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CAPÍTULO IV – ASPECTOS IMPORTANTES PARA A INTERPRETAÇÃO DAS

4.1 Aspectos importantes das sociedades empresárias

4.1.1 Os contratos associativos

A sociedade limitada

239

é formada por um contrato

240

plurilateral

241

, em que os

sócios são titulares de direito e de obrigações, bem como de deveres e responsabilidades

238 “Surge como uma técnica de gestão, que serve uma nova imagem de organização como comunidade social,

tentando minimizar a oposição indivíduo-organização, pela emergência de um novo paradigma onde a organização é um local potencialmente gerador de conflitos, superáveis pela negociação abrangente e permanente. [...] A evolução das organizações e numa interpretação considerada relevante para o objectivo da reflexão sobre a cultura organizacional, passa de uma organização tradicional de sistema fechado à organização aberta, passando por uma forma intermédia, a organização contingencial”. FLEURY; SAMPAIO, 2002, p. 69- 70.

239 Sempre vale a pena lembrar que a sociedade limitada é do tipo societário, do gênero pessoa jurídica, tendo

como sua principal característica a responsabilidade limitada do sócio, ao capital subscrito e integralizado, conforme preceitua o artigo 1.052, do Código Civil. Confira-se: “Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.

240 Art. 997, Código Civil: “A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público [...]”. 241 Segundo Salomão Filho, as modernas sociedades se organizam pelo “Contrato Organização”, que por suas

características defende melhor as relações jurídicas da sociedade. Esta não pode se pautar pelo interesse dos sócios. Sobre o tema, conferir obra do autor “O Novo Direito Societário”. SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo

recíprocas. A natureza institucional

242

do estatuto social também confere aos sócios direitos e

obrigações, bem como de deveres e responsabilidades, da mesma forma. Em ambos os tipos

societários existe pluralidade de interesses dos acionistas, mas que, no fim e em tese, devem

sempre visar ao interesse da companhia

243

, já que, como lembra Vivante, a sociedade

“transforma interesses individuais e divididos dos sócios em interesse coletivo”.

244

Da convergência desses interesses e com vistas ao crescimento das sociedades, nasce

o contrato associativo que permite a convergência de interesses plurilaterais e a entrada e

saída de sócios, sem prejuízo da consecução da preservação da empresa e sua função social.

Nesse caminho, confira-se Marcelo La Rosa de Almeida

245

:

Os contratos associativos, então, dentre eles os contratos de sociedade, distinguem- se dos demais contratos por disciplinar não apenas relações subjetivas, ou por não atribuir direitos e obrigações que se exaurem com determinados comportamentos dos sujeitos envolvidos. Fixam, inversamente, poderes, deveres e responsabilidades destinados a perdurarem no tempo. […] Seja como for, os contratos associativos têm aptidão à admissão de novos contratantes, sem alterar sua essência. São contratos que, como se verá, criam organização que, em qualquer momento, poderá contar com novos integrantes, ou novos contratantes. Por isso também são classificados como contratos plurilaterais. Também o conteúdo e a função do contrato associativo, e especificamente do contrato de sociedade, são distintos do que é encontrado nos demais contratos. Por consequência, a eficácia dos contratos associativos é peculiar. Dada a sua aptidão à permanência, à duração no tempo, os contratos de sociedade, em regra, têm eficácia geral e abstrata, assim como as normas jurídicas em sentido estrito. Destinam-se, no mais das vezes, a regular ações ainda não singularizadas ou especificadas, pertinentes a sujeitos indeterminados. No momento da sua celebração pode o contrato de sociedade dirigir-se a pessoas determinadas, mas este alcance limitado não permanece inalterado durante sua vigência.

242 Art. 1º, da Lei das Sociedades por Ações: “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em

ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas”.

