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3 CONCEITOS BÁSICOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE GESTÃO AMBIENTAL

DECISÃO DE IMPLANTAR

5.2.5. Resultados de sistemas de gestão ambiental ISO 1

A revisão bibliográfica mostrou que inúmeros trabalhos têm sido publicados sobre o processo de implementação de sistemas de gestão ISO 14001, em geral abordando um único caso, desde o diagnóstico ambiental até o momento da certificação. Eles representam aproximadamente 1/3 dos trabalhos apontados pelos bancos de dados pesquisados por palavras-chave. Como exemplos temos BOOG (2000), TORQUETTI (1998), OLIVEIRA e PAROLIN (2001), PONCE (2001), SILVA e HACON (2001), CRUZ (2001), entre outros.

Inúmeros artigos mostram os benefícios potenciais da implantação do sistema de gestão e os motivos para sua implantação. PETRONI (2001) e PUN e HUI (2001), por exemplo, mostram processos analíticos hierárquicos para decisão sobre a implantação de um sistema de gestão ISO 14001, aplicado a uma indústria. DEL BRIO e JUNQUERA (2003) mostram as pressões externas para a implantação de sistemas de gestão ambiental nas indústrias espanholas, enquanto EPELBAUM e AGUIAR (2001) mostram como a certificação ISO 14001 está sendo exigida na cadeia automobilística. No entanto, poucos estudos sobre resultados de médio e longo prazo do conjunto das indústrias têm sido publicados. Isto é compreensível, uma vez que a norma ISO 14001 data de 1996, e, portanto existem apenas alguns anos de histórico.

Vários trabalhos descrevem principalmente a motivação para implantação dos sistemas ISO 14001 e os principais benefícios potenciais, por exemplo, GTZ (1998) realizou um estudo deste tipo em 11 empresas na Índia.

EPELBAUM (2001) faz uma avaliação qualitativa, a partir de sua experiência profissional e de declarações de empresas, dos resultados gerais obtidos e não obtidos, conforme resumido na tabela 5.7. Ele destaca, entre alguns dos motivos para que não sejam atingidos plenamente os benefícios esperados:

a) Certos requisitos da norma ISO 14001 são pouco prescritivos, deixando as empresas livres para adotarem procedimentos pouco eficazes;

b) Falta de estrutura no Brasil para tratar de certas questões, tais como seguros ambientais;

c) Falta de estrutura das empresas para tratar de certas questões, como contabilização de custos ambientais;

d) Falta de interesse dos órgãos ambientais no apoio e interação com empresas com sistema de gestão implantado.

Tabela 5.7. Benefícios esperados e resultados para implantação de sistemas de gestão ambiental ISO 14001 em diversas indústrias.

Parte Interessada Benefício Esperado Resultado

Comunidade Boas relações e canais de comunicação com o público/

comunidade Parcialmente obtido

Demonstrar um razoável cuidado com o meio ambiente Parcialmente obtido Ampliar o desenvolvimento e o compartilhamento de soluções

ambientais Em geral não obtido

Clientes Assegurar aos consumidores do comprometimento com uma

gestão ambiental demonstrável Parcialmente obtido Melhorar a imagem e a participação de mercado Em geral não obtido Atender critérios de certificação para a venda Em geral obtido Investidores Satisfazer critérios dos investidores para aumentar o acesso ao

capital Em geral obtido

Seguradoras Obter seguros a custos razoáveis, diminuir o prêmio do seguro Em geral não obtido Acionistas Melhorar o controle sobre os custos, reduzir custos Parcialmente obtido

Reduzir incidentes que resultem em danos e responsabilidade

civil, reduzir riscos, vulnerabilidades e passivos ambientais Parcialmente obtido

Redução da poluição, conservação de materiais e energia Parcialmente obtido Órgãos Públicos Melhorar as relações entre indústria e governo Parcialmente obtido Facilitar a obtenção de licenças e autorizações Parcialmente obtido

Fonte: Adaptado de EPELBAUM (2001).

RAINES (2002) pesquisou 131 empresas de diversos países em todos os continentes para verificar os benefícios da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental ISO 14001. Diversos benefícios qualitativos foram identificados, e ao final da pesquisa as empresas foram solicitadas a quantificar os benefícios. Entre eles a maioria das empresas pesquisadas relatou ganhos financeiros com a implantação dos sistemas de gestão, tais como redução de custos com energia, redução de custos com disposição de resíduos, redução de gastos com multa e seguros. Os resultados são muito variáveis, de acordo com a autora. No entanto a pesquisa não mostra os resultados quantitativos financeiros nem de indicadores ambientais de desempenho.

