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Capítulo II – Estágio em Farmácia Comunitária

5. Interação farmacêutico-utente-medicamento

A interação entre o farmacêutico, o utente e o medicamento é um dos pontos de maior importância da atividade do farmacêutico, visto a farmácia ser muitas vezes o último ponto de contato entre o utente e o sistema de saúde. Com a responsabilidade de ser mui tas vezes o último interveniente entre a prescrição e a toma do medicamento, o farmacêutico encara a sua responsabilidade como um profissional de saúde cuja atividade se encontra regida por um código deontológico e por princípios éticos e alia-se de um Manual de Boas Práticas de forma a colocar a saúde e o bem-estar do utente ou qualquer indivíduo como sua principal responsabilidade, colocando-o à frente dos seus interesses pessoais ou comerciais, possibilitando assim que a população usufrua de cuidados de saúde com qualidade, seguros e eficazes [16].

Com a responsabilidade de promover e garantir o uso racional, seguro e eficaz do medicamento, o farmacêutico deve desenvolver as suas capacidades de aconselhamento e de comunicação de forma a transferir eficazmente toda a informação necessária sobre medicamento para garantir que este será utilizado da melhor forma possível, aumentando a probabilidade de este produzir o efeito desejado. Isto implica que o farmacêutico seja capaz de ouvir, questionar, relacionar e negociar, sempre de uma forma amigável e afável, mas ao mesmo tempo rápida e eficaz. O utente deve no final do aconselhamento sentir-se esclarecido na totalidade, valorizado e acompanhado

O aconselhamento farmacêutico, ponto fulcral na sua atividade profissional, não possui uma construção estática e imutável, sendo este dependente tanto do profissional que o executa como do utente que o receberá. O profissional deve ser perspicaz na avaliação inicial do utente, conseguindo apurar rapidamente a quantidade e a complexidade de informação que poderá transmitir ao utente, bem como a disponibilidade deste para tal e o

aconselhamento, desde as questões feitas e as informações ou indicações prestadas, bem como o vocabulário e as terminologias utilizadas, ou até mesmo a articulação, velocidade de conversa, ou expressões faciais, postura corporal e duração do aconselhamento, de acordo com as necessidades ou possibilidades de cada utente, mas aplicando em todos os casos uma forma clara, cativante e recetiva de comunicar, procurando sempre se o utente entendeu tudo o que lhe foi transmitido. Também importante, é a necessidade de muitas vezes ter-se que complementar a informação transmitida oralmente com a mesma em versão escrita, ou até mesmo recorrendo a sinaléticas simples, no caso de indivíduos iletrados. O utente deve no final do aconselhamento sentir-se totalmente esclarecido sobre a utilização correta da sua medicação, bem como sensibilizado para as problemáticas da não compliance ou toma incorreta do tratamento, valorizado e acompanhado na tentativa de melhorar o seu estado de saúde e incentivado na manutenção da sua saúde.

O farmacêutico deve estar preparado para a eventualidade de apesar de efetuado um diagnóstico correto, a não aderência ao tratamento ser causada pela não aceitação e da falta de disponibilidade ou possibilidade de adquirir o medicamento, sendo da sua responsabilidade profissional que o utente aceite e entenda a medicação, sem quebrar relações de confiança ou limitar os direitos, crenças ou valores do utente.

O farmacêutico pode também estender o seu aconselhamento além dos medicamentos prescritos pelo médico, colocando em prática os seus conhecimentos de forma a satisfazer as relações benefício/risco e benefício/custo aplicáveis, nomeadamente na avaliação da adequabilidade da prescrição. O incentivo às alterações de alguns comportamentos prejudiciais do utente, como o consumo de álcool ou de tabaco, de forma a melhorar a resposta ou compliance deste à medicação, tornam-se também pontos importantes a discutir. Outro ponto importante realçar, apesar de ser utilizada a designação "aconselhamento", não se pretende que ocorra um fluxo unidirecional de informação, mas sim uma interação construtiva com interação de ambas as partes, incentivando o utente a preocupar-se com a sua saúde e bem-estar, procurando as respostas que ainda necessita. Apenas havendo um compromisso mútuo entre o utente e o farmacêutico, assegurando este que o utente aceita a medicação em causa e entendeu, na totalidade, a forma correta e segura de toma da sua medicação, bem como as mais valias e os inconvenientes associados a esta, e o utente, assumindo um papel ativo na manutenção da sua saúde, realizando ele próprio uma monitorização e julgamento do tratamento, se garante a máxima qualidade nos cuidados de saúde prestados [17].

A farmacovigilância é a "... atividade de saúde pública que tem por objetivo a

identificação, quantificação, avaliação e prevenção dos riscos associados ao uso de medicamentos em comercialização, permitindo o seguimento dos possíveis efeitos adversos dos medicamentos” [1], com principal objetivo de "... determinar a incidência, gravidade e nexo de causalidade com os medicamentos, baseados no estudo sistemático e multidisciplinar dos efeitos dos medicamentos, após a sua cedência ao doente” [18], estando esta coordenada

Atendendo à responsabilidade do farmacêutico com a segurança do utente em relação à utilização de medicamentos, bem como o facto da proximidade imediata entre a farmácia e o utente, este deve adotar uma atitude ativa na notificação das reações adversas medicamentosas (RAM) graves ou inesperadas. Por sua vez, RAM é definida pela OMS como "qualquer resposta prejudicial e indesejada a um medicamento que ocorre com doses habitualmente usadas para profilaxia, diagnóstico ou tratamento ou para modificação de funções fisiológicas" [18]. As notificações devem por sua vez serem realizadas o mais rápido possível, recorrendo para o efeito às fichas disponibilizadas no site do INFARMED para o efeito.

Para finalizar, deve também ser referido o importante papel do farmacêutico na sensibilização da comunidade para a participação contínua no processo de tratamento de resíduos dos medicamentos, nomeadamente no programa VALORMED [20]. A VALORMED é a sociedade nacional responsável pela gestão e tratamento dos resíduos (embalagens e medicamentos) dos medicamentos já não utilizados, cujo tratamento terminou ou cujo prazo de validade foi ultrapassado. A necessidade do tratamento deste tipo de resíduos de forma diferente de outros advém da sua especificidade como material, necessitando de um processamento próprio.

De forma simples, o utente trás à farmácia os medicamentos que já não deseja, estes são recolhidos é são colocados em contentores próprios para o efeito, que quando cheio é selado e procede-se ao preenchimento de um impresso (nome e código da farmácia, peso aproximado do contentor, a data da recolha e o responsável pela sua selagem e recolha) em duplicado, um para a farmácia e outro para acompanhar o contentor. Por fim, os contentores são recolhidos pelos distribuidores responsáveis e encaminhados para o local de processamento.

Por diversas vezes durante o meu estágio procedi à recolha do contentor da VALORMED, ao preenchimento do impresso, bem como ao envio da informação para procederem à recolha deste contentor. Na minha opinião, constitui um serviço com bastante adesão por parte da população, principalmente pelas camadas mais idosas, as quais também possuem mais medicação em simultâneo, bem como mais alterações na mesma.