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6 A ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA E SUAS TÉCNICAS

6.12 AGENDA FUTURA DA PSICOMETRIA E QUESTÕES

Um artigo de 1995 de Carroll é bastante elucidador a respeito da provável agenda futura da psicometria, ao mesmo tempo em que traça uma identidade ao campo e define sua direção usual e suas possibilidades. Carroll (1995) utiliza-se da analogia com a biologia para demonstrar o trabalho da psicometria e argumenta que há muito que se fazer ainda com relação à identificação e análise apurada dos componentes psicológicos.

Antes de qualquer coisa, de que tratamos em nossa análise comportamental multivariada de habilidades cognitivas? Estamos envolvidos, eu me arriscaria a dizer, em uma estimulante aventura intelectual, tão fascinante e cativante como aquela encarada por Edward O. Wilson

(1992) em seu livro The Diversity of Life (A diversidade da vida) onde Wilson explora a origem, evolução, multiplicação e declínio das espécies neste planeta. Podemos dizer que estamos dispostos a explorar a diversidade do intelecto nas pessoas deste planeta – as várias formas de processos e operações cognitivas, performances mentais e criações de conhecimento e arte. (Carroll, 1995, p. 429)

Dando seguimento ao trabalho de Spearman (1927), Thurstone (1938), Guilford (1967; Guilford & Hoepfner, 1971), Cattell (1971), Horn (Horn & Cattell, 1966) e outros, eu apresentei (Carroll, 1993a) o que chamo de teoria dos três estratos como um possível sistema taxonômico para as habilidades cognitivas, mas sem dúvida ele mudará com o passar dos anos. Em segundo lugar, assim como os biólogos devem buscar os confins da terra para descobrir novas espécies de vida, nossa busca por novas variedades de habilidades cognitivas nos leva a novos e ainda inexplorados domínios da atividade mental. Em terceiro, assim como os biólogos investigam as interações das espécies com seus ambientes, também devemos nós preocupar-nos com o sentido dos fatores cognitivos e sua relevância para as atividades e problemas do mundo real. (Carroll, 1995, p. 430)

Carroll (1995) chama atenção para o fato de que sua teoria foi capaz de evidenciar uma síntese dos principais resultados no campo dos processos cognitivos estudos pela psicometria. No entanto, ele salienta, de forma surpreendente, que boa parte das pesquisas de sua meta-análise não contempla estudos com instrumentos capazes de mensurar diversos domínios cognitivos. Segundo seu argumento, apenas 28 pesquisas contemplaram domínios cognitivos amplos, o que traz indícios de que o campo da psicometria possui poucas evidências com resultados sólidos e bem delineados a respeito do conjunto amplo dos traços da inteligência. É nesse sentido que Carroll (1995) faz um convite aos pesquisadores para continuarem o seu empreendimento, através de um desenho bem delineado, capaz de contemplar os três níveis de fatores da inteligência humana percebidos pela literatura do campo.

Em determinado ponto de meu livro sobre habilidades cognitivas (Carroll, 1993a, p.125) eu tento classificar, com respeito ao propósito da análise, 461 dos grupos de dados que re- analizei. Desses, 32.5% foram classificados como estudos de um domínio cognitivo restrito, tais como a habilidade verbal ou habilidade espacial, mas apenas 6.1% (28 deles) foram classificados como estudos de domínio cognitivo amplo – ou seja, estudos nos quais as variáveis foram amostradas de várias partes do domínio cognitivo, porque nosso

conhecimento atual da estrutura das habilidades cognitivas é baseada em larga medida em relativamente poucos estudos que amostraram a extensão do domínio cognitivo como um todo.

