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2 DEFICIENTE VISUAL, ACESSO À INFORMAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE

2.8 Acesso à Informação e a Promoção da Saúde

As estratégias de Promoção da Saúde adotadas atualmente prezam (dentre outros aspectos) pela assimilação de conhecimentos para o autocuidado da população. Para isso, o acesso à informação torna-se um dos aspectos importantes para a garantia da adequada transmissão e compreensão das boas práticas em saúde (CZERESNIA; FREITAS, 2009). Inúmeros trabalhos vêm sendo desenvolvido nos últimos anos com o propósito de investigar como se dá esse processo de comunicação da informação em saúde. Avaliam-se tanto os benefícios do adequado acesso à informação para a saúde da população, bem como fatores que interferem positivamente ou negativamente na aquisição do conhecimento para o autocuidado.

Arora et al. (2002, p. 37, tradução nossa), ao discutir os benefícios do acesso à informação para pacientes com câncer, afirma que ”um número crescente da

8 O conceito Praxis foi empregado por Barreto (1994, 2002) para designar a aplicação do conhecimento adquirido na vida do indivíduo. A Praxis representa a segunda fase no uso da informação, cujo foco não está na internalização do conheciment6o presente nas fontes e canais de informação, mas sim na utilidade da informação para o dia-a-dia do indivíduo (externalização do conhecimento).

literatura afirma que aqueles pacientes com câncer mais informados são predispostos a vivenciar melhores resultados psicológicos [durante o processo de tratamento]”.

Entretanto, para Arora et al, os benefícios decorrentes do acesso à informação devem ser alcançados por dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, a adequada disponibilidade da informação pelas instituições relacionadas à saúde - através de materiais informativos, campanhas publicitárias, mobilizações comunitárias e pela disponibilidade dos profissionais em saúde na difusão da informação para o autocuidado do paciente (explicando comportamentos para a prevenção, possíveis tratamentos e seus efeitos, além de possíveis serviços ou grupos de apoio).

Em segundo lugar, pela percepção da competência do próprio paciente no acesso à informação – conhecida como Competência em Saúde. Baseado na Teoria da Auto-Eficácia de Bandura (1989), Arora et al. (2002, p.38, tradução nossa) afirmam que as “percepções da auto-eficácia e da competência em lidar com sua situação de enfermidade é um mecanismo cognitivo chave de influência no ajuste à sua condição”. A combinação entre disponibilidade da informação e percepção da auto-eficácia podem resultar na elevação do bem-estar psicológico, funcional e social. Os resultados da pesquisa realizada em pacientes com câncer de mama indicaram que:

Experiências com maiores barreiras no acesso à informação em saúde necessária estavam significativamente associadas com patamar inferior de bem estar psicológico, funcional e social [e que] as barreiras no acesso à informação também tem uma relação negativa significativa na percepção do paciente quanto à sua competência em saúde. (ARORA et al., 2002, p. 41,

tradução nossa)

Moura e Silva (2004) também reforçam o impacto do acesso à informação na Promoção da Saúde. Os autores analisam as estratégias e práticas de planejamento familiar e métodos anticoncepcionais realizados pelo Ministério da Saúde, no âmbito nacional. A instrução das famílias quanto ao cuidado adequado para a concepção e contracepção são fundamentais, exigindo: o esforço dos profissionais para a adequada orientação; a divulgação das formas de contato com os centros de saúde especializados; a promoção de campanhas de conscientização e mobilização comunitária; e a disponibilização de materiais informativos. A adequação dos

processos e dos profissionais disponíveis nos centros de atendimento foram também apontados pelos autores como fatores críticos de suporte às estratégias de acesso à informação.

No que diz respeito à saúde vocal de professores, Penteado e Pereira (2007, p.236) identificaram que os aspectos mais relevantes para a Qualidade de Vida “foram oportunidades de lazer, condições financeiras, ambiente de trabalho e acesso à informação”. O acesso à informação está associado à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e na busca de informações para o autocuidado da voz – visto que problemas de saúde vocal são frequentes entre os professores. As dificuldades no acesso à informação são, portanto, retratadas como fatores negativos para a qualidade de vida dos docentes.

