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O acórdão do TCA Sul, apreciando o recurso interposto pela ora recorrente da referida sentença, manteve-a na ordem jurídica, porquanto:

No documento Contencioso da Nacionalidade 2. edio (páginas 165-169)

Anexo III – Página de rosto de uma obra trilingue em hebraico e ladino

ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO (1.ª SECÇÃO) DE 5.2.2013, P 76/12 1 Constança Urbano de Sousa

I. Enquadramento I O direito à nacionalidade como direito fundamental inerente à dignidade da

2. O acórdão do TCA Sul, apreciando o recurso interposto pela ora recorrente da referida sentença, manteve-a na ordem jurídica, porquanto:

• Contrariamente ao sustentado pela ali recorrente entendeu que “…não tem razão a recorrente quando alega que a interpretação perfilhada na sentença apenas se adequaria às situações abrangidas pelo transcrito art. 9.º” e isto porque, “perante a identidade de redacção da alínea b), do art. 9.º e da alínea d), do n.º 1, do art. 6.º, não se vê como se pode sustentar que os preceitos têm sentidos diversos”;

• Quanto à questão de saber se a alínea d), do art. 6.º, deve ser interpretada como constituindo, por si só, um factor impeditivo da concessão da nacionalidade portuguesa ou um mero índice que tem de ser valorado face a cada situação concreta, referiu que a jurisprudência não se tem mostrado uniforme e embora não deixasse de reconhecer que a questão é duvidosa, aderiu ao “… entendimento defendido pelo Ac. da R.C. de 17/2/1994, Proc. 0061586, e pelos Acs. STJ de 25/5/1995, Proc. 88156, e de 20/4/1999, Proc. 99A217, que sustentaram que os fundamentos da oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa não passavam de meros índices de factores impeditivos da nacionalidade portuguesa que deveriam ser valorados face a cada situação concreta, carecendo, por isso, de alegação e prova dos factos complementares que evidenciam a indesejabilidade da integração da requerente na comunidade nacional. Quer dizer: a condenação, com trânsito em julgado da sentença, pela prática de um crime punível com pena (abstracta) de prisão de máximo igual ou superior a 3 anos não constitui um impedimento da concessão da nacionalidade. Assim e não tendo sido impugnada no presente recurso a valoração que a sentença fez quanto à situação concreta da recorrida, deve julgar-se improcedente o recurso”.

3. Na presente revista excepcional, a recorrente vem defender que o teor do julgado viola frontalmente o disposto na alínea d), do n.º 1, do art. 6.º, da LN, com a qual o legislador quis estabelecer, como pressuposto da naturalização, a não condenação pela prática de crime punível com pena de prisão igual ou superior a três anos, desinteressando-se, em absoluto, de quaisquer outras circunstâncias.

Refere que o próprio TCA Sul, em acórdão de 27/5/2010, concluiu que o requisito previsto na alínea d), do n.º 1, do art. 6.º, da LN, é de natureza objectiva, ou seja, “basta o seu não preenchimento para que o efeito jurídico visado na norma – a concessão da nacionalidade portuguesa – não se produza”, sendo, no caso de aquisição da nacionalidade por naturalização, a conduta da Administração vinculada, diferentemente do que acontece com a aquisição da nacionalidade portuguesa por efeito da vontade ou de adopção, que é aquela a que respeitam os acórdãos citados no acórdão recorrido.

E conclui que o acórdão recorrido não atentou na claríssima diferença que existe entre a previsão do art. 6.º, n.º 1, face à alínea b) do art. 9.º da LN, já que, embora a redacção seja igual, o primeiro configura a não condenação como uma condição necessária para a naturalização, enquanto o segundo se limita a enunciar factos que podem constituir fundamento de oposição em acção a propor pelo Ministério Público, no prazo de um ano a contar do facto de que dependa a aquisição. Acrescentando que, na tese defendida pelo acórdão recorrido, sempre caberia perguntar qual o critério a seguir pela Administração para poder avaliar se a prática do crime constituía ou não impedimento para aquisição da nacionalidade por naturalização, sendo certo que actua no exercício de um poder vinculado e não discricionário.

