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Adaptação e aplicação do modelo R x à realidade portuguesa

No documento RUN Tese de Doutoramento Rui Santana (páginas 142-145)

carga de doença

4.1. Adaptação e aplicação do modelo R x à realidade portuguesa

4.1.1. Processo de adaptação 4.1.1.1. Trabalhos preparatórios

Numa primeira instância realizaram-se um conjunto de tarefas de preparação para adaptar e aplicar o modelo Rx ao nosso contexto. Destacam-se particularmente três procedimentos que abaixo se identificam e descrevem:

i) A escolha do modelo base Rx: o primeiro procedimento consistiu na escolha de um modelo que servisse de base ao seu desenvolvimento no nosso país. Foi necessário previamente responder a duas questões fundamentais: optar por um modelo já existente ou por um modelo criado de raiz? Se a escolha incidisse sobre a primeira opção e perante o conjunto relativamente alargado de modelos revistos na descrição do estado de arte, qual o modelo mais adequado para operacionalizar o estudo?

Sobretudo pelo facto de ser possível obter informação individual em bases de dados informatizadas, optou-se pela aplicação de um modelo já desenvolvido noutros contextos. De entre os modelos identificados, seleccionou-se o proposto pelos autores Maio et al. (2005), uma vez que se trata da última revisão disponível do modelo CDS.

ii) A denominação do modelo: Um dos traços marcantes dos modelos Rx é a sua denominação. Verificou-se ao longo da revisão de literatura que a adaptação destes modelos em contextos populacionais específicos deu origem a novas versões com designações distintas, como são os casos dos Medicaid Rx (Gilmer et al., 2001), CDPS (Kronick et al., 2000) ou RxRisk-V (Liu et al., 2003). Em termos meramente formais optou-se também neste caso por renomear o modelo original de “PRx” que passa a designar o modelo português adaptado do modelo Rx. Para além da renomeação do modelo, foram também traduzidas nesta etapa as denominações da versão original em língua inglesa para o português. Dada a adequação da sua preparação técnico-cientifica, este procedimento foi realizado pela equipa de técnicos responsáveis pela sua revisão.

iii) A formação de uma equipa técnica: tal como sucedeu em estudos anteriores (Von

Korff, Wagner e Saunders, 1992; Roblin 1994 e 1998; Clark et al., 1995; Johnson, Hornbrook e Nichols, 1995; Fishman e Shay, 1999; Lamers, 1999, 2001 e 2004; Malone

et al., 1999; Gilmer et al., 2001; Fishman et al., 2003; Liu et al., 2003; Parker,

McCombs e Graddy, 2003; Sales et al., 2003; Sloan et al., 2003; Kuhlthau et al., 2005; Maio et al., 2005; Powers et al., 2005; Zhao et al., 2005; Smith et al., 2006) as tarefas de estruturação e classificação devem ser realizadas por um conjunto de técnicos com formação adequada para o efeito. Neste sentido, foi constituída uma equipa de trabalho onde se pretendeu reunir um conjunto de características genéricas que garantissem essa adequação, nomeadamente: i) número ímpar de elementos (a equipa foi constituída por três elementos); ii) formação multidisciplinar na área clínica (dois elementos) e farmacêutica (um elemento); iii) apresentarem conhecimentos sobre uma realidade

verticalmente integrada (os três elementos da equipa já trabalharam neste contexto organizacional); iv) Conhecer as especificidades epidemiológicas da região, particularmente quais as patologias mais frequentes e medicamentação habitualmente utilizada (os três elementos reuniam esta condição); v) Abrangência na especialidade médica (chefes de serviço de medicina interna e medicina geral e familiar).

4.1.1.2. Estrutura

A estrutura dos modelos Rx é habitualmente constituída por categorias referentes a condições crónicas. Estas pretendem representar conjuntos clinicamente homogéneos de medicamentos utilizados por utentes para tratamento de determinadas patologias (Clark

et al., 1995), permitindo agrupar doentes que sofrem da mesma condição crónica.

