• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – ASPECTOS IMPORTANTES PARA A INTERPRETAÇÃO DAS

5.1 Pontos controvertidos do direito societário

5.1.2 Affectio societatis

As sociedades de responsabilidade limitada e algumas sociedades anônimas de

capital fechado são intuito persona, sendo a relação de confiança recíproca entre os sócios a

condição para a existência delas. Essa confiança recíproca é denominada affectio societatis.

Quebrada a relação de confiança

328

, cabe a um sócio: sair amigavelmente da

sociedade (dissolução parcial extrajudicial), ou requerer judicialmente a dissolução parcial ou

a dissolução total da sociedade

329

.

328 Nesse caminho: “Tribunal de Justiça de São Paulo. Empresarial. Total baseado na quebra da affectio

societatis. Sentença de procedência. Reforma. Hipótese que é de dissolução parcial da sociedade limitada, em consagração ao princípio da preservação da empresa, mantida a continuidade da sociedade, ainda que com apenas um sócio, mas pelo período de 180 dias (artigo 1033, V, do Código Civil)”. (grifo nosso). Apelação nº: 994050558238 SP. Apelante: Oswaldo Costa. Apelado: Eudenir Aparecido Ferreira Guimarães. Relator: Paulo Alcides. Data de Julgamento: 16/09/2010, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 23/09/2010.

329 O Novo Código de Processo Civil disciplinou o tema, antes somente regulado no Código Adjetivo de 1939.

Confira-se: “Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto: I - a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e II - a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou III - somente a resolução ou a apuração de haveres. § 1o A petição inicial será necessariamente instruída com o contrato social consolidado. § 2o A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter também por objeto a sociedade anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista ou acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim. Art. 600. A ação pode ser proposta: I - pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar na sociedade; II - pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido; III - pela sociedade, se os sócios sobreviventes não admitirem o ingresso do espólio ou dos sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social; IV - pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou recesso, se não tiver sido providenciada, pelos demais sócios, a alteração contratual consensual formalizando o desligamento, depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito; V - pela sociedade, nos casos em que a lei não autoriza a exclusão extrajudicial; ou VI - pelo sócio excluído. Parágrafo único. O cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por este sócio. [...] Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz: I - fixará a data da resolução da sociedade; II - definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e III - nomeará o perito. § 1o O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela

permanecerem que depositem em juízo a parte incontroversa dos haveres devidos. § 2o O depósito poderá ser,

desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos sucessores. § 3o Se o contrato social estabelecer o

pagamento dos haveres, será observado o que nele se dispôs no depósito judicial da parte incontroversa. [...] Art. 609. Uma vez apurados, os haveres do sócio retirante serão pagos conforme disciplinar o contrato social e, no silêncio deste, nos termos do § 2º do art. 1.031 da lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil)”. Igualmente, o Projeto do Código Comercial: “Art. 198. São causas da dissolução parcial da sociedade limitada: I – a expulsão de sócio; II – o falecimento de sócio; e III – o exercício do direito de retirada. Parágrafo único. Com a dissolução parcial, desliga-se da sociedade o sócio falecido, expulso ou retirante. Art. 199. Quando o sócio desligado da sociedade titulava participação não necessária para compor a exigida, pelo próprio contrato social ou pela lei, para a alteração do contrato social, a dissolução parcial é formalizada pelo arquivamento do respectivo instrumento no Registro Público de Empresas. § 1º Nos demais casos, a dissoluç ão parcial é formalizada pelo arquivamento, no Registro Público de Empresa, de decisão judicial. § 2º A decisão judicial só será arquivada acompanhada do correspondente instrumento de alteração contratual, assinado pelo sócio ou inventariante que a requereu. Art. 200. A dissolução parcial importa a redução do capital social no montante equivalente às quotas do sócio desligado da sociedade. Parágrafo único. Os sócios que permanecerem na sociedade podem evitar a redução do capital social subscrevendo novas quotas”.

A importância do tema ainda é reforçada na 1ª Jornada de Direito Comercial, em que se observam os Enunciados 13 e 17, respectivamente:

Conceitua Coelho

330

: “A affectio societatis é a disposição dos sócios em formar e

manter a sociedade uns com os outros. Quando não existe ou desaparece esse ânimo, a

sociedade não se constitui ou deve ser dissolvida (total ou parcialmente)”.

Esse postulado do direito societário é extremamente importante, tendo em vista que

nasce, muitas vezes, da desinteligência entre os sócios a quebra da confiança, do que decorre

a paralisação da sociedade, podendo levá-la à bancarrota.

Como a quebra da empresa não é interessante para nenhuma das partes, tampouco o

sendo para a própria sociedade e a coletividade que a contorna, certo é que deve remanescer

na corporação o sócio que mais coopera com o desenvolvimento dela, coadunando-se

perfeitamente ao princípio da preservação da empresa. Deve-se, portanto, prestigiar a

sociedade, ficção jurídica com personalidade própria, deixando-a a um ou mais sócios que

estejam contribuindo para o sucesso empresarial.

Assim, demandas judiciais devem excluir, a princípio, o sócio capitalista ao invés do

sócio empreendedor. Deve-se, também, punir o sócio que deu causa à quebra da affectio

societatis, se possível. Fato é que se deve perseguir o objetivo de manter o mais competente

para a manutenção da sociedade.

E se os dois deram causa ao dissenso? Há de se deixar com a sociedade aquele, como

mencionado, que pelas provas contribui para a sua conservação e para o seu desenvolvimento

(sem embargo das apurações e dos pagamentos dos haveres decorrentes, é claro).

O princípio da segurança negocial no direito societário é uma janela para que o juiz,

após analisar os deveres inerentes aos sócios e à sociedade para com os sócios, proteja a

sociedade em primeiro plano para depois proteger os sócios

331

.

“13. A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres.

17. Na sociedade limitada com dois sócios, o sócio titular de mais da metade do capital social pode excluir extrajudicialmente o sócio minoritário desde que atendidas as exigências materiais e procedimentais previstas no art. 1.085, caput e parágrafo único, do CC.

Tribunal de Justiça de São Paulo. Empresarial. Total baseado na quebra da affectio societatis. Sentença de procedência. Reforma. Hipótese que é de dissolução parcial da sociedade limitada, em consagração ao princípio da preservação da empresa, mantida a continuidade da sociedade, ainda que com apenas um sócio, mas pelo período de 180 dias (artigo 1033, V, do Código Civil)”. (grifo nosso). Apelação nº: 994050558238 SP. Apelante: Oswaldo Costa. Apelado: Eudenir Aparecido Ferreira Guimarães. Relator: Paulo Alcides. Data de Julgamento: 16/09/2010, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 23/09/2010.

330 COELHO, 2003, p. 390.

331 Nesse caminho: “Tribunal de Justiça de São Paulo. Empresarial. Sociedade limitada. Exclusão de sócios que

teriam constituído e exercido atividades em prol de sociedade empresária concorrente. Verossimilhança das alegações recursais. Aparente incontrovérsia quanto ao empreendimento concorrente e à quebra da affectio