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Capítulo III – Estágio em Farmácia Hospitalar

2. Organização e Gestão dos Serviços Farmacêuticos

3.4. Distribuição em dose unitária

A distribuição de medicamentos a doentes internados nos SC do CHCB é realizada, salvo algumas exceções, em dose unitária, ou seja, para cada doente é entregue apenas a sua medicação individual diária (para um período de 24 horas), normalmente numa gaveta ou cassete individualizada devidamente identificada [2, 3]. Este tipo de distribuição de medicamentos constitui um imperativo legal do funcionamento básico de um hospital, como constante no Despacho conjunto, de 30 de dezembro de 1991, publicado no Diário da República n.º23 - 2ª série, de 28 de janeiro de 1992 [7]. Como referido no Manual da Farmácia Hospitalar, este sistema possibilita: um aumento da segurança no circuito do medicamento; um melhor conhecimento do perfil farmacoterapêutico dos doentes; uma diminuição dos riscos de interações; uma racionalização da terapêutica; permite aos enfermeiros uma maior dedicação nos cuidados dos doentes, em vez dos aspetos de gestão relacionados com os

medicamentos, uma melhor atribuição dos custos e uma forma de reduzir os desperdícios [ 2]. Visto este circuito de distribuição ser da responsabilidade dos SFH, o farmacêutico possui assim a oportunidade de intervir na farmacoterapia dos doentes, interpretando e validando as prescrições médicas (preferencialmente informáticas), elaborando assim o perfil farmacoterapêutico do doente [7]. A prescrição médica em formato informatizado permite uma integração imediata com o software disponível nesta área, no entanto, o software de prescrição utilizado em alguns SC é incompatível com o utilizado nos SFH (sistema de gestão integrada do circuito do medicamento (SGICM)), nomeadamente na unidade de cuidados intensivos e no serviço de acidentes vasculares cerebrais, obrigando assim a um passo adicional de transcrição da prescrição médica para o SGICM. Esta transcrição é também necessária aquando de prescrições manuscritas.

Nos SFH encontra-se uma sala própria, a sala de dose unitária, para a execução deste serviço, nomeadamente a preparação das gavetas com a medicação diária do doente. Para acondicionamento do stock presente, esta área possui um sistema de gavetas rotativas semiautomático, o KARDEX, estando também presente como apoio outras gavetas, caixas, estantes e um sistema de frio, constituindo assim o stock aqui presente o armazém 12. O KARDEX possibilita o armazenamento por gavetas individualizadas de medicamentos por DCI, ao que perante informação recebida do mapa de consumo de medicamentos de um determinado SC, orienta o operador para a gaveta correta, para a quantidade de medicamentos que deve retirar desta e para a gaveta do doente em que este deve colocar os medicamentos recolhidos. O armazém 12 é também constituído por um outro sistema semiautomático, o FDS (Fast Dispensing System), que permite o reembalamento de medicamentos de administração oral em forma sólida, abordado mais adiante. Segundo o Manual da Farmácia hospitalar, a inclusão deste tipo de sistemas semiautomáticos na preparação da medicação dos doentes permite: reduzir a ocorrência de erros, reduzir o tempo dispendido na execução desta tarefa, melhorar a qualidade da tar efa executada e racionalizar o stock presente para distribuição [2].

Este sistema de distribuição inicia-se com a validação da prescrição médica pelo farmacêutico, após o médico atribuir uma determinada medicação ao doente internado, habitualmente em formato informatizado, sendo esta tarefa executada numa sala própria para a validação e conferência das gavetas individuais. As prescrições médicas analisadas, como qualquer outra, devem conter todas as informações necessárias, nomeadamente: a data, a identificação do doente e do médico, o medicamento prescrito por DCI com a respetiva dose, forma farmacêutica e via de administração, bem como qualquer outra informação relevante para o processo de validação, como o diagnóstico do doente, as alergias deste, a duração e o esquema terapêutico e, quando aplicável, as justificações de prescrição de determinados medicamentos. A validação efetuada pelo farmacêutico pretende detetar inconsistências na prescrição, como duplicações terapêuticas, doses ou posologias incorretas ou incoerentes, via de administração incorreta, interações farmacológicas ou

justificação para medicamentos de justificação obrigatória ou desvios ao guia farmacoterapêutico do CHCB [4]. A validação da prescrição possibilita também ao farmacêutico retirar medicamentos a serem entregues por dose unitária para os inserir em sistema de distribuição tradicional, sendo exemplo disto os soros. O farmacêutico tem também a responsabilidade de contatar o médico para qualquer esclarecimento. Perante a prescrição de perfusões, o farmacêutico tem também que calcular o número de ampolas ou unidades necessárias enviar para perfazer as 24 horas de perfusão pretendidas, recorrendo para isto à velocidade de perfusão e à dose, não descuidando a necessidade do medicamento apresentar 24 horas de estabilidade no fluido a diluir. Para averiguar esta estabilidade num determinado fluido, bem como qualquer outra informação referida anteriormente quanto à posologia, dose ou via de administração, encontra-se disponível integrado no software aqui utilizado a bibliografa atualizada e adequada para o efeito, por exemplo o RCM e o Prontuário Terapêutico.

