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Estrutura e desempenho comparado dos sistemas de gestão

3 CONCEITOS BÁSICOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE GESTÃO AMBIENTAL

DECISÃO DE IMPLANTAR

5.3. Estrutura e desempenho comparado dos sistemas de gestão

Para o presente trabalho interessam apenas os modelos de gestão ISO 14001 e Atuação Responsável®, pelo que são descritos a seguir alguns dos conhecimentos atuais a respeito das diferenças e similaridades entre os sistemas.

5.3.1. Comparação das estruturas

O Guia de Implantação do Atuação Responsável® (ABIQUIM 1995) apresenta uma

correspondência geral entre os requisitos da norma ISO 14001 e as práticas do Código de Proteção Ambiental. Nota-se que para todas as práticas prescritas no Atuação Responsável® existe uma correspondência na ISO 14001, mesmo que parcial. Já o inverso não é verdadeiro, uma vez que os requisitos 4.5.4 - Auditoria do Sistema de Gestão, 4.4.4. Documentação, 4.4.5 - Controle de Documentos e 4.5.3 - controle de registros – não têm equivalente no Atuação Responsável®. Todos esses requisitos são típicos de sistemas voltados à certificação, embora sejam encontrados também em modelos de gestão não certificados em grandes corporações.

Existe uma correspondência parcial para:

a) 4.5.1. Monitoramento e medição – o Código de Proteção Ambiental prescreve em sua prática 7 a necessidade de se medir periodicamente as emissões a fim de avaliar o progresso; no entanto, não explicita a necessidade de verificação da conformidade legal e nem a necessidade de calibração dos instrumentos, que são exigidos na ISO 14001;

b) 4.5.2. Não-conformidades e ação corretiva e preventiva – o Atuação responsável® foca a prática 14 do Código de Proteção Ambiental na avaliação de práticas passadas, mas não prescreve a necessidade de um mecanismo para identificação de não-conformidades presentes e futuras no cotidiano da empresa.

Para os requisitos 4.4.1 – Estrutura e Responsabilidades; e 4.4.7 – Preparação e atendimento a emergências, outros elementos do Atuação Responsável® podem ser

considerados correspondentes a compromissos presentes nos princípios diretivos e no Código de Diálogo com a Comunidade e Preparação e Atendimento a Emergências. EPELBAUM (2001) mostra um bom resumo das estruturas dos modelos de gestão ISO 14001 e Atuação responsável®.

Tabela 5.9. Comparação dos modelos ISO 14001, auditorias ambientais corporativas e o Processo Atuação Responsável®.

Tópicos Programa Atuação

Responsável® ISO 14001

Objetivos • Melhoria da imagem da

indústria química • Garantir o cumprimento sistemático da Política Ambiental; demonstrar este cumprimento a partes interessadas; permitir a certificação ambiental

Abrangência

temática • Saúde ocupacional, segurança e meio ambiente (somente poluição – não contempla consumo de recursos naturais)

• Meio ambiente, incluindo impactos ambientais de poluição e consumo de recursos naturais

Abrangência • Indústria Química • Quaisquer setores e países Integração

com a gestão empresarial

• Modelo de gestão contendo manuais de práticas gerenciais por tema, sugerindo a integração com a gestão empresarial

• Modelo de gestão, linguagem e ferramentas da gestão empresarial, permitindo a integração com outros sistemas de gestão (p.ex. qualidade) Abrangência

no ciclo de vida do produto

• Processo de produção, segurança de produtos e pós-uso, incluindo terceiros e transporte

• Fornecedores e terceiros, processos de produção, transporte, produtos e pós-uso

Requisitos de

desempenho • Estágios de desempenho atingidos ao longo do tempo, conforme estabelecido pela ABIQUIM

• Conformidade legal, melhoria contínua e prevenção da poluição

Pontos Fortes • Abertura do diálogo com os públicos

• Prevenção da poluição na fonte • Mais prescritivo sobre algumas das práticas

• Mais explicito sobre medição de custos

• Integração à gestão empresarial • Avaliação interna e externa do sistema • Exige metas e programas de melhoria contínua e prevenção da poluição • Declaração externa de certificação

Pontos Fracos

• Não é um modelo de excelência de resultados (tecnologias e produtos limpos) no curto prazo Não tem avaliação externa • Ferramenta de tratamento de não conformidades pobre • Não contempla o consumo de recursos naturais

• Por tema, não por elemento da gestão empresarial

• Não é explícito sobre requisitos a fornecedores de bens

• Não é um modelo de excelência de resultados no curto prazo

• Prevenção da poluição na fonte não é priorizada

• Não prescritivo quanto às práticas • Não prescritivo sobre prevenção de riscos • Não contempla a medição de custos • Não explicita a necessidade de indicadores de desempenho

