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3 FATORES DE SUPORTE AO ACESSO À INFORMAÇÃO

3.1 Natureza dos Fatores envolvidos no Acesso à Informação

A literatura investigada trouxe inúmeros relatos de fatores que interferem no acesso à informação – indícios estes no âmbito geral, e específico da Pessoa com Deficiência (PcD). Wilson (1999), ao desenvolver seu Modelo Revisado de Comportamento Informacional, relacionou cinco grupos de variáveis intervenientes. Tais fatores se referem ao âmbito individual (variáveis Psicológicas), nos aspectos socioeconômicos (variáveis Demográficas e de Relação Social/Interpessoal), aos aspectos ambientais (variáveis Ambientais) e das características dos canais/fontes de informação (variáveis das Características das Fontes).

Savolaimen (1995), apesar de não descrever de maneira explícita no seu Everyday Life Information Seeking, entende haver uma confluência de fatores externos e internos ao indivíduo. O contexto social e cultural de uma pessoa (fatores externos) intervém no seu comportamento de busca da informação, constituindo, desse modo, um conjunto de fatores internos ao indivíduo. Arora et al. (2002), de maneira análoga, também dicotomizam a natureza dos fatores envolvidos no acesso à informação enquanto individuais e sociais/ambientais, ao considerarem

respectivamente as competências informacionais e as estratégias de comunicação adotadas pelos emissores da informação.

A Condição da Informação de Barreto (1994) também aponta para o acesso à informação enquanto um processo de comunicação composto por duas etapas. Na primeira, um processo relacionado ao emissor e ao cabal de distribuição da informação, composto pela externalização de um conhecimento através de uma estratégia de comunicação e de uma informação registrada em uma fonte de informação.

Na segunda, um processo de internalização, na qual o receptor busca, seleciona e interpreta a informação. Fica evidenciada, portanto, a existência de: uma etapa na qual o emissor e demais fatores externos são preponderantes para o sucesso no acesso à informação (comportamentos dos emissores, do ambiente e características das fontes/canais de informação); e de uma etapa com maior relevância de fatores internos ao indivíduo (competências para busca, seleção e interpretação da informação).

No contexto específico da PcD, Garcia (2012) analisa os fatores envolvidos no acesso à informação a partir do conceito de Acessibilidade (capacidade de acessar ou de ser acessado). Para a autora, a acessibilidade requer três conjuntos de características para garantia do acesso à informação (e aos ambientes e utensílios): a capacidade do indivíduo em lidar com suas habilidades e limitações; condições socioeconômicas e ambientais; e recursos tecnológicos disponíveis para reduzir os impactos das limitações e condições socioeconômicas.

Os três aspectos levantados por Garcia demonstram a existência de fatores de naturezas internas e externas ao indivíduo, e associadas respectivamente ao bem-estar na realização das atividades do dia-a-dia, ao bem-estar na convivência social e ao bem-estar através do uso benéfico dos recursos tecnológicos. A natureza dos fatores envolvidos no acesso à informação pela PcD pode ser entendida conforme esquema apresentado na Figura 19 (ver página seguinte).

Dentre os fatores internos ao indivíduo, enquadram-se as condições do comportamento e da competência em informação. Os fatores externos ao indivíduo, por sua vez, se distinguem em suas abordagens sociopolíticas (aspectos sociais, culturais e ambientais) e tecnicistas (aspectos relativos ao uso das

9 Esquema proposto no presente trabalho, para entendimento da natureza dos fatores influentes no acesso à informação pela Pessoa com Deficiência.

tecnologias). Nos fatores internos, o foco está no indivíduo, em suas características e em suas estratégias capazes de melhorar a sua própria condição de vida. Os aspectos individuais refletem também a capacidade de potencializar habilidades para mitigação dos impactos decorrentes de limitações funcionais - decorrentes direta ou indiretamente das deficiências que possuem.