Vejamos:

4. A Lei da Nacionalidade foi aprovada pela Lei n.º 37/81, de 3/10, com as alterações introduzidas pela Lei Orgânica n.º 2/2006, de 17/4, e, actualmente, é regulamentada pelo DL n.º 237-A/2006, de 14/12, aplicável à situação sub judicio.

Nos termos do art. 1.º, n.º 1, do citado Decreto-Lei, “A nacionalidade portuguesa pode ter como fundamento a atribuição, por efeito da lei ou da vontade, ou a aquisição, por efeito da vontade, da adopção plena ou da naturalização”.

A atribuição da nacionalidade por efeito da lei ou da vontade, ou seja, a nacionalidade originária, está prevista no art. 1.º, da LN e regulamentada nos arts. 2.º a 11.º, do citado Decreto-Lei.

A aquisição da nacionalidade, por efeito da vontade, da adopção plena ou da naturalização, está prevista nos arts. 2.º a 7.º, da LN e regulamentada nos arts. 12.º a 28.º, do citado Decreto- Lei.

A questão que nos ocupa prende-se com os requisitos da aquisição da nacionalidade por naturalização, exigidos no art. 6.º, da LN, mais precisamente com o requisito exigido pela alínea d), desse preceito legal.

Dispõe o citado art. 6.º, da LN, que:

“1 – O Governo concede a nacionalidade portuguesa, por naturalização, aos estrangeiros que satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos:

a) Serem maiores ou emancipados à face da Lei portuguesa;

b) Residirem legalmente no território português há pelo menos 6 anos; c) Conhecerem suficientemente a língua portuguesa;

d) Não terem sido condenados com trânsito em julgado da sentença, pela prática de crime punível com pena de prisão de máximo igual ou superior a 3 anos, segundo a lei portuguesa”. O art. 19.º, n.º 1, do citado DL n.º 237-A/2006, sob a epígrafe “naturalização de estrangeiros residentes em território português”, tem idêntica redacção.

Não restam, pois, dúvidas que verificados todos e cada um dos referidos requisitos, uma vez que são de verificação cumulativa, o Governo não pode deixar de deferir pedido de aquisição de nacionalidade portuguesa por naturalização, formulado por estrangeiro residente em território português.

Com efeito, estamos, neste campo, no âmbito da actividade vinculada da Administração (cf., neste sentido, RUI MOURA RAMOS, “A renovação do Direito Português da Nacionalidade pela Lei Orgânica n.º 2/2006, de 17 de Abril”, Revista de Legislação e de Jurisprudência, 136.º, n.º 3943, pp. 206/208 e 229/230), não havendo lugar a qualquer margem de discricionariedade, mas sim e apenas à verificação objectiva dos requisitos ali exigidos.

Ora, um desses requisitos é, como decorre da supra transcrita alínea d), que o requerente não tenha sido condenado com trânsito em julgado da sentença, pela prática de crime punível com pena de prisão de máximo legal igual ou superior a 3 anos, segundo a lei portuguesa.

Sendo esse o único requisito que está em discussão no presente recurso, já que a pretensão da recorrida foi rejeitada com base na sua não verificação, passamos a apreciá-lo.

5. Nos termos do art. 150.º, n.º 3, do CPTA, “Aos factos materiais fixados pelo tribunal recorrido, o tribunal de revista aplica definitivamente o regime jurídico julgado adequado”. Ora, ficou assente nas instâncias que a recorrida “…foi condenada pelo Tribunal Criminal de Lisboa no processo comum (Tribunal Singular) n.º 947/995SXLSB – 1.º Juízo, 2.ª Secção, pela prática do crime de ofensa à integridade física simples, prevista e punida pelo art. 143.º, do Código Penal, praticado em 31/7/1999, por decisão de 5/2/2004, na pena de 120 dias de multa, à razão diária de um euro, o que perfaz a multa global de 120 euros, ou, em alternativa, 80 dias de prisão, decisão transitada em julgado em 20/2/2004” [cf. alínea F) do probatório da sentença da 1.ª instância].