243 Pedro A. Batista Martins faz interessante paralelo entre as sociedades anônimas e a sociedade estatal, o que

ajuda, em muito a compreender o tema: “Um cotejo entre a sociedade privada e a estatal evidenciará a identidade de ambas. Os rasgos essenciais de ambas são precisamente os mesmos, como seguem: 1) fim comum; 2) existência de normas que regulem a perseguição dos fins, numa, sob a forma de contrato, a lex privata, na outra, sob a forma de lei, ou seja, lex publica; 3) no conteúdo da lei: situação jurídica, direitos e deveres da comunidade, como do indivíduo; 4) realização dessas normas contra a vontade resistente do indivíduo mediante coação; 5) administração, ou seja, a livre perseguição da finalidade com os meios da sociedade dentro dos limites fixados por aquelas normas e tudo o que a isso se prende: necessidade de um órgão especial para esse objetivo na existência de um número maior de membros (conselho administrativo, governo), alinhando-se aí a distinção entre aqueles através de quem e aquele por quem existe a administração (empregados, funcionários – acionistas, concidadãos, súditos) e o perigo, daí decorrente, de um emprego de seus meios no interesse de seus administradores, contrariando o interesse da sociedade, perigo a que a sociedade estatal, não menos do que a sociedade de direito privado, se acha exposta, e, como meio contra esse risco, há o controle dele através da própria sociedade (assembleia-geral – assembleia das classes)”. MARTINS, Pedro A. Batista, 2012, p. 42.

244 Retirado do artigo de Pedro A. Batista Martins. Id., 2013, p. 61.

245 ALMEIDA, Marcelo La Rosa de. Interpretação dos estatutos das sociedades por ações. 2008. Dissertação

Os contratos associativos, também denominados contratos plurilaterais, contribuem

para as definições dos direitos, deveres, obrigações e responsabilidade dos sócios,

independentemente de ser uma sociedade estatutária ou contratual, pois sempre estará

presente a necessidade da consecução do objeto social.

Requião sintetiza a necessidade de formação de uma vontade comum no seio da

pluralidade de anseios dos sócios para seguir os objetivos sociais

246

:

A sociedade é resultado de ato coletivo ou complexo no qual as diversas vontades individuais são fundidas para a formação de uma só vontade. Nesse caso, segundo ensinam, as vontades individuais dos sócios são paralelas, sempre destinadas à realização de um fim comum, enquanto que, nos contratos, as vontades das partes se cruzam, uma vez que os contratantes se colocam em campos opostos, perseguindo interesses próprios.

Por sua vez, Ascarelli leciona que o contrato plurilateral possui como característica a

comunhão de esforços

247

:

[...] os interesses contrastantes das várias partes devem ser unificados por meio de uma finalidade comum; os contratos plurilaterais aparecem como contratos com comunhão de fim. Cada uma das partes obriga-se, de fato, para com todas as outras, e para com todas as outras adquire direitos; é natural, portanto, coordená-los, todos, em torno de um fim, de um escopo comum.

Já Verçosa

248

completa o raciocínio, observando o viés econômico da associação de

sócios:

No caso dos contratos plurilaterais há um escopo comum entre as partes, o qual qualifica cada uma das adesões individuais ao negócio, qual seja a reunião de bens e esforços para que o objetivo social possa ser economicamente realizado – como é o caso da constituição e da permanência dos sócios em uma sociedade.

Apesar de o Código Civil não ter disciplinado o contrato plurilateral, preleciona

Comparato

249

a importância dos princípios para que seja possível sua viabilização: “Se as

soluções particulares, decorrentes da própria estrutura da sociedade, enquanto contrato

plurilateral, não estão todas explicitadas em lei, nem por isso devem ser afastadas pelo

intérprete, que raciocina com base nos princípios gerais que informam o sistema legal”.

246 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1977. v. 1, p. 339.

247 ASCARELLI, Túlio. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado. 2. ed. São Paulo: Saraiva,

1969. p. 271.

248 VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de direito comercial. São Paulo: Melhoramentos, 2010. v. 2,

p. 57.

249 COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e pareceres de direito empresarial. São Paulo: Forense. 1978. p.

Note-se que os interesses dos sócios podem até não se manter compatibilizados, mas

devem sempre ser orientados para o interesse da sociedade, isso porque, graças ao princípio

da autonomia privada, há uma liberdade objetiva e subjetiva de estar associado a outros sócios

para a consecução de um fim comum econômico e, ao mesmo tempo, graças ao princípio

majoritário, uma sujeição e não uma submissão à vontade da maioria.

