1998).
Um dos primeiros estudos que visou estabelecer os fatores adequados para medir a atratividade de um destino turístico foi efetuado por Gearing et al. (1974), que considerou existirem cinco grupos de fatores – (i) fatores naturais, (ii) sociais, (iii) históricos, (iv) equipamentos de lazer e comerciais, (V) infraestruturas, incluindo acomodação e restauração, para medir a atratividade de um destino turístico. Estes cinco grupos de fatores incluem os diferentes critérios que comportam a avaliação de determinadas características. O primeiro grupo - fatores naturais – inclui os critérios beleza natural e clima. A beleza natural é avaliada em termos da topografia geral, flora e fauna, proximidade de lagos, rios, mar, ilhas, nascentes, cavernas e quedas de água e, no critério clima são considerados o número de horas de sol, temperaturas, ventos, precipitação e índice de desconforto.
O segundo grupo - fatores sociais - é constituído por três critérios. No primeiro critério - características locais distintivas - são avaliadas as formas peculiares do vestuário, as músicas e danças folclóricas (não organizadas), a gastronomia local, o artesanato e a existência de produtos específicos. No segundo critério é avaliada a existência de feiras e exposições, normalmente de carácter comercial e no terceiro critério é efetuada uma apreciação da forma como a população residente se relaciona com os turistas, nomeadamente a simpatia e formas de acolhimento aos turistas.
O terceiro grupo - fatores históricos - é composto pelos critérios monumentos antigos, significado religioso e proeminência histórica, avaliando não apenas a sua existência mas igualmente as condições de manutenção e o respetivo acesso. No critério significado religioso é apreciada a importância da prática e observância religiosa e no critério proeminência histórica avalia-se a presença de locais ligados a eventos históricos e/ou lendas muito conhecidas.
O quarto grupo – equipamentos de lazer e comerciais - engloba os equipamentos desportivos, ou seja, a existência de infraestruturas para a prática de determinados desportos, os equipamentos educacionais, como museus arqueológicos e etnográficos, jardins zoológicos, jardins botânicos ou aquários, os equipamentos de saúde, descanso e
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bem-estar, locais de animação noturna e os diferentes estabelecimentos comerciais mais procurados por turistas.
Finalmente, o quinto grupo – infraestruturas e equipamentos de acomodação e restauração - avalia se as infraestruturas existentes em termos de vias de comunicação, abastecimento de água, eletricidade ou gás, os serviços de segurança, de saúde, telecomunicações ou transportes públicos apresentam uma “qualidade turística mínima”. O segundo critério deste grupo analisa a “qualidade turística mínima” dos equipamentos de acomodação e restauração, ou seja, as infraestruturas que permitem o desenvolvimento da atividade turística.
Como podemos verificar na Tabela 4.2, os fatores identificados posteriormente como suscetíveis de representarem as diferentes dimensões da atratividade dos destinos turísticos não apresentam alterações muito significativas relativamente aos propostos por Gearing et
al. (1974), sendo apenas de assinalar que os estudos posteriores introduziram o fator preço
e também em alguns casos o fator segurança como passíveis de afetarem a atratividade dos destinos turísticos. Na Tabela 4.2 estão incluídos apenas os estudos que indicam expressamente que os indicadores identificados são suscetíveis de representar os fatores que enformam o conceito de atratividade dos destinos turísticos.
Tabela 4.2 - Indicadores de Atratividade dos Destinos Turísticos
Turismo de Portugal (2009)
Paisagem natural
Gastronomia
Património histórico
População local (simpatia)
Oferta hoteleira
Paisagem urbana
Clima atmosférico
Oferta cultural social
Estudo visa avaliar a atratividade turística das 11 entidades regionais de turismo junto do mercado nacional (português).
Destinos em diferentes etapas do ciclo de vida são avaliados e é construído um ranking dos destinos baseado na avaliação efetuada.
Capítulo 4 – A Importância da Paisagem Cultural
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131 Cracolici e
Nijkamp (2008)
Receção e simpatia dos residentes
Cidades artísticas e culturais
Paisagem, ambiente e natureza
Hotéis e acomodação
Gastronomia típica
Eventos culturais (concertos, exposições, …)
Nível de preços, custo de vida
Qualidade e variedade de produtos nas lojas
Informação turística e serviços
Segurança
Qualidade do vinho
O objetivo principal do estudo é aferir a atratividade relativa de diferentes destinos turísticos que competem diretamente entre si. Com base na avaliação das perceções individuais dos turistas nacionais (italianos) em relação a 11 fatores diferentes é elaborado um índice dos destinos turísticos em análise.
