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PRIMEIRA FASE DA TV GLOBO NORDESTE

A Globo-Recife era uma prima pobre. Paulo Cesar Ferreira

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1. Primeira fase

1.1. Panorama geral

Em abril de 1973, houve a primeira alteração no quadro de executivos da emissora. Paulo Cesar Ferreira1, vindo da matriz, assumiu a direção regional da Globo Nordeste, em substituição a Antonio Lucena que, acometido por problemas de saúde, deixara a direção da emissora, vindo a falecer logo depois. Paulo Cesar havia sido, antes de ingressar na Rede Globo, diretor da Rádio Nacional e também assessorara o gabinete de Delfim Neto, ministro da Fazenda no governo Costa e Silva, de onde foi demitido após ter esmurrado – no Restaurante Bistrô, em Copacabana – o jornalista Oliveira Bastos, que, em sua coluna na Tribuna da Imprensa, criticara o ministro.

Ferreira estava em casa, lamentando a briga, quando atendeu o telefone e uma voz rouca, sem se identificar, lhe disse: “Parabéns pelo soco. Eu faria o mesmo”. Era Roberto Marinho, que gostara do seu trabalho na Rádio Nacional, convidando-o a ir para a Globo. Como fora contratado pelo dono da rede, e não pelo diretor geral, Walter Clark, Ferreira ficou um tempo sem função definida na emissora. Clark ofereceu-lhe o cargo de diretor regional no Nordeste, com direito a 5% dos lucros de sua área. Ferreira chegou ao Recife querendo expandir os negócios da Globo para todos os lados (CONTI, 1999, p. 61).

Em seu livro de memórias, Paulo Cesar Ferreira (1998, p. 197) diz como ficou quando recebeu o convite para a direção regional da Globo Nordeste: “[eu já] ...sonhava alto quando Borjalo tratou de me trazer para a terra (...). 'No Nordeste, você vai ser como a Rainha da Inglaterra: governará sem mandar'. (...) Na pirâmide global, o diretor regional era subordinado à cúpula carioca e, em princípio, não detinha lá grandes poderes”.

É que o diretor regional era chamado, nos bastidores, de “rainha da Inglaterra” pois, na prática, tinha poucos poderes, já que as diretorias comercial, de jornalismo, de engenharia, de programação e administrativo-financeira, se reportavam as centrais globo congêneres, com sedes no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Era uma função representativa com o objetivo de criar laços sociais com as elites políticas e empresariais locais. Paulo Cesar Ferreira promoveu badaladas atividades sociais:

...descobri a parceira ideal para a nobre função de relações-públicas no Recife: a arquiteta, artista plástica, decoradora, gourmet e festeira incorrigível, Sílvia Pontual, casada com Zinho, boêmio da melhor safra. O casal tinha experiência de sobra no ramo, pois era proprietário do restaurante Mourisco – meu preferido, além dos excelentes Restaurante Leite e Bar Buraco da Gia. Com imaginação de sobra, e com o apoio da Globo-Recife, Sílvia promoveria as festas mais inesquecíveis da história da cidade desde o governo holandês de Maurício de Nassau. Entre tantas comemorações, em 1974 dei um grande

1 O carioca Paulo Cesar Ferreira entrou na Globo em 1969. Ficou na direção da Globo Nordeste até dezembro de 1977, quando voltou para a

jantar na minha casa de Boa Viagem para receber o governador do Estado. Tudo na mais perfeita sofisticação, traje black tie, e uma surpresa para os convidados: chamei um grupo local para fazer o som ao vivo, que apresentou em primeira mão a música Cavalo Marinho. Era nada menos que o Quinteto Violado (...)

Outra pessoa que muito colaborou (...) foi a jornalista Hildegard Angel. Eu a contratei para que levasse cinqüenta casais de peso a uma festa pré-carnavalesca em Olinda, entre artistas e colunáveis. A cidade parou (FERREIRA, 1998, p. 204).

