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Alterações no mercado e na área de cobertura

1. Primeira década

1.7. Alterações no mercado e na área de cobertura

Em 1983, o quadro de “céu de brigadeiro” em relação à concorrência sofre uma alteração. Entra no ar, no canal 6, substituindo a TV Tupi, no dia 5 de junho, a Rede Manchete. Sua torre,

18 A pernambucana Vera de Souza Ferraz chegou à Globo Nordeste em 1977, para a subchefia de reportagem, tendo depois, assumido a chefia.

Foi editora do JN local e, em 1983, assumiu a chefia de redação. Em 1984, passou a responder pelo departamento de jornalismo da emissora, mantendo-se na função por 16 anos.

projetada por Oscar Niemeyer, sugere o que seria uma plataforma de foguetes no ano 2000. Em sua base “ficariam os estúdios e os espaços de uma sonhada exposição permanente de arte, locais de aglutinação de artistas da região, idéia que não chegou a ser concretizada” (SANTANA, 2007, p. 319), afirma os ex-diretor da Manchete, Fernando Luiz da Câmara Cascudo, aquele que, nas eleições de 1962, foi à TV pedir para a classe média impedir a vitória de Arraes. O telejornalismo da Manchete já consegue bons resultados, segundo Rubens Furtado, diretor da rede, em entrevista ao Meio e Mensagem, em 1984: “Nas praças de Recife, Belo Horizonte e Fortaleza, os telejornais da Manchete obtêm índices de audiência em torno de 15 pontos. No Rio (...) uma média de 10 pontos (...). No mercado paulista, (...) já atingiram piques de 12 pontos. Nosso telejornalismo é o segundo lugar de audiência em todo o Brasil” (BOLAÑO, 2004, p. 176).

Ainda no mesmo ano, 1983, no mês de novembro, outra alteração no “céu de brigadeiro”. A programação do SBT passou a chegar a Pernambuco através da TV Tropical, canal 12, Caruaru, a primeira emissora do interior do estado, que chegava ao Recife através do canal 9, retransmissor. Trata-se da emissora do Sistema Detelpe, portanto, estatal. A chegada da nova televisão não impediu que a Globo continuasse usando as retransmissoras do sistema. É que, nesse momento, elas, as retransmissoras, já eram em número maior, de forma que comportavam outra emissora. A TV Tropical chegava a várias cidades do interior e também a Campina Grande19. Havia também a questão contratual, em relação ao uso das retransmissoras do Sistema Detelpe pela Globo, que já não vinha dividindo o espaço com a TV Universitária, conforme depoimento do, à época, diretor da TVU, José Mário Austregésilo:

A Globo fez pressão no governo do Estado e acabou alugando esse sinal com exclusividade (...). A forma como isso correu foi mais absurda ainda, porque o Detelpe tinha um contrato assinado com a UFPE (...) ... dei a notícia ao público do interior, digno de respeito. Um dos argumentos do Detelpe tinha sido que esse público havia feito abaixo-assinado pedindo a substituição do sinal da TVU pelo sinal da TV Globo. Então eu pedi às pessoas que, se isso fosse verdade, telefonassem ou escrevessem confirmando. Meia hora depois que eu saí do estúdio, chegou um fiscal do Dentel, (...) pedindo nossa programação. (...) Liguei para a direção do Dentel e soube que o governo do Estado (...) me acusava de haver “incitado a população do interior contra o governo do Estado”. Nessa época, era governador de Pernambuco o Dr. Roberto Magalhães. Fui ao IV Exército, onde encontrei o coronel Tavares, um grande amigo, que já me recebeu dizendo: “Tentaram puxar o seu tapete, não é?” Esse rolo todo não deu em nada ... (...). Mas a minha reação serviu para que a questão fosse tratada como devia ser. O Detelpe e a TV Globo recuaram temporariamente, os

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Há uma retransmissora do Sistema Detelpe em Campina Grande, estado da Paraíba – canal 5. Segundo Fragoso (2006), havia um engenheiro do Detelpe, Leonardo Palhares, que aos finais-de-semana, viajava para sua cidade natal, Campina Grande. Numa dessas idas-e-vindas, ele percebeu que, através da repetidora de São José do Egito, o sinal do Detelpe chegava, de forma precária, à cidade paraibana. Sabendo disso, a Prefeitura local financiou toda uma estrutura para que o Detelpe instalasse lá uma retransmissora.

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procedimentos normais foram observados, o que me deu tempo de preparar os telespectadores do interior para a nossa saída do ar (SANTANA, 2007, p. 180).

