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3 CONCEITOS BÁSICOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE GESTÃO AMBIENTAL

RECURSOS / INSUMOS

4.3. Desempenho Ambiental no setor químico

O Banco Mundial editou um manual contendo o estado-da-arte da questão ambiental numa série de diferentes setores industriais. (WORLD BANK 1998). O documento dá exemplos típicos de características e medidas de eco-eficiência quanto a resíduos, efluentes e emissões. No entanto, do ponto de vista quantitativo, estabelece poucas metas de eco-eficiência para os processos que aborda. Na maioria dos casos aponta metas para padrões de lançamento e emissão que deveriam ser adotados pelas legislações, na forma de concentrações finais poluentes nos efluentes e nas emissões gasosas. Essas medidas não podem ser consideradas medidas de eco-eficiência porque não há relação direta entre a concentração dos efluentes e emissões e a

eficiência dos processos. Um processo muito pouco eficiente que utilize uma grande vazão de ar poderia lançar uma grande quantidade de material particulado bastante diluída no ar.

Ao final, o documento do Banco Mundial destaca algumas das questões chave. No setor químico, são tratadas as seguintes indústrias: corantes e pigmentos, fabricação de pesticidas, formulação de pesticidas, fármacos, produtos petroquímicos, cloro- soda, fabricação de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e mistos. Os dados publicados mostram que as características dos resíduos e os valores típicos de eco- eficiência de cada processo são bastante variados. Algumas das informações estão resumidas na tabela 4.9.

Tabela 4.9. Recomendações do Banco Mundial para eco-eficiência de processos da indústria química.

Grupo Meta / Diretriz

Fertilizantes fosfatados1 Emissão 2-4 kg SO

2/ton H2SO4

Fertilizantes mistos2 Efluentes

P2O5 0,6 kg/ton NPK produzido

NH4-N 0,012 kg/ ton NPK

NO3-N 0,03 kg/ton NPK

Fluoretos 0,05 kg/t NPK Fertilizantes nitrogenados3 0,5 kg NO

2/t produto (produção de amônia)

1,6 kg/t NO2 / t ácido nítrico (produção com ácido nítrico)

Cloro-soda4 1,6 m3 efluente/t cloro (processo de diafragma)

0,1 m3 efluente/t cloro (processo de membrana)

0,04 kg Chumbo / t cloro (processo diafragma Petroquímicos5 Emissões atmosféricas totais 0,6% da saída

0,06 kg etileno/t produto 0,02 kg óxido de eteno/t produto 0,2 kg cloreto de vinila / t produto Efluentes 15 m3 / 100 t etileno

Fabricação de pesticidas6 Ingredientes ativos no efluente tratado:

Atrazina 2,6 mg/kg produto Diuron 32 mg/kg

Carbofurano 0,12 mg/kg

Fontes: 1WORLD BANK (1998 p.387-8); 2idem p. 346; 3idem p 354; 4idem p. 280; 5idem p.373; 6idem p. 369

A agência ambiental norte-americana publicou uma série de brochuras com perfis ambientais de diversos setores, divididos em química inorgânica, química orgânica, fármacos e agroquímicos, incluindo pesticidas e fertilizantes. Esses perfis mostram características dos mercados, os principais poluidores de acordo com os inventários

de produtos tóxicos que as empresas são obrigadas a fornecer e cita as principais oportunidades de prevenção de poluição (EPA 1997b).

A Comissão Européia apoiou um estudo piloto sobre aplicação de indicadores de eco-eficiência (ANITE 1999), testando uma série de indicadores de desempenho gerais, aplicados a todos os tipos de indústrias, mostrados na tabela 4.10

Do mesmo modo, o estudo apresenta outros indicadores, desta feita específicos para a indústria química e indústria metalúrgica. Os autores frisam que são indicadores de eco-eficiência econômica, ou seja, ligam a dimensão ambiental à dimensão econômica da sustentabilidade.

Tabela 4.10. Indicadores de desempenho ambiental específicos para a indústria química.

Insumos ambientais Unid. Emissões de matéria e energia Unid.

USO DE ENERGIA LANÇAMENTO DE POLUENTES

Consumo de energia (exceto coque) tep a Emissões atmosféricas:

CO2, N2O, HFCs, SO2, NOx, NMVOC

t ou t SO2 eq

Tipo de consumo de energia (ex.

fóssil, não fóssil) tep

a Descargas em efluentes: metais pesados t

Fontes de energia (ex. renovável /

não renovável) tep

a Outras descargas em efluentes: N, P,

DBO, DQO t

Uso de água t Todos os resíduos (sic)

t

Uso do solo m2 Total de resíduos industriais para

disposição t

Uso de fontes renováveis e não-

renováveis t

Recuperação de resíduos t

Fonte: Adaptado de ANITE (1999).

a tep = tonelada equivalente de petróleo

Tabela 4.11. Indicadores de desempenho ambiental genéricos para a indústria.