A direção regional tinha ainda sua assessoria de comunicação que, em 1974, ganhou o reforço do jornalista Paulo Jardel2 e, em 1975, de Alexandrino Rocha3, que fizera o Nordeste Confidencial, no canal 2, e assessorara o governador Arraes. Apesar da condição de “rainha da Inglaterra”, a gestão de Paulo Cesar Ferreira, aliada a outros fatores e diretores, foi responsável por alguns avanços estratégicos que culminaram em um processo transitório a uma segunda fase da história da emissora.

Na área comercial, na qual a Globo Nordeste já tentava estabelecer uma relação profissional com o mercado anunciante e as agências, Ferreira acabou com os slides nos intervalos comerciais. Para isso, contou com a ajuda do diretor comercial José Luiz Franchini4, executivo importado da matriz em 1974 e que, no Recife, melhorou o faturamento. Na programação local, o avanço foi tímido. Caso fosse maior, talvez não tivesse, junto aos outros fatores, chegado não apenas a uma transição, mas sim a uma, propriamente dita, segunda fase da emissora. É que, nesse campo, Paulo Cesar Ferreira, junto com o diretor de programação Wilson Emannoel5, outro executivo importado da matriz conseguia, no máximo, transmitir eventos em “janelas” da programação nacional, à custa de muita negociação.

Na área administrativa que, no período de Ferreira, teve como titulares José Jorge Machado6 e, depois, Jorge Afonso Bittencourt7, ambos importados da matriz, foram verificados alguns avanços também.

A centralização da produção era, por si só, a própria concepção empresarial da Globo. Daí a importância de que os executivos dos principais departamentos8 – o núcleo duro - fossem,

2 O carioca Paulo Jardel Cruz ficou na Globo Nordeste até novembro de 1998. Era pessoa próxima a Roberto Marinho e participou do

trabalho de prospecção da emissora, conversando com autoridades, procurando o melhor lugar para instalá-la.

3 O pernambucano Amaro Alexandrino Rocha ficou na Globo Nordeste até junho de 1980, quando optou pela Fundação Joaquim Nabuco. 4 O paulista José Luiz Franchini Ribeiro veio da Central Globo de Comercialização, em São Paulo. Ficou no cargo até dezembro de 1977,

quando retornou à matriz.

5 Oriundo da TV Globo do Rio de Janeiro, o fluminense Wilson Emannoel de Almeida chegou à Globo Nordeste em outubro de 1973. Saiu

em março de 1981 (RH Globo NE).

6 O paulista José Jorge Machado foi diretor administrativo de maio de 1974 a julho de 1976.

7 O carioca Jorge Afonso Silva Bittencourt ficou na Globo Nordeste de 1976 a março de 1983, quando retornou à TV Globo do Rio de Janeiro. 8 Leia-se, por principais diretorias, as pelas quais os lucros passavam e/ou que eram responsáveis por eles. A exceção ficava nas diretorias de

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de alguma forma, comprometidos com a lógica da matriz, ou seja, treinados e enviados por ela. Esses dirigentes cumpriam o papel de intelectuais orgânicos no processo de construção hegemônica da emissora. No release pós-inauguração, enviado pela Globo Nordeste aos jornais, uma referência a 10 deles: “Cento e vinte9 nordestinos foram contratados. Dez homens do sul trouxeram sua experiência. Publicistas, escriturários, contadores, jornalistas, administradores e universitários fazem a partir de ontem, a mais nova televisão do Brasil” (JORNAL DO COMMERCIO e DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 23.04.1972).

Tanto que, quando o primeiro diretor de programação da Globo Nordeste, Eduardo Lafon, deixou o cargo, em 1973, a matriz, na pessoa de Boni, não deixou que o preferido de Antônio Lucena, Renato Phaelante10, ocupasse o cargo e enviou Wilson Emannoel. Phaelante era da coordenação de promoções, ligada ao Departamento de Programação. Segundo ele, quando “a Globo Recife fazia alguma coisa de interesse nacional, vinham 70% dos profissionais da rede para adaptar tudo à sua linguagem nacional” (SANTANA, 2007, p. 371).

