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Ligação da spin-off à organização mãe e constituição da equipa empreendedora

Capítulo 6 – Determinantes das spin-offs universitárias, como casos de transferência de

7.3. Ligação da spin-off à organização mãe e constituição da equipa empreendedora

Na literatura Thursby e Thursby (2002) referem a ausência de vontade em despender tempo aplicado à I&D com fins de negócio, a opinião adversa à actividade comercial praticada pelo cientista académico e o receio em divulgar as invenções, causado pelos riscos

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associados ao atrasa de publicações de patentes como sendo as razões encontradas entre os membros da universidade para não se envolverem em actividades de transferência de tecnologia. Todavia, as quatro spin-offs estudadas são casos que não pereceram sob esses e outros motivos que desincentivam o acompanhamento da transferência de tecnologia. Assim, os motivos associados à transferência da tecnologia estiveram relacionados com o elevado grau de inovação da tecnologia e o seu potencial de aplicação no mercado. Tecnologias revolucionárias e novos conceitos, bem como a pertinência de aplicação da tecnologia no mercado foram as razões base da transferência das patentes. Contudo, esta transferência é caracterizada por ser para uma nova empresa criada para explorar essa tecnologia, tendo como seus fundadores alguns dos inventores da patente. É então que se pode dizer que surge a spin- off universitária. As spin-off universitárias abordadas foram fundadas por professores universitários, com alunos de doutoramento no caso das spin-off da Universidade do Minho, possuindo como base patentes universitárias. Esta definição vai de encontro com a que foi apresentada por Clarysse e Moray (2004). Criadas para explorar a tecnologia da patente, estas spin-offs nem sempre possuem um modelo de negócio baseado unicamente na exploração da patente, surgindo a prestação de serviços e consultoria como outras actividades que a empresa está envolvida. Com a excepção da Micropolis, em todas as spin-offs uma ou as duas actividades anteriormente referidas estão presentes, sendo por vezes estas actividades que sustentam a empresa numa fase inicial.

A motivação para criar uma nova empresa foi distinta entre os quatro casos. A Micropolis, spin-off UM 2, resultou da motivação pessoal do professor universitário que tendo um histórico com experiência na ligação à indústria, viu no conhecimento inovador da tecnologia e na concorrência inexistente um impulso para criar uma spin-off que fosse o canal de transferência de tecnologia. Por sua vez, a Ambisys, spin-off UM 1, teve um impulso com um sentido oposto, pois em vez de ser a motivação pessoal como no caso da Micropolis, que impulsionou a criação da spin-off, foi o interesse de um grupo financeiro na tecnologia que originou a spin-off. A Medmat Innovation comunga com a Ambisys, na existência do interesse de um grupo financeiro externo que impulsionou o crescimento da spin-off. Todavia, o motivo de criação da spin-off Medmat Innovation é distinto do motivo de criação da Ambisys, pois a criação da Medmat Innovation, anterior ao interesse do grupo, foi motivada pela vontade dos professores em explorar a patente. A esta motivação pessoal acrescentou-se o facto da área médica onde a tecnologia seria aplicada possuir forte regulamentação. Os

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professores fundadores da Fluidinova viram na criação da spin-off o melhor canal para transferir as patentes, que associado a relevância da invenção, ao potencial valor comercial e ao interesse externo no projecto tornaram mais convicta a vontade de criar a spin-off.

