Anthony (citado por Formosinho 2004) apresenta os termos de vulnerabilidade e resiliência, referindo que são considerados como dois pólos contrários de um continuum, verificando-se que o primeiro representa o ressentimento mediante efeitos adversos e o segundo refere que, depois do permanecimento em situações de risco, existem consequências benignas. Em 2000, Rutter demonstrou que é preciso questionar se é mais necessário um foco nos riscos que tornam as crianças vulneráveis à psicopatologia ou se será mais vantajoso centrar as atenções nos factores protectores que criam resiliência face à adversidade (citado por Formosinho, 2004: 218).

Pretende-se que a intervenção seja impulsionadora de uma progressiva alteração da vulnerabilidade para a resiliência, tendo por base as melhores medidas direccionadas para a diminuição do impacto de factores de risco e/ou para o aumento de factores protectores. O desenvolvimento e a manutenção de recursos enquanto factores protectores são aspectos em que a intervenção se pode basear. Neste sentido, as áreas alvo possíveis são a promoção do sentido de auto-eficácia e da auto-estima, o desenvolvimento de competências de relacionamento inter-pessoal. É nas reacções e nos processos resultantes da experimentação de risco que a intervenção se pode basear, pelo que a criança poderia ser protegida através da disposição de serviços e de cuidados de qualidade que garantam a continuidade nos relacionamentos interpessoais, o suporte emocional e a percepção de segurança.

É necessário a existência de intencionalidade quando se pretende, em contexto institucional, realizar a intervenção. A intencionalidade requer a escolha de estratégias e de alvos de mudança que permitam a passagem da vulnerabilidade para a resiliência e adaptação. É importante que o profissional assuma como um dever o envolvimento num conjunto de tarefas direccionadas para elementos sequenciais e interactivos das

trajectórias desenvolvimentais que contribuem para a resiliência da criança e que abarcam uma vasta gama de actividades, responsabilidades e estratégias de intervenção (Formosinho, 2004: 219).

Em 1998, os autores Whitaker, Hicks e Archer apresentam, em cinco grandes grupos, uma classificação de actividades do profissional/educador. São elas: trabalho individual com as crianças, trabalho em grupo com as crianças, coordenação dos serviços de protecção à infância, trabalho sistémico nas redes de relações das crianças e trabalho de equipa na instituição.

A primeira actividade intitula-se trabalho individual com as crianças e refere que no trabalho individual com as crianças institucionalizadas, a característica central deve de ser a compreensão. O trabalho individual com as crianças assume como objectivos: orientar na intervenção a compreensão, a empatia, a aceitação incondicional e a escuta activa; perceber, descobrir e respeitar na criança os seus talentos, as suas competências, as suas visões, os seus conhecimentos, os seus valores e as suas esperanças; integrar e conhecer as condições relacionadas com a tríade cognição – emoção – comportamento que representa a actual vida da criança; explorar os recursos sociais, familiares e individuais; coadjuvar juntamente com a criança na definição de finalidades realistas; criar intervenções que levam à execução de objectivos e ao bem- estar e respectivo desenvolvimento da criança. Quando se recebe a criança na instituição dá-se início a um primeiro passo que é a intervenção. O passo que se segue é o de perspectivar a compreensão e o conhecimento da necessidade da criança, tendo em consideração a sua história de vida. Quando, juntamente com a criança, os objectivos foram estabelecidos, segue-se a programação da intervenção, em que esses objectivos são constantemente revistos e avaliados.

A segunda actividade intitula-se de trabalho em grupo com as crianças – esta pretende que as intervenções em grupo tenham como objectivo central a competência que cada sujeito tem para realizar alterações positivas na sua vida e nos seus contextos. Numa primeira fase, permite avaliar expectativas, facilitar relações suportadas no apoio mútuo e estabelecer objectivos de um modo construtivista. Foi demonstrado que alguns factores de resiliência, tais como - a crença na mudança, a auto-eficácia, a promoção de competências essenciais, o relacionamento significativo com os adultos, a distância adaptativa, o sentido de controlo, a redução da auto-culpabilização e o desenvolvimento de competências de resolução de problemas - são suportados através de processos de grupo fundamentados em objectivos partilhados.

A terceira actividade intitula-se coordenação dos serviços de protecção à infância – estes serviços devem dar uma resposta às necessidades da criança, tanto de um modo eficiente, como colaborativo. Gardner (1993) refere que os problemas podem ser minimizados ou eliminados através de uma abordagem coordenada e compreensiva do entendimento cabal das dificuldades ou problemas da criança. O trabalho de coordenação de serviços tem como objectivos: através da partilha do plano de intervenção os profissionais darem uma resposta às especificidades de cada um, e através da promoção do envolvimento activo da família e da partilha de responsabilidades criar uma sinergia direccionada para o bem-estar e satisfação das necessidades da criança. A intervenção, avaliação e investigação dos serviços são facilitados através da discussão entre sistemas de protecção à criança e a coordenação entre os serviços.

A quarta actividade intitula-se trabalho sistémico nas redes de relações das crianças – a criança sob uma perspectiva ecológica é vista nos contextos que a englobam, assim como, as relações que estabelece reciprocamente e mutuamente entre estes. Os objectivos desta actividade são a identificação de dificuldades que cruzam factores relacionados com a criança, a família, os pares, a escola e a comunidade, devendo a intervenção focar as transações interpessoais que estão relacionadas com os problemas da criança – ora contribuindo para tais problemas, ora representando factores protectores (Formosinho, 2004: 222). É muito importante que a intervenção familiar perspective a sua alteração e operacionalize os problemas, esta deve ter em consideração o presente e a acção.

A quinta actividade tem como título trabalho de equipa na instituição – esta refere que é através dos processos de colaboração que se caminha para intensificar a eficácia pessoal através da edificação da eficácia da equipa, assim como uma diminuição do stress relacionado com a natureza deste tipo de tarefa. Assim, a colaboração leva à criação de certezas situadas, a partir da consideração do problema e do contexto, ponto de partida para a intervenção, permitindo a delineação de objectivos específicos e de actividades estruturadas. (Formosinho, 2004: 223) Segundo Araújo e Formosinho (2001) é na partilha e na diferenciação que se fundamenta a execução dos objectivos de intervenção, necessitando de competências, de saberes, de funções e papéis distintos, sendo a resposta a cada situação problemática, edificada através da partilha de decisões, objectivos e responsabilidades.

A execução deste tipo de tarefas tem como objectivo a satisfação das necessidades básicas da criança e resulta de reuniões de equipa, coordenação de actividades e de supervisão, constatando-se que a equipa tem que estar em constante reflexão, experiência e formação pois os seus conhecimentos e competências são avaliados, registados e actualizados.

4.4. Rede nacional de lares para acolhimento de crianças e jovens em situação de