Além do perfil de relações públicas – que promovia badaladas festas e jantares – Paulo Cesar Ferreira ficou conhecido também pela expansão que promoveu na área de cobertura do sinal da Globo Nordeste, que passou a chegar com mais qualidade e de forma legalizada aos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Contou com o apoio de Eider Carneiro11, diretor de engenharia. Roberto Cavalcanti (2007), jornalista que está na Globo Nordeste desde a fundação, usou a expressão “vaqueiro” para classificar Paulo Cesar e seu estilo de trabalho, em razão de ele ter levado o sinal da emissora para outras localidades. “Peitudo” foi o termo usado por Phaelante (2007). Alexandrino Rocha (2007) preferiu “trator” e “cangaceiro”. Paulo Jardel (2006), “desbravador de mercados”.

Em relação ao Departamento de Jornalismo, Paulo Cesar Ferreira manteve-se na condição de “rainha da Inglaterra”. Foram muitos os conflitos com o diretor de jornalismo, Edson Rubi. Ferreira tinha o hábito, segundo Rubi (2007), de querer ser notícia ou de querer dizer o que devia ser notícia. Ou seja, o diretor de jornalismo era sempre pressionado a noticiar as intensas e

fazer o sinal pegar bem era o suficiente, embora, com as condições dos equipamentos da Globo Nordeste, não fosse uma tarefa muito fácil. Na segunda, era necessário apenas fazer jornalismo e, de preferência, com profissionais da comunidade, em função desse setor ser o que mais se relacionava com a população, já que as produções locais se limitavam aos telejornais.

9 Na verdade, 44 funcionários, segundo a Coordenação de Recursos Humanos da Globo Nordeste.

10 O pernambucano Renato Phaelante da Câmara Lima Neto ficou na Globo Nordeste de 1972 a 1982, quando optou pela Fundação Joaquim

Nabuco, onde está até hoje, como pesquisador. Era, conforme já exposto nesta dissertação, membro do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP).

11 Oriundo da TV Globo do Rio de Janeiro, o mineiro Eider Carneiro da Cunha chegou à Globo Nordeste em abril de 1976. Por problemas de

badaladas atividades sociais que o diretor regional desenvolvia. Por causa disso, foram muitas as vezes em que Rubi precisou recorrer a Armando Nogueira, da Central Globo de Jornalismo. Às vezes, o diretor de jornalismo levava a melhor, às vezes, não.

No seu livro de memórias, Paulo Cesar Ferreira, ao citar e elogiar sua equipe, não relaciona ninguém do Departamento de Jornalismo, tampouco o diretor Edson Rubi e/ou o seu substituto, o jornalista Roberto Menezes12, que assumiu o cargo em janeiro de 1976, convivendo 24 meses com Paulo César: “Meu negócio era inventar moda. Tudo com o apoio dos (...) companheiros de trabalho. (...) o gerente comercial, José Luiz Franchini Ribeiro, os assessores Paulo Jardel Cruz e Heitor Maroja, o gerente de vendas Cléo Nicéas, o assistente de programação Wilson Emanuel, o gerente administrativo-financeiro Jorge Afonso Bittencourt e o gerente técnico Eider Carneiro” (FERREIRA, 1998, p. 207).

Para o jornalista Ivanildo Sampaio (2007), que fora do Sistema Jornal do Commercio e que, de 1976 a 1982, trabalhou na Globo Nordeste, Paulo Cesar Ferreira era visto como pessoa ligada aos militares, ao regime autoritário, razão pela qual, segundo ele, o diretor regional não tinha a simpatia da redação, embora, afirma Sampaio, tenha sido um bom diretor.