Quadro XX – Detalhe da estrutura do modelo PRx

Categorias de condições crónicas principais (CPRx)

Categorias de condições crónicas principais (CPRx)

1 Alzheimer 18 Crescimento Deficiente de Hormonas

2 Anemia 19 HIV/SIDA

3 Hiperplasia Benigna Próstata 20 Hiperlipidemia 4 Doenças Cardiovasculares 21 Tumores Malignos

5 Hepatite Crónica 22 Enxaquecas/Cefaleias

6 Doença Renal Crónica 23 Doença Paget/ Osteoporose 7 Doença Respiratória Crónica 24 Dor

8 Cirrose 25 Parkinson

9 Colite Ulcerosa e Crohn 26 Psoriase

10 Fibrose quistica 27 Doenças Psiquiátricas

11 Diabetes 28 Doenças Reumatológicas e artrites

12 Diabetes Insípida 29 Disturbios Tiróide

13 Epilepsia 30 Transplantes

14 Disfunção Eréctil 31 Tuberculose

15 Disfunção Ácida Gástrica 32 Esclerose Múltipla

16 Glaucoma 33 Acne

17 Gota

Na fase de definição da estrutura do modelo, que consiste na identificação das categorias crónicas que devem ser incluídas, respeitaram-se os critérios descritos na revisão de literatura, nomeadamente:

Numa primeira instância tentou manter-se a estrutura do modelo original. Foi considerada a versão de Maio et al. (2005) à qual correspondem cerca de 31 categorias;

 Os critérios de importância clínica ou relevância económica. Ao modelo original foram acrescentadas duas novas categorias, que de acordo com o parecer técnico da equipa de trabalho justificou a sua inclusão, a Esclerose Múltipla e a Acne. Tendo em consideração a denominação atrás adoptada, cada categoria do modelo foi designada por “CPRx”. Da revisão efectuada pela equipa, resultou a estrutura do modelo utilizado para o presente trabalho, composta por 33 categorias principais (disponível no Quadro XX).

4.1.1.3. Classificação

Após a definição das categorias crónicas a incluir no modelo, foi necessário proceder a um trabalho de classificação, que se consubstanciou no estabelecimento da correspondência entre os princípios activos de cada medicamento e essas mesmas categorias em função da sua indicação terapêutica típica. Desta forma o processo de classificação não é realizado segundo a ordenação fármaco-terapêutica de cada medicamento, mas através do princípio activo de cada medicamento como proxy da etimologia da doença no intuito de categorizar as patologias que recorrem a certa medicamentação numa base regular (o modelo pretende reflectir patologias de natureza eminentemente crónica). Recorde-se que o rationale do recurso a modelos Rx baseia-se efectivamente no facto de existir uma correspondência entre determinados princípios activos contidos e certas patologias crónicas, permitindo a identificação da carga de doença de uma população de forma indirecta.

Tal como sucedeu noutros modelos desenvolvidos a nível internacional, cada medicamento apenas foi classificado numa categoria, de forma a se conseguir obter exclusividade na sua ordem taxonómica. Esta etapa foi realizada pela equipa técnica, tendo como critérios base:

 Sempre que foi possível a correspondência directa do princípio activo do medicamento com a patologia crónica, efectuou-se a respectiva classificação;  Sempre que não foi possível estabelecer essa correspondência de forma directa,

ou seja, nas situações em que determinado medicamento possa ser utilizado para diferentes fins terapêuticos - leia-se patologias crónicas incluídas pelo próprio modelo - considerou-se a opção tecnicamente mais adequada (frequente) para o efeito.

A título meramente exemplificativo, disponibiliza-se no Quadro XXI o procedimento de classificação efectuado para um caso particular. Nesta situação em concreto verifica-se que o medicamento cujo princípio activo “Beclometasone” foi classificado na CPRx 7 correspondente à Doença Respiratória Crónica e ao grupo de medicamentos 7.3. Glucocorticóides. Este procedimento foi repetido para cada medicamento.

Quadro XXI – Classificação do PRx: exemplo de procedimento efectuado

No documento RUN Tese de Doutoramento Rui Santana (páginas 142-145)