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Agenda 21, seus desdobramentos e Plano de Implementação de Joanesburgo.

3 CONCEITOS BÁSICOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE GESTÃO AMBIENTAL

RECURSOS / INSUMOS

4.4. Políticas públicas e regulamentos ambientais aplicados à indústria química.

4.4.1. Agenda 21, seus desdobramentos e Plano de Implementação de Joanesburgo.

A Agenda 21 é um acordo internacional, consensado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, no Rio de Janeiro. Os países membros da ONU se comprometeram com uma série de diretrizes, a serem implantadas para a consolidação do desenvolvimento sustentável. Assuntos diversos e inter-relacionados são tratados em 41 capítulos, dos quais dois deles têm interesse mais específico.

Por uma abordagem mais geral, o capítulo 4 da Agenda 21 (CNUMAD 1997a) – “Mudança nos padrões de consumo” se aplica a todos os ramos industriais. O texto aborda a necessidade de se produzir sem desperdício dos recursos, e também de haver uma re-distribuição global da produção e do consumo, tanto pela necessidade de erradicar a pobreza quanto de equilibrar o consumo de recursos naturais.

No entanto, é no capítulo 19 – Manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas, incluída a prevenção do tráfico ilegal dos produtos tóxicos e perigosos, que as necessidades relativas a produtos químicos para o desenvolvimento sustentável são tratadas com mais detalhes.

O documento propõe seis áreas de programas:

“... a) Expansão e aceleração da avaliação internacional dos riscos químicos; b) Harmonização da classificação e da rotulagem dos produtos químicos;

c) Intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos e os riscos químicos;

d) Implantação de programas de redução dos riscos;

e) Fortalecimento das capacidades e potenciais nacionais para o manejo dos produtos químicos;

f) Prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos.” (CNUMAD 1997b p. 245)

Em 1994, ocorreu em Estocolmo a primeira reunião do Fórum Intergovernamental de Segurança Química, um arranjo não-institucional, com representantes dos governos e atores sociais envolvidos com a segurança química, com o objetivo de integrar e coordenar esforços nacionais e internacionais para implementação do capítulo 19 da Agenda 21 (IFCS 2004b).

No plano internacional, um dos desdobramentos é a Convenção de Rotterdam, adotada em 1998 para garantir o consentimento informado prévio, referente ao movimento de produtos perigosos entre países. Os países importadores devem receber informações e as ferramentas de que precisam para identificar os perigos potenciais e excluir produtos químicos que eles não possam gerenciar de modo seguro. Se o país importar produtos químicos, a Convenção promove o seu uso seguro por meio de normas de rotulagem, assistência técnica e outras formas de apoio (ROTTERDAM 2004).

Em outubro de 2000, na terceira reunião do Fórum Internacional de Segurança Química, foram reafirmados os compromissos da Agenda 21. O documento admite que o conhecimento sobre segurança química é ainda incompleto, de modo que muitos países ainda lutam para conseguir a necessária infra-estrutura; e também que os investimentos internacionais vinham sendo insuficientes para manejar e dar destino a pilhas de pesticidas obsoletos e outros produtos químicos. Neste encontro foram compromissadas metas para os anos de 2001 até 2005, entre elas a adoção da Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (IFCS 2000). A convenção, lançada em 2001, foi assinada por cento e cinqüenta países. A UNIDO espera que em 2004 mais de 50 países a tenham ratificado, entrando a convenção efetivamente em vigor. (UNIDO 2001). Foi estabelecido o banimento de doze

substâncias, incluindo aldrin, cordano, DT, dieldrin, endrin, heptaclor, mirex e toxafeno – usados principalmente como pesticidas – duas bifenilas policloradas industriais, e o hexaclorobenzeno usados na indústria mas também produzidos não intencionalmente como resíduos de certos processos.

No Brasil, um dos reflexos desses programas foi a publicação, pela ABNT, da norma técnica NBR 14.725:2001 - Ficha de informações de segurança de produtos químicos - FISPQ, que padroniza a forma de se registrar e comunicar a partes interessadas qualificadas informações sobre a natureza, toxicologia e outros riscos, e cuidados a serem tomados com os produtos químicos. Esses documentos devem contemplar informações ambientais, tais como o que fazer em caso de vazamento ou cuidados com os resíduos.

Em 2002, em Joanesburgo, novamente se reuniram as Nações Unidas para discutir o desenvolvimento sustentável, em particular o andamento das ações propostas na Agenda 21. Um dos documentos gerados foi o Plano de Implementação da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.

O documento encerra a seção sobre mudanças nos padrões de produção e consumo com o tópico 23, que destaca a necessidade de:

“...renovar o compromisso, conforme estabelecido anteriormente na Agenda 21, com o gerenciamento seguro de produtos químicos por todo o seu ciclo de vida e dos resíduos perigosos para o desenvolvimento sustentável, bem como para a proteção da saúde humana e do meio ambiente, entre outros, objetivando atingir em 2020, que os produtos químicos sejam usados e produzidos de maneiras que levem à minimização de efeitos adversos significativos sobre a saúde humana e ao meio ambiente, usando critérios de avaliação de riscos transparentes e com base científica, e critérios de gerenciamento de riscos com base científica, levando em conta a abordagem da precaução conforme estabelecido no princípio 14 da Declaração do Rio sobre meio Ambiente e Desenvolvimento, e apoio a países em desenvolvimento no fortalecimento da sua capacidade para o gerenciamento seguro de produtos químicos e resíduos perigosos por meio do provimento de assistência técnica e financeira.” (UN 2002, tradução do pesquisador).

a) Promover a ratificação de instrumentos internacionais, de modo que a Convenção de Rotterdam sobre Consentimento Informado Prévio para certos Produtos Químicos Perigosos possa entrar em vigor em 2003, e que a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos persistentes possa vigorar a partir de 2004; b) Desenvolver mais a abordagem estratégica para gerenciamento de produtos

químicos baseada na Declaração da Bahia e Prioridades para Ação após 2000 do Fórum Internacional de Segurança Química até 2005, e aproximar os atores que lidam com esta questão;

c) Sistema padronizado de rotulagem implementado até 2008;

d) Parcerias na implementação de acordos multilaterais visando a conscientização e o uso de informações científicas para o gerenciamento seguro de produtos químicos e resíduos perigosos;

e) Combate ao tráfico ilegal de produtos químicos e resíduos perigosos, em consonância com documentos tais como a Convenção da Basiléia;

f) Incentivo ao desenvolvimento de informações sobre produtos químicos, tais como registros nacionais de emissões de poluentes e transferências; e

g) Promoção da redução dos riscos relacionados a metais pesados que afetam a saúde humana.

Menos explicitamente ligada às questões da indústria química, mas com bastante impacto potencial no trato das questões ambientais a ela ligadas, está também o capítulo 4 da Agenda 21, sobre mudança nos padrões de consumo.

Ao recomendar que se produzam menos resíduos por meio de processos mais eficientes, e que se substituam produtos mais perigosos por menos perigosos, o documento busca abrir espaço para ações de prevenção de poluição na fonte. Alguns programas associados a esta questão serão descritos nas próximas seções.