Com a demissão de Walter Clark do comando geral da Rede Globo, em maio de 1977, o próprio Roberto Marinho assumiu a direção da televisão. Com isso, Paulo Cesar Ferreira, chamado por Joe Wallach13, voltou à matriz, em dezembro de 1977, para assumir a Central Globo de Serviços e Patrimônio.

Em seu lugar, na direção regional da Globo Nordeste, ficou Leopoldo Collor de Mello14, filho do ex-governador e, à época, senador, pela Arena/AL, Arnon de Mello15, ex-sócio de Roberto Marinho, em empreendimentos imobiliários. “Um sócio que [Roberto Marinho], desconfiava, poderia ter lhe passado a perna em alguns negócios. Mas nunca teve certeza de nenhuma desonestidade de Arnon de Mello” (CONTI, 1999, p. 121).

A família Collor de Mello era dona do Sistema Gazeta de Alagoas. Leopoldo Collor chegou a ser superintendente do grupo. Considerado um executivo ambicioso, Leopoldo não tinha interesse em manter-se no comando de um império provinciano, tampouco se interessava em herdar a liderança política de sua família. “Dizia não entender como um sujeito subia num

12 O pernambucano Roberto Menezes de Oliveira ficou no cargo até março de 1984 (RH Globo NE).

13 O norte-americano Joseph Wallach era o homem do Time-Life no acompanhamento à Globo. Com o fim do acordo, Joe foi contratado pela

empresa de Roberto Marinho.

14 Oriundo da Central Globo de Comercialização, o carioca Leopoldo Affonso Collor de Mello ficou na TV Globo Nordeste até abril de 1982,

quando assumiu a direção regional da TV Globo de São Paulo.

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palanque e gritava: ‘Povo de Tatuamunha...’ e, entre os irmãos, debochava de Alagoas e dos alagoanos. Arrumou um emprego na Globo e mudou-se para São Paulo” (CONTI, 1999, p. 59).

Ou seja, durante toda sua gestão à frente da Globo Nordeste – que durou quatro anos - Leopoldo Collor sempre se empenhou em crescer, enquanto executivo, e retornar à matriz, o que ocorreu em 1982, quando ele assumiu a direção regional da emissora mais importante do grupo, do ponto de vista comercial, a TV Globo de São Paulo. Assim como Paulo Cesar Ferreira, Leopoldo Collor de Melo, enquanto esteve à frente da Globo Nordeste, se relacionou com as elites locais, especialmente com a classe política. Embora não fosse de promover megaeventos, como fazia seu antecessor, costumava receber – em períodos festivos, como carnaval e São João – autoridades em grandes festas que realizava em sua casa, com a presença de artistas (NICEAS, 2006). Assim como Paulo Cesar Ferreira, Leopoldo Collor também tentava interferir nos critérios editoriais do Departamento de Jornalismo (CARVALHO, 2007). Aliás, foi em sua gestão que este departamento se instalou no Morro do Peludo, pois, antes, a redação funcionava no centro do Recife, distante dos estúdios, o que provocava muitos transtornos. Foi também na gestão de Leopoldo que o sinal da Globo Nordeste chegou ao interior de Pernambuco. Sobre ele, Paulo Jardel declarou: “Leopoldo era um 'poseur', que fazia questão de ser chamado sempre de 'doutor'” (SANTANA, 2007, p. 269). Leopoldo chegou a demitir Paulo Jardel, sendo obrigado, pela matriz, a readmiti-lo no dia seguinte, porém o tirou da assessoria de comunicação, ficando Jardel, na coordenação de infra-estrutura, ligada ao Departamento Administrativo-financeiro. Paulo Jardel embora nunca tenha ocupado funções de direção na emissora, era uma espécie de “olho do dono”, dada a sua boa relação com Roberto Marinho16.

