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145 beleza da paisagem natural, na perspetiva da ecologia assume-se que os ecossistemas

naturais intocados encerram os valores mais elevados (Zube et al., 1982).

Segundo Tveit et al. (2006), a abordagem subjetivista tem como principal enfoque a forma como a paisagem é percecionada pelo observador. A paisagem é perspetivada como um constructo desenvolvido pelo cérebro humano essencialmente a partir de formas visuais de obtenção de informação. Esta ótica de análise baseia-se em duas teorias explicativas distintas, a primeira considera que a forma como a paisagem é percecionada e avaliada está intimamente ligada ao processo da evolução humana. Em relação a esta primeira abordagem, a estética da paisagem é considerada uma dimensão da capacidade de sobrevivência humana, ou seja, são preferidas paisagens que contêm elementos suscetíveis de satisfazer as necessidades biológica do ser humano e assim garantir a sua sobrevivência enquanto espécie (Tveit et al., 2006; Hull e Ravell, 1989; Zube et al., 1982).

A segunda abordagem examina os efeitos da cultura e da personalidade na forma como a paisagem é percecionada, existindo evidências científicas que fatores pessoais como a idade, o sexo, a ocupação, os hobbies, a formação académica ou a familiaridade com determinada paisagem podem influenciar a forma como a paisagem é percecionada (Tveit

et al., 2006; Hull e Ravell, 1989).

Tveit et al. (2006) consideram que estas diferentes conceções não podem ser dissociadas de um debate mais amplo sobre se são fatores biológicos ou fatores culturais a influenciar o comportamento dos seres humanos. Não obstante estas duas abordagens se apresentarem de forma antagónica, Tveit et al. (2006) e Hull e Ravell (1989) defendem que as duas perspetivas não se excluem mutuamente, existindo atualmente investigação a comprovar que a formação de preferências relativamente à paisagem pode ser tanto influenciada por fatores genéticos como por fatores culturias ou psicológicos. Dado que todos os seres humanos partilham a mesma evolução histórica, é plausível que, independentemente de fatores culturais, existam determinadas características da paisagem que sejam percecionadas e avaliadas de forma muito idêntica por todos os seres humans. No entanto, esta permissa não excui a possibilidade de existirem igualmente características da paisagem, cuja perceção e avaliação seja influenciada por fatores culturais e psicológicos (Tveit et al., 2006; Hull e Ravell, 1989; Kaplan, 1973).

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Também na investigação da paisagem dos destinos turísticos este debate está bem patente, pois parte substancial da investigação que se tem debruçado sobre a avaliação da qualidade estética da paisagem dos destinos, tenta igualmente aferir se existem diferenças entre a forma como turistas de diferentes nacionalidades e os residentes no destino percecionam a paisagem. Na tabela seguinte é nosso objetivo sintetizar a investigação referente aos destinos turísticos e apresentar as principais conclusões desses mesmos trabalhos. A apresentação dos diferentes estudos é efetuada por ordem cronológica dos mais antigos até aos mais recentes (Ver Tabela 4.6).

Tabela 4.6 – Avaliação da Paisagem em Destinos Turísticos

Hull e Ravell (1989) O objetivo do estudo é comparar a avaliação de turistas ocidentais e da população local em relação à paisagem de Bali.

Apesar de diferenças culturais muito significativas, os autores concluem existir semelhanças muito significativas na avaliação da paisagem efetuada pelos dois grupos de participantes.

 Ambos os grupos apresentam uma preferência por paisagens naturais com vistas abrangentes e apresentando num plano distante montanhas ou vales. Paisagens com vistas pouco abrangentes, urbanas ou representando estabelecimentos comerciais são avaliadas de forma mais negativa.

 Em relação às diferenças encontradas, locais associados pela população local com espíritos “bons” são avaliadas de forma mais positiva do que os locais relacionados com a presença de espíritos “maléficos”. Este tipo de associações não estava presente na avaliação efetuada pelo grupo composto por turistas.

Eleftheriadis

et al. (1990)

O estudo visa detetar semelhanças e diferenças na forma como turistas de diferentes nacionalidades avaliam paisagens florestais marítimas na Grécia. A amostra engloba turistas gregos, alemães, britânicos, franceses, italianos, austríacos, escandinavos e jugoslavos.

O estudo conclui que os turistas apresentam concordância significativa em relação aos aspetos mais apreciados e menos apreciados da paisagem.

 Independentemente da nacionalidade, os turistas manifestam preferência por paisagens com presença do mar em primeiro plano e floresta num segundo plano.

 As paisagens menos apreciadas são as que não apresentam o mar e nas quais a presença de floresta é muito diminuta.

As diferenças detetadas na avaliação da paisagem, são atribuídas pelos autores às influências culturais e à familiaridade com paisagens semelhantes no país de origem.

Estudo Grupos sujeitos a análise

Capítulo 4 – A Importância da Paisagem Cultural _________________________________________________________________________ 147 Yang e Kaplan (1990) O objetivo do estudo é determinar a perceção do estilo da paisagem, baseada na avaliação efetuada por cidadãos e estudantes coreanos e turistas ocidentais.

