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CAPÍTULO 4 INCLUSÃO ESCOLAR

5.4. Pedagogia Construtivista

Aprende-se a vida inteira, através das formas de viver e conviver. Processos cognitivos e vitais encontram-se e interagem constantemente. ... Conhecer é um processo biopsicossocial e histórico. Cada ser vivo, para existir e viver, tem que se flexibilizar, adaptar-se, reestruturar-se, interagir, criar, coevoluir e transformar. É imprescindível, portanto, trabalhar no sentido de tentar construir consciências críticas, efetivamente autônomas e criativas, capazes de edificar sociedades mais justas – voltadas para a solidariedade e o respeito pelo outro (FERREIRA, 2003, p.152).

O construtivismo, iniciado a partir das pesquisas de Jean Piaget, busca responder como o indivíduo adquire conhecimento e constrói sua estrutura cognitiva, sendo uma teoria do conhecimento, onde se estuda os processos e as estruturas que regulam e orientam a construção do conhecimento. De acordo com Matui (1995), a gênese e o desenvolvimento das estruturas mentais são um dos objetos de estudo, principalmente do estudo psicogenético, de Piaget e dos demais construtivistas.

Os pressupostos construtivistas, resultados das colocações, principalmente de Jean Piaget e de Lev Semenovích Vygotsky41, são utilizados por psicólogos e por pedagogos42, recebendo diversas interpretações. Tal fato, referindo-se a educação,

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Outros estudiosos com Luria, Leontiev, Wallon, Nuttin e outros, contribuíram para a estruturação do construtivismo (MATUI, 1995).

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Enfoca-se que o construtivismo não se preocupa com a aplicação prática, ele discute a forma como se dá a construção de conhecimentos, não a maneira de como se deve ensinar. A pedagogia construtivista visa à aplicação das contribuições destes autores (Piaget, Vygotsky etc) a educação (MATUI, 1995).

pode ser verificado na colocação de Mendes (2002, p.26), sobre a teoria do conhecimento de Piaget:

A grande influência da teoria do conhecimento de Piaget na educação é óbvia e interfere nos aspectos cognitivos, nas relações interpessoais alunos/professores, na atuação da equipe interdisciplinar, na didática, nas propostas curriculares, na definição dos fins educacionais, em modelos de aprendizagem à distância e na construção de softwares educacionais. Além do mais, as contribuições de Piaget são discutidas em diferentes áreas de pesquisas (Neurologia, Cibernética, Matemática, Lógica, Física, Psicologia, Biologia, Sociologia, Lingüística etc).

Vergnaud (1998, p.23) coloca que o construtivismo não caracteriza-se como uma teoria acabada, sendo que ela encontra-se muito viva atualmente e sofreu algumas evoluções ao longo do tempo. Para Matui (1995, p.3), “O construtivismo é antes de tudo uma nova visão de mundo e da natureza humana” e para entendê-lo deve-se modificar o ponto de vista em relação ao mundo e a estrutura humana, abandonando a forma metafísica de pensamento.

O autor acrescenta (MATUI, 1995) que o construtivismo se caracteriza por ser dialético e por apresentar uma visão de totalidade integradora. No construtivismo nada é uma simples soma das partes, o conhecimento e o sujeito, por exemplo, são constituídos em um processo de movimento, de totalidade (sistêmica), de transformações e de saltos de qualidade.

Becker (1994, p.88-89) coloca que o construtivismo trabalha com a idéia de que:

nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio ...

O construtivismo caracteriza-se por ser cognitivo interpretativo, porque supõe que os eventos e os objetos são interpretados pelo sujeito. Sujeito este que tem a faculdade e a capacidade de conhecer, de adquirir, de interpretar e de gerar conhecimento a partir da inter-relação dele com o meio tanto físico como social. Dentro dessa perspectiva, a construção do conhecimento depende, portanto, tanto das condições do sujeito como das do meio.

Duffy e Jonassen (apud CRISTOFOLINI, 2003) afirmam que o objetivo da busca da aprendizagem não é assegurar que os indivíduos aprendam ou entendam completamente certas explicações, mas que consigam construir interpretações

plausíveis de si mesmo e do conhecimento apresentado, usando instrumentos que foram desenvolvidos por eles e com eles, ou seja, no grupo.

De acordo com Freitas (2005), o modelo de ensino-aprendizagem construtivista proporciona ao professor, que encara a aprendizagem como uma mudança, uma reestruturação de conceitos, valorizando o papel ativo do aluno na construção do seu próprio conhecimento. Considera as concepções e os anseios dos alunos, integrando-os ao contexto social, político, econômico, cultural e educacional da realidade onde ele e a escola estão inseridos.

Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é sim, uma teoria que permite (re)interpretar todas essas coisas (BECKER, 1994, p. 89).

Campos (1998) coloca que no construtivismo, em relação à prática pedagógica, dá-se ênfase a argumentação, a discussão e ao debate. O aluno constrói uma representação interna do conhecimento adquirido pela interação sujeito/objeto, e uma interpretação pessoal da experiência, sempre aberta a mudanças, estruturando-se e reestruturando-se à medida que interage com a realidade. Essas alterações e associações constantes formam a base para que novas informações sejam incorporadas. É um processo que implica combinar o antigo e o novo, e quanto mais rica for esta experiência antiga vivenciada e acumulada nas gerações anteriores, mas rico será o processo de reformulação dos conceitos (OLIVEIRA, 2005).

