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Capítulo II – Estágio em Farmácia Comunitária

8. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde

Como já referido anteriormente, a FSC possui vários produtos que não se encontram conforme os requisitos necessários para serem definidos como medicamentos, de forma a possibilitar a total satisfação dos utentes, sendo exemplos destes os produtos de higiene e cosmética, de alimentação e os dispositivos médicos.

8.1. Produtos cosméticos e de higiene corporal

De acordo com o Decreto-Lei n.º 189/2008 de 24 de setembro, alterado pelo Decreto- Lei n.º 113/2010 de 21 de outubro, produto cosmético é "qualquer substância ou mistura

destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais", servindo também o presente Decreto-Lei para

regulamentar estes produtos [31, 32]. Um aspeto importa nte acerca destes produtos é a necessidade de não prejudicarem a saúde humana aquando a sua utilização sob condições normais ou razoavelmente previsíveis, sendo assim responsabilidade do INFARMED garantir a segurança, eficácia e qualidade dos produtos cosméticos presentes no mercado, mesmo quando é da inteira responsabilidade do fabricante, importador ou vendedor o cumprimento da legislação aplicável, bem como o controlo do fabrico e da sua segurança [33].

Apesar de quotidianamente presentes no mercado, é nas farmácias que se poderá obter preferencialmente os produtos cosméticos e de higiene corporal, visto ser possível ao farmacêutico o aconselhamento do utente para a sua afeção de pele ou para o produto em causa, permitindo assim uma maior satisfação do utente em produtos muitas vezes necessários para o seu bem-estar geral. O farmacêutico é também qualificado na deteção da incorreta utilização destes produtos ou no surgimento de alergias ou outros problemas graves, garantindo assim uma monitorização da utilização destes produtos.

produtos, no ato de aconselhamento é muitas vezes consultado o mapa de produtos fornecido pelo fabricante, onde facilmente se identifica o produto que melhor satisfará o utente.

8.2. Produtos dietéticos para alimentação especial

De acordo com o Decreto-Lei n.º 216/2008 de 11 de novembro, regulado pelo Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, alimentos dietéticos destinados a fins medicinais específicos é "uma categoria de géneros alimentícios destinados

a uma alimentação especial, sujeitos a processamento ou formulação especial, com vista a satisfazer as necessidades nutricionais de pacientes e para consumo sob supervisão médica, destinando-se à alimentação exclusiva ou parcial de pacientes com capacidade limitada, diminuída ou alterada para ingerir, digerir, absorver, metabolizar ou excretar géneros alimentícios correntes ou alguns dos nutrientes neles contidos ou seus metabolitos, ou cujo estado de saúde determina necessidades nutricionais particulares que não géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial ou por uma combinação de ambos" [34].

Atentando a composição especial ou os processos especiais de fabrico destes produtos, pontos claramente distintos dos alimentos de consumo corrente, os produtos dietéticos para alimentação especial são utilizados para responder a necessidades nutricionais de condições em que ocorre perturbação do processo de assimilação ou de metabolismo, condições fisiológicas especiais onde pode ocorrer benefício especial na ingestão controlada de determinadas substâncias contidas nos alimentos e no caso de lactentes ou crianças de pouca idade em bom estado de saúde [35].

Como estabelecido no Despacho n.º 25 822/2005 de 15 de dezembro, alterado pelo Despacho n.º 4326/2008, os produtos dietéticos destinados aos doentes com erros congénitos do metabolismo são comparticipados na sua totalidade nas farmácias, desde que prescritos no Instituto de Genética Médica Dr. Jacinto de Magalhães ou nos centros de tratamento dos hospitais referidos em anexo (Anexo XII) [36, 37].

O farmacêutico possui um papel preponderante no correto aconselhamento de utilização destes produtos ou na referenciação para o médico caso detete algum problema de maior. A FSC possui em stock alguns destes produtos, destinados principalmente para alguns utentes habituais.

8.2.1. Produtos dietéticos infantis

O leite materno é o alimento de excelência para os recém-nascidos, visto este fornecer ao latente todos os nutrientes que este necessita para o seu crescimento e desenvolvimento saudáveis. Praticamente todas as mães conseguem produzir leite (colostro), devendo estas iniciar a alimentação do recém-nascido na primeira hora, devendo este tipo de alimentação ser exclusivo até aos 6 meses de idade, período após o qual é suplementado com outros complementos e produtos alimentares. Dentro desta categoria de produtos complementares encontram-se as farinhas lácteas e não lácteas, os boiões de frutas e as sopas [38].

Apesar de preferível, nem sempre é possível a utilização do leite materno como alimento para o recém-nascido, ou é necessário um substituto deste (fórmula para latentes) por indicação médica, de forma a satisfazer as suas necessidades. A substituição nunca deve ser feita sem indicação médica pois pode prejudicar a amamentação. Presente no Decreto-Lei n.º 217/2008, de 11 de novembro, encontra-se o regime jurídico aplicável às fórmulas para latentes, bem como para as formulas de transição para latentes saudáveis [39]. Estas fórmulas encontram-se divididas pela idade ou estado de desenvolvimento a que se destinam, bem como pela categoria de tratamento a que pertencem, nomeadamente as fórmulas: hipoalergénicas (HA), anti–regurgitantes (AR), anti–cólicas (AC), antidiarreicas (AD) e anti obstipação (AO) e as fórmulas especiais (sem glúten ou lactose, por exemplo).

