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CAPÍTULO 4 A DINÂMICA DE USO DOS RECURSOS NATURAIS

4.2 Agricultura

A produção agrícola nas áreas estudadas não representa peso significativo na economia dos municípios (Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Borba, Tapauá e Canutama), visto que boa parte da produção é destinada ao consumo familiar. Porém, constitui uma importante fonte de renda aos moradores locais 10. O perfil da atividade é diretamente relacionado ao perfil da população residente (origem e hábitos culturais) e às condições ambientais às quais estão sujeitas. Na RDS do Rio Madeira, PAE Botos e Floresta Tapauá, onde as comunidades estão instaladas às margens dos rios, a organização dos plantios ocorre tanto em ambiente de várzea, quanto em terra firme. No PDS Realidade, cujo acesso se dá por meio de estrada, os cultivos são implantados principalmente nas áreas de terra firme, uma vez que as residências localizam-se distantes do rio e por isso as áreas de várzea são utilizadas em menor proporção pelos moradores.

Na várzea, cultivam-se geralmente espécies temporárias (principalmente hortaliças), reconhecidas como aquelas extintas logo após a colheita e plantadas novamente a cada ano, como é o caso da melancia, feijão, abóbora entre outras. Ao contrário das culturas permanentes, espécies com duração superior a um ano e que proporcionam mais de uma colheita, fator que limita seu cultivo na várzea.

Os plantios da várzea podem ser instalados nas praias que se formam com a descida das águas, realizando-se a colheita antes do início da enchente, ou em canteiros suspensos próximos às residências (figura 42), solução tecnológica encontrada pelos agricultores para não interromper o cultivo durante a cheia. Contrariamente à produção agrícola em larga escala, que muitas vezes adapta o ambiente às atividades por meio da drenagem, construção de barreiras ou estruturas de irrigação, no ambiente de várzea, as atividades são adaptadas passivamente ao ambiente, empregando os agricultores soluções que modificam minimamente a base natural dos recursos, portanto, mais adequadas aos princípios da sustentabilidade.

10 A importância da produção agrícola como fonte de renda aos moradores pode ser observada com maiores detalhes no capítulo sobre socioeconomia.

Figura 42: Cultivo em canteiros suspensos.

Foto: NUSEC (2013).

Os subsistemas de plantios são semelhantes nas quatro áreas estudadas. Podem ocorrer em roças, quintais agroflorestais ou em áreas de capoeira. Nas roças e áreas de capoeira são cultivadas espécies perenes (permanentes), cujo destino pode ser tanto consumo quanto a venda, enquanto nos quintais a produção é destinada principalmente para o consumo.

O termo quintal é utilizado para designar o local geralmente ao redor das moradias, manejado (sobretudo em áreas rurais) com o propósito de cultivar espécies alimentícias, medicinais ou ornamentais para atender as necessidades básicas do núcleo familiar. Na região estudada, os quintais apresentam cultivos de espécies frutíferas diversas, com baixa densidade por espécie, sendo muitas vezes possível encontrar uma planta apenas. Geralmente ao lado das casas encontra-se nos canteiros suspensos, o cultivo de plantas condimentares como cebolinha (Allium fistulosum), coentro (Coriandrum sativum L.) e pimenta de cheiro (Capsicum odoriferum), utilizadas como tempero do alimento. À medida que o quintal aproxima-se da mata, as frutíferas são consorciadas com espécies nativas como açaí (Euterpe oleracea), babaçu (Orrbignya speciosa), buriti (Mauritia flexuosa), dentre outras, formando pequenos sistemas agroflorestais (SAFs).

A roça (figura 43) representa áreas de cultivo cuja principal finalidade é a produção de alimentos. Localizada em áreas mais afastadas das residências, pode ser encontrada tanto em ecossistemas de várzea quanto em terra firme. Nas áreas estudadas, os principais produtos das

roças são plantas tuberosas, notadamente mandioca (Manihot spp.) e macaxeira (Manihot spp.), seguindo o padrão encontrado para os municípios, já que a produção de mandioca corresponde a 61,46% da produção agrícola de Humaitá, 73,74% de Manicoré e 82,48% de Tapauá (IBGE, 2011).

Figura 43: Roçado.

Foto: NUPEAS (2012).

Na Amazônia, porém, a roça significa muito mais do que um espaço físico provedor de alimentos. Representa também um espaço de conquista da segurança alimentar da família e de construção de relações sociais. Associada culturalmente no Amazonas à produção de farinha, na roça as relações de parentesco e amizade são reafirmadas durante os mutirões ou ajuris, onde os grupos unem-se para ajuda mútua nas atividades de preparo da área, plantio e colheita (LIMA, 2002; FRAXE, 2007; CAÑETE, 2011). Nestas relações, constroem-se também valores de hierarquia e poder entre os agricultores, pois “quem tem mais roça, tem mais poder”.

Ao estudar o uso da terra no Estado do Pará, Cañete (2004) observou relações semelhantes em torno da roça, o que pode representar um padrão tanto para Amazônia Oriental quanto Ocidental. Assim como no Amazonas, ao reunir toda a família para farinhada (processo de produção da farinha) – figura 44, laços de solidariedade e identidade social são fortalecidos, quando todos os membros se envolvem no processo. A reciprocidade entre os vizinhos também se estabelece, pois não raro é possível encontrar grupos dividindo o mesmo espaço. A organização do trabalho dá-se então em função do tempo: na primeira semana todos

trabalham na produção para uma família e a renda obtida com a venda é destinada a esta. Na semana seguinte, o esforço de todos é destinado para outra família.

