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Unidades de Convergências da Pedagogia Construtivista

CAPÍTULO 4 INCLUSÃO ESCOLAR

6.4. Unidades de Convergências da Pedagogia Construtivista

Através dessas mudanças lentas e graduais, observa-se que as pessoas passam a compreender a educação como mediadora de um diálogo do homem consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza, o que só se faz possível através da criação de ambientes de aprendizagem que favoreçam o surgimento de condições externas, mobilizadoras dos recursos internos dos indivíduos. Esta consciência conduz ao surgimento da expressão de novas formas de solidariedade e cooperação entre os diferentes membros da raça humana (FERREIRA, 2003, p.132).

As Unidades de Convergências da Pedagogia Construtivista (UC) aqui apresentadas enfocam, fundamentalmente, as questões que mais se relacionam com a prática da educação inclusiva. Todos os aspectos construtivistas são de extrema importância para o sucesso da construção crítica e reflexiva do conhecimento. No entanto, o trabalho, mesmo não abordando todos estes elementos, enfatiza sua importância.

Como relatado nas unidades de convergências da escola inclusiva, as palavras chaves compreendem uma ampla gama de características, sendo apenas algumas delas enfocadas. Os pressupostos expostos referem-se a uma reflexão da revisão teórica realizada e a tentativa de relacionar estes pontos apresentados com os elementos expostos na acessibilidade espacial escolar e na prática escolar inclusiva.

Os elementos colocados na apresentação das unidades de convergências da inclusão escolar como fundamentais: o papel do professor e do aluno, são similares aos da prática construtivista escolar. Amplia-se à questão do professor, ao fato deste ser o organizador de experiências que possibilitam ao sujeito construir

conhecimento. Assume a direção, coordenação, seleção e organização de forma sistemática dos processos em sala de aula, observando, registrando e avaliando o processo pedagógico.

O papel da escola se difere, pois não se enfoca a diversidade como condição, mas como função da escola construtivista respeitá-la, dando dignidade ao aluno com deficiência aprender, já que, na sua base, o construtivismo acredita na capacidade de todos os indivíduos. A escola construtivista tem como objetivo possibilitar a interação e a ampliação das capacidades de seus alunos, equipando-se com ferramentas que dão condições à construção do pensamento crítico e da autonomia dos alunos.

Então, conforme o apresentado, serão listadas e conceitualizadas algumas unidades de convergências que envolvem a postura pedagógica do construtivismo e encontram-se convergindo com os princípios inclusivistas, como pode ser analisado no Quadro 8. Os autores, cujos posicionamentos teóricos são referência na construção destes conceitos encontram-se, também, dispostos no Quadro 8.

Quadro 8: Conceitos e Embasamento Teórico das Unidades de Convergências da Pedagogia Construtivista.

UC Conceito Autores

Aprendizagem Processo cognitivo ativo de captação dos

objetos internos e externos, relacionando e reestruturando conceitos, visando a construção de estruturas mentais.

Piaget (1970); Vygotsky (1984); Becker (1994); Matuí (1995); Ostrower (1998); Semighini (1998); Schluzen (2000); Stoecklin (2000); Ferreira (2003); Sassaki (2003); Schwartzman (2003); Araújo (2004); Carvalho (2004); Mantoan (2004); Martín (2004); Dischinger (2005); Freire (2005); Gadotti (2005); Macedo (2005); Rego (2005); Smolka (2005); Stainback (2005).

Autonomia Possibilidade de escolha na tomada de

decisão durante o processo de construção do conhecimento.

Piaget (1970); Vygotsky (1984); Allen (2001); Carvalho (2001); Mantoan (2002); Ely (2003); Ferreira (2003); Camisão (2004); Dischinger (2004); Freitas (2005); Polli (2005); Smole (2005).

Construção

Coletiva Condição conhecimento participativo. inerente à construção do

Vygotsky (1984); Grossi (1992); Matuí (1995); Falvez (2000); Stainback (2000); Diniz (2002); Santos (2002); Ferreira (2003); Mantoan (2003, 2004); Sassaki (2003); Alves (2004); Duarte (2005); Polli (2005); Rego (2005).

Contexto Sócio-

histórico Requisito de consideração às questões sociais, econômicas, morais, históricas,

culturais, dentre outras, na qual o conhecimento é construído.

Sommer (1973); Vygotsky (1984); Matuí (1995); Semighini (1998); Loch (2000); Allen (2001); Kennedy (2002); Ely (2003); Mantoan (2003, 2004); Alves (2004); Mittler (2005); Stainback (2005); Freire (2005); Polli (2005); Pozo (2005).

