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Compromisso empresarial, credibilidade e retornos financeiros

Capítulo 3 Determinantes na criação e desempenho da spin-off universitária

3.6. Compromisso empresarial, credibilidade e retornos financeiros

Ao longo das fases de desenvolvimento da spin-off, Vohora et al. (2004) identificaram quatro “conjunturas críticas” no processo: (A) o reconhecimento da oportunidade; (B) o compromisso empresarial; (C) a credibilidade e (D) os retornos sustentáveis. Assim, a “conjuntura crítica” do reconhecimento da oportunidade (A) surge como interface entre a fase de pesquisa e a fase de enquadramento da oportunidade. O conflito inerente a esta conjuntura é o das universidades e académicos possuírem conhecimento tecnológico significativo, mas em contrapartida o conhecimento sobre como servir o mercado mostrar-se insuficiente e as expectativas de lucro serem irreais. Para ultrapassar tais obstáculos o académcio empreendedor precisa de uma grande habilidade em sintetizar o conhecimento científico numa oportunidade comercial. A compreensão do funcionamento do mercado e um elevado nível de capital social, traduzido em parcerias, ligações e outras redes de interacção são as bases da superação desta conjuntura. Neste sentido a superação dos problemas e necessidades da spin-off em formação, pedem ao académcio empreendedor um envolvimento e compromisso a tempo integral que nem sempre este possui. Vohora et al. (2004) apelidaram esta “conjuntura crítica” como compromisso empresarial (B). O empenho do académico é especialmente importante para garantir o fluxo de inovação do portfolio dos produtos da empresa em desenvolvimento. Todavia isto pode não se traduzir na ocupação do cargo de chefia pelo académico empreendedor. Esta

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“conjuntura crítica” caracteriza-se por deficiências no capital humano até à cultura institucional de descriminação contra a orientação empresarial. Isto traduz-se em défice de tempo do académico para se dedicar mais afincadamente à spin-off, receio em avançar para a comercialização das suas invenções devido a uma conotação negativa no seio académico onde está inserido, e por fim, quando este avança para um compromisso mais sério, o reconhecimento da ausência de experiência e formação para ocupar o cargo de chefia dificulta a delegação de poder em relação a outra pessoa melhor preparada. A terceira “conjuntura crítica” está relacionada que um factor chave na obtenção de financiamento: a credibilidade. Sem financiamento, a spin-off não pode obter os recursos necessários às operações de comercialização. Estes são inicialmente intangíveis, traduzidos em patentes e licenças, e só mais tarde têm um cariz tangível. Contudo, para alcançar esse cariz, o acesso a recursos é fundamental, assim como o financiamento em primeira ordem. Quando a equipa empreendedora não tem conhecimentos no mercado, gerar credibilidade junto de potenciais clientes e estabelecer acordos com fornecedores e parceiros é por vezes uma tarefa difícil. Por todas estas razões os capitalistas de risco acreditam que as spin-offs universitárias são investimentos de alto risco (Vohora et al., 2004). Por fim, a última “conjuntura crítica” está relacionada com os retornos sustentáveis da empresa, podendo-se manifestar em receitas dos serviços ou produtos vendidos, pagamentos vindos de acordos de colaboração ou através de mais investimento da parte dos seus parceiros. Assim, a obtenção de retornos sustentáveis é um bom incentivo para que a spin-off se mantenha activa, precisando para tal de uma constante reconfiguração dos seus recursos fracos, capacidades inadequadas e responsabilidades sociais. Deste modo a empresa, deve transformar estes pontos em meios que possibilitem a criação de valor, geração de retorno e possibilitem o reconhecimento e comercialização de oportunidades. A constante actualização e reconfiguração dos recursos da spin-off são o modo mais viável para o sucesso (Druilhe e Garnsey, 2004; Vohora et al., 2004).

van Geenhuizen e Soetanto (2009) realizaram um estudo sobre os principais obstáculos ao crescimento em diferentes anos da spin-off universitária, inspirando-se em três “conjunturas criticas” de Vohora et al. (2004). O compromisso empresarial, a credibilidade e os retornos sustentáveis são as conjunturas em análise entre spin-offs de alta tecnologia e spin-offs de média-baixa tecnologia. van Geenhuizen e Soetanto (2009) concluíram que os problemas ligados ao mercado são os que apresentam mais resistência, tendo uma taxa de

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redução de 21% a partir do sexto ano de existência. Em contrapartida, os problemas financeiros tendem a ser resolvidos mais rapidamente, pois no sexto ano de existência a taxa de redução é de 57%. Os autores constataram níveis de desenvolvimento diferentes entre a spin-off com inovação elevada e a spin-off com baixa - média inovação, pois apesar da primeira começar com muitos obstáculos, evolui para um crescimento sustentável ma is rapidamente que a segunda.