1.2. Expansão

No dia seguinte à inauguração da TV Globo Nordeste, um domingo, o Jornal do Commercio publicou: “Do Grande Recife para o Nordeste”. Já o Diario de Pernambuco: “TV Globo Canal 13 – de Olinda para o Nordeste". Embora os títulos fizessem referências ao Nordeste como área atingida pela emissora, o sinal da Globo Nordeste chegava apenas à população da região metropolitana do Recife e, mesmo assim, com qualidade discutível. O primeiro transmissor da Globo Nordeste, de fabricação americana, da marca RCA, tinha apenas 5 Kw de potência (ROCHA, 2002). Segundo Paulo Jardel “... a Globo local ficava com a sucata de

suas coirmãs, de fora. O pessoal técnico (...) reclamava muito do recebimento do que sobrava da TV Globo de Belo Horizonte, por exemplo, um transmissor muito fraco”. (SANTANA, 2007, p. 268). Phaelante (2007) afirma que existiam bairros no Recife em que o sinal da Globo Nordeste chegava muito mal. Logo após inaugurada, a Globo Nordeste publicou nos jornais, sob o título “REDE GLOBO DE TELEVISÃO”, uma dica para boa sintonização: “Informe à Rede Globo de Televisão, como você está recebendo som e imagem do canal 13, pelo telefone 211199 ou por carta, para o Edifício Ambassador – Avenida Conde da Boa Vista, 735. ATENÇÃO: Para perfeita recepção do Canal 13 – canal de alta freqüência, é aconselhável o uso da antena externa” (REDE GLOBO DE TELEVISÃO, 25.04.1972).

Pelas palavras do primeiro diretor regional, Antônio Lucena, na inauguração da emissora, a idéia era que a Globo Nordeste viesse a ser sintonizada no Nordeste inteiro: “... plano de expansão para que nosso sinal de transmissão atinja plenamente toda a região nordestina. De Alagoas até o Rio Grande do Norte, nesta primeira tapa. A TV Globo Nordeste vai servir a 300 mil aparelhos de televisão somente na capital de Pernambuco. Em toda área inicial teremos 450 mil televisores” (DIARIO DE PERNAMBUCO E JORNAL DO COMMERCIO, 23.04.1972).

A idéia de chegar a todo o país fazia parte do ideal político da Globo e dos militares de integração nacional.

Ao longo da década de 1970, para efetivar a montagem da rede, a Globo não se contentou em utilizar o sistema de microondas da Embratel. Investiu na construção de rotas próprias não só para interligar suas emissoras como também para conduzir os sinais dos grandes centros até cidades menores, onde foram instaladas estações retransmissoras.

Ao dispor dessas rotas e dessa malha de repetidoras e retransmissoras, que lhe permitiam alcançar o interior do país, a Globo se colocava numa posição muito superior às suas concorrentes. Ainda assim, parte de sua programação nacional era exibida em fitas de videoteipe remetidas pelas “cabeças de rede...” (MEMORIA GLOBO, 2004, p. 50).

Embora Antonio Lucena tenha feito referência, como áreas cobertas pelo sinal da Globo Nordeste, aos estados de Alagoas, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, estes, assim como o interior pernambucano, recebiam apenas “chuviscos”.

A emissora de Pernambuco ainda era um sonho, com soturnos tons de pesadelo (...) Os sinais da emissora, gerados da capital pernambucana, chegavam quase por milagre a João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, e ao Rio Grande do Norte. Tudo sem autorização do governo federal. (...) Sem sinal legal, era impossível exibir noticiários locais nessas regiões ou cobrar mais dos anunciantes pelo privilegio de atingir telespectadores em estados vizinhos. Por isso, enquanto arrumava a casa de Recife, já estava de olho no próximo objetivo. O alvo era a expansão, legalizada, da Rede Globo, pelo Nordeste. Uma espécie de colonialismo eletrônico que estenderia o império global a praias e sertões (FERREIRA, 1998, p. 202).