• Reativo quanto à comunicação

5.3.2. Desempenho comparado

Existem poucas pesquisas publicadas sobre a comparação de sistemas de gestão. MELNYK et al. (2002) publicaram uma dessas poucas. Os pesquisadores buscaram os benefícios dos sistemas voluntários de gestão ambiental nos Estados Unidos, por uma pesquisa em massa pelo correio envolvendo indústrias. Quatro categorias de programas voluntários são estudadas: programas setoriais, como o Atuação Responsável® nos Estados Unidos; programas iniciados pelo governo, como o EnergyWise para economia de energia e o WasteWise para minimização de resíduos; programas voluntários em que o desempenho ambiental é um benefício secundário, como aqueles envolvidos com a gestão de segurança e saúde ocupacionais; e finalmente o sistema de gestão certificado ISO 14001. A implantação de um ou mais desses sistemas de gestão foi correlacionada estatisticamente com os benefícios declarados pelos correspondentes, em relação a estratégia, tática e reputação corporativos.

Os resultados indicaram que, embora os programas voluntários pesquisados gerem impactos positivos no desempenho corporativo em várias dimensões, a certificação ISO 14001 tende a ter um impacto relativo maior em muitas dessas dimensões, inclusive no desempenho ambiental. No entanto, não foram trabalhados indicadores de desempenho quantitativos.

GILBERTSEN e colaboradores (2002), por outro lado, mostra as relações do Responsible Care em sua versão anteriror com o novo RC-14001, e as ações necessárias e potenciais benefícios pela adaptação ao novo sistema de gestão. Não mostra, no entanto, resultados e melhorias objetivas provenientes desta adaptação. Provavelmente uma das pesquisas mais completas seja a executada pela University of North Carolina at Chapell Hill para a agência ambiental americana (ANDREWS et al 2003). A pesquisa não trata especificamente de empresas com sistemas de gestão ISO 14001.

O objetivo básico da pesquisa foi “... prover respostas para questão: quais os efeitos que a implementação de um sistema de gestão ambiental tem no desempenho ambiental de uma unidade, na conformidade legal e no desempenho econômico? ...” (ANDREWS, op. Cit p. ES-4). A pesquisa avaliou dados históricos retrospectivos de empresas que implantaram sistemas de gestão ambiental no período de 3 anos antes

da implantação, durante o período de implantação (tipicamente 1 ano) e 2 anos após a implantação. Vinte e sete empresas forneceram dados que eram monitorados antes da certificação e continuaram sendo monitorados após a certificação. Alguns dos resultados relatados no referido trabalho:

a) Mais de dois terços dos indicadores relatados, para o qual houve uma mudança no desempenho, mostraram melhoras, e a maioria das unidades teve melhora em mais da metade dos indicadores. Menos de um quinto das unidades mostraram pioras nos indicadores, e apenas uma delas mostrou piora em mais da metade deles. O resultado global foi que a implantação do sistema de gestão está associada à melhoria global do desempenho ambiental das unidades.

b) Por outro lado, o relatório mostra que não é possível afirmar, com os resultados da pesquisa, que empresas com sistemas de gestão certificados têm melhor desempenho que aquelas com sistemas não certificados.

c) Unidades que relataram a existência de pressões externas ou oportunidades de mercado associadas a gestão ambiental mostraram pontuação de desempenho ambiental significativamente maior.

d) Outras condições que influenciaram positivamente o desempenho ambiental foram a existência prévia de estrutura e capacitação organizacional para gestão ambiental, empresas publicamente negociadas (capital aberto), a inexistência de não-conformidades legais no período prévio a implantação do sistema, entre outras.

A pesquisa de ANDREWS et al. (2003) buscou ainda quantificar monetariamente os benefícios trazidos pelos sistemas de gestão, no entanto aproximadamente três quartos da amostra não foram capazes de relatar benefícios quantificados.

Em relação aos impactos ambientais, algumas das conclusões foram:

a) O foco das empresas estava nos impactos ambientais dos processos; com raras exceções elas abordaram impactos ambientais dos produtos;

b) Aproximadamente metade delas incluíram entre seus impactos a saúde e segurança dos funcionários;

d) Empresas maiores e voltadas à certificação ISO 14001 prestaram atenção a uma amplitude maior de impactos;

e) Os critérios de significância são muito variáveis e dependentes da postura individual de cada empresa;

f) Empresas menores estabelecem mais objetivos de melhoria, mas eles são menos quantificados e mais voltados a atividades-meio.

O relatório conclui ainda que a maneira de estabelecer a significância dos impactos ambientais e os objetivos e metas são provavelmente mais determinantes para o desempenho ambiental do que a mera existência de um sistema de gestão ou a certificação ISO 14001.