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Distribuição de medicamentos sujeitos a controlo especial: Hemoderivados e Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos

Capítulo III – Estágio em Farmácia Hospitalar

2. Organização e Gestão dos Serviços Farmacêuticos

3.5. Distribuição de medicamentos a doentes em ambulatório e de medicamentos sujeitos a controlo especial (hemoderivados e medicamentos

3.5.3. Distribuição de medicamentos sujeitos a controlo especial: Hemoderivados e Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos

3.5.3.1. Hemoderivados

O serviço de ambulatório do SFH do CHCB é responsável pela distribuição de medicamentos hemoderivados, excecionando o plasma humano, que a sua dispensa é responsabilidade da unidade de Imunohemoterapia. Medicamentos hemoderivados correspondem a produtos derivados de plasma ou sangue humano, ao que desta forma, apresentam um elevado risco de contaminação e possibilidade de transmissão de doenças infecto-contagiosas. Assim, estes medicamentos devem apresentar um controlo apertado e específico na sua distribuição.

Presente no Despacho conjunto n.º 1051/2000, de 14 de setembro, encontram-se os procedimentos de registo da requisição, distribuição e administração dos medicamentos hemoderivados, a observar pelas entidades envolvidas [15]. Para a dispensa deste tipo de medicamentos é necessária uma requisição especial (Anexo XVII), constante no Despacho anteriormente referido, que deve ser corretamente preenchida pelo médico prescritor, indicando o doente a que se destina, bem como qualquer outro dado relevante sobre este (como por exemplo o peso), o serviço requerente, o medicamento hemoderivado prescrito com a respetiva dose, frequência, a duração do tratamento e por último a justificação clínica. Esta requisição é constituída por duas vias, a "via farmácia" e a "via serviço", cada uma delas constituída por diversos quadros, alguns comuns. A informação anteriormente referida, nomeadamente a prescrição pelo médico, é realizada nos quadros A e B, comuns a ambas as vias, sendo que em caso de alguma dúvida ou detetada alguma inconsistência o farmacêutico contata com o médico em causa. O farmacêutico procede inicialmente à validação da requisição, efetuando paralelamente os cálculos necessários da quantidade de medicamento hemoderivado a dispensar, preenchendo depois o quadro C referente aos

produtos efetivamente dispensados, referindo o medicamento dispensado, o seu lote e o respetivo código de certificação pelo INFARMED (código único para determinado lote) [4]. No final da dispensa são imputados os consumos efetuados e regista-se o número de movimento correspondente na "via farmácia".

Após o correto preenchimento da requisição e dispensa da medicação, a "via farmácia" é arquivada no serviço de ambulatório, ao que a "via serviço" acompanha os medicamentos hemoderivados, corretamente rotulados, para o Serviço Clínico requerente sendo registado no quadro D as administrações realizadas pelo corpo de enfermagem, sendo por fim arquivada no processo do doente existente nesse serviço. No caso da dispensa se realizar para um doente em regime de ambulatório as duas vias são arquivadas nos SFH, devidamente assinadas pelo doente. Na eventualidade de não se necessitar de todos os medicamentos hemoderivados requeridos, estes podem ser devolvidos num período não superior a 24 horas.

De forma a garantir a correta administração dos medicamentos hemoderivados, efetua-se a verificação dos registos presentes na "via serviço" arquivada no SC responsável pela administração, des locando-se uma das farmacêuticas responsáveis a este, encerrando assim o circuito de hemoderivados. Desta forma, garante-se que se efetuou o registo em todas as instâncias envolvidas, bem como o medicamento foi administrado ao doente correto, tornando-se assim possível a rastreabilidade imediata de doentes ou lotes envolvidos em qualquer inconsistência detetada posteriormente, por exemplo contaminações. Esta deslocação do farmacêutico aos serviços, encerrando assim o circuito, constitui um objetivo de qualidade adotado pelo SFH do CHCB, tentando-se assim aumentar o número de visitas realizadas para este efeito. Constitui também um indicador de qualidade o número de devoluções de medicamentos hemoderivados efetuadas nas primeiras 24 horas. Durante o meu estágio tive oportunidade de acompanhar e participar ativamente em todas as atividades relacionadas com este circuito específico, bem como auxiliar na amostragem de registos de hemoderivados para avaliação das inconformidades em auditoria.

3.5.3.2. Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos

Correspondem a medicamentos estupefacientes e psicotrópicos aqueles que constam nas tabelas em anexo do Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, sendo também necessário um circuito especial para estes produtos visto sofrerem de um rigoroso controlo por lei [16]. Assim, é da responsabilidade do serviço de ambulatório do CHCB a distribuição e controlo do circuito dos MEP.