Nesse caminho,

Marcus Elidius Michelli de

Almeida

250

bem aponta: “Os interesses

antagônicos dos contratantes são, no contrato plurilateral, coordenados pelo escopo comum.

Há, portanto, uma coordenação do antagonismo”.

São inerentes a esse antagonismo as possibilidades de divergência, às vezes

desastrosas, ante o caminho social que a sociedade deve trilhar, o que acaba levando às causas

de saída do sócio. É pelo desfazimento das vontades que uniram os sócios (mudança na

autonomia privada)

251

, seja pelo ângulo do sócio retirante ou dissidente, seja pelo ângulo dos

sócios remanescentes, que deve ser analisado o princípio da segurança negocial. Isso porque a

desinteligência entre os sócios trará mudanças na consecução do objeto social que não mais

poderá ser trilhado conjuntamente, de forma coordenada.

Mas será que a diferença entre o contrato social e o estatuto social importa a ponto de

alterar a interpretação do princípio da segurança negocial no direito societário? Primeiramente

sobre a diferença vale lembrar as palavras de Coelho

252

: “diferença diz respeito à aplicação,

250 ALMEIDA, Marcus Elidius Michelli de. Direito processual empresarial: estudo em homenagem ao

professor Manoel Queiroz Pereira Calças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 544.

251 Alguns doutrinadores, erroneamente sob nosso ver, acompanhando boas lições, defendem que a possibilidade

de saída do sócio da sociedade está no permissivo legal do artigo 5º, inciso XX, da Constituição Federal: “XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”; acredita-se que este não é o entendimento correto. A um, pelo artigo constitucional tratar de associação e não de sociedade, contrastando com o também direito constitucional de livre associação (art. 5º, XVII e XXI); a dois, que é o vínculo societário que se desfez e ele somente foi feito graças à autonomia da vontade; a três, como qualquer contrato de prazo indeterminado, não há obrigação da eternidade; por último, é o artigo 170 e parágrafo único da Constituição Federal que trata sobre a atividade econômica. Nesse caminho, Gonçalves Neto: “Não há como essa orientação prevalecer, porque, com a devida vênia, revela-se totalmente equivocada. De fato, referido dispositivo constitucional trata de associações no sentido próprio da expressão, com o significado de reunião de pessoas para a realização de fins não econômicos; insere-se no contexto das disposições que asseguram e dão efetividade ao princípio da liberdade de associação, garantida no inciso XVII do mesmo artigo, e complementada pelos incisos XVIII e XXI. E é de associações, exclusivamente, e não de sociedades, que cuidam esses enunciados. A vingar entendimento contrário, as sociedades, qualquer delas, independentemente da natureza de sua atividade, não se poderiam sujeitar a uma eventual exigência de autorização para funcionar (inciso XVIII) nem ser submetidas a processo de intervenção ou de liquidação extrajudiciais (inciso XIX); teriam filiados, e não sócios, e estariam voltadas para representar e proteger os interesses deles, ao invés de perseguir os fins econômicos constitutivos de seu objeto (inciso XX). Ora, em matéria de atividade econômica, as disposições aplicáveis são as que compõem a chamada Constituição Econômica (item XIX da Introdução), onde está assegurado o livre exercício de qualquer atividade econômica, com as limitações que a lei estabelecer (art. 170 e parágrafo único da CF)”. GONÇALVES NETO, 2010, p. 392.

ou não, do regime do direito contratual às relações entre os sócios”. Assim, o âmago da

questão está na relação entre os sócios, que reflete no direito de retirada, de recesso e na

negociação de quotas ou ações.

