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3. Década de 70: consolidação do oligopólio

3.4. Agonia e queda do Sistema JC

Na década de 70, a situação foi se agravando. Mesmo assim, o Sistema Jornal do Commercio enviou um correspondente à Copa do Mundo de 1970, no México: Francisco José, o que fora demitido do JC por causa da denúncia que fez em relação à promoção do Santa Cruz Futebol Clube. O jornalista diz que, à época, o JC estava pagando salários em “vales”, de tão crítica que era a situação. Para a compra de sua passagem para o México, foi preciso ele ficar na porta do JC, esperando os jornaleiros e gazeteiros chegarem com o dinheiro das vendas e, ali mesmo, já ia recolhendo cédulas e moedas até chegar a quantia necessária. No México, Francisco José conheceu e fez bastante amizade com seu ídolo na profissão: Armando Nogueira, da Central Globo de Jornalismo.

...levei um câmera da TV Jornal [do Commercio]. Não sabia usar nenhuma câmera fotográfica, mas me ensinaram a usar a câmera de cinema e consegui entrar três vezes no estádio para filmar jogos e treinos. (...) ...onde Armando Nogueira chegava eu estava lá, trabalhando. Eu passava boletim para a Rádio Jornal [do Commercio], filmava para a televisão e escrevia para o jornal. (...)

O Jornal do Commercio estava completando 50 anos. E, mesmo em crise, conseguiu patrocínio, promoveu um concurso de reportagem cujo prêmio era uma viagem para cobrir a copa. (...) Ganhei o concurso e a passagem. (...). O dinheiro era suficiente, porque lá eu trabalhei também para outras emissoras. Por exemplo, todo mundo tinha que mandar matérias de uma cidade do interior onde o Brasil treinava para a Cidade do México. Então, o grupo alugou um carro para levar fotografias, textos e fitas para o Centro de Imprensa, de onde tudo era enviado para o Brasil. Então, eu assumi o volante e ganhava de cada um deles 10 dólares para fazer o transporte. (...) Então o meu trabalho saía de graça, por que eu levava o meu malote também e não tinha que pagar, durante toda a fase de treinamento. (...) Quando voltei, o JC estava em dificuldade, e aí fui procurar trabalho (COSTA e OLIVEIRA, 2006, p. 216).

Paulo Pessoa de Queiroz procurou o publicitário e ex-apresentador do Noite de Black-tie, Luiz Geraldo e o pediu ajuda. A solução apontada por ele foi o apelo à pernambucanidade, já explicada aqui pelo professor Darcier Barros. Luiz Geraldo acabaria sendo um dos principais funcionários no comando da emissora, nesta fase. “O chamamento era para que a gente promovesse uma forma de criar receita para a empresa. Eu disse: ‘Só temos um caminho para buscar receita sem prejuízo do dia-a-dia da empresa. Existem alguns anunciantes que são admiradores da empresa e precisamos falar francamente com eles. Vamos (...) buscar a pernambucanidade de cada um (...)’. E isso durou três anos” (SANTANA, 2007, 119).

Em 1972, o grupo recebeu a primeira intervenção administrativa e Alcides Lopes, ex- funcionário, assumiu o comando. A emissora seguia reprisando filmes e já não mais levava as novelas da Globo, o Jornal Nacional e o Programa Sílvio Santos ao ar, pois, naquele ano, Roberto Marinho inaugurou, no Recife, a TV Globo Nordeste, com toda a sua programação gerada do Rio de Janeiro, afora os telejornais locais. Jorge José B. Santana, que retornara à emissora depois de um período na Bahia, numa negociação, em São Paulo, com distribuidoras de filmes às quais a TV Jornal do Commercio devia bastante dinheiro, conseguiu, com grande habilidade, a compra de 208 longas-metragens, com direito a uma reprise de cada um. Pereira de Souza, que representava a emissora na capital paulista, foi o avalista do acordo – uma exigência das distribuidoras. Os filmes foram pagos por patrocinadores conseguidos por Pereira de Souza, que agiu com muita habilidade nesse processo (SANTANA, 2007).

De 1973 a 1976, foi ao ar o programa Sinal Fechado, apresentado pelo ator e diretor José Pimentel, que participara do Teleteatro e de A Moça do Sobrado Grande, e que, naquele momento, dirigia a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Brejo da Madre de Deus, Agreste. O programa marcou época na televisão pernambucana:

Em plena decadência do canal-2, eu fiz (...), de graça, (...) uma hora do programa “Sinal Fechado”. Por causa dele fiquei marcado pela ditadura militar. Ainda hoje as pessoas falam nesse programa. (...) Falei na morte de Vladimir Herzog, que eu conheci quando ele veio ao Recife para um curso de alfabetização de adulto na TV-U. Descobri uma caveira no depósito de cenário do canal-2 e, falando fanhoso, como aprendi no meu tempo de menino que as almas falavam, eu conversava com Vladimir (...). Aprendi a driblar a censura... (...) Eu usava filmes de consulado; mulher taitiana de peito de fora dançando qualquer música que eu escolhesse, qualquer uma dava certo. E as mulheres dos coronéis a telefonarem para a censura reclamando. Eu levava o meu programa em dois sacos de material, sacos que eram estragados na hora pelo equipamento de reprodução da TV. Eu levava recorte de jornal e usava como chamada para as notícias. Dirigia tudo sozinho. Uma câmera em mim, outra nos bonecos. Tinha robô, uma boneca de pano que eu manipulava abertamente, um telefone velho que eu usava para ligações de telespectadores inventados por mim. (...) ... mil coisas desse tipo (SANTANA, 2007, p. 122).

Neste mesmo ano de 1973, o padre João Câncio, pároco de Serrita, interior de Pernambuco, procurou a emissora propondo que ela gravasse e levasse ao ar a, hoje tradicional, Missa do Vaqueiro, que teve sua primeira edição em 1971. A missa é uma homenagem a Raimundo Jacó, vaqueiro atocaiado e morto no dia 8 de julho de 1954 e que foi imortalizado na música A Morte do Vaqueiro, de Luiz Gonzaga, seu primo. A cerimônia litúrgica era organizada pelo padre e pelo poeta Pedro Bandeira. Com bastante divulgação, o VT da Missa, que hoje reúne milhares de pessoas, foi ao ar. Nessa fase foi ao ar também os programas Cidade contra Cidade;

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2 na música, com José Pimentel e Carmem Peixoto; e Mulher, também com Carmem Peixoto, que interpretara Laura de Castro e Silva, a mocinha de A Moça do Sobrado Grande. Havia ainda o Verdade ou Mentira, feito pelos jornalistas Alexandrino Rocha, Aldo Paes Barreto, Fernando Menezes – que haviam feito o Nordeste Confidencial, também na Jornal do Commercio – e mais, Antonio Onias e Lula Carlos. Alexandrino fora assessor de Arraes e, depois do golpe, submetido à tortura. Por essa época, a TV Jornal do Commercio passou a retransmitir a programação da Rede de Emissoras Independes (REI), capitaneada pela TV Record, de São Paulo. Durou até 1976, quando a REI se desfez. A TV Jornal do Commercio passou, então, a retransmitir a TVE, do Rio de Janeiro (TOLEDO, 17.09.2000). Em 1977, passou para a Rede Bandeirantes que, com a compra da TV Guanabara, no Rio de Janeiro, começava a montar sua rede.

Ainda em 1977, uma segunda intervenção administrativa, composta pelo usineiro e prefeito do Recife, Antonio Farias, da Arena; pelos irmãos Alberto e Lindalvo Galvão, empresários do ramo atacadista; e por José Ivanildo, plantador de cana-de-açúcar e irmão do governador, Moura Cavalcanti11, também da Arena, claro12. A idéia era que esse grupo viesse a assumir o controle acionário. Mais uma vez, aflora a pernambucanidade, aplicada agora pelo Governador. Quem conta é o, à época deputado estadual, pela Arena, José Mendonça:

Tratava-se de uma empresa tradicionalmente de Pernambuco e o Governador Moura, na hora, ligou para o ministro da justiça, Armando Falcão, dizendo que não admitia que a empresa saísse de Pernambuco, das mãos de pernambucanos, para quem quer que fosse. Armando Falcão se comprometeu a ajudá-lo nessa operação. O governador disse: “Então vamos arranjar um grupo da terra para ficar à frente”, E constituiu-se um grupo ... (...). Eu fui à casa de Dr. Francisco Pessoa de Queiroz (...) para comunicar que o governador estava procurando uma solução (...) O Dr. Pessoa ficou muito sensibilizado e pediu que telefonasse ao governador na hora para agradecer (...). E o resultado é que esse grupo recebeu apoio total do governo, através do Banco do Brasil (SANTANA, 2007, p. 127).

Foram comprados longas-metragens e a programação ao vivo retomada, com programas apresentados pelos comunicadores Jota Ferreira, Samir Abou Hana e o vereador Paulo Marques, que, em 1982, com o sucesso do programa, se elegeria deputado estadual. No mesmo ano, Jota Ferreira seria eleito vereador.

O grupo Jornal do Commercio apenas “respirou” um pouco, mas não resolveu seus problemas de ordem financeira e, logo, a situação piorou. O Grupo que o administrava não se dispôs a investir a quantia necessária à sua recuperação (SANTANA, 2007).

11 Governou Pernambuco de 1975 a 1979. Tinha em sua assessoria de imprensa, Fernando Menezes, que, na TV Jornal do Commercio, fizera o

Nordeste Confidencial e o Verdade ou Mentira.

12 O golpe militar extinguiu as eleições diretas para governadores e prefeitos de capitais, de forma que, nos pleitos indiretos para os governos