Cooperação Atitude de colaboração e respeito entre as

partes envolvidas no processo de construção do conhecimento.

Vygotsky (1984); Matuí (1995); Semeghini (1998); Vergnaud (1998); Karagiannis (2000); Loch (2000); Stainback (2000); Mantoan (2002); Ferreira (2003); Sassaki (2003); Araújo (2004); Camisão (2004); Rego (2005).

Dinâmica Procedimento ativo (energético, em

constante movimento e transformação) que envolve o indivíduo no processo de ensino- aprendizagem.

Matuí (1995); Vergnaud (1998); Allen (2001); Diniz (2002); Mantoan (2002); Mendes (2002); Ferreira (2003); Gips (2003); Poker (2003); Freitas (2005); Dorneles (2005); Freire (2005); Gadotti (2005).

Espacialidade Características do espaço físico que

propiciem o processo de ensino- aprendizagem e a habilidade de abstração dos conteúdos (objetos de conhecimento) pelos alunos.

Piaget (1970); Sommer (1973); Vygotsky (1984); Campos (1998); Bergmillen (1999); Stoecklin (2000); Maia (2001); Aragall (2003); Ferreira (2003); Nogueira (2003); Poker (2003); Audi (2004); Camisão (2004); Carvalho (2004); Ribeiro (2004).

Estimulação Ato de instigação externa que propicie ao

indivíduo perceber e captar o objeto de conhecimento.

Vygotsky (1984); Andrade (1994); Ostrower (1998); Semighini (1998); Bergmillen (1999); Mantoan (2002); Alves (2004); Davis (2005); Dischinger (2005); Rego (2005); Siaulys (2005); Kasper (2007).

Excelência Capacidade de buscar características e

procedimentos pedagógicos que possibilitem alcançar metas além das necessidades e das expectativas dos usuários.

Matuí (1995); Mello Filho (1998); Bergmillen (1999); Karagiannis (2000); Carvalho (2001); Mittler (2001); Lernarduzzzi (2003); Souza (2003); Alves (2004); Araújo (2004); Mantoan (2004).

Flexibilidade Condições ambientais (meio físico,

ferramental pedagógico) que permitem a versatilidade no atendimento das diferentes demandas educacionais.

Sommer (1973); Macadar (1992); Becker (1994); Matuí (1995); Story (1998); Stoecklin (2000); Diniz (2002); Kennedy (2002); Ferreira (2003); Gips (2003); Mantoan (2003); Poker (2003); Dorneles (2005).

Habilidade Capacidade de fazer uso consciente do

conhecimento construído.

Vygotsky (1984); Semighini (1998); Bergmillen (1999); Loch (2000); Ferreira (2003); Sassaki (2003); Alves (2004); Carvalho (2004); Mantoan (2004); Davis (2005); Dischinger (2005); Rego (2005); Smolka (2005); Kasper (2007).

Interação Estratégias pedagógicas que propiciem a

integração, visando o processo de troca entre os alunos e o objeto de conhecimento (meios físico e pedagógico).

Piaget (1970); Sommer (1973); Vygotsky (1984); Semeghini (1998); Falvez (2000); Karagiannis (2000); Stainback (2000); Santos (2002); Ferreira (2003); Nogueira (2003); Mantoan (2003); Araújo (2004); Martín (2004); Freire (2005); Macedo (2005); Polli (2005); Smolka (2005).

Mediação Habilidade pessoal (professor, monitor,

facilitador, grupo) e/ou instrumental (ferramentas, ações, técnicas) em efetivar a interação.

Vygotsky (1984); Grossi (1992); Matuí (1995); Vergnaud (1998); Mantoan (2003, 2004); Alves (2004); Duarte (2005); Pozo (2005); Smolka (2005).

Método Conjunto de atributos da pedagogia que

definem a linha de ação dos procedimentos pedagógicos.

Matuí (1995); Campos (1998); Mello Filho (1998); Vergnaud (1998); Stoecklin (2000); Abreu (2002); Ferreira (2003); Carvalho (2004); Mantoan (2004); Macedo (2005); Nascimento (2005); Oliveira (2005); Rego (2005).

Observação Estratégia de ação que busca levantar

dados (diagnosticar) para a tomada de decisão referente ao modo a se proceder durante o processo de ensino- aprendizagem.