Nesse caminho, há maior instabilidade no vínculo contratual, pois ninguém é

obrigado a contratar e a permanecer contratado eternamente na sociedade de responsabilidade

limitada. Já, para o vínculo institucional, a questão não é estar ou não contratado, pois se está

à frente de um estatuto com regras rígidas de vínculo societário. A razão disso é que o

primeiro tipo societário foi concebido para pequenas e médias empresas, com capital

exclusivo dos sócios empreendedores em sua maioria

253

. Já o segundo tipo societário foi

concebido para grandes investimentos, com capital advindo de várias fontes, principalmente o

mercado de capitais

254

. Na prática, sabe-se que existem sociedades de responsabilidade

limitada de grande porte e sociedades anônimas de pequeno porte

255

.

253 Não é mais correta a classificação das sociedades de pessoa e de capital. Confira-se Hermano de Villemor

Amaral: “A divisão das sociedades comerciais, em sociedades de pessoas e sociedades de capitais, baseada na existência, ou não, à formação do contrato de sociedade, do elemento intuito personae, não mais expressa, no estado actual do direito, um critério racional. As sociedades comerciais, porquê tem, hoje, personalidade própria, independentemente das dos sócios que a compõem, consagrada por lei expressa, e capital seu, que é a garantia directa dos credores sociais, na publica demonstração de suas forças pessoais, isto é, da sua riqueza própria, ilimitada ou limitada, como expressão clara da garantia às suas obrigações, perante terceiros, é que apresentam o traço capaz de dividi-las, pratica e racionalmente. Esse critério, da garantia especial oferecida a terceiros, é a base do systema inglez, na divisão das sociedades commerciaes”. AMARAL, Hermano de Villemor. Das

sociedades limitadas. Rio de Janeiro: Labor Omnia Vincit, 1921. p. 82-83. Ainda sobre o tema, Coelho conclui:

“A sociedade por ações, inclusive a anônima, é sempre mercantil. [...] A sociedade limitada é sempre contratual, porque os vínculos entre seus sócios se constituem e se desfazem segundo as regras do Código Civil. A hibridez do tipo diz respeito, na verdade, ao caráter personalístico ou capitalista da sociedade”. COELHO, Fábio Ulhoa.

Curso de direito comercial: direito de empresa. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2014b. v. 2, p. 179.

254 As negociações com ações das sociedades anônimas foram objeto de dissertação apresentada por Philomeno

J. da Costa para concurso à cátedra de Direito Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em que defende a liberdade de negociação das ações: “O êxito das sociedades por ações se deve notadamente a dois fatores: limitação da responsabilidade dos seus sócios ao montante da parcela do capital que cada um subscrever e facilidade genérica da substituição deles por outras pessoas na sociedade que, indiferente aos seus componentes, prossegue tranqüilamente nas suas atividades empresarias. Esse segundo fator de êxito das sociedades consistente, digamos, na fungibilidade dos indivíduos que as formam; para facilitá-la é que se dividiu o capital em frações de pequeno valor e rigorosamente iguais. Aquilo que se aliena por menos tem mais probabilidade de encontrar adquirentes e, não divergindo entre si, as transações fazem-se em consideração à coisa e não em atenção ao seu dono; as operações efetuam-se objetiva e não subjetivamente; impessoalizam-se. Essas frações, isto é, as ações são negociadas tais como quaisquer outros bens no comércio”. COSTA, Philomeno Joaquim da. Operações da anônima com as ações de seu capital . São Paulo, 1965.

255 Vale conferir Marcondes sobre o hibridismo da sociedade de responsabilidade limitada: “Com tipo

intermediário entre a sociedade anônima e a sociedade em nome coletivo, a sociedade de responsabilidade limitada ocupa uma posição mista e, no esquema proposto, pode ser enquadrada como a espécie em que todos os sócios prestam contribuição-patrominial-limitada-por quotas e contribuição pessoal máxima. Na sociedade de responsabilidade limitada, affectio societatis está, para todos os sócios, em função do intuitus personae, como nas sociedades em nome coletivo, relativamente à natureza da contribuição pessoal, mas também está em função intuitus pecuniae, como nas sociedades anônimas, relevante à contribuição patrimonial, ressalvada apenas a transmissibilidade da parte social que é livre para as ações”. MARCONDES, Sylvio. Problemas de direito

