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139 De acordo com os autores citados, o terceiro fator identificado como tendo impacte na

alteração das paisagens culturais prende-se com a utilização dos solos para uso específico do turismo ou atividades recreativas, tanto em áreas costeiras como em áreas de montanha. O desenvolvimento das infraestruturas necessárias à prática do turismo ou do lazer não apresenta, em muitos casos, uma integração harmoniosa com a envolvente natural ou com a paisagem rural tradicional. Esta última constatação é amplamente corroborada pela revisão da literatura por nós efetuada no Capítulo I referente às consequências do desenvolvimento do turismo num território ao longo de um determinado período temporal (Van Eetvelde e Antrop, 2004).

O quarto e último fator está relacionado com o abandono de terrenos agrícolas em áreas remotas, de difícil acesso e em que a menor produtividade dos solos torna a atividade agrícola pouco rentável. Este abandono dos terrenos é suscetível de, nuns locais aumentar o risco de incêndios florestais (Pinto-Correia, 2000) e, noutros, incrementar a reflorestação, levando, consequentemente, à perda de elementos do património cultural e de abrangência de vistas sobre determinadas paisagens (Fyhri et al., 2009; Dramstad et al., 2001).

Decorrente do exposto, podemos verificar que o desenvolvimento do turismo é apenas um entre vários fatores indutores de alterações na paisagem. Paralelamente, deve ser igualmente referido, que a preocupação com as alterações ocorridas na paisagem não é uma temática que apenas inquiete os investigadores na área do turismo. De acordo com Antrop (2005), a preocupação pelo desaparecimento das paisagens culturais tradicionais tornou-se um tópico de elevado interesse para a comunidade científica internacional. As alterações ocorridas na paisagem são frequentemente consideradas como uma ameaça e uma evolução negativa, ainda que, a mudança sempre foi uma característica intrínseca da paisagem, pois estas são o produto de uma interação dinâmica entre as forças naturais e culturais no ambiente e de sucessivas reorganizações do solo para melhor adaptar a sua utilização e estruturas espaciais às necessidades em mudança da sociedade (Antrop, 2005). Se as paisagens são entidades dinâmicas e a mudança sempre foi uma das suas características mais salientes, torna-se imprescindível tentar compreender a razão que leva um leque tão variado de investigadores e outras entidades a exprimirem a sua apreensão em relação às mudanças ocorridas na paisagem cultural nas últimas décadas. Segundo

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Antrop (2005), o que se alterou em relação ao passado foi a magnitude e a velocidade com que as mudanças ocorrem, bem como a capacidade técnica do homem para intervir na paisagem (Ewald, 2001; Phillips, 1998), levando a uma descaracterização total e uma perda de identidade das paisagens.

A crescente preocupação com o desaparecimento das paisagens culturais está patente no reconhecimento, por parte de várias organizações internacionais, da necessidade de proteger essas mesmas paisagens. A UNESCO defende essencialmente a preservação das paisagens cultuais de elevado valor cultural ou natural, no entanto, segundo Pinto-Correia

et al. (2001) a partir dos anos 90 passou-se a considerar a necessidade de proteger não

apenas as paisagens que encerram um valor universal excecional, mas a paisagem em todo o território e todos os tipos de paisagem.

Como forma de clarificar as diferentes utilizações do termo paisagem, torna-se necessário aferir e conhecer as diferentes definições de paisagem em geral e paisagem cultural em particular.

4.5 A Definição de Paisagem e Paisagem Cultural

Uma definição muito utilizada e abrangente de paisagem é atribuída ao geógrafo alemão Alexander von Humboldt (1769-1859) que define paisagem como «a totalidade de aspetos de uma região, tais como apreendidos pelo Homem». Neste sentido, segundo Pinto-Correia (2005), para o estudo, compreensão e gestão de qualquer paisagem é fundamental conhecer não somente a forma como as pessoas se relacionam com a paisagem mas igualmente que ideias e conceitos lhes associam. Claval (2008) acrescenta que todas as paisagens têm uma extensão finita – terminando no limite do que pode ser abarcado por um golpe de vista. Se o observador se encontrar na superfície da terra e olhar em seu redor na perspetiva horizontal ou oblíqua, a paisagem pode apresentar partes visíveis e partes ocultas ao olhar, mas se o observador se encontrar num plano mais elevado, as partes ocultas não se tornam apenas percetíveis, como a extensão de área visível aumenta consideravelmente.

Em 1992, a UNESCO reconheceu que, para além do património cultural e natural, existia uma terceira categoria que engloba

«as obras conjugadas do homem e da natureza» a que se refere o artigo 1º da Convenção. Ilustram a evolução da sociedade e dos estabelecimentos humanos ao longo dos tempos, sob

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a influência dos condicionamentos materiais e/ou das vantagens oferecidas pelo seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, económicas e culturais, internas e externas. Devem ser escolhidas com base no seu valor universal excecional e na sua representatividade em termos de região geocultural claramente definida e da sua capacidade de ilustrar os elementos essenciais e distintivos de tais regiões» (UNESCO, 1992, p. 31).