Piaget (1970); Vygotsky (1984); Macadar (1992); Matuí (1995); Schluzen (2000); Nogueira (2003); Becker (2005); Macedo (2005); Oliveira (2005); Rego (2005); Smole (2005); Stainback (2005).

Organização Modo de estruturar os procedimentos, de

arranjar o espaço em sala de aula, o pensamento (etc) por parte dos professores e dos alunos com vista a facilitar o processo de ensino-aprendizagem

Matuí (1995); Mello Filho (1998); Bergmillen (1999); Karagiannis (2000); Sage (2000); Stoecklin (2000); Abreu (2002); Nogueira (2003); Poker (2003); Sassaki (2003); Mantoan (2004); Ribeiro (2004); Becker (2005); Macedo (2005); Mittler (2005); Oliveira (2005); Rego (2005); Stainback (2005).

Participação Atributos contidos nos procedimentos

pedagógicos que visem à interação biopsicossocial do indivíduo no processo de ensino aprendizagem.

Loch (2000); Schluzen (2000); Sassaki (2002); Ferreira (2003); Santos Jr. (2003); Araujo (2004); Carvalho (2004); Dischinger (2004); Fávero (2004); Mantoan (2004); Martín (2004); Freire (2005); Gadotti (2005); Polli (2005); Smole (2005); Kasper (2007).

Pensamento

Crítico Características pedagógicos que propiciem uma reflexão dos procedimentos

crítica do contexto apresentado e de si próprio.

Matuí (1995); Mendes (2002); Poker (2003); Mantoan (2003); Sassaki (2003); Alves (2004); Becker (2005); Feitosa (2005); Freire (2005); Gadotti (2005); Oliveira (2005); Smole (2005).

Processo Encadeamento lógico dos meios

pedagógicos para que haja a construção do conhecimento participativo.

Matuí (1995); Karagiannis (2000); Abreu (2002); Diniz (2002); Kennedy (2002); Mendes (2002); Mantoan (2002); Poker (2003); Camisão (2004); Davis (2005).

Solidariedade Conjunto de condições pedagógicas que

proporcionem o respeito mútuo e a convivência harmônica entre os envolvidos.

Karagiannis (2000); Loch (2000); Aragall (2001); Ferreira (2003); Guista (2003); Lernarduzzi (2003); Sassaki (2003); Gadotti (2005); Macedo (2005); Polli (2005).

Fonte: A Autora (2007).

Conforme as definições elaboradas no Quadro 8, e o realizado para as UA e UI, um guia de orientações com base nas palavras chaves é apresentado com a finalidade de mostrar aos profissionais envolvidos com a Escola Inclusiva quais componentes da Pedagogia Construtivista e de cada uma das UC são importantes e necessários atender para se criar uma efetiva Escola Inclusiva Construtivista. Sendo assim, lista-se como a abrangência de cada palavra chave as seguintes questões:

1. Aprendizagem - ocorre em situações de reflexão entre o conhecimento novo e o antigo; acontece tanto coletivamente como individualmente; trabalha com um conhecimento em constante processo de (re)construção; voltada para a vida; integral (cognitiva, motora, emocional, de personalidade); ativa; saber enquanto ação; transformação do pensamento; reflexiva; transdisciplinar; transcurricular; intercultural; integradora e interativa;

2. Autonomia - do sujeito; intelectual; social; na participação; de ação; 3. Construção Coletiva - do conhecimento; o tema da aula, assim como o

conhecimento, é construído (determinado) com o grupo; construção e reconstrução constante do conhecimento; coletiva e dinâmica; conhecimento em processo;

4. Contexto Sócio-histórico - político; econômico; educacional; experiência anterior e conhecimento cotidiano construídos historicamente; reconhece e envolve-se com o conhecimento e o contexto do aluno; acesso aos instrumentos de mediação (físicos, simbólicos); cultura; signos; sujeito social ativo e interativo; pensamento, conhecimento socialmente facilitado; contextualização;

5. Cooperação - estrutura a aprendizagem; ligada a aspectos como a colaboração, a reciprocidade, a autonomia e o intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento; afetividade;

6. Dinâmica - interna de momentos discursivos; debate; discussão; argumentação; raciocínio; dedução; demonstração; questionamento; investigação; diálogo; observação; assimilação; interpretação, problematização; interação; incentivo; comunicação;