Formica e Uysal (2006)
Serviços e equipamentos turísticos
Estabelecimentos de restauração Lojas Lojas de souvenirs Agências de viagens Hotéis e motéis Campos de golfe Cultura/História Edifícios históricos Museus Distritos históricos
Locais ligados à Guerra Civil (EUA)
Festivais
Vinhas
Alojamento rural
Parques de campismo
Alojamento em casas rústicas
Estabelecimentos de alojamento
Parques para veículos de recreio
Desportos/atividades ao ar livre
Passeios a cavalo
Quedas de água
Caminhadas
Ciclismo
O estudo propõe-se apresentar um modelo com capacidade para explicar e medir os determinantes da atratividade de um destino mediante a medição de indicadores, quer pelo lado da oferta, quer pelo lado da procura.
Os autores partem do pressuposto de que a atratividade turística total depende da relação entre as atrações existentes no destino e a perceção da importância dessas atrações.
Pike e Ryan (2004)
Acomodação adequada
Boa relação qualidade-preço
Viagem confortável a partir da residência
Beleza do cenário natural
Bons restaurantes/cafés
Bom tempo
Muita coisa para ver e fazer
Boas praias
Residentes simpáticos
Não demasiado turístico
Piscinas de água quente
Lugares para fazer caminhadas
Fazer compras
Vinhas
Atividades de aventura
Pesca
Proximidade de outros destinos turísticos
Desportos de neve
Experiências com a cultura Maori
Um dos objetivos da investigação prende-se com a identificação das diferentes dimensões de atratividade do destino.
As dimensões identificadas possibilitariam às organizações responsáveis pela gestão do destino desenvolverem um posicionamento adequado, diferenciando o destino dos seus mais diretos concorrentes de forma percetível para os consumidores.
Capítulo 4 – A Importância da Paisagem Cultural _________________________________________________________________________ 132 Kim (1998) Atratividade sazonal Lugar único
Muito para ver e entretenimento
Experiência cultural e locais históricos
Sossego e paz
Limpeza e higiene
Ambiente natural com ar puro e águas limpas
Nível de preços
Existência e qualidade do alojamento
Equipamentos para descansar e relaxar
Variedade de gastronomia e bebidas
Adequado para famílias e para crianças
Segurança do local
Experienciar novos estilos de vida
Tempo despendido no local
Reputação do local e imagem conhecida
Localização e tráfico convenientes
Entretenimento noturno
Cenário e paisagem
Equipamentos de desportos e lazer
O estudo parte do pressuposto de que cada destino turístico é caracterizado por um conjunto de atributos e que as escolhas individuais são baseadas na avaliação subjetiva desses atributos.
Paralelamente, o estudo visa alargar a abordagem contextual à medição da atratividade dos destinos turísticos. Kozak e Rimmington (1998) Atrações Cenário/recursos naturais Clima Cultura Gastronomia História Etnicidade Acessibilidade Equipamentos e serviços Acomodação Aeroportos Estações de Comboios/autocarros Equipamentos de desporto Entretenimento Centros comerciais
Estabelecimentos de restauração e bebidas
Infraestruturas
Abastecimento e tratamento de água Redes de telecomunicações
Estabelecimentos de saúde Energia
Sistemas de esgotos e drenagem Rede viária
Sistemas de segurança
Hospitalidade Simpatia
Disponibilidade para ajudar Celeridade na resposta a queixas
Custos
Relação qualidade - preço Preço da acomodação Preços da comida e bebida Preço dos transportes Preços nas lojas
Os autores reúnem estes fatores baseando-se numa revisão da literatura referente à atratividade dos destinos turísticos
Capítulo 4 – A Importância da Paisagem Cultural _________________________________________________________________________ 133 Hu e Ritchie (1993) Existência/qualidade da acomodação
Equipamentos desportivos e de lazer
Paisagem Clima Gastronomia Entretenimento Atrações históricas Ser único Atrações culturais Acessibilidade Festivais/eventos especiais Lojas Transportes locais Nível de preços
O estudo apresenta três objetivos, o primeiro visa determinar a importância relativa da contribuição de diferentes atributos para a atratividade dos destinos turístico. O segundo objetivo consiste em avaliar a perceção da capacidade dos diferentes destinos de satisfazerem as necessidades específicas dos turistas. Finalmente, o terceiro objetivo prende-se com a apreciação da contribuição da experiência direta com determinado destino para a avaliação da atratividade do mesmo.
