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Agentes financiadores da spin-off e relações de poder

Capítulo 6 – Determinantes das spin-offs universitárias, como casos de transferência de

7.4. Agentes financiadores da spin-off e relações de poder

De acordo com O‟Shea et al. (2005), Kirwan et al. (2006) e Wright et al. (2006) o capital financeiro da nova empresa é algo que interfere bastante no crescimento e desenvolvimento da spin-off. As diferentes etapas pelas quais a spin-off passa a partir da sua fundação são caracterizadas por necessidades específicas, onde de uma forma paralela existem necessidades de financiamento distintas. Se por um lado, numa fase mais precoce é preciso o “pre-seed capital” para fundar a empresa, numa segunda etapa o “seed capital” é importante para o aperfeiçoamento do produto da empresa enquanto na fase de expansão o capital de crescimento viabiliza a produção e comercialização do produto da spin-off, de acordo com Kirwan et al. (2006). Este tipo de capital pode ser de público ou privado, possuindo diferentes origens. Com o objectivo de perceber o papel do financiamento universitário e externo no processo de transferência constatou-se que a Universidade do Minho e a Universidade do Porto não fazem qualquer tipo de financiamento nas spin-offs universitárias, salvo situações de concursos de promoção ao empreendedorismo onde existe um prémio pecuniário. A TecMinho, a UPIN e os Serviços de Cooperação da FEUP assumem um papel de intermediários no financiamento das spin-offs. Apesar de as universidades não financiarem nem interferirem nos modos de financiamento das novas empresas académicas, os organismos de apoio ao empreendedorismo da UM e da UP informam as spin-offs sobre possíveis financiadores para a empresa.

No caso da Ambisys, spin-off UM 1, o grande financiamento foi feito por um grupo privado que impulsionou o lançamento da spin-off, sendo que os académicos fundadores da spin-off também entraram com capitais próprios. O financiamento por um grupo privado está também presente na Medmat Innovation, spin-off UP1, que apesar de ter sido lançada por capitais próprios dos professores fundadores, quando estes quiseram desenvolver a spin-off e criar infra-estruturas de produção maiores recorreram ao financiamento privado. Por outro lado, a Micropolis, spin-off UM 2, e a Fluidinova, spin-off UP 2, possuem experiências de financiamento de capitais de risco. No caso da Micropolis, fundada com capitais dos fundadores, a capital de risco surgiu através de um prémio que a spin-off ganhou posteriormente, sendo que a capital de risco após alguns anos na direcção da spin-off decidiu também recorrer a um business angel. Na spin-off Fluidinova a capital de risco resultou de uma procura de uns dos académicos fundadores por um financiador que possibilitasse o crescimento da empresa. Assim, nos casos analisados o financiamento via grupo privado e via

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capital de risco esteve presente principalmente como “seed capital” e capital de crescimento de forma a que torne viável o desenvolvimento do produto e a criação de infra-estruturas para a produção e comercialização.

Em todos os casos, a entrada do grupo privado ou da capital de risco significou uma distribuição do poder onde o financiador detém a maioria na empresa. Nas quatro spin-offs, os académicos fundadores da spin-off possuem pequenas acções distribuídas entre eles. A Medmat Innovation, incorporada no grupo Biosckin, é aquela onde a distribuição mostrou-se com maior equilíbrio, apesar de a maioria ser do grupo privado. Contudo, a relação entre financiadores e inventores académicos pode não ser a mais pacífica, pois a disparidade de conhecimentos entre ambos pode causar um fosso com difícil transposição. Este desencontro de conhecimentos referido por autores como Franklin et al. (2001), Clarysse e Moray (2004), Kirwan et al. (2006) e Wright et al. (2006) alertam para conflitos com impacto negativo sobre a spin-off. A assimetria de informação e a divergência de interesses esteve presente na Micropolis, spin-off UM 2, onde a pressão da capital de risco sobre os académicos para a comercialização do produto foi apenas um dos exemplos de conflito referido pelo professor universitário entrevistado. Como concluíram Thursby e Thursby (2001) no seu estudo realizado em universidade americanas, mais de metade das invenções licenciadas pelas academias são “proofs of concept” não podendo ser imediatamente comercializadas. As tecnologias envolvidas nas patentes das quatro spin-offs universitárias abordadas na presente dissertação não são excepção disso, necessitando todas elas de tempo para apurar a tecnologia e aplica-la ao mercado. Neste sentido, o conflito entre o financiador e o professor fundador da Micropolis surigu, uma vez que o primeiro exercia pressão sobre o segundo para haver comercialização, passo esse que segundo o professor universitário não podia ser dado sem o apuramento total da tecnologia ao qual está associado um determinado tempo que não era consensual entre ambos. Associadas a estas divergências e a outras relacionadas com a direcção da spin-off e core-business da empresa levaram ao afastamento do professor fundador da spin-off. Os entrevistados das outras três spin-offs não relataram divergências tão concretas, fazendo relatos de relações mais harmoniosas com o financiador. Contudo, na Ambisys é reconhecido o facto de que a spin-off tem de seguir aquilo que é a política do grupo privado, existindo a clara noção da parte da professora fundadora que o poder de decisão e o grande capital está do lado do grupo e uma diminuição de acções dos académicos poderá ser um cenário possível, quando estes não conseguirem acompanhar os aumentos de

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capital. Por seu lado, o professor universitário entrevistado da Medmat Innovation descreveu a relação com o financiador como um encontro positivo, proporcionando “um bom casamento entre conhecimento e financiamento.” É de realçar o facto de que a entrada do financiador deu-se numa fase em que a spin-off já se encontrava no mercado e com provas dadas, o que segundo o professor fundador pode ter sido uma vantagem para uma maior confiança e entendimento entre ambos. Por fim, o professor entrevistado da Fluidinova reconheceu a importância da capital de risco no crescimento da spin-off, referindo instituições do estado de apoio à inovação e novas empresas como muito importantes no desenvolvimento da spin-off. Todavia, o cenário de maioria accionista do financiador na spin-off está também aqui presente.

Apesar das divergências entre financiador e fundador que foram referidas, as vantagens do financiamento foi também relatadas pelas spin-offs. Para além do financiamento tornar possível o desenvolvimento e comercialização do produto tecnológico, viabilizando o crescimento da spin-off o acesso a redes de contactos em diversas áreas, a incorporação num grupo com imagem e credibilidade pública, facilitando o acesso a empréstimos bancários, por exemplo, foram as vantagens identificadas pela Ambisys que faz um balanço positivo da relação. Por sua vez, as redes de contactos a que a Micropolis teve acesso através do financiador foi também referido, assim como a Medmat Innovation mencionou a valorização do financiador do conhecimento científico da equipa fundadora proporcionando o financiamento e o mutuo acordo.