Santos (2005, p.686) traz para o debate a relevância do campo da informação e da comunicação para a saúde alimentar e nutricional da população. O acesso e a democratização da informação é a maneira pela qual, segundo o autor, se apoia a educação alimentar e nutricional – aliada, certamente, pelas especialidades da saúde responsáveis pela orientação técnica. Os campos do acesso à informação devem utilizar “ao máximo os recursos tecnológicos da comunicação” focados em “estratégias como as campanhas, elaboração de material educativo e instrucional”.

[...] o objetivo das propostas educativas em alimentação e nutrição é mais subsidiar os indíviduos com informações adequadas, corretas e consistentes sobre alimentos, alimentação e prevenção de problemas nutricionais do que os auxiliar na tomada de decisões. Dessa forma, cresce a importância dos campos da informação e da comunicação, nos quais se enfatizam as estratégias de produção, circulação e controle das informações referentes à alimentação e nutrição, em detrimento das estratégias da educação alimentar e nutricional. (SANTOS, 2005, p. 681)

Thiede (2005), entretanto, ressalta que o acesso à informação em saúde é a viabilização das trocas de informação, por meio das interações comunicativas. Para o autor, a via de mão dupla na comunicação é ponto fundamental para as práticas de Promoção da Saúde, e cujo fator a ser evidenciado é a confiança. As considerações finais de Thiede indicam que a confiança na informação (e na instituição de saúde) promove a interação comunicativa, mas também a contínua interação comunicacional é capaz de promover a confiança. Desse modo, há um ciclo virtuoso quando as instituições que promovem a saúde investem

adequadamente na troca de informação e quando se preocupam em estabelecer uma relação de confiança mútua com seus clientes/pacientes.

A disponibilização da informação em saúde na Internet é percebida por Cline e Hayne (2001) como fator fundamental para o sucesso nas políticas públicas de Promoção da Saúde. Segundo os autores, ainda em 2001, praticamente metade da população dos Estados Unidos já utilizavam a Internet como canal de acesso à informação em saúde. A política pública deve estar atenta às mudanças de comportamento no acesso à informação de sua população, para, assim, definir quais as estratégias capazes de oferecer maior cobertura e melhor assertividade nos seus conteúdos. Miranda (2000) também aponta para o potencial da Internet, e para a necessidade de adequação da gestão pública face à sociedade da informação:

As instituições ligadas à pesquisa científica, à tecnologia, à educação e à saúde deverão operar por meio da Internet, a geração e comunicação de conhecimento, a educação a distância e a promoção da saúde, de modo a contribuir decisivamente para a melhoria da qualidade de vida do brasileiro [...] (MIRANDA, 2000, p. 84)

Diante de todos os benefícios proporcionados pelo acesso à informação para a Promoção da Saúde, é importante ponderar os seus riscos e as suas limitações. Se por um lado o fácil acesso à informação oferece condições para o adequado autocuidado em saúde, por outro lado é possível estimular comportamentos inadequados por parte da população – como a automedicação e a adoção de dietas sem a devida orientação. O massivo volume e a imprecisão das informações disponíveis tomam-se pontos de atenção para os gestores públicos e profissionais de saúde, no intuito de oferecerem saberes especializados confiáveis e em uma linguagem capaz de ser assimilada satisfatoriamente pela população leiga.

Obter informações em buscas no Google, por exemplo, pode ocasionar em comportamentos de risco: seja pela dificuldade em qualificar informações técnicas confiáveis daquelas não confiáveis; seja por adotar comportamentos autônomos no autocuidado em situações na qual um especialista em saúde é necessário. A corresponsabilidade pela própria condição de saúde exige, antes de tudo, o discernimento da qualidade da informação acessada e o senso crítico quanto aos limites no autocuidado. Em síntese, não é a informação por si só capaz de promover a saúde, mas sim um conjunto de aspectos externos e internos ao indivíduo: a qualidade, quantidade e disponibilidade da informação; e o

comportamento dos indivíduos face à busca, ao uso e à apropriação da informação no seu dia-a-dia (CZERESNIA; FREITAS, 2009; LOPES, 2007; PÁLSDÓTIR, 2005).