A spin-off com inovação elevada, ultrapassa a “conjuntura crítica” do compromisso empresarial e da credibilidade no primeiro ano de existência, sem grandes dificuldades e com soluções profissionais. A spin-off com baixa – média inovação, por sua vez, apresenta um desenvolvimento mais lento e mais difícil. A “conjuntura crítica” relacionada com o compromisso empresarial tende a nunca acontecer na sua plenitude, pois como o tempo pedido por uma inovação baixa é menor que por uma inovação elevada, o académico muitas vezes não se compromete integralmente com a empresa. No entanto, a “conjuntura crítica” da credibilidade só é ultrapassada no quarto ano de existência, enquanto resultados sustentáveis não chegam antes do sexto ano. No que diz respeito ao alcance de resultados sustentáveis pela spin-off com alta inovação estes tendem a alongar-se no tempo, mas provavelmente não são atingidos antes do sexto ano. Estas tendem a ser bem sucedidas devido a um atitude profissional e adopção de várias decisões importantes, tais como a elaboração de planos estratégico e a delegação de tarefas. van Geenhuizen e Soetanto (2009) sugerem as actividades networking, baseada numa estratégia adequada, como o principal ingrediente para melhorar a performance, estando incluída na recomendação para uma spin-off que queira ser bem sucedida uma abertura ao exterior e variedade nos parceiros (Walter et al., 2006; Hughes et al., 2007; van Geenhuizen e Soetanto, 2009).

O contacto com agentes externos à universidade é o factor – chave de sucesso da spin- off académica, segundo Grandi e Grimaldi (2003). O modelo de sucesso proposto pelos autores está fundamentado sobre duas premissas: (1) a intenção da equipa fundadora em estabelecer relações com agentes externos é influenciada pela coesão da equipa e pelo grau de articulação dos papéis dos seus membros; (2) a frequência das interacções entre a equipa fundadora e agentes externos é influenciada pela frequência de interacção com agentes externos ao grupo de pesquisa de origem e pela excelência científica e tecnológica desta. Segundo o modelo de Grandi e Grimaldi (2003) a articulação de papéis dentro da spin-off universitária mostra-se preponderante no estabelecimento de relações externas. A existência

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de uma pessoa encarregue especificamente para promover as ligações externas torna clara a vontade de interagir com o exterior, existindo um cargo formal que impulsiona a tal prática. A divisão de tarefas é ainda benéfica para um funcionamento mais eficaz da spin-off , sendo que a boa articulação dos cargos pode promover, por sua vez, uma boa comunicação interna. A ligação externa é marcada pelo contacto com agentes externos que estão ligados à organização mãe da spin-off. A afiliação à universidade é neste sentido positiva para a spin-off, uma vez que a reputação da academia é transferida para a nova empresa, proporcionando contactos que se tornam essenciais no conhecimento do mercado, na obtenção de prestígio, abrindo caminho a novos clientes e recursos.

Mais tarde, Grandi e Grimaldi (2005) usaram o seu primeiro modelo sobre o sucesso da spin-off universitária para construir um novo sobre a geração de uma ideia de negócio com sucesso. Neste sentido, os autores apontam como premissas do sucesso da spin-off a Business Idea Market Attractiveness e a Business Idea Articulation, estando cada uma das premissas relacionadas positivamente com outras. No momento em que a spin-off aparece a Business Idea Market Attractiveness é influenciada pela orientação para o mercado dos fundadores académicos, assim como pela sua frequência de interacção com agentes externos. Por outro lado, Business Idea Articulation da nova empresa pode manter uma relação positiva com a articulação de papéis e o grau de prévia experiência conjunta da parte dos académicos fundadores da spin-off. Os resultados da investigação (Grandi e Grimaldi, 2005) sugerem que a prévia experiência conjunta entre os fundadores pode ser benéfica na fase inicial da spin-off reduzindo a probabilidade de conflitos internos na formulação da ideia de negócio, sendo mais fácil chegar ao consenso. Todavia, a familiaridade entre fundadores com o passar do tempo pode-se tornar prejudicial, no sentido em que o conformismo e a ausência de novas ideias provavelmente resulta da homogeneidade da equipa. Assim, a composição heterogénea da equipa, com origens educacionais diferentes, aliada a uma constante comunicação com actores externos, monitorização das necessidades e tendências do mercado e com uma visão voltada para o exterior são factores que poderão estar na base de uma ideia de negócio com sucesso.

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3.7. Conclusão

O presente capítulo focou-se nos determinantes da criação e desempenho da spin-off universitária, sendo as políticas universitárias o primeiro determinante apresentado. Incentivos e recompensas para os académicos, processos internos relacionados com direitos de propriedade intelectual, serviços de licenciamento tecnológico, valor de royalties, apoios financeiros, serviços de consultoria e formação, infra-estruturas de apoio como parques tecnológicos e incubadoras são alguns dos tópicos sobre os quais as políticas universitárias investem para impulsionar o surgimento de spin-offs. A ligação à organização mãe através de laços fortes, bem como a construção de laços fracos com parceiros de interesse são por seu lado outro aspecto tratado no presente capítulo. Enquanto os laços fortes ajudam a spin-off na fase inicial, os laços fracos tornam-se cruciais para o seu crescimento e independência.

O capítulo dedicou ainda uma secção aos diferentes tipos de financiamento que a spin- off possui, sendo o empréstimo bancário, capital de risco ou “business angel alguns dos meios encontrados. Programas de financiamento público e/ou privado, bem como o tipo de capital necessário em cada fase de desenvolvimento da spin-off são outros pontos abordados. Por outro lado, este capítulo abordou os diferentes tipos de incubação, sendo que as incubadoras universitárias são caracterizadas pelo apoio que prestam às novas empresas com meios tangíveis e intangíveis, assemelhando-se às incubadoras públicas pelos subsídios e infra- estruturas que dispõe, mas assemelhando-se também às incubadoras privadas pelo conhecimento especializado e redes de interesse que possui. Por fim, as fases de crescimento da spin-off passando pelo compromisso e disponibilidade do académico empreendedor face à spin-off, pelas questões de credibilidade da nova empresa, assim como pelos retornos financeiros alcançados.

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