O farmacêutico possui a importante tarefa de aconselhar a correta conservação, reconstituição ou preparação e administração destes produtos dietéticos infantis, promovendo o bem-estar e o correto desenvolvimento do latente.

8.3. Fitoterapia e suplementos nutricionais

A fitoterapia recorre a plantas ou a partes de plantas (dependentemente de onde se encontra a substância ativa) para produzir efeitos terapêuticos específicos, sendo uma prática cada vez mais procurada pelos utentes, não sendo natural sinónimo de inócuo, no entanto [40]. Habitualmente estes produtos são empregues no alívio de problemas gastrointestinais e circulatórios, para emagrecimento ou para estados de fadiga ou ansiedade. Esta modalidade terapêutica encontra-se legislada pela Lei n.º 45/2003, de 22 de agosto, promovendo o correto e seguro uso destes produtos [41].

Os nutracêuticos (ou suplementos nutricionais) são produtos alimentares, ou parte destes, que proporcionam benefícios de saúde. Dentro desta categoria podemos encontrar as vitaminas, os minerais, os antioxidantes, os estimulantes e os ácidos gordos [42].

O farmacêutico deve possuir a capacidade de aconselhar o produto, entre os disponíveis, que melhor benefício trará ao utente, bem como detetar e adverti -lo das possíveis interações entre estes produtos e a sua medicação habitual. Estes produtos são facilmente obtidos na FSC, sempre acompanhados do respetivo aconselhamento, estando habitualmente os produtos presentes de acordo com a procura destes.

8.4. Produtos de uso veterinário

De acordo com o Decreto-Lei nº 148/2008, de 29 de julho, medicamento veterinário é

"toda a substância, ou associação de substâncias, apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais ou dos seus sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um diagnóstico médico- veterinário ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas" [43]. De forma complementar, o Decreto-Lei n.º

para promoção do bem-estar e estado higio-sanitário, coadjuvando ações de tratamento, de profilaxia ou de maneio zootécnico, designadamente o da reprodução; ao diagnóstico médico -veterinário; ao ambiente que rodeia os animais, designadamente às suas instalações" [44].

Ambos os tipos de produto são de grande importância para o tratamento ou prevenção de afeções animais variadas, evitando desta forma a transmissão ou envolvimento dos utentes, promovendo desta forma a saúde pública.

Apesar de alguns medicamentos de uso veterinário requererem receita médico- veterinária para a sua dispensa, estes não são comparticipados, sendo o utente obrigado a pagar a totalidade do custo. Para além dos medicamentos de uso veterinário serem armazenados num espaço próprio e distinto dos outros produtos, estes possuem também uma inscrição "Uso Veterinário” em fundo verde, de forma a serem facilmente reconhecidos. O farmacêutico deve assumir um papel ativo no aconselhamento deste tipo de produtos, esclarecendo o utente quanto à forma adequada de utilização bem como aconselhar o produto ou dosagem correta para o animal, promovendo assim medidas profiláticas na manutenção da qualidade de vida e estado de saúde do utente.

A FSC não apresenta uma grande variedade de p rodutos de uso veterinário, possuindo principalmente aqueles mais procurados pelos utentes, sendo mais habitual a encomenda dos produtos após pedido do utente. Os produtos com mais procura eram os desparasitastes ectópicos de uso externo e intestinais, os suplementos vitamínicos, as coleiras antiparasitárias e os contracetivos.

8.5. Dispositivos médicos

De acordo com o Decreto-Lei n.º 145/2009, de 17 de junho, dispositivo médico corresponde a "qualquer instrumento, aparelho, equipamento, software, material ou artigo

utilizado isoladamente ou em combinação, incluindo o software destinado pelo seu fabricante a ser utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos e que seja necessário para o bom funcionamento do dispositivo médico, cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora a sua função possa ser apoiada por esses meios, destinado pelo fabricante a ser utilizado em seres humanos para fins de: diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença; diagnóstico, con trolo, tratamento, atenuação ou compensação de uma lesão ou de uma deficiência; estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico; e controlo da conceção" [45]. Estes produtos podem

ser classificados de acordo com o risco que o dispositivo apresenta e a vulnerabilidade da zona do corpo a que se destina, bem como de acordo com o processo de fabrico e funcionamento deste, utilizando para isto as seguintes categorias: classe I (de baixo risco), classe IIa (de médio risco), classe IIb (de médio a baixo risco) e classe III (de alto risco) [46].

Apesar destes produtos se apresentarem como semelhantes com os produtos medicamentosos, nomeadamente no objetivo de prevenir, diagnosticar ou tratar uma doença humana, a principal distinção prende-se com o facto de estes atingirem os seus fins através

de mecanismos que não se traduzem em ações farmacológicas, metabólicas ou imunológicas [47].

A FSC apresenta uma grande variedade de dispositivos médicos, como variados produtos ortopédicos (colares cervicais, muletas e talas), pensos, gazes e compressas destinadas ao tratamento e desinfeção de feridas, sacos de ostomia e coletores de urina, dispositivos invasivos para administração parentérica (agulhas e seringas) e escovas de dentes e outros dispositivos destinados a higiene oral.