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Adequação do trabalho aos indicadores

6. Análise das entrevistas

6.2. O contexto em que decorreu a formação

6.3.2. Adequação do trabalho aos indicadores

Os indicadores de sucesso do programa eram constituídos pelo número de visitas efectuadas, pela publicação das páginas das escolas, pelo número de DCB emitidos e, a partir do segundo ano, pela constituição de comunidades de prática. Na fase da análise da documentação ficou claro que, no agrupamento de Canha e Santo Isidro havia sucesso no que se relaciona com o a publicação das páginas, com o número de visitas efectuadas e que os outros dois objectivos não tinham sido atingidos. Procuraremos perceber agora que razões levaram a estes resultados.

6.3.2.1. As visitas efectuadas

No ponto 6.3.1. referimos o relacionamento dos monitores com o corpo docente do agrupamento e parece-nos que o trabalho desenvolvido, à semelhança do que foi referido em ambos os relatórios de avaliação externa, excedeu os objectivos traçados. Para o envolvimento dos professores foi decisiva a dedicação dos monitores e, em particular no terceiro ano, há um contacto diário do José, que não tem reflexo nos relatórios de visita, mas que leva ao envolvimento frequente dos professores em actividades com as TIC.

6.3.2.2. A publicação de páginas

Para facilitar a análise deste tópico consideraremos que a publicação das páginas é constituída por duas fases: por um lado, as actividades conducentes à construção de materiais para publicar nas páginas; por outro, as actividades de construção e publicação da própria página.

Segundo a gestão distrital, a importância que os professores atribuem às TIC está na utilização diária que fazem com os alunos e a página limita-se a ser uma mostra pública que muitas vezes não reflecte esse trabalho diário. As actividades de publicação de páginas devem ser abandonadas porque se tornaram frequentemente fictícias, ou seja, era necessário publicar uma página e era a insistência do monitor que provocava a construção da página, na qual os professores se envolviam pouco. O trabalho de sala de aula aparece nas páginas

com pouca frequência e estas acabam por reflectir mais os aspectos organizativos das escolas e agrupamentos.

Apesar das páginas do agrupamento possuírem muita informação construída pelos alunos, esta ideia da gestão distrital verifica-se nas múltiplas notícias e reportagens fotográficas de visitas ou comemorações efectuadas.

O entusiasmo dos professores entrevistados é grande quando falam no trabalho que desenvolveram e nos resultados obtidos junto dos alunos, mas tal entusiasmo esbate-se quando se fala nas actividades de publicação da página. Na sua reflexão consideram que, para os alunos, foi importante a vários níveis, até pelo acréscimo de responsabilidade provocado pela divulgação do seu trabalho que, passando a ser público, é efectuado com mais cuidado e procura de melhor qualidade. Mas, no que se relaciona com a publicação da página, as dificuldades dos professores permanecem ainda no terceiro ano.

Portanto, o que iam fazendo, tendo em vista uma publicação nas páginas, ficava sempre dependente de alguém para as publicar. Acho que isso foi uma dificuldade grande sentida pelos professores, sentirem-se incapazes de fazer a actualização (Rui).

Há mesmo reflexões sobre a necessidade de dispor de alguém, por exemplo o professor responsável pelas TIC, que tome a seu cargo estas actividades. Parece-nos que os professores consideram importante a existência de uma página da escola, mas ficam pouco motivados pelas dificuldades técnicas que ainda sentem, pelo tempo necessário à sua execução e porque consideram que não é um trabalho de cariz pedagógico.

6.3.2.3. A emissão de DCB

Nos dois primeiros anos não se efectuaram tarefas específicas com vista à emissão de DCB no agrupamento. No entanto, as actividades desenvolvidas junto dos professores permitiram perceber que, do ponto de vista técnico, eles possuíam competências para a respectiva emissão.

No terceiro ano, tal como foi referido na análise da documentação, o trabalho de sala de aula tinha também como objectivo a emissão de DCB junto dos alunos, que não se veio a verificar. O tempo útil do programa, limitado quer pelo seu começo tardio, quer pelo número reduzido de vistas a cada escola, obrigava a opções.

Ou temos a preocupação de os contextualizar e não nos preocupamos muito com os conteúdos que possam ser necessários para o DCB e estamos sempre um bocado limitados, ou esquecemos os DCB e focalizamos no contexto (Rui).