Dentro desta perspectiva, o individuo está permanentemente se construindo como sujeito social, isto é, integrando grupos e forjando sua identidade. Conforme Grossi (1992, p.217), “não há identidade no estar só e não há grupos sem identidade”, sendo que o homem para se tornar um indivíduo se reconstrói constantemente. A causa destas transformações no indivíduo é o relacionamento entre os sujeitos sociais e o meio, que a partir delas vai recriando sua identidade e de seu grupo social constantemente (GROSSI, 1992; MATUI, 1995; DUARTE, 2005; SMOLKA, 2005).

Na Figura 9 pode-se perceber como estas alterações ocorrem de forma simplificada. O sujeito adquire uma nova informação, e a partir dela inicia o processo de construção do conhecimento. Pela busca constante de novos subsídios vai desconstruindo suas afirmações e reconstruindo-as à medida que se relaciona com

alguns dos veículos de interação sócio-culturais que fazem parte do processo de aprendizagem. Ele lida com as informações, novas ou não, modificando-as, reorganizando-as, reinterpretando-as e atribuindo-lhes sentido.

Figura 9: Processo de Construção – Desconstrução – Reconstrução pela Interação Indivíduo – Meio.

Fonte: Piaget (1970); Vygotsky (1984); Matui (1995), Adaptado pela Autora.

Basicamente, o processo demonstrado na Figura 9, representa a relação dinâmica de troca entre sujeito e objeto do conhecimento (meio físico e social), que ocorre por meio de um mediador e se caracteriza como a ação de construção do conhecimento. Esta ação encontra-se subdividida em dois processos, o de reconstrução e o de desconstrução, sendo que estes ocorrem no cérebro por meio da assimilação, da acomodação, da adaptação, da equilibração e da organização de acordo com Piaget (1970).

Nessas relações com o meio, o indivíduo capta o que é de seu interesse. Em seguida, reconstrói (a partir da reflexão) o que já construiu. A interação entre indivíduos e objetos pressupõe afetividade43, pois envolve emoções. Ela é uma relação dinâmica que existe em diversos momentos e formas, entre indivíduo e sociedade, entre sujeito e objeto, entre organismo e meio, entre indivíduo e indivíduos etc.

É graças a tais interações que o sujeito adapta e desconstrói sua estrutura cognitiva e gera novos conhecimentos. Sendo assim, tanto o sujeito quanto o meio têm importância fundamental na construção de conhecimento.

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Foi Henri Wallon o pesquisador que contribuiu com as questões afetivas e de personalidade ao contexto construtivista (MATUI, 1995).

Desconstrução (troca) Reconstrução (reflexão) Construção (ação) Sujeito Mediador Meio - Objeto

O homem é um ser social, envolto em relações sociais, e, desta forma, encontra-se em constante movimento. Este homem constrói o seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo, ou seja, a construção de seu conhecimento e, conseqüentemente, do seu ser, ocorre num mesmo processo de transformação entre interno e externo, indivisível e de interdependência entre processos, onde, portanto, este homem está sempre em processo de transformação. Para Pozo (2005), a aquisição de conhecimento ocorre a partir da mediação (VYGOTSKY, 1984) e tem dupla reconstrução: por um lado, dos conhecimentos prévios dos alunos e, por outro, dos conhecimentos, culturalmente dados, que o indivíduo que ensina transmite. As crianças (re)elaboram a experiência vivida em seu meio social, edificando novas realidades de acordo com seus desejos, suas necessidades e suas motivações (JAPIASSU, 2002).

Resumidamente podem-se colocar os presentes pontos como relevantes para o contexto construtivista na educação (BRUNO, 1997; CAMPOS, 1998; LIMA, 1998; ALVES, 2004; GADOTTI, 2005a; OLIVEIRA, 2005; REGO, 2005), entre muitos já citados:

 a exigência de uma dinâmica interna de momentos discursivos (raciocínio, dedução, demonstração ...) concentrando-se em ensinar às crianças as habilidades do pensamento;

 o entendimento (aprendizado) do presente baseado no passado dando ao presente nova construção, estando o conhecimento em constante processo de reconstrução. Desta forma, o aluno constrói e reconstrói o conhecimento e o professor reflete sua prática pedagógica;

 pede-se um rompimento das paredes da sala de aula integrando a casa, a cidade e o mundo, incentivando a interação social, utilizando-a como uma ação que favorece a aprendizagem;

 a estimulação da curiosidade, da criatividade e do trabalho em grupo, onde os objetivos pedagógicos encontram-se em sintonia com a realidade, a curiosidade e a capacidade do aluno, ou seja, encontra-se conectado com seu mundo;

 a proposição de ambientes que permitam a ocorrência de aprendizagem e de compreensão sob múltiplas perspectivas. Ambientes mais ricos em informações, ferramentas e mídias diversas;

 a partir de um método prático, com um posicionamento crítico, a mediação é realizada através do diálogo e da interrogação constante, com base na observação, a fim de desenvolver os sentidos e a observação dos aprendizes;

 as experiências de aprendizagem estruturam-se de modo a privilegiarem a colaboração, a cooperação, a reciprocidade, a autonomia e o intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento, em um ambiente social de liberdade e democracia.