Nesse ponto, Comparato pondera que, mesmo as sociedades tidas como de capital,

como, por exemplo, as sociedades anônimas, podem guardar caráter personalista

256

:

Bem se vê, portanto, que a velha classificação das sociedades mercantis em sociedades de capitais e de pessoas, que já fora aliás, criticada por Vivante, aparece agora subvertida; ou melhor, a clivagem entre as espécies passa no interior do próprio direito acionário. Se ainda é aceitável classificar a companhia aberta na categoria das sociedades de capitais, pelo caráter marcadamente institucional, a companhia fechada já apresenta todas as características de uma sociedade de pessoas, animada por uma affectio societatis que se funda no intuito personae. Ao contrário da simples consideração dos capitais, na companhia fechada prepondera, tanto entre acionistas quanto perante terceiros, a confiança e a consideração pessoal.

Independentemente da diferença entre contrato e estatuto e o reflexo disso no vínculo

societário, o princípio da segurança negocial não sofre alteração, em nossa opinião, em sua

interpretação, devendo sempre existir lealdade entre os sócios, temperado com vistas a

resguardar o interesse da sociedade, dentro do regime jurídico comercial.

Deve-se lembrar que não é o princípio da segurança negocial, e sim as regras

prescritas ou no Código Civil ou na Lei das Sociedades Anônimas que trarão as hipóteses de

restrição de circulação das quotas ou ações, bem como de extinção do vínculo societário.

Ainda, a própria jurisprudência acaba por realizar os ajustes necessários ao vínculo

societário quando percebe que a natureza do tipo escolhido pelos sócios não reflete o vínculo

real das relações societárias

257

.

Dessa forma, não obstante a diferença entre a natureza contratual e institucional da

sociedade e o reflexo disso para o vínculo societário ser mais estável ou instável

258

, tais

256 COMPARATO, Fábio Konder. Novos ensaios e pareceres de direito empresarial . Rio de Janeiro: Forense,

1981. p. 120.

257 Nesse caminho: “Superior Tribunal de Justiça. Direito Comercial. É inquestionável que as sociedades

anônimas são sociedades de capital (intuito pecuniae), próprio às grandes empresas, em que a pessoa dos sócios não têm papel preponderante. Contudo, a realidade da economia brasileira revela a existência, em sua grande maioria, de sociedades anônimas de médio e pequeno porte, em regra, de capital fechado, que concentram na pessoa de seus sócios um de seus elementos preponderantes, como sói acontecer com as sociedades ditas familiares, cujas ações circulam entre os seus membros, e que são, por isso, constituídas intuito personae. Nelas, o fator dominante em sua formação é a afinidade e identificação pessoal entre os acionistas, marcadas pela confiança mútua. Em tais circunstâncias, muitas vezes, o que se tem, na prática, é uma sociedade limitada travestida de sociedade anônima, sendo, por conseguinte, equivocado querer generalizar as sociedades anônimas em um único grupo, com características rígidas e bem definidas. Em casos que tais, porquanto reconhecida a existência da affectio societatis como fator preponderante na constituição da empresa, não pode tal circunstância ser desconsiderada por ocasião de sua dissolução”. (grifo nosso). Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 111.294/PR, 2ª Seção, Rel. Min. Castro Filho, j. 28/06/2006.

258 Confira-se a diferença entre o vínculo estável e instável nas palavras de Coelho: “A sociedade empresária é de

vínculo estável quando a declaração unilateral da vontade de um sócio basta, a qualquer tempo, para o seu desligamento mediante o reembolso de seu capital, exceto se a sociedade é por prazo determinado. Já é de vínculo estável aquela em que o desligamento mediante reembolso de capital admite-se apenas em hipótese excepcionais, especificamente indicadas na lei (nas quais o sócio pode exercer o seu direito de recesso ou

pontos não alteram a interpretação do princípio da segurança negocial no direito societário,

que deverá sempre respeitar a lealdade dos sócios e a preservação da empresa, com a

convergência dos interesses para a consecução do objeto social, a partir da análise do caso

concreto, respeitada a legislação de regência.