O trabalho efectuado no processador de texto e nas pesquisas da Internet foi muito para além do exigido nas competências básicas, incluindo os processos de formatação e de manipulação de imagens mas, as frequentes avarias de ligação à Internet e a falta de hábitos da utilização educativa do correio electrónico, não permitiram trabalhar com os alunos as competências exigidas neste âmbito.

De algum modo, esta escolha está também subjacente às reflexões da própria gestão distrital, que optou por progressivamente desvalorizar o trabalho efectuado para a construção

Universidade de Aveiro 2006

Internet@EB1 – Estudo de Impacte num agrupamento de Setúbal

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das páginas e para atribuição de DCB, tendo optado pela sua contextualização na sala de aula.

Do meu ponto de vista [o importante] não é o diploma, é o trabalho e as competências que os alunos adquirem ao longo do tempo, quando trabalham em coisas úteis e não artificiais, ou seja, um trabalho pedagógico (Coordenação distrital do programa).

A gestão distrital reflecte de algum modo a ideia já transmitida por alguns dos professores e monitores. Quando os professores se apercebem de que a utilização das TIC contribui para melhorar o envolvimento dos alunos e consequentemente as suas aprendizagens, o que se torna complicado é a gestão deste novo recurso. Por outro lado, se os professores ainda não estão interessados na integração curricular das TIC o argumento da emissão dos DCB pode ter o efeito contraproducente de um trabalho descontextualizado.

6.3.2.4. A constituição de comunidades de prática

A gestão distrital afirma que, no distrito, não existem comunidade de prática, no âmbito do programa Internet@EB1. Existem múltiplas reflexões sobre a dificuldade em constituir estas comunidades, algumas das quais estão relacionadas com a própria organização distrital, cuja descentralização não favorece o relacionamento entre monitores, nem a troca de experiências; outras relacionam-se com os próprios professores. Segundo os responsáveis, para que os professores adiram a estas comunidades é necessário que vençam as inibições de contacto e partilha de experiências com outros colegas a distância e, para tal, é necessário que se sintam confortáveis no uso das tecnologias e tenham experiência na sua utilização. Assim, é difícil iniciar estas comunidades com professores pouco experientes, como acontece com muitos dos professores do distrito.

Apesar desta perspectiva geral sobre Setúbal, em Canha foi tentada, no terceiro ano, a constituição de uma comunidade on-line. Foi construído um fórum, com uma zona restrita para os professores, cujo objectivo era suportar o trabalho de formação interna do agrupamento e reforçar o sentido de comunidade já existente.

"Tenho uma dúvida", "Preciso de um material sobre isto", "amanhã vou trabalhar isto, qual é a melhor maneira de o fazer?", que fosse um espaço onde as pessoas pudessem partilhar ideias, opiniões, sugestões, críticas, angústias, dentro do próprio agrupamento e que nos pudéssemos ajudar. Não quando estávamos em reunião, mas, por exemplo, à noite, quando estávamos a preparar alguma actividade, em qualquer altura... que houvesse um sítio onde as pessoas sentissem que tinham, do outro lado, apoio a um problema e que havia uma resposta.

Não era uma formação on-line, mas procurou-se que servisse de apoio à formação. Depois de discutido ou partilhado tal material na formação, a pessoa chegou a casa e "olha afinal, estive a pensar e ainda tenho isto que pode ser útil ou esta ideia em relação a isto" que servisse para um espaço de partilha e reflexão (José).

Esta experiência foi pouco participada. Os professores não sentiram este mecanismo como muito útil e as suas reflexões apontam para dificuldades na utilização do fórum, o que os levou a privilegiar o correio electrónico que, para alguns, ainda estava em fase de apropriação. Alguma inibição na utilização das tecnologias provocou que os professores preferissem esperar mais algum tempo e partilhassem as suas dúvidas ou experiências

presencialmente. Seria uma experiência que necessitaria de continuidade para uma reflexão mais aprofundada. Parece-nos que a fase de aprendizagem em que os professores se encontram não propicia ainda uma exploração eficaz deste tipo de recursos. Mas a sua disponibilização contextualizada na dinâmica do agrupamento parece-nos uma via para que os professores comecem a adquirir competências na utilização de mecanismos de comunicação on-line.