Paralelamente a UNESCO reconhece que “a expressão «paisagem cultural» abarca uma grande variedade de manifestações interativas entre o homem e o seu ambiente natural” UNESCO (1992, p. 31). Neste sentido, torna-se necessário dividir a paisagem cultural em três categorias principais:

« (i) a mais fácil de identificar é a paisagem claramente definida, intencionalmente concebida e criada pelo homem, o que engloba as paisagens de jardins e parques criadas por razões estéticas que estão muitas vezes (mas não sempre) associadas a construções ou conjuntos religiosos. (ii) A segunda categoria é a paisagem essencialmente evolutiva. Resulta de uma exigência de origem social, económica, administrativa e/ou religiosa e atingiu a sua forma atual por associação e em resposta ao seu ambiente natural. Estas paisagens refletem esse processo evolutivo na sua forma e na sua composição. Subdividem-se em duas categorias: - uma paisagem relíquia (ou fóssil) é uma paisagem que sofreu um processo evolutivo, que foi interrompido brutalmente ou por algum tempo, num dado momento do passado. Porém, as suas características essenciais mantêm-se materialmente visíveis;

- uma paisagem viva é uma paisagem que conserva um papel social activo na sociedade contemporânea, intimamente associado ao modo de vida tradicional e na qual o processo evolutivo continua. Ao mesmo tempo, mostra provas manifestas da sua evolução ao longo do tempo.

(iii) A última categoria compreende a paisagem cultural associativa. A inscrição destas paisagens na Lista do Património Mundial justifica-se pela força da associação dos fenómenos religiosos, artísticos ou culturais do elemento natural, mais do que por sinais culturais materiais, que podem ser insignificantes ou mesmo inexistentes (UNESCO, 1992, pp. 106-107).

A Convenção Europeia da Paisagem apresenta um novo e muito mais abrangente entendimento do conceito de paisagem, declarando que «Paisagem» designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da ação e da interação de fatores naturais e ou humanos» (Conselho da Europa, 2000, p.). Neste sentido, a Convenção Europeia da Paisagem visa não somente proteger algumas paisagens, ou tipos de paisagem, mas pretende igualmente conhecer os diferentes tipos de paisagem existentes, onde se podem encontrar, compreender como funcionam e como reagem às múltiplas atividades que o ser humano nelas desenvolve, como é efetuada a sua utilização e que valor ou significado tem para os indivíduos que nela habitam quer individualmente quer enquanto comunidade. O esclarecimento que se visa obter em relação aos vários elementos

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apresentados serve para assistir na formulação de prioridades e princípios para a gestão adequada da paisagem.

A definição adotada na Convenção Europeia da Paisagem acentua que «paisagem designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas populações» (Conselho da Europa, 2000). Ao colocar no centro da definição o facto de um ser humano observar o que o rodeia, e sobre essa observação construir uma imagem, permite delimitar paisagem em relação a outros conceitos relacionados, como ambiente ou território. Neste sentido, a compreensão da paisagem implica o conhecimento de fatores naturais e culturais, como a litologia, o relevo, a hidrologia, o clima, os solos, a flora e a fauna, a estrutura ecológica, o uso dos solos e todas as outras formas expressas nas múltiplas atividades humanas exercidas ao longo dos tempos, complementados por uma análise das inter-relações que se estabelecem entre o plano físico e o plano cultural. Mas a compreensão do conceito de paisagem vai mais além e, como referido anteriormente, a definição adotada não engloba apenas uma dimensão objetiva, compreendida pelos fatores naturais e culturais e respetiva interação, mas realça explicitamente a existência de uma dimensão subjetiva, que corresponde à perceção que cada indivíduo forma de acordo com os seus valores, sensibilidade e conhecimento, atribuindo à paisagem uma dimensão afetiva e um valor estético e simbólico (Daniel, 2001).

Um dos objetivos principais do presente capítulo está relacionado com a análise da relevância que a paisagem assume no âmbito da atratividade dos destinos turísticos. Concludentemente, consideramos que a perspetiva a utilizar para aferir essa relevância deve ser uma abordagem holística que englobe não apenas os aspetos inerentes à dimensão objetiva, mas que tenha igualmente em consideração a forma como os turistas percecionam os impactes do turismo, tanto no ambiente – natural, social e cultural - como na qualidade estética da paisagem.

Neste sentido, torna-se imprescindível conhecer as diferentes formas de avaliar a perceção de paisagem, com o intuito de determinar as formas mais adequadas de atingir os objetivos propostos, ou seja, aferir a importância da paisagem na atratividade dos destinos turísticos e avaliar a forma como os impactes que o desenvolvimento do turismo teve na paisagem cultural dos destinos em fase de maturidade no respeitante ao modo como são avaliados em termos de atratividade. Tendo em mente o exposto, no próximo ponto é nosso intuito

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