Baseado num modelo multidimensional, foi elaborado um índice da atratividade dos diferentes destinos.
Fonte: Elaboração própria.
Uma análise dos fatores contemplados na Tabela 4.2, independentemente de como os diferentes autores agrupam posteriormente esses mesmos fatores, revela que a avaliação que se pede aos turistas ou aos elementos do trade, quando aplicável, incide quase exclusivamente sobre os recursos tangíveis do destino. No entanto, existem evidências científicas de que as profundas alterações ocorridas ao nível da procura turística conduziram a que cada vez mais os turistas valorizem os recursos intangíveis do destino, como imagem, identidade, estilos de vida, atmosfera, narrativas, criatividade e os media (Richards e Wilson, 2007). Neste sentido, seria expetável que elementos relativos aos recursos intangíveis fossem introduzidos, para aferir a atratividade dos destinos turísticos. Uma observação dos atributos selecionados para aferir a atratividade dos destinos turísticos leva-nos igualmente a concluir que, salvo raras exceções, não é efetuada uma explanação das razões que determinaram a escolha dos diferentes atributos. A esta falta de clarificação na escolha dos atributos a serem avaliados, acresce que, em alguns dos estudos analisados, designadamente o efetuado pelo Turismo de Portugal (2009), são sujeitos a uma análise comparativa, destinos em diferentes fases do respetivo ciclo de vida e sem se ter avaliado se estes destinos são efetivamente concorrentes diretos.
No capítulo referente à competitividade dos destinos turísticos concluímos que existem fatores específicos suscetíveis de influenciar negativamente a competitividade dos destinos
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turísticos maduros. O facto de estes destinos terem atingido o estado de maturidade indica claramente que possuem recursos turísticos, infraestruturas e condições favoráveis ao desenvolvimento do turismo. Neste sentido, consideramos que, aferir apenas a existência de determinados recursos turísticos, infraestruturas e condições climatéricas favoráveis, não consiga captar as diferentes dimensões que realmente determinam o maior ou menor grau de atratividade destes destinos no momento atual. Esta perspetiva é reforçada pela constatação de Kim (1998), de que cada destino é caracterizado por um conjunto específico de atributos.
Como ficou claro na análise efetuada no Capítulo 1, o maior desafio que neste momento se coloca aos destinos turísticos maduros é o de conseguirem gerir de forma adequada os impactes que o desenvolvimento da atividade acarretou para a forma como são percecionados em termos de atratividade pelos turistas. Muito recentemente, Santana- Jiménez e Hernández (2011) analisam o efeito que a perceção da excessiva concentração de pessoas num mesmo local tem sobre a atratividade dos destinos, concluindo que, embora existam outros fatores que afetam a atratividade dos destinos turísticos, o fator analisado deve ser igualmente tido em consideração.
Neste sentido, consideramos que os fatores específicos identificados como tendo impacte negativo na competitividade dos destinos turísticos maduros, a falta de atualização e manutenção das infraestruturas e os impactes no ambiente devem ser igualmente utilizados para aferir a atratividade atual dos destinos turísticos maduros. Em relação aos outros dois outros fatores específicos identificados, as dificuldades de gestão do destino e a perda de vitalidade económica, consideramos, à semelhança de Enright e Newton (2004), que é extremamente difícil para os turistas avaliarem questões relacionadas com a gestão do destino e, embora possam ter reflexos na atratividade que o destino exerce sobre potenciais turistas, a sua avaliação deve ser efetuada pelos stakeholders ligados à oferta turística. Um outro aspeto saliente dos atributos utilizados na avaliação da atratividade dos destinos turísticos prende-se com uma dicotomia entre as atrações ou recursos naturais e as atrações ou recursos culturais ou sociais. Avalia-se, assim, frequentemente, a beleza da paisagem natural e paralelamente a beleza da paisagem construída (Turismo de Portugal, 2009; Cracolici e Nijkamp, 2008; Pike e Ryan, 2004), ou a existência de aspetos culturais ou sociais únicos e suscetíveis de constituir uma atração turística (Pike e Ryan, 2004; Kozak e
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