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No decorrer da década de 70, a programação nacional da Rede Globo, gerada pela cabeça- de-rede, no Rio de Janeiro, foi se espalhando pelo Nordeste, através do sistema de afiliação. Em 1973, chegou a Salvador, pela TV Aratu17, a partir de 1º de abril; e a Aracaju, pelo sinal da TV Sergipe18, em 1º outubro. A emissora baiana estava no ar há quatro anos e tinha seus equipamentos básicos das marcas Ampex, RCA e Boch (CAPARELLI, 1982). Já a TV Sergipe, estava no ar há dois anos, transmitindo a programação da TV Tupi. Seus equipamentos básicos eram das marcas RCA, Ampex e Fernesh (CAPARELLI, 1982). Antes desta emissora, os sergipanos captavam alguma coisa da televisão pernambucana: “A TV captada era a Jornal do Commercio do Recife, que instalou no alto do Morro do Urubu uma repetidora (...). As transmissões eram deploráveis, e existiam menos de quinhentos aparelhos de TV” (COSTA, 20.11.2006)

No ano seguinte, 1974, a programação global chegou a Fortaleza, São Luís e Teresina, através, respectivamente, das TVs Verdes Mares19, Difusora20 e Rádio Clube21 (MERCADO GLOBAL, nº 109, 2000). A emissora cearense estava no ar há quatro anos. Seus equipamentos básicos eram das marcas RCA, Ampex, Bosch-Fernesh, IVC e Tektronik (CAPARELLI, 1982). Já os da TV Rádio Clube, que estava no ar há dois anos, eram da marca Maxwell (CAPARELLI, 1982). Em seguida, foi a vez de Maceió receber a programação nacional da Rede Globo:

... Alagoas era o único estado brasileiro sem uma emissora regional de TV. Os poucos aparelhos de TV da capital, Maceió, captavam os sinais cheios de chuvisco e interferência da TV Rádio Clube de Pernambuco, ligada à Tupi, e da TV Jornal do Commercio, ambas instaladas em Recife (PE). (...) Em 27 de setembro de 1975 entrou no ar a TV Gazeta de Alagoas, Canal 7, mais uma empresa da Organização Arnon de Mello, que à época contava

17 “No ar desde 15 de março de 1969, a TV Aratu é a segunda mais antiga emissora da Bahia, tendo sido a primeira a transmitir a programação

em cores. Durante dezoito anos transmitiu a programação da Rede Globo; em seguida esteve filiada à extinta Rede Manchete (de 1987 a junho de 1995) e CNT (junho de 1995 a junho de 1997). Desde junho de 1997 é afiliada do SBT.” (TV ARATU, 2007).

18 Fundada por empresários sergipanos. Afiliou-se à Globo, quando foi vendida ao Grupo Aratu, da Bahia. Em 1981, foi adquirida pela família

Franco, importante oligarquia local. Continua afiliada à Rede Globo.

19 A TV Verdes Mares, canal 10, foi inaugurada em 31 de janeiro de 1970 pelo industrial Edson Queiroz (TV VERDES MARES, 2007),

bastante ligado aos militares.

20 A TV Difusora, canal 4, “Foi criada em 29 de novembro de 1962 e inaugurada 09/11/1963 sendo a primeira TV no Estado do Maranhão”

(TV DIFUSORA, 2007).

21 “...foi inaugurada a TV Rádio Clube de Teresina, canal-4, prefixo ZYD-350, dia 03 de dezembro de 1972, ocasião em que o chamado Colosso

do Monte Castelo passou a denominar-se Edifício Presidente Médici, em cujo governo, através de portaria do Ministro das Comunicações, Higino Corsetti, concretizou-se o sonho. No início a programação exibida aos telespectadores, vinha da REI - Rede de Emissoras Independentes, com programas produzidos por emissoras diversas, filmes ofertados gratuitamente pelas embaixadas, noticiários e pequenas produções locais, além dos programas de auditório. Os comerciais eram feitos ao vivo, ou através da projeção de slides com a voz simultânea dos chamados locutores fantasmas, isto porque estes não apareciam nas mensagens comerciais - somente a voz. Em novembro de 1974, a TV