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3 FATORES DE SUPORTE AO ACESSO À INFORMAÇÃO

3.2 Suporte Cognitivo

3.2.2 Mastery of Life: Reação à Mudança

Há momentos em que o senso de ordem dado na rotina da vida é perturbado, alterando o padrão regular do nosso dia-a-dia. A sensação de conforto é quebrada por alguma circunstância, que rompe com o conforto da rotina, e gera, em determinados casos, uma necessidade de reação – no sentido de retomar a ordem das coisas. Necessidades por informação podem surgir a partir de então, ocasionando em um processo de busca da informação. Trata-se de uma situação não planejada, inesperada, marcada pelo aparecimento de um problema que remove a percepção de regularidade (SAVOLAIMEN, 1995).

A quebra da rotina, entretanto, não significa o surgimento de um problema em sua acepção negativa. É o que Campos (2004) entende ser: um problema pode representar uma oportunidade que requer o esforço da decisão sobre como se comportar para atingir uma condição desejada; ou o aparecimento de uma ameaça que deve ser evitada ou controlada. Pode surgir, a partir de então, uma ação de busca da informação definida como Mastery of Life (SAVOLAIMEN, 1995). A capacidade na percepção dos problemas, a atitude frente à mudança e as habilidades na execução das atividades necessárias são os pontos centrais do Mastery of Life.

Problemas positivos estão relacionados à oportunidade de mudança nos seus hábitos e na alteração da sua rotina – em alterações no seu Way of Life. Para Savolaimen (1995) o problema positivo é entendido como um novo projeto de vida (Project of Life), e pode ser interpretado como um problema até então não planejado - mas desejável. Por outro lado, há circunstâncias inesperadas e indesejadas, encaradas como problemas negativos pelo indivíduo. O comportamento de busca da informação segue na tentativa de resolver os problemas (Problem Solving) e na volta para a condição de vida anterior. Percebe-se, portanto: o comportamento para a mudança da rotina; e o comportamento para a manutenção da rotina.

Mastery of Life objetiva a eliminação na dissonância contínua entre percepções de “como as coisas são neste momento” e de “como elas deveriam ser”. Caso não haja nenhuma dissonância, mastery of life se apresenta em um silêncio rotineiro e a busca da informação se manifesta com maior intensidade na forma de um monitoramento passivo dos eventos do dia-a-dia. Em outros casos, mastery of life pode crescer na ativação em solução de problemas que objetiva a restauração da ordem [que está atualmente] perturbada, requerendo normalmente uma busca ativa da informação efetiva e prática. (SAVOLAIMEN, 1995, p.272, tradução nossa)

O Mastery of Life é a discrepância entre percepções do estado esperado e do estado atual. O indivíduo passa a sentir um estranhamento, uma anomalia em sua vida. Brenda Dervin (1989) descreve essa sensação de estranhamento na Teoria Sense-Making, e apresenta a Necessidade de Informação como causa fundamental do comportamento de busca e uso da informação. Essa necessidade por informação é a evocação de uma ação de busca por uma natureza de informação capaz de alterar o estado de conhecimento atual sobre sua realidade, e assim alterar o seu estado do conhecimento para um novo e mais satisfatório

patamar. O objetivo é, portanto, adquirir novos conhecimentos, de modo a permitir a construção de um senso da realidade mais adequado ou desejado – utilizando a informação como insumo para tal.

Dervin considera ser a necessidade de informação uma necessidade secundária, gerada a partir de uma necessidade primária. Segundo a lógica de Dervin, uma pessoa não busca a informação por si só, mas para ser utilizada em prol de outra necessidade. Para satisfazer a uma necessidade básica de alimentação, por exemplo, o indivíduo recorre a um livro de receitas para ser capaz de preparar a sua refeição. Barreto (2002) compreende a necessidade de informação enquanto um estágio elaborado de necessidade, a partir da capacidade do indivíduo em raciocinar; de utilizar-se da informação como vantagem para uma prática (práxis). A informação é aplicada como instrumento e a inteligência como um processo para atender às necessidades básicas do ser humano.