Com o uso exclusivo das antenas retransmissoras do Detelpe, a Globo Nordeste passou a levar ao ar um telejornal estatal. É que o Governo do Estado, quando o uso das retransmissoras era compartilhado, produzia um telejornal diário – Jornal do Interior - com duração de cerca de 15 minutos, que entrava no ar – somente para o interior – através da programação da TVU. Como o uso das retransmissoras passou a ser exclusivo da Globo Nordeste, este telejornal passou a ser visto através da emissora dos Marinho, sempre minutos antes da programação de esta entrar oficialmente no ar – somente para o interior. A feitura do Jornal do Interior era possível graças a uma parceria com a TVU. Para isso, o Detelpe equipou a TV Universitária com alguns instrumentos que não constavam na emissora da UFPE – como um carro de externas – de forma, inclusive, que esta passasse a transmitir seu sinal em cores. A transmissão era feita através da estação da Embratel, em Jaboatão, que mandava para Petrolina, por uma rota reserva. Na produção do Jornal do Interior, estava Ronan Drummond, que havia deixado a Globo para trabalhar no governo de Pernambuco. O Jornal do Interior pode ser considerado o “embrião” da TV Tropical. Sobre o início da emissora estatal, mais uma vez, o depoimento de Tales Antônio, ex-diretor do Detelpe:

Víamos no governador um grande aliado da TV Tropical, considerando a ida do Dr. Roberto Magalhães frequentemente ao estúdio do Detelpe para gravar mensagens aos municípios pernambucanos retransmitidas pelo sistema de interiorização de TV, mas, para nossa surpresa, ele hesitou em ativar de imediato a emissora, por causa do assédio sistemático da Rede Globo, que lhe prometera cobertura nacional ampla e irrestrita, desde que esquecesse a TV Tropical (...). O engenheiro José Múcio Monteiro, novo secretário dos Transportes, Energia e Comunicações, já perto do fim do prazo dado pelo Dentel, nos autorizou a colocar no ar a TV Tropical, em experiência... Firmado um contrato com a rede SBT, o Detelpe gerou uma receita financeira proporcional ao faturamento em comerciais veiculados (SANTANA, 2007,. 381).

Em 1985, a programação nacional da Rede Globo passou a chegar à Ilha de Fernando de Noronha, território federal. Por ocasião de copas do mundo, várias tentativas foram feitas por moradores da ilha, instalando antenas no Morro do Pico e no Morro do Francês, porém sem sucesso (ILHA DE NORONHA, 2007). Em 1982, o governo militar instalou no arquipélago, através da Radiobrás, uma retransmissora, que exibia a programação da TV Nacional de Brasília. Apesar de retransmissora, passou-se a emitir programação local, sob o nome de TV Golfinho, mesmo sem ser uma geradora. Em 1985, a programação da TV Nacional foi substituída pela

programação nacional da Rede Globo, via satélite, direto da TV Globo do Rio de Janeiro. Os militares instalaram também, junto com a retransmissora, uma rádio, que transmitia, gravada, a programação da Rádio Nacional20.

Em 1987, o mercado de televisão pernambucano voltou a sofrer alterações. Após ser procurado pelo ministro da Casa Civil do governo Sarney, Marco Maciel, que queria manter o Sistema Jornal do Commercio nas mãos de grupos pernambucanos, o empresário João Carlos Paes Mendonça, dono supermercado Bompreço, comprou o Sistema JC, depois de mais de uma década nas mãos de vários interventores. Sobre isso, falou Paes Mendonça:

Embora seja sergipano, trago dentro de mim uma grande afeição por Pernambuco, terra que me adotou e me acolheu tão bem. Acho que estava impregnado do espírito de pernambucanidade e esse sentimento me fez enfrentar até a reprovação de minha família (...). O diagnóstico da empresa não era bom, mas resolvi procurar, dentro de minhas possibilidades, os remédios adequados para a sua recuperação (SANTANA, 2007, p. 167).

Paes Mendonça recolocou o grupo, incluindo aí a televisão, agora denominada apenas TV Jornal, na disputa por audiência e faturamento. Logo a TV Jornal trocou a Bandeirantes pelo SBT, rede emergente, fazendo com que a TV Tropical se afiliasse a Bandeirantes. No ano seguinte, durante o governo Arraes, que retornou ao Palácio do Campo das Princesas, a TV Tropical passou a denominar-se TV Pernambuco, e viveu o seu melhor momento, com muitas produções locais, chegando a ganhar prêmios com o Programa Campo Livre, direcionado à população da Zona Rural, em disputas nas quais concorriam programas como o Globo Rural. No ano seguinte, 1988, a Ilha de Fernando de Noronha foi reanexada ao estado de Pernambuco, razão pela qual a retransmissora, sob o nome de TV Golfinho, e a rádio passaram a ser geridas pelo governo do estado, já que o governo do distrito, órgão responsável pela emissora, passou a ser um órgão estadual. Continuou retransmitindo, via satélite, a Rede Globo.