VIEGAS (2002) analisa as não-conformidades encontradas nas auditorias de certificação ISO 14001 de um organismo certificador específico, e conclui que a maioria delas está relacionada aos requisitos 4.3.2 (requisitos legais e outros requisitos), 4.4.6 Controle operacional, 4.3.1 Aspectos ambientais e 4.5.1 Monitoramento e medição. Segundo o autor, diversas não-conformidades classificadas em outros requisitos são na verdade não-conformidades legais. De qualquer modo, ele conclui que as auditorias têm considerado estes requisitos como os mais importantes. Na verdade, tratam-se realmente dos requisitos voltados a manutenção do desempenho ambiental.

Em relação ao desempenho ambiental, VELEVA e JURCZYK (2001) mostram um sistema de indicadores de produção sustentável aplicado a um caso específico, uma empresa do ramo de borracha. Define dois conjuntos de indicadores de produção sustentável, sendo o primeiro chamado de conjunto central, que seria aplicável a todas as empresas produtivas, e um segundo conjunto chamado de indicadores suplementares, aplicável ao processo do caso em particular. Os indicadores centrais incluem o uso de energia, água e materiais, a geração de resíduos, os custos de conformidade legal, a reciclabilidade de produtos, entre outros. A tabela a seguir mostra alguns dos dados apresentados pelo artigo, relativos à empresa Acushnet Rubber.

Tabela 5.8. Indicadores de sustentabilidade para a empresa Acushnet Rubber, nos Estados Unidos.

Indicadores Data Valor

Indicadores centrais

• Potencial de aquecimento global total 1999 7,5 t CO2 / t borracha

46.000 t CO2 / ano

• Potencial de aquecimento global por uso de óleo combustível

5,0 t CO2 / t borracha

15.000 t CO2 / ano

• Potencial de aquecimento global - eletricidade 2,5 t CO2 / t borracha

31.000 t CO2 / ano

• Indicadores suplementares

• Emissão de substâncias compulsoriamente relatadas à agência ambiental (Regulamento SARA 313)

• Cloro • Xileno

1997

< 25.000 lb/ano (limite de relato) <10.000 lb/ano (limite de relato) Fonte: Adaptado de VELEVA e col. (2003)

AMMEMBERG e HJELM (2002) avaliaram o estado de indicadores de desempenho de um grupo de pequenas e médias empresas que obtiveram a certificação conjuntamente num distrito industrial, chegando a conclusão que houve melhorias. Por outro lado, cabe destacar que muito da melhoria do desempenho ambiental provém dos objetivos e metas da organização, tratados no item 4.3.3. Nesse requisito, algumas constatações comuns de auditoria são requisitos legais não levados em consideração na definição de objetivos e metas; falta de correlação dos objetivos e metas com aspectos significativos, itens da política ambiental não relacionados aos objetivos e metas; falta de clareza (definição insuficiente) nos objetivos e metas; objetivos e metas facilmente atingíveis e com longos prazos para atendimento (VIEGAS 2002).

A influência dos critérios de acreditação dos organismos certificadores no desempenho ambiental foi estudada por BURDICK (2001). O pesquisador encontrou requisitos bastante diferentes entre três organizações – IAF - International Accreditation Forum, RvA - Dutch council for Accreditation, e o ANSI-RAB American National Standards Institute-Registrar Accreditation Body. Essas diferenças podem causar variabilidade na atuação dos auditores frente às empresas que têm sistemas de gestão certificado ISO 14001, e portanto causar também diferentes resultados de desempenho ambiental. De acordo com o autor, as empresas cujos certificados são emitidos por organismos sediados na Europa tendem a identificar melhor os aspectos ambientais, em particular aqueles sobre os quais a empresa pode ter influência. Também houve diferenças significativas em relação a prevenção da poluição e conformidade legal. A pesquisa não mostrou indicadores de desempenho ambiental das empresas pesquisadas, em relação a aspectos ambientais ou mídias ambientais específicas. EPELBAUM (2001) também estudou essas diferenças, e mostrou que esses assuntos também são tratados de maneira diversa pelo INMENTRO, no Brasil.