Entradas Unidade Saídas Unidade

Consumo de combustível como

insumo t Emissões de poluentes (dezessete substâncias e categorias de substâncias)

t

Quantidade total de minerais t

Fonte: Adaptado de ANITE (1999).

Os indicadores sub-setoriais efetivamente testados no estudo foram consumo de energia excluindo coque; consumo de energias não renováveis; consumo de combustíveis; emissões de CO2; emissões de NOx; emissões de oxidantes

fotoquímicos; e geração de resíduos totais. O mesmo relatório aponta a evolução dos indicadores na indústria química holandesa, conforme mostrado na tabela 4.12. Nota-se que a emissão de NOx não melhorou, apesar de as emissões de CO2 e o

consumo de combustíveis terem melhorado. Isso pode estar associado ao dilema técnico que existe no controle dos processos de combustão, uma vez que para aumentar a eficiência térmica é necessário, como regra geral, aumentar também a emissão de NOx. Não tendo havido aumento, pode-se considerar já um avanço. É importante também notar que, para que possa ser feita a análise ao longo do tempo, os preços dos produtos devem ter permanecido constantes, sem o que a análise carece de sentido ambiental.

Tabela 4.12. Evolução dos indicadores de sustentabilidade da indústria química holandesa.

Indicador 1986 1991 1996 Variação

Valor agregado / energia ( /tep)a 83 118 162 94%

Valor agregado / energia não renovável ( /tep)a 97 149 212 119%

Valor agregado / combustível como insumo ( /t) 2,4 2,4 2,9 20%

Valor agregado / emissão CO2 ( /t) 370 594 862 133

Valor agregado / emissão NOx ( /t) 1299 1489 1285 -1%

Valor agregado / emissão de orgânicos voláteis relacionados a

oxidação fotoquímica ( /t) 295 381 447 51%

Valor agregado / geração de resíduos ( /t) 6,9 5,1 8,1 16%

Fonte: Adaptado de ANITE (1999)

atep = tonelada equivalente de petróleo

A tabela 4.13 mostra os dados comparados com a indústria metalúrgica nos mesmos países. Nota-se que, do ponto de vista do indicador absoluto, quando comparada à indústria metalúrgica, a indústria química é mais eco-eficiente quanto ao consumo de energia, inclusive energias não renováveis, quanto á emissão de CO2 e emissão de

Tabela 4.13. Indicadores de desempenho ambiental das indústrias metalúrgica e química na Holanda, em 1996. Indicador Indústria química Holanda Indústria Química França Indústria metalúrgica Holanda Indústria metalúrgica França

Valor agregado/ energia consumida ( /t) 162 445 80 89

Valor agregado / energia não renovável ( /t) 212 772 11 121

Valor agregado / combustível consumido ( /t) 2,9 9 ND ND

Valor agregado / emissão de CO2 ( /t) 862 2668 229 243

Valor agregado / NOx (1000 /t) 1285 2804 528 81 (a)

Valor agregado / NMVOC 447 252 (a) 526 906 (a)

Valor agregado / resíduo ( /t) 40 (a) 3,1 (a)

Fonte: Adaptado de ANITE 1999. Dados de 1996, exceto (a) dados de 1995.

Nota-se também que a indústria química francesa é, do ponto de vista absoluto, menos eco-eficiente que a indústria química holandesa. Isto pode ter vários motivos, por exemplo, idade das unidades produtivas, tecnologias aplicadas, legislação e mix de produtos produzidos e processos realizados. Não há dados para discutir esta diferença.

Por outro lado, o mesmo estudo mostra as variações ocorridas na eco-eficiência em diferentes períodos, conforme resumido na Tabela 4.14.

Tabela 4.14. Comparação de indicadores de Eco-eficiência nas indústrias químicas e metalúrgicas na Holanda e na França. Indicador Indústria química Holanda (1986 1996) Indústria química França Indústria metalúrgica Holanda (1986 a 1996) Indústria metalúrgica França

Valor agregado/ energia consumida ( /t) 94 97 -11 -6

Valor agregado / energia não renovável

( /t) 119 149 -19 -14

Valor agregado / combustível consumido

( /t) 20 46 ND ND

Valor agregado / emissão de CO2 ( /t) 133 153 2 26

Valor agregado / NOx (1000 /t) -1 15 -24 -2

Valor agregado / NMVOC 51 18 -8 -0,3

Valor agregado / resíduo ( /t) 16 4 37 -8

4.4. Políticas públicas e regulamentos ambientais aplicados à indústria