Di Gregorio e Shane (2003) e Clarysse et al. (2005) argumentam que um elevado envolvimento entre a universidade e a spin-off podem trazer benefícios tais como a maior probabilidade de sobrevivência, melhor desempenho e efeitos mais positivos na reputação. Por sua vez, Johansson et al. (2005) e Rothaermel e Thursby (2005) defendem que as ligações com à universidade mãe asseguram um crescimento mais estável mas em contrapartida podem causar situações de dependência e retardar o desenvolvimento da spin-off. Assim procurou-se identificar mecanismos de ligação à organização mãe nos casos estudados. No que diz respeito à reputação, a Universidade do Minho e a Universidade do Porto possuem marcas que concedem às spin-offs universitárias geradas dentro delas. Estas marcas transmitem às spin-offs uma imagem exterior que as liga a instituições conhecidas com os créditos públicos. Na Universidade do Minho, é a marca “Spin-off Universidade do Minho” a marca usada pelas spin-offs desta academia. O uso da marca está dependente da spin-off ter ou não o estatuto da universidade da universidade, sendo que este estatuto é alcançado quando a spin-off tem uma ligação à universidade, nomeadamente através da exploração de conhecimento ou tecnologia da Universidade do Minho. Por sua vez, na Universidade do Porto o uso da chancela “Spin- off U.Porto” está dependente de critérios presentes num regulamento elaborado para a concessão da marca. Estes critérios estão relacionados com o facto da spin-off ser uma empresa constituída por membros ou ex-membros da Universidade do Porto, tendo a empresa um contracto de base tecnológica. Assim, para que a spin-off tenha a chancela da universidade supõe-se que exista um conhecimento tecnológico avançado com laços com a universidade. Apesar de existirem diferenças na concessão da marca universitárias, na Universidade do Minho e na Universidade do Porto estas quando são concedidas não possuem uma validade, podem ser sempre usadas enquanto os critérios de concessão da marca continuarem presentes.

Este mecanismo de ligação à universidade mãe, segundo a caracterização de Johansson et al. (2005), é um dos laços fortes que caracteriza as relações bidireccionais, de confiança e informais que se mostram importantes no desenvolvimento do negócio. Todavia, segundo estes autores em consonância com Kirwan et al. (2006) advertem para o facto de que para além dos laços fortes, também a construção de laços fracos é muito importante para o futuro.

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No caso das spin-offs universitárias, a universidade mãe é aquela com quem a spin-off estabelece laços fortes que ajudam a lançar o negócio, contudo o estabelecimento de laços fracos através da construção de redes de contactos com clientes, fornecedores, parceiros estratégicos é fundamental. Entre as quatro spin-offs universitárias analisadas o facto de ser uma spin-off universitária com o nome da universidade de onde é originária foi reconhecido nos quatro casos como algo muito profícuo na construção de uma imagem pública e de uma rede de contactos. A presença da universidade na transferência da tecnologia para a spin-off mostrou-se maior numa fase inicial através das estruturas de apoio à transferência de tecnologia e empreendedorismo universitárias. Posteriormente, a universidade mãe revelou-se importante no estabelecimento da rede de contactos, sendo esta rede construída muitas vezes via universidade, via financiador da spin-off e via contactos pessoais do empreendedor.

Na constituição da equipa empreendedora a diversidade da formação académica dos fundadores da spin-off e a formação ou não formação dos fundadores na área da gestão são dois tópicos debatidos por alguns autores. Grandi e Grimaldi (2005) referem no seu estudo que é aconselhada versatilidade na formação dos membros da equipa empreendedora, facto que não esteve muito presente na formação das equipas fundadoras das quatro spin-offs analisadas. A formação da equipa localizou-se sempre dentro da área a que a tecnologia se encontrava, embora a Fluidinova, spin-off UP 2, seja aquela que apresenta uma maior variedade de áreas da engenharia dentro da formação académica dos fundadores. Referido por Laukkanem (2003), Feldman e Desrochers (2004) e Kirwan et al. (2006) a pouca experiência e a falha de competências na área da gestão em académicos empreendedores foi um cenário que esteve presente entre os membros fundadores das spin-offs. Em todas as spin-offs, a ausência de formação em gestão do académico fundador da spin-off foi um facto, tendo este obstáculo sido contornado através da contratação de gestores, da entrada de um business angel ou da incorporação da gestão da empresa na gestão do grupo financiador. Todavia, como Aguirre et al. (2006) afirmou sobre o papel das universidades na promoção da formação em gestão deste académicos empreendedores, na Universidade do Minho e a Universidade do Porto promovem acções dentro deste âmbito.

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