Figura 1 - Natureza dos fatores envolvidos no acesso à informação

Já nos fatores externos, o foco está no entorno do indivíduo. Por um lado, a visão de questões sociais e culturais que facilitam ou dificultam o acesso à informação da PcD – levando em conta também políticas de apoio e regulação. De outro lado, a observação de variáveis relativas às capacidades das tecnologias na promoção de uma melhor qualidade de vida – a partir do seu uso.

Vale resgatar aqui as visões de Cusin e Vidotti (2009), Sassaki (2009) e Garcia (2012), discutidas na Seção 2.4. Segundo os autores, a acessibilidade é uma via de remoção das barreiras no acesso (inclusive no acesso à informação), de caráter multidimensional. Ela envolve um conjunto variado de conhecimentos que permite o “acesso para todos” (SASSAKI, 2005). A remoção de barreiras no acesso à informação envolve questões sociais, políticas, técnicas e atitudinais. Há também um esforço na acessibilidade voltada para as tecnologias, desenvolvendo produtos e serviços que facilitem o dia-a-dia da PcD – tecnologias essas denominadas de Tecnologias Assistivas.

Desse modo, a Acessibilidade pode ser percebida como uma garantia para o acesso à informação, ou um conjunto de fatores de suporte no acesso à informação. Através desses suportes, são dadas condições necessárias para a aquisição de conhecimento, e para a realização das atividades do dia-a-dia da PcD – refletindo no seu bem-estar e na sua qualidade de vida (CZERESNIA; FREITAS, 2009).

A Figura 210 apresenta um modelo conceitual de entendimento dos fatores envolvidos no acesso à informação pelo Deficiente Visual (DV), e que afetam (direta ou indiretamente) na Promoção da Saúde. Tendo como eixo central o Acesso à Informação, são percebidas três naturezas de fatores intervenientes: o Suporte Cognitivo (relacionado ao comportamento e às competências do DV), o Suporte Social e o Suporte Tecnológico.

Figura 2 - Suportes para o acesso à informação do deficiente visual

Os três suportes apresentados na Figura 2 foram propostos a partir das indicações de Kempen e Van-Eijk (1995) e Kempen et al. (2012) sobre a importância dos indivíduos na realização das atividades do dia-a-dia para a percepção da qualidade de vida e do bem-estar. Essa capacidade individual representa o Suporte

10 Esquema proposto no presente trabalho, para entendimento da natureza dos fatores influentes no acesso à informação pela Pessoa com Deficiência.

Cognitivo, focado nas ações diárias relacionadas à busca e ao uso da informação, ou seja, às práticas envolvendo o acesso à informação.

Kempen e Van-Eijk e Kempen et al. também descrevem um segundo aspecto fundamental para a qualidade de vida, associada à capacidade da sociedade e das redes de relacionamento do indivíduo em oferecer apoio sempre que a PcD é incapaz de realizar determinadas atividades diárias. Dessa maneira, cria-se um Suporte Social capaz de suprir limitações ou potencializar as capacidades individuais. Os autores têm como foco da pesquisa grupos de idosos com baixa-visão, e entendiam ser o apoio social um possível fator de compensação face às restrições inerentes à idade e à limitação nas capacidades de enxergar.

O Suporte Tecnológico, por sua vez, representa uma forte vertente de estudos que buscam investigar os impactos negativos dos recursos tecnológicos vigentes para a PcD; bem como as estratégias de adaptação e criação de aparatos capazes de proporcionar um acesso à informação mais efetivo, eficiente e agradável. Grupos de técnicos especialistas e pesquisadores como o Web Accessibility Initiative do World Wide Web Consorting (W3C/WAI)11 e o Universal Design (UD)12 são exemplos de tais iniciativas. Tal como o Suporte Social, o Suporte Tecnológico é capaz de condicionar favoravelmente a realização de atividades diárias em relação às quais o indivíduo não seria capaz de cumpri-las satisfatoriamente.