A mudança, então, não é simplesmente o atendimento da necessidade de informação, mas a apropriação da informação e sua aplicação na práxis – sua prática na realidade. Buscar e usar a informação não é garantia suficiente para a mudança. Amorim e Biolchini (2013) discutem a eficácia na conversão da informação em conhecimento e em mudança, convergindo os conceitos Inteligências Múltiplas e Competência em Informação. Para os autores, além da capacidade do indivíduo em adquirir Conhecimento, é necessária também ter a capacidade de aplica-lo (Habilidades) e a capacidade de distinguir as circunstâncias adequadas de utilização das suas habilidades (Atitudes). O trinômio Conhecimento-Habilidade-Atitude (CHA) é uma perspectiva ampliada de entendimento quanto às competências individuais na busca, acesso e uso da informação, percebendo ser necessário saber, saber agir e saber ser (AMORIM; BIOLCHINI, 2013).

Entretanto, esse processo de mudança não é totalmente objetivo, calculado e planejado. Há aspectos subjetivos e inconscientes, indo para além das fronteiras do pensamento racional, lógico e intencional. Aspectos psicológicos como a motivação são trazidos por Tom Wilson (1999) em seu modelo revisado de Comportamento Informacional. Segundo o autor, o indivíduo pode ter uma extrema necessidade por uma determinada informação, mas a busca pode sequer ser ativada caso tenha a expectativa de que seus esforços deverão ser elevados ou acredite ser sua capacidade insuficiente para buscar ou usar uma determinada fonte de informação. As expectativas do indivíduo atuam como gatilhos, ou Mecanismos de Ativação

para a prática de busca e uso da informação. Tais expectativas resultam, na mente do indivíduo, em motivos favoráveis e desfavoráveis à ação, que por sua vez resultam na sua realização ou não.

A teoria de Self-Efficacy e de Outcomes Expectancies (BANDURA, 1989, 2004) são utilizados por Wilson (1999), Pálsdótir (2005) e Dell’Isola (2012) para sustentar o impacto da motivação no comportamento dos seres humanos. A Self-Efficacy (ou Auto-Eficácia, em português) é a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade na realização de uma determinada atividade em uma dada circunstância. Essa percepção exerce um papel crucial na sua efetividade, e reflete a autoconfiança no sucesso. Quanto maior for a percepção da auto-eficácia, maior a probabilidade de realização da atividade, e também amplia sua possibilidade de sucesso (BANDURA, 1989). A percepção da auto-eficácia sofre influência de experiências passadas (Outcome Expectancies), o que significa dizer que: quanto mais bem-sucedidas as experiências anteriores, mais elevada é provavelmente sua noção de auto-eficácia. Há, desse modo, a influência da memória dos resultados de experiências pregressas, e da expectativa de sucesso em uma potencial realidade futura.

Crenças na auto-eficácia funcionam como um importante conjunto de determinantes proximais da motivação humana, do afeto e da ação. Eles operam nas ações através de processos intervenientes motivacionais, cognitivos e afetivos. Alguns desses processos, tais como excitação afetiva e padrões de pensamento, são de grande interesse, por eles próprios e não apenas na qualidade de intervenientes influenciadores nas ações. (BANDURA, 1989, p.1175, tradução nossa)

A Mastery of Life proposta por Savolaimen (1995) também entende haver essa relação entre ação, de busca da informação nesse caso, com a percepção do indivíduo face às dificuldades e aos resultados a serem confrontados. Savolaimen entende haver duas dimensões importantes no comportamento de busca da informação: a maneira como o indivíduo se organiza na tomada de decisão e na ação; e a expectativa na resolutividade dos problemas da vida.

A primeira dimensão é composta pelos dois arquétipos de comportamento: o cognitivo (aqueles que se portam de maneira lógica, objetiva e previsível); ou o afetivo (aqueles cujo fator emocional é preponderante, tornando as suas ações imprevisíveis). Savolaimen aponta também para dois outros arquétipos, sendo: um deles a postura favorável ao processo de busca; e o outro, a postura pessimista e

desfavorável à busca. O cruzamento desses dois arquétipos compõem os aspectos de investigação da Mastery of Life.