Após a validação do farmacêutico, este imprime os mapas relativos ao perfil farmacoterapêutico dos doentes internados por SC e envia esta mesma informação para os sistemas semiautomáticos FDS e KARDEX, iniciando-se assim a fase de preparação das gavetas individualizadas. Esta tarefa de preparação das gavetas é realizada pelos TDT, sob possível auxílio dos AO, na sala referida anteriormente. Tanto as gavetas como os medicamentos colocados nestas devem vir claramente identificados, constando nas primeiras o nome, o número de processo, a data de nascimento e a cama e SC onde o doente se encontra (a identificação dos doentes deve ser feito pelo menos por dois critérios diferentes, não incluindo a cama), e nos medicamentos a sua designação DCI, a dosagem, o lote e o prazo de validade, minimizando assim qualquer possível erro de troca de doentes ou de medicamentos [4, 8, 9]. De forma a garantir a minimização das possíveis trocas de doentes, em doentes com nomes semelhantes é também colocada sinalética avisando para este facto. Para medicamentos de maiores dimensões, que não seja possível a sua colocação nas gavetas individualizadas, são enviados para os SC dentro de caixas de maiores dimensões, devidamente identificados. Para medicamentos que necessitem de condições de conservação em frio são conservados no sistema de frio presente na sala de preparação das gavetas até ao seu envio para os SC.

Após preparação das gavetas individualizadas, estas devem ser então individualmente conferidas pelo farmacêutico, numa sala própria para o efeito, garantindo assim a inexistência de erros quer de dosagem, quer de posologia, quer do medicamento em si [4]. Por fim, são então enviados os medicamentos em dose unitária para os SC, sendo a hora para o envio destes estipulada entre os SFH e os SC [3]. Assim, à hora acordada de envio da medicação procede-se ao envio desta para os SC, devidamente validada, via um AO. Até esta hora acordada de envio, a prescrição de um doente específico pode estar sujeita a alterações, ou o doente pode mesmo receber alta, não sendo assim necessário o envio da medicação para o dia posterior. Desta forma, o farmacêutico verifica constantemente quaisquer alterações efetuadas até hora de envio da medicação, procedendo às alterações

necessárias. Paralelamente ao envio da medicação para os SC, imputam-se os consumos efetuados do armazém 12 no sistema informático. No caso de necessidade imperativa e urgente de um medicamento não prescrito durante o período entre a hora da entrega da medicação diária e a hora do próximo envio e na eventualidade do SC não possui r stock deste, apenas se pode enviar medicamentos mediante requisição informática, sendo a prescrição validada por um farmacêutico, sendo o medicamento levantado por um AO do SC [3]. Uma exceção à preparação de apenas a medicação para um período de 24 horas é aquando fins-de- semana ou feriados, sendo assim a medicação preparada para os dias necessários (em duplicado ou triplicado), também num sistema de gavetas devidamente identificadas para o dia a que se destinam, permanecendo estas no SFH até serem neces sárias nos SC [2].

Por vezes pode ocorrer a não administração de toda a medicação enviada para os SC, sendo esta devolvida aquando o retorno das gavetas ao SFH e revertida em stock (por doente de forma a refletir a não administração desses medicamentos). Uma outra particularidade importante de referir é a possibilidade dos doentes trazerem alguma medicação específica do seu domicílio (de elevado valor monetário fornecido pelo CHCB ou quando não se encontra disponível neste), não sendo assim fornecida pelos SFH durante o seu internamento [4].

De forma a garantir a qualidade do serviço prestado de distribuição de medicamentos em dose unitária, os SFH do CHCB adotaram alguns indicadores de qualidade, nomeadamente: garantir o cumprimento do horário de entrega da medicação, diminuir o número de regularizações efetuadas no armazém 12 e o número de erros na medicação dispensada para as 24 horas [4]. Durante o meu estágio tive oportunidade de acompanhar a validação das prescrições médicas e a verificação da medicação presente nas gavetas preparadas, na alteração da medicação a enviar, na preparação dos pedidos urgentes e por último no registo das não conformidades como indicador de qualidade.

3.5. Distribuição de medicamentos a doentes em ambulatório e de