7. Espacialidade - ambientes multidimensionais que facilitam a construção do conhecimento; a flexibilização dos espaços (salas de aula, layout); a compreensão sob múltiplas perspectivas; a interação social e a mediação; a autonomia e o trabalho em grupo; espaços ricos em informações, ferramentas (design) e mídias diversas; percepção espacial como um instrumento de aprendizagem; ambientes (físico e social) como locais da mediação, como lugar de interação entre sujeito-objeto; espaços de intenso diálogo; clima social-democrático;

8. Estimulação - da curiosidade; da criatividade; da capacidade; da potencialidade; da observação; da interrogação; da percepção; da cognição; da intuição; da afetividade; da liberdade; da autonomia; da democracia; da experimentação; da manipulação; da verbalização; em enfrentar desafios; do trabalho em grupo; incentivado pela configuração espacial; pelo desenho dos materiais e das ferramentas de trabalho; 9. Excelência - na construção do conhecimento; no desenvolvimento e no

posicionamento crítico; na interação e na mediação; na educação; no uso dos equipamentos e dos espaços; no desempenho como membro ativo do processo de desenvolvimento e de aprendizagem; de reflexão; de leitura e (potencial) de transformação do mundo;

10. Flexibilidade - na estrutura da sala de aula, da escola: aberta, alternativa; nos espaços; nos instrumentos de mediação e de interação social; no contexto e nos assuntos em sala de aula; abordagem dinâmica da realidade;

11. Habilidade - de criar e de recriar suas estruturas constantemente; de desenvolvimento e de aprendizagem; condição de desenvolver as habilidades do pensamento; de assimilar, acomodar e organizar, pois são funções naturais do ser humano;

12. Interação - social; diálogo; com o coletivo; integração com a realidade como um todo, envolvendo a casa, o bairro, a cidade e o mundo; de estímulos externos (objetos) e internos (razão); processo dinâmico; afetividade; cooperação; comunicação (linguagem);

13. Mediação - sujeito-meio-objeto; importante papel do professor; envolve várias formas de comunicação entre grupos-indivíduo-professor; tem base na observação (define ação); realizada através do diálogo e da interrogação constante; linguagem; instrumentos físicos e simbólicos; signos; assimilação; afetividade; cooperação; intervenção planejada; comunicação (ação-reflexão); palavra; pensamento,

14. Método - prático; dentro do contexto e da realidade do aluno; crítico; reflexivo; utilização de materiais manipuláveis, interativos e físicos; trabalho em grupo; exploração individual; interatividade; coletivo e individualizado; colaboração mútua; experiência; clima de desafio; valor do erro (parte do processo); multidimensional (humano, técnico, político- social); de questionamento;

15. Observação - ajuda na definição do planejamento; ação do professor sobre o trabalho do aluno; formal e informal; do cotidiano; da prática pedagógica; das necessidades, características e restrições dos alunos e do processo; tem a finalidade de desenvolver os sentidos dos alunos; um dos objetivos da aprendizagem;

16. Organização - do pensamento; do conhecimento; da comunicação; do processo de aprendizagem e do ensino; do espaço físico; envolve os processos de assimilação, de acomodação, de adaptação, de organização do conhecimento em construção;

17. Participação - ênfase nos aspetos internos dos indivíduos; como a organização escolar (visão sistêmica) pode interferir nos aspetos biopsicossociais individuais e de grupo para efetivar a construção do conhecimento de forma ativa; criar atores ativos em todas as etapas do processo, desde a concepção, a definição ou escolha do tema até a reflexão final sobre as vivências desencadeadas, os resultados obtidos e a avaliação da aprendizagem; processo contínuo; mudança atitudinal; importante aspecto para a mediação e a interação entre os membros do grupo; trabalho com, não para, a pessoa;

18. Pensamento Crítico - método de trabalho; abrange o entendimento de elementos sócio-culturais, políticos e econômicos; tomada de consciência; de transformação; contextualização;

19. Processo - reflexivo (professor e aluno em sua prática diária); ação (interação) - reflexão (metacognição65) - ação (conceituação); de desenvolvimento; de aprendizagem; esquemas; funções psíquicas; (re)transformação; (re)construção; internalização; conceitualização; assimilação, acomodação, adaptação e organização; o aluno é o sujeito do processo; aberto; interdependentes; de avaliação contínua66;

20. Solidariedade - é uma das bases da mediação e da interação; do trabalho em grupo; de todo o método de trabalho e de construção coletivo do conhecimento dentro da dinâmica participativa e sócio- histórica; construção da cidadania pelo conhecimento científico e tecnológico.