O crime por ofensa à integridade física simples é punível, nos termos do art. 143.º, n.º 1, do Código Penal, “… com pena de prisão até três anos ou com pena de multa”.

Portanto, a lei prevê para este crime, logo no tipo legal, a possibilidade de o mesmo ser punível com uma pena de prisão até três anos ou, em alternativa, com uma pena de multa, cabendo ao juiz optar por uma ou por outra, nos termos previstos no art. 70.º, do Código Penal, que dispõe que “Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e pena não privativa de liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição”.

Ora, esta tarefa prévia de escolha da pena, a que se alude no art. 70.º, do Código Penal, nos casos em que o tipo legal do crime a permite, como vimos que acontece com o referido crime de ofensas à integridade física simples, não se confunde com a posterior tarefa de determinação da medida concreta da pena, a que se alude no art. 71.º, do mesmo diploma legal, situando-se a montante desta (cf. FIGUEIREDO DIAS, Direito Penal Português, 1993, pp. 234 a 237, e ainda art. 15.º, n.º 2, da Declaração Universal dos Direitos do Homem).

Com efeito, a prévia escolha, pelo julgador, entre penas alternativas previstas no tipo legal, é determinada apenas por considerações de natureza preventiva, já que visa exclusivamente as “finalidades da punição” (cf. citado art. 70.º), enquanto a determinação da medida concreta da pena é feita, dentro dos limites definidos na lei, em função da culpa do agente e das exigências de prevenção, devendo ainda o tribunal atender a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele (cf., no caso da pena de prisão, o art. 41.º; nos casos da pena de multa, o art. 47.º, do Código Penal e citado art. 71.º). Portanto, no primeiro caso, estamos ainda no âmbito da pena aplicável ao crime, enquanto no segundo caso, já estamos no âmbito da pena efectivamente aplicada.

Ora, nos casos em que a lei prevê a possibilidade de escolha, pelo juiz, entre dois tipos de pena aplicáveis, em alternativa, a um determinado tipo de crime, sendo uma, a pena de prisão até três anos e a outra, a pena de multa, como vimos que acontece no crime de ofensas à integridade física simples, a verificação do requisito previsto no citado art. 6.º, n.º 1, alínea d), da LN, dependerá da escolha que o juiz que proferiu a condenação fez ao abrigo do art. 70.º, do Código Penal, ou seja, depende de o juiz ter considerado o crime cometido punível com pena de multa e não com pena de prisão até três anos. Com efeito, nem a letra, nem a ratio do preceito consente, a nosso ver, outra interpretação, sendo certo que a intenção do legislador subjacente às alterações introduzidas na Lei da Nacionalidade pela Lei Orgânica n.º 2/2006, designadamente no citado art. 6.º, foi claramente a de facilitar e não de restringir a integração de estrangeiros imigrados no nosso país, bem como acentuar o carácter de direito fundamental do direito à nacionalidade, reduzindo o poder do Estado na sua modelação (cf. RUI MOURA RAMOS, ob. cit., pp. 225 e segs.).

E, assim sendo, uma vez que o crime cometido pela recorrida era, nos termos do art. 143.º, do Código Penal, punível com pena de prisão até três anos ou com pena de multa e cabendo a opção por uma ou por outra dessas penas ao julgador, haverá que verificar, na respectiva sentença condenatória, por qual delas o juiz optou, pois, como referimos, só se tivesse considerado o crime punível com pena de prisão até três anos é que não se verificaria o requisito exigido pelo citado art. 6.º, n.º 1, alínea d), da LN.

6. Ora, no presente caso, o juiz do 1.º juízo criminal de Lisboa considerou que o crime de

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