Os MEP encontram-se seguramente armazenados em cofres com um sistema de dupla fechadura em cada Serviço Clínico, existindo um stock específico de acordo com as necessidades e consumos desse serviço. Após a prescrição por parte do médico destes medicamentos, recorre-se ao stock presente no serviço para o efeito e efetua-se posteriormente a reposição do consumo efetuado por princípio ativo. Esta reposição efetua-se

presente na Portaria N.º 981/98 de 8 de junho (modelo nº 1509 da Imprensa Nacional da Casa da Moeda (INCM)) [17], na qual devem vir corretamente preenchidos os campos referentes ao princípio ativo, a forma farmacêutica em que este se encontra, a respetiva dose e as administrações efetuadas para se proceder à reposição dessa quantidade consumida, registando os nomes e processos dos doentes evolvidos e da quantidade dispensada a estes (Anexo XVIII). Esta requisição deve também vir devidamente assinada pelo corpo de enfermagem que efetuou as administrações e pelo Diretor de Serviço requerente da reposição, ou substituto legal, sendo validada pelo farmacêutico aquando da sua entrega pelo corpo de assistência técnica.

Após receção e validação da requisição de MEP, o farmacêutico regista no documento a quantidade fornecida e o respetivo lote, arquivando no SFH o original e o duplicado acompanha os MEP dispensados para o SC requerente, repondo assim o stock inicial. O farmacêutico imputa no final os consumos efetuados, registando também no original o número de movimentação atribuído. Estas requisições são sempre conferidas pelo farmacêutico no dia seguinte à reposição, sendo depois entregues no secretariado dos SFH para posterior envio trimestral ao INFARMED da associação dos consumos por doente.

Contrariamente ao apresentado anteriormente, alguns Serviços Clínicos do CHCB, nomeadamente o serviço de urgência geral e pediátrica e o bloco operatório possuem um sistema de armazenamento PyxisTM (um armazém do SFH descentralizado) com um stock fixo de MEP. Para a reposição do stock de MEP nestes sistemas recorre-se à listagem de consumo produzida pelo sistema, servindo como legal substituto do anexo X por autorização do INFARMED.

De forma a comprovar as existências físicas presentes nos SC, um farmacêutico dirige- se mensalmente a estes e verifica a quantidade existente, bem como a respetiva validade. No caso do prazo de validade ser curto, efetua-se a substituição desse stock, encaminhando esses MEP para serviços com capacidade de realizarem o escoamento destes. Este ponto anterior constitui um indicador de qualidade, relacionado com as não conformidades encontradas na contagem do stock presente nos serviços. Constituem também indicadores de qualidade a contagem do stock presente no próprio SFH, bem como o encerramento do circuito mediante envio da informação de consumo por doente ao INFARMED (secretariado) [4]. Durante o meu estágio tive a oportunidade de acompanhar todo o circuito dos medicamentos MEP, incluindo a visita aos SC para comprovar os stocks existentes e o enchimento da PyxisTM presente no bloco operatório.

4. Farmacotecnia

Apesar da indústria farmacêutica abranger grande parte das necessidades encontradas atualmente no mercado, incluindo na Farmácia Hospitalar, em termos de composição química, dosagens e formulações de diversos agentes terapêuticos, existe por vezes a necessidade da adaptação de um determinado tratamento para uma melhor prestação de cuidados de saúde, tornando assim o serviço prestado mais personalizado [7].

O setor de farmacotecnia presente nos SFH do CHCB responde então a estas falhas, integrando uma vertente de Produção e Controlo de preparações farmacêuticas não disponíveis prontamente, respondendo às necessidades de doentes particulares cujas condições requerem uma terapêutica individualizada, como recém-nascidos, doentes pediátricos, doentes idosos ou doentes com patologias especiais [3, 7]. A produção pode ser tanto feita para utilização imediata de um doente, ou em grandes lotes, garantindo a existência deste para quando necessário [3].

Dentro do setor de farmacotecnia podem ser encontradas as suas subsecções, nomeadamente as áreas destinadas à: Preparação de nutrição parentérica e outras preparações estéreis; Preparação de Fármacos Citotóxicos e Biológicos; Preparação de Formulas magistrais não estéreis; Reembalagem; e Purificação de água.

Estão responsáveis por este sector dois farmacêuticos auxiliados por um TDT, ao que os dois primeiros realizam as atividades relacionadas com a preparação de citotóxicos e biológicos, nutrição parentérica e outras preparações estéreis, e as secções restantes são principalmente executadas pelo TDT sob supervisão dos farmacêuticos. Em termos de espaço físico, a área de Farmacotecnia possui diversas salas, cada qual com a sua função específica e equipada para o efeito, tanto no que toca a material como a estruturas técnicas de segurança do produto e/ou operador, sendo referidas mais adiante. Estas estruturas são apoiadas pelo fornecimento de material (medicamentos ou matérias -primas) por parte do armazém 13 e 10, sendo o 13 preenchido com material de utilização exclusiva às áreas anteriores e o 10 o armazém central, que fornece também ao 13. Constitui um indicador de qualidade o número de regularizações efetuadas em transferências entre armazéns. A contagem de stocks do armazém 13 é feita semanalmente [4]. As matérias-primas utilizadas na preparação de manipulados encontram-se armazenadas no laboratório específico, sendo o stock aqui verificado mensalmente.

A existência do sector de farmacotecnia nos hospitais permite assegurar e garantir: uma maior qualidade e segurança na preparação de medicamentos para administrar aos doentes; uma resposta às necessidades específicas de determinados doentes, colmatando situações onde não existe disponibilidade por parte do mercado fornecedor; uma redução significativa no desperdício relacionado com a preparação de medicamentos; e uma gestão mais racional de recursos [9].