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3 FATORES DE SUPORTE AO ACESSO À INFORMAÇÃO

3.3 Suporte Social

3.3.2 Redes de Relacionamento

Kempen e Van-Eijk (1995), ao falarem sobre a qualidade de vida de idosos com deficiência visual, trazem as redes de relacionamento como um dos componentes fundamentais para o bem-estar. Para os autores, o apoio social, promovido pelos amigos, familiares, vizinhos e demais atores de sua comunidade, possibilita contornar barreiras existentes nas atividades do dia-a-dia desses indivíduos. A qualidade de vida é associada à capacidade de realização de atividades, sejam elas de maneira autônoma ou suportada por outras pessoas.

O suporte social é o elo necessário para contornar as limitações individuais. Tal apoio é encarado como a forma pela qual as pessoas da comunidade são capazes de interagir e auxiliar o Deficiente Visual (DV) na realização de tarefas essenciais rotineiras ou inesperadas. Kempen e Van-Eijk buscam avaliar o suporte social por meio da intervenção da Rede de Relacionamento do indivíduo nas

atividades diárias, associadas à rotina, e nas situações problemáticas, associadas ao inesperado, como casos de urgências.

A relação entre redes de relacionamento e suporte social é também apontada por Song, Son e Lin (2013), ao defenderem o uso de métodos da Análise de Redes Sociais16 para explicar condições favoráveis ou desfavoráveis na vida dos indivíduos. Para os autores, o suporte social é um fluxo de troca de insumos, afetos e informações, podendo ser algo destinado ao apoio prático, em ações, ou ao apoio psicológico e emocional. Há sempre o papel de alguém que apoia e de alguém que é apoiado, com a troca de tangíveis ou intangíveis capazes de afetar positivamente o indivíduo apoiado. Desse modo, a possibilidade de relacionamento do indivíduo em seu contexto social, e o que é trocado nesse fluxo são pontos centrais do suporte social.

Conforme Song, Son e Lin (2013, p. 119, tradução nossa), o “suporte social pode ser considerado como um fator subsequente na operação da Coesão Social, da Integração Social e do Capital Social”. Em primeiro lugar, a Integração Social, entendida como “possivelmente associada à quantidade e à qualidade do [...] suporte social, através da manutenção de relacionamentos antigos e estabelecendo novos relacionamentos” (p. 119). Em segundo lugar, a Coesão Social, indicando a estrutura social e sua equidade de acesso. Ou seja, quanto mais desigual é a rede de relacionamento de uma comunidade, maior a possibilidade do suporte social ocorrer. Em terceiro lugar, o Capital Social, indicando a qualidade de crenças e valores culturais capazes de promover uma rede de relacionamento mais ampla e intensa.

Field (2003, p.64-67) acrescenta a este trabalho a importância da maneira como a sociedade se configura para proporcionar uma melhor qualidade de vida e bem-estar. Field traz indícios de que comunidades mais coesas e menos desiguais tendem a proporcionar um maior acesso aos serviços de cuidados da saúde pelos seus integrantes. O autor também apresenta indícios de que uma rede informal (amigos, familiares, vizinhos ou conhecidos) mais coesa tende a ter um maior acesso ao cuidado em saúde.

16 A Análise de Redes Sociais (ARS), ou do inglês Social Network Analysis (SNA), consiste em uma perspectiva de análise ou um conjunto de métodos voltado para a investigação das propriedades inerentes às relações entre indivíduos, entre aspectos sociais. Ao contrário de outras perspectivas, que buscam entender características dos indivíduos, a ARS se orienta nas características da relação entre atores (SONG; SON; LIN, 2013).

Estudos vêm sendo realizados no intuito de identificar quais as características fundamentais de uma rede social que promovem o suporte social. Moreno et al. (2011) realizam uma análise de sintomas de depressão através da observação das publicações no Facebook de estudantes universitários. Os autores trazem evidências de que aqueles indivíduos com redes de relacionamento online mais participativas tendem a se sentirem mais confortáveis para falarem sobre seu estado depressivo, e dessa maneira promovem o suporte social. Porém, para os autores, a quantidade de amigos não é o fator principal, mas sim o quanto os amigos compartilham entre si.

Foi também mencionado trabalho anterior dos próprios autores indicando haver uma boa vontade de estudantes universitários em ajudar os seus colegas, sendo que, “mais da metade dos estudantes estavam interessados em aprender como ajudar seus colegas a saírem do estado depressivo” (MORENO et al., 2011, p.453, tradução nossa).

Vale destacar também o trabalho de Easley e Kleinberg (2010) sobre o efeito em cascata nas redes sociais. Seus discursos não contemplam diretamente o suporte social, mas possibilitam inferir quanto à existência de possíveis focos (pessoas ou estruturas na rede de relacionamentos de um indivíduo) que contribuem para a difusão de uma atitude participativa no suporte social. Fundamentados em teorias como a Difusão da Inovação e a Teoria dos Jogos, Easley e Kleinberg sugerem a atenção do pesquisador para detalhes como: quanto maior a percepção do indivíduo de que as pessoas ao seu redor estão adotando determinado comportamento, maiores as chances desse indivíduo também adotar tal comportamento; e que cada indivíduo possui uma resistência natural a mudanças, agindo como força contrária às pressões externas (como a influência de amigos em adotar determinados comportamentos).

O suporte social é, portanto, passível de influência através de um comportamento de contágio, de acordo com a rede de relacionamento de um indivíduo. Quanto maior a percepção do apoio mútuo entre os membros de uma comunidade, maiores as chances desse comportamento ser replicado pelos indivíduos. Os estudos de Easley e Kleinberg podem indicar que quanto mais comportamentos favoráveis ao suporte social, ao apoio entre indivíduos, maiores as possibilidades de repetição desses comportamentos em um efeito cascata.

O suporte social é uma cadeia complexa de fatores capazes de influir positivamente ou negativamente no acesso à informação pela PcD. Em um primeiro plano a Inclusão Social (apresentado na subseção anterior), envolvendo uma bagagem cultural, social e política capaz de promover ou inibir situações de preconceito e discriminação. Por outro plano, as Redes de Relacionamento, capazes de oferecer suporte quando a PcD não é capaz de agir de maneira autônoma – apoio este tanto nos aspectos práticos quanto afetivos do dia-a-dia.