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CAPÍTULO 4 INCLUSÃO ESCOLAR

5.1. Acessibilidade Espacial

Entende-se por acessibilidade a possibilidade de acesso e uso a todos os lugares com facilidade e segurança, não apenas por pessoas, ditas fisicamente íntegras, mas, também, por pessoas com algum tipo de limitação sejam estas portadoras de deficiências permanentes ou temporárias (LOCH, 2001, p.3).

A acessibilidade para Lenarduzzi (2003) é um elemento chave para o desenvolvimento sustentável, porque aumenta a qualidade de vida e trabalha na criação de um meio ambiente urbano mais tolerável, produzindo riquezas, bem estar social e saúde. Ajuda a encontrar formas de crescimento e de desenvolvimento sem discriminação que atendam a todas as características humanas, não apenas as fisiológicas, mas também, as culturais e as sociais, aceitando as diferenças, contribuindo para um mundo onde tudo e todos sejam considerados importantes. O que mostra sua complexidade e seu amplo campo de atuação.

Em outras palavras, pode-se dizer que acessibilidade significa poder realizar as ações desejadas, maximizando competências e habilidades, diminuindo as dificuldades e as barreiras encontradas, permitindo participação, igualdade e mais independência para uma vida normal. Envolve o acesso aos espaços públicos e privados, externos e internos, a informação e a comunicação visual, aos recursos e

aos equipamentos, entre outros elementos que permitam às pessoas com deficiência acessar o mundo em que se vive.

No estudo da acessibilidade faz-se necessário a identificação das barreiras existentes, tanto no ambiente físico como no social. Estas barreiras podem ser divididas em: arquitetônicas (físicas); urbanísticas (físicas); no desenho de produtos e de sistemas (físicas); nos transportes (físicas); de comunicação e de informação (físicas); sociais e/ou atitudinais (LOCH, 2000). A eliminação destas resultaria em uma melhor inclusão e qualidade de vida para a população em geral e a partir do seu entendimento, tem-se mais capacidade de detectá-las e de resolvê-las.

A eliminação desses obstáculos busca a criação de um ambiente confortável, participativo, acessível e seguro para o homem. A questão da segurança, assim como todas as demais, é um direito e requer espaços na qual a saúde mental e física não estejam comprometidas (LOCH, 2000).

Dischinger (2004, p.28) coloca acessibilidade espacial como a possibilidade de:

... poder chegar a algum lugar com conforto e independência, entender a organização e as relações espaciais que este lugar estabelece e participar das atividades que ali ocorrem fazendo uso dos equipamentos disponíveis. ... Enfim, prover acessibilidade espacial é, sobretudo, oferecer alternativas de acesso e uso a todas as pessoas, garantindo seu direito de ir e vir e sua condição de cidadania.

Normalmente, os elementos que estruturam as condições de acessibilidade espacial são vistos de forma separada, sem integração entre eles. Esta realidade cria ações insuficientes, que acabam perdendo a força, pois se elegem um ou dois pontos para atacar, em sua maioria os mais simples. De modo geral, ações pontuais criam paliativos para um problema complexo e funcionam como um adiamento da análise e da solução da verdadeira problemática (CARVALHO, 2001, p. 55): “a inclusão das pessoas com deficiências aos bens e serviços socialmente disponíveis para os demais”.

A acessibilidade espacial precisa ser vista como um sistema integrado, interligado e interdependente (LOCH, 2000; FÁVERO, 2004; FERREIRA, 2004) em relação as questões que envolvem o ambiente que irá complementar. Para se conseguir alcançar o ideal da sociedade inclusiva, não adianta melhorar apenas um ou dois aspectos, mas um contexto global, e assim, mudar a visão da sociedade frente a diferença e a exclusão, tornando a diversidade parte integrante de nossas vidas. Ferreira (2004) cita que os ambientes em geral devem ser concebidos como

sistemas integrados e não como partes isoladas, fundamentando, de tal forma, o conceito de acessibilidade sem discriminação.

Quando se projeta com a acessibilidade espacial gera-se um espaço inclusivo (LOCH, 2000) que atua como facilitador/promotor no processo de inclusão (ALLEN, 2001, GIPS, 2003; AUDI, 2004), pois favorece a interação entre as pessoas por dar a elas o direito de percorrer os mesmos percursos. Assim, a arquitetura e o design gráfico e de produtos, junto com medidas legislativas e ações de reestruturação do modus operantis das instituições em geral, visam à efetividade do processo de inclusão social das pessoas com deficiências.

Para gerar inclusão, a acessibilidade espacial deve conter requisitos de informação (sobre as atividades existentes, os locais onde ocorrem e os caminhos para se chegar até elas); de deslocamento (confortáveis e seguros) e de participação (garantir a participação nas atividades pela utilização dos ambientes e de seus equipamentos) (DISCHINGER, 2004).