Para este propósito eu recomendo enfaticamente o que chamei de design de estrato mais elevado (Carroll, 1985, pp. 579, 692) que busca constituir variáveis que mensurem habilidades de segundo estrato tais como Gf, Gc, etc. (ou 2F, 2C, etc., na notação utilizada em meu livro), sem criar uma variância de fator comum no primeiro estrato. Essas variáveis de segundo estrato seriam, por exemplo, somas de variáveis pesadas medindo fatores de primeiro estato agrupados por um fator específico de segundo estrato. Uma ou (preferivelmente) duas réplicas de cada uma dessas variáveis deveriam ser formadas para garantir a variância de fator comum. Dessa forma seria possível amostrar todos ou um número substancial de domínios cobertos por uma teoria de três estratos. Esta ainda precisa da execução de um número consideravelmente grande de testes ou observações, mas ela permite um estudo cuidadoso de domínios de estrato mais alto. (Carroll, 1995, p. 431)

É possível entender o argumento de Carroll (1995) como um argumento de quem viveu mais de cinqüenta anos trabalhando com a psicometria e mantinha-se sempre ávido por novos caminhos e descobertas. Esse parece ser o tipo de atitude que um pesquisador em psicometria deve possuir, e que, aliás, se extrapola para todos os campos, conforme argumenta Woodworth (1930), a respeito da importância da surpresa, do inusitado e da novidade que alimenta o conhecimento:

Se eu fosse aconselhar um jovem investigador, do ponto de vista de meus quarenta anos de psicologia, eu poderia apontar esse ou aquele tópico promissor de estudo, mas eu estaria mais a vontade dizendo-lhe que o campo como um todo ainda coloca-se como novo e aberto (...). Para estar na trilha do que irá provar-se como importante e fundamental, não há nenhuma regra para ser dada; mas a experiência de investigadores nos muitos campos parece mostrar que um foco persistente do que é desafiador e o que está fora de linha com as crenças aceitas freqüentemente leva a descobertas significativas. O que nos parece necessitar em psicologia são surpresas; e perseguindo um pequena surpresa alguém pode encontrar uma maior do que esperava. Ou não – tal como são as chances do jogo. (Woodworth, 1930)

Finalizando, este capítulo abordou um conjunto de estratégias, métodos e técnicas presentes no campo da psicometria, assim como analisou como as evidências

da psicometria são construídas. Há uma predominância da análise fatorial exploratória para a utilização do Método dos Fatores Principais, seja através do Método dos Componentes Principais ou do Método dos Eixos Principais. A psicometria apresenta problemas referentes à retenção dos fatores extraídos, na medida em que boa parte das pesquisas utiliza-se de métodos que podem superestimar o número de fatores. Uma solução para esse problema poderia ser a utilização de uma técnica mais parcimoniosa, denominada de análise paralela. Apesar dessas alternativas, também se encontram presentes uma série de embates epistemológicos, que discutem principalmente a objetividade da extração de fatores e a obtenção da melhor solução fatorial. Apesar dessas discussões, a psicometria tem se desenvolvido, com uma perspectiva interessante para o futuro, na medida em que seus muitos desafios teóricos, metodológicos e empíricos alimentam intensivamente o seu próprio crescimento.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA

PESQUISA

Após a discussão no capítulo anterior sobre os métodos da psicometria, este capítulo abordará as estratégias metodológicas desta pesquisa, com o objetivo de descrever os caminhos utilizados para o alcance dos objetivos da pesquisa. O capítulo descreve inicialmente os participantes da pesquisa. Em seguida, analisa os fatores cognitivos selecionados e sua pertinência em relação aos processos educacionais. Concomitante à análise dos fatores cognitivos envolvidos, aborda como os 45 testes de inteligência selecionados se relacionam com os fatores cognitivos, indicando uma estrutura teórica postulada a priori. Em seguida, há uma discussão sobre a prova objetiva de 2001 do ENEM, incorporada neste estudo para o processo de validação das competências e habilidades do modelo do ENEM. Por fim, há uma descrição das estratégias utilizadas para três objetivos importantes desta pesquisa, que são a validação do Modelo dos Três Níveis de Carroll, a validação do modelo cognitivo do ENEM, e a identificação das relações entre os componentes da arquitetura intelectual e os componentes do ENEM. São discutidas, no final, as estratégias gerais para a realização dos procedimentos de análise fatorial, assim como os procedimentos éticos e a coleta de dados.