À semelhança dos resultados obtidos noutros estudos, a similitude entre a avaliação da perceção dos grupos em análise é absolutamente evidente. No entanto, existem resultados particulares que evidenciam algumas diferenças, embora muito subtis.

Yang e Brown (1992) O trabalho de investigação visa comparar a avaliação efetuada a diferentes tipos de paisagem (paisagens japonesas, coreanas e ocidentais) e diferentes elementos de paisagem (presença de água, vegetação, pedras) pela população local de Seul e por turistas ocidentais.

O estudo revela que ambos os grupos apresentam preferências pelo mesmo tipo de paisagem e pelos mesmos elementos.

 Quer os habitantes de Seul quer os turistas ocidentais revelaram preferência por paisagens japonesas e o elemento mais apreciado na paisagem é a presença de água.

Ambos os grupos também demonstraram preferências por paisagens diferentes daquelas onde residem, pois os habitantes de Seul escolheram em segundo lugar paisagens ocidentais e o grupo de turistas preferiu paisagens coreanas.

Fairweather

et al. (2001)

O estudo tem como principal objetivo determinar a forma como a população local e turistas, domésticos e internacionais, experienciam a paisagem do destino e a infraestrutura existente.

Os resultados obtidos permitem apontar elementos que são valorizados independentemente da nacionalidade. Estes elementos comuns estão ligados à apreciação pela natureza.

No entanto, o estudo evidencia igualmente que fatores pessoais como a idade, o sexo ou o nível de instrução podem exercer alguma influência na forma como a paisagem é experienciada e avaliada.

Fairweather e Swaffield (2001) O objetivo central do estudo é o de determinar diferenças e semelhanças da experiência com a paisagem de Kaikoura, Nova Zelândia. No decorrer da investigação foram inquiridos 66 visitantes, incluindo turistas nacionais e internacionais.

A principal conclusão a retirar deste estudo confirma evidências encontradas em estudos anteriores, nomeadamente que os elementos avaliados mais positivamente e mais negativamente são comuns a todos os grupos, independentemente da nacionalidade e do tipo de experiência turística procurada.

Não obstante estas semelhanças, cada grupo apresenta depois particularidades na avaliação que faz da paisagem, que podem ter relevância para a forma como as campanhas de comunicação devem abordar cada um dos segmentos de mercado.

Garrod (2008)

O trabalho de investigação visa comparar a perceção que residentes e turistas têm da paisagem do destino.

O autor expressa alguma estranheza pelo facto de o estudo não ter revelado diferenças significativas na forma como habitantes locais e turistas percecionam a paisagem do destino.

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados da investigação sobre a perceção e avaliação da paisagem dos destinos turísticos, envolvendo quer turistas de diferentes nacionalidades, quer turistas e a população local corroboram amplamente as convicções de Tveit et al. (2006), Hull e

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Ravell (1989) e de Kaplan, (1973), ao afirmarem que a formação de preferências relativamente à paisagem pode ser tanto influenciada por fatores comuns a toda a humanidade como por fatores inerentes ao observador.

Numa tentativa de sistematizar as diferentes abordagens de análise, Zube et al. (1982) identificam quadro paradigmas gerais na avaliação da perceção da qualidade estética da paisagem:

I - O paradigma dos especialistas: Neste paradigma a avaliação da qualidade estética da

paisagem é efetuada por profissionais treinados e com conhecimentos aprofundados nas disciplinas de belas-artes, design, ecologia ou gestão dos recursos naturais. Segundo Daniel (2001), este paradigma está fortemente relacionado com o paradigma objetivista, segundo o qual a qualidade estética da paisagem reside em determinadas características da própria paisagem, como referido anteriormente.

II – O paradigma psíquico-físico: Este paradigma estabelece que a avaliação da

qualidade estética da paisagem ou de determinadas características da paisagem seja efetuada com base nas perceções do público em geral ou de determinados grupos selecionados. Assume-se que as características da paisagem estabelecem uma relação de estímulo-resposta ou uma correlação com a avaliação efetuada pelo observador.

III - O paradigma cognitivo: Este paradigma envolve a compreensão dos diferentes

significados que a paisagem tem para o observador humano. O observador recebe a informação e, em conjunto com as experiências passadas, expectativas e influências socioculturais, atribui um determinado significado à paisagem.

IV - O paradigma experiencial: De acordo com este paradigma a avaliação da qualidade

estética da paisagem é baseada na interação da experiência humana com a paisagem, durante a qual ambas se influenciam mutuamente.

Mais recentemente, Tveit et al. (2006) consideram que, para analisar os efeitos das alterações ocorridas na paisagem, é importante conseguir caracterizar a paisagem enquanto objeto, no entanto, quando o objetivo é o de interpretar as alterações ocorridas nessa mesma paisagem, é fundamental ter em consideração as experiências e perspetivas dos observadores. Pois como reconhece Daniel (2001), a qualidade estética da paisagem deve ser considerada como um produto conjunto de particularidades visíveis da paisagem

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