Considerando-se a percepção, a compreensão e a ação do indivíduo no ambiente, a acessibilidade espacial apresenta alguns critérios de avaliação: uso (legibilidade, participação, forma e facilidade de utilização); segurança (ruído, temperatura, acústica, incêndio, iluminação, acidentes); conforto (ergonomia, mínimo esforço); orientação espacial (disponibilidade de informação, legibilidade espacial); deslocamento (mobilidade, percursos); comunicação (compreensão, intercâmbio de informações). Tais princípios são condições necessárias para garantir a acessibilidade no uso do espaço e dos equipamentos, sendo importante considerar a interdependência entre elas. Salienta-se que dependendo das restrições dos usuários basta o não cumprimento de uma delas para que todas as demais sejam comprometidas (DISCHINGER, 2006).

Conforme o colocado pelo European Concept for Acessibility (ECA) (ARAGALL, 2003), um ambiente acessível deve obedecer aos seguintes componentes em seu espaço construído:

 Respeitar as diferenças dos usuários, sem discriminar ou diferenciar o indivíduo;

 Ser seguro, neutralizando os riscos de acidentes e respeitando as recomendações normativas quanto aos níveis de temperatura, de iluminação, de ruído etc;

 Configurar-se como um ambiente saudável, evitando riscos para saúde e promovendo um uso saudável do espaço e dos produtos (equipamentos);  Ter funcionalidade, projetado de forma a possibilitar a realização da tarefa

sem problema ou dificuldade;

 O resultado deve ser agradável esteticamente, limpo e bem resolvido;  Ser compreensível, pois todos os usuários devem ser capazes de se

orientar no espaço sem dificuldade, sendo para isso necessário:

 Oferecer informações claras, utilizando ícones, palavra escrita, em braile e sonora, com formas e tamanhos adequados;

 Ter uma distribuição espacial coerente e funcional, evitando desorientação e falta de autonomia. O espaço interno, layout, deve ser disposto de forma a facilitar o entendimento do espaço. Cada profissional, arquiteto ou designer, tem seu repertório e sua preferência em relação a que posicionamento conceitual utilizar para solucionar os problemas de acessibilidade. O mais utilizado e que tem referência na norma NBR 9050/2004, é o Desenho Universal, mas isso não impede que o profissional utilize outro conceito de projeto para geração de acessibilidade espacial. O que se enfatiza é que o profissional não utilize a norma como único referencial, mas apenas como um instrumento para busca de informações técnicas, como graus de inclinações de rampas etc. Em relação à questão antropométrica esta afirmação se faz bastante relevante já que as dimensões aconselhadas pela norma nacional são apresentadas para adultos e, quando se trata de crianças, por exemplo, muitos dos dados da norma não podem ou não devem ser utilizados.

Desta maneira, projetar os espaços e os equipamentos, a partir de uma visão mais humanitária, levando em conta os pressupostos da acessibilidade espacial, pode vir a ajudar na transformação do ambiente. Dentro deste contexto, pode promover as relações entre os indivíduos, seus comportamentos, seus valores e suas crenças sociais e culturais, favorecendo a interação das pessoas dentro dos espaços, explorando, na tipologia e na configuração espacial ou dos produtos, elementos para que o convívio em coletividade seja mais desenvolvido.

Entretanto, a acessibilidade, como o comentado por Camisão (2004a, p.39/40):

está sujeita a dinâmicas e modificações incessantes. Qualquer sítio tornado acessível não pode ser considerado definitivamente como tal. Há fatores

externos que interferem indefinidamente e que devem ser mantidos sob vigilância. É necessária a manutenção continuada para garantia de que todas as adaptações e equipamentos permaneçam íntegros e eficientes, e para se facilitar essa conservação, há que se estimular a cooperação popular. Isso só acontecerá através da conscientização e educação. Através de campanhas de divulgação, que informam o sentido do investimento em eliminação de barreiras. Somente o cidadão conscientizado não estaciona em frente à rampa ou na vaga especial para deficientes físicos. Mas é preciso mais do que isto. É necessário que as normas sejam cumpridas, e que o Poder Público exerça uma fiscalização rigorosa nas áreas urbanizadas. Para tal é necessário também a preparação dos membros dos próprios órgãos fiscalizadores, ... Sugerimos também, visando melhores resultados em obras públicas, que a liberação de faturas de pagamento às empreiteiras esteja submetida à aprovação da execução adequada do quesito acessibilidade. O sucesso das gestões pró- acessibilidade depende diretamente do investimento em manutenção, divulgação e fiscalização.