No ano de 1987, a área de cobertura da TV Globo Nordeste voltou a ter alterações. Se antes houve uma expansão, em 1987 houve uma diminuição da área. É que entraram no ar, no dia 2 de janeiro, duas afiliadas globais: as TVs Cabo Branco, de João Pessoa, e Paraíba, de Campina Grande, esta última, em substituição à TV Borborema. Também, dia 1º de setembro, entrou no ar a TV Cabugi, de Natal, pertencente ao então ministro Aluízio Alves, também afiliada global, de forma que, a partir de então, a Globo Nordeste passou a emitir programação apenas para o estado

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Até 1975, não havia sistema de telefonia em Fernando de Noronha. Toda a comunicação a viva-voz com o continente dependia de dois radioamadores que viviam na ilha e davam apoio quando possível. O Ministério das Comunicações ligou Noronha às demais regiões do país, via telefone, em 05/05/75. No início, o sistema era precário, somente melhorando com o satélite da Embratel (ILHA DE NORONHA, 2007).

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de Pernambuco. Essas readequações da área de cobertura já estavam nos planos da Rede Globo, pois era previsível que, com o passar do tempo, seriam montadas emissoras em tais cidades. A verdade é que a cobertura feita, em relação aos assuntos que interessavam aos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, era muito precária.

Em relação ao esporte, só para dar um exemplo, segundo Paulo Moraes – editor de esportes da emissora - (2007), praticamente inexistia qualquer cobertura. O desporto paraibano e potiguar raramente eram abordados. Transmissão de jogos de alguns dos times desses dois estados só se fosse contra equipes do Recife, numa linguagem direcionada para o torcedor pernambucano. Entre as pouquíssimas vezes em que o desporto paraibano e/ou potiguar foi notícia na Globo Nordeste, Moraes (2007) lembra uma matéria sobre Alberi, jogador que marcou época no ABC Futebol Clube. O termo “Nordeste” tinha conotação apenas política na lógica de integração nacional proposta pelos militares, a qual a Globo apoiava e com a qual se beneficiava. Na prática, a emissora sempre foi mais voltada para o público e para o mercado pernambucanos. Com a diminuição da área de cobertura, Cléo Nicéas chegou a pensar na alteração do nome da emissora para TV Globo Pernambuco, porém encontrou a resistência de João Carlos Magaldi, da Central Globo de Comunicação.

Novas alterações na área de cobertura ocorreram em agosto de 1991, com a entrada no ar de duas novas afiliadas globais no interior do estado: no Sertão, a TV Grande Rio, canal 2, de Petrolina - pertencente à família Coelho, importante oligarquia pernambucana - e, no Agreste, a TV Asa Branca, canal 8, de Caruaru – que tinha como um dos principais acionistas o deputado federal Inocêncio de Oliveira, do PFL. Com isso, a Globo Nordeste voltou a atingir, basicamente, cidades próximas ao Recife e também a Zona da Mata. Alguns telejornais da emissora passaram, no entanto, a ser retransmitidos, total ou parcialmente, pelas TVs Grande Rio e Asa Branca. Essas mudanças na área de cobertura, a exemplo das ocorridas quatro anos antes, também estavam previstas pela Globo.

Ainda em 1991, mais concorrentes no mercado de televisão pernambucano. No dia 26 de novembro, começou a chegar ao Recife o sinal da primeira emissora segmentada em canal aberto do Brasil, a MTV, através da retransmissora do canal 27, UHF. Onze dias antes, no dia 15 de novembro, já havia entrado no ar a TV Tribuna, canal 4, Recife, do grupo João Santos, pernambucano, dono da fábrica de cimento Nassau e também do Sistema Tribuna de Comunicação – atuando no estado do Espírito Santo. A nova emissora afiliou-se à Rede

Bandeirantes, obrigando a TV Pernambuco a procurar outra rede, a Record. No entanto, a afiliação da TV Pernambuco à Rede Record durou pouco, pois o governador Joaquim Francisco21, do PFL, cioso da imagem negativa, naquele momento, da Igreja Universal do Reino de Deus, nova dona da emissora paulista e que trocava “farpas” públicas com a Globo, desfez o acordo. Era um período em que o canal pernambucano já começava a entrar em decadência. A emissora estatal passou a levar ao ar a programação da TV Cultura, de São Paulo, que, parcialmente, por essa época, passou a ser vista também pela TV Universitária, emissora que retransmitia a programação da TVE do Rio de Janeiro e que passou a oscilar, diariamente, entre a programação da emissora carioca e a da paulista, o que ocorre até os dias atuais (LOURENÇO, 2006).

Este período acima relatado, no qual, aos poucos, foram surgindo novas emissoras, insere- se na transição para a Fase da Multiplicidade da Oferta, que tem início em 1995, com a aprovação da lei de TV a cabo. É importante perceber que, apesar da multiplicidade da oferta de canais, o mercado de televisão no Brasil continuaria em oligopólio.