Figura 44: Farinhada.

Foto: NUSEC (2013).

A relação de reciprocidade construída em torno dos roçados é denominada por Almeida (2008) de reciprocidade generalizada. Apesar da mão de obra muitas vezes ser estritamente familiar, essas relações não constituem um grupo fechado. As regras de ajuda mútua, ao aproximar os grupos familiares estabelecem níveis de cooperação diversos, permitindo vários arranjos de trabalho nas diferentes etapas do ciclo agrícola. Essas relações estabelecem inclusive critérios para admissão de novos grupos familiares, definindo-se áreas de apropriação comum e áreas individuais.

A reciprocidade generalizada ocorre então na casa de farinha, no forno e demais espaços e materiais compartilhados voluntariamente. Neste aspecto, a relação entre as famílias transcende os aspectos materiais, não considera cálculos econômicos, apresentando-se destacado da vida social, livre de disputas e jogos de interesses econômicos. Porém, os produtos dos roçados não estão sujeitos à partilha e à divisão, ainda que haja cooperação nas etapas anteriores da produção, tratando-se aí sim, a atividade autônoma e econômica da unidade familiar (ALMEIDA, 2008).

Os roçados instalados na Amazônia apresentam diferenças quanto ao ambiente de várzea e terra firme (CAÑETE et al, 2008; AGUIAR e FRAXE, 2011). Na várzea, as roças

são implantadas nos barrancos11 próximos ao rio. A inundação durante a enchente propicia a deposição de uma camada de solo fértil, rica em nutrientes, o que contribui para menor incidência de pragas e doenças nas plantas. Devido à manutenção da fertilidade do solo, os agricultores utilizam o mesmo terreno para plantar por vários anos, minimizando a necessidade de desmatar novas áreas para instalação dos plantios (FRAXE et al, 2011). Para Aguiar e Fraxe (2011) a produção na várzea representa uma importante estratégia de aliança entre o desenvolvimento de atividades econômicas e a conservação dos recursos naturais, pois é possível aproveitar as condições favoráveis de fertilidade dos solos para minimizar a necessidade do uso de insumos químicos.

Nas áreas de terra firme, as roças são implantadas em florestas abertas pelos próprios agricultores de modo tradicional, iniciadas pelas etapas de derrubada das árvores e queima. A agricultura implantada em clareiras abertas a partir de corte e queima é praticada tradicionalmente na Amazônia, gerando paisagens florestais em diferentes estágios de sucessão. Costa (2009) ao definir as trajetórias tecnológicas12delineadoras do cenário agropecuário na Região Norte enquadra esse modo de produzir na trajetória Camponês T3 “conduzida por agentes camponeses, marcada pelo uso extensivo do solo, homogeneização da paisagem e formação de áreas degradadas” (COSTA, 2009, p. 81).

O gráfico 15 apresenta as espécies cultivadas nas regiões estudadas. Os dados não incluem os cultivos mantidos nos quintais e capoeiras. Analisa-se aqui os cultivos da roça, pois considera-se suficiente para representar a unidade produtiva familiar nas suas duas funções: unidade de produção e unidade de consumo.

11

No Rio Purus, as áreas de solo expostas durante a seca são chamadas pelos ribeirinhos de praias (RAVENA ---) e no Rio Madeira de barranco.

12

O autor define trajetórias tecnológicas como as formas de produção que utilizam os recursos naturais como base primária do processo produtivo.

Gráfico 16: Principais produtos agrícolas cultivados nas áreas analisadas.

Fonte: dados coletados em campo (NUPEAS/UFAM e NUSEC/UFAM) – Elaboração da autora.

No PAE Botos, os produtos agrícolas mais importantes são a mandioca (Manihot spp.), o açaí (Euterpe oleracea) e o café (Coffea arabica L.), correspondendo respectivamente a 66,68%, 19,04% e 14,28% do total produzido no assentamento. No PDS Realidade, os principais cultivos são açaí (2,27%), arroz (Oryza sativa) (15,9%), banana (Musa spp.) (11,36%), café (2,27%), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) (6,81%), cupuaçu (Theobroma grandiflorum) (2,27%), feijão (Phaseolus vulgaris) (2,27%), macaxeira (Manihot spp.) (4,54%) e mandioca (Manihot spp.) (25%).

Na RDS do Rio Madeira são cultivados principalmente abóbora (Cucurbita spp.) (10,2%), açaí (14,28%), banana (16,32%), cacau (Theobroma cacao) (14,28%), macaxeira (10,88%), mandioca (6,8%) e maracujá (Passiflora sp) (7,48%). Na Floresta Tapauá as principais espécies cultivadas são açaí (9,57%), banana (2,27%), batata (Solanum tuberosum) (4,62%), caju (Anacardium occidentale) (5,94%), cana de açúcar (3,63%), cará (Dioscorea alata) (13,86%), macaxeira (14,19%), mandioca (9,57%), maxixe (Cucumis anguria) (1,98%), melancia (Citrullus lanatus) (2,97%), milho (Zea mays) (4,29%), pimenta (Capsicum spp) (4,29%) e pupunha (Bactris gasipaes) (1,66%). Comparando-se as quatro áreas, nota-se a predominância do cultivo de açaí, banana e mandioca.

A diversidade de arranjos produtivos na agricultura existentes nas Unidades pode ser observada pelo número de espécies cultivadas. No PAE Botos, por exemplo, têm-se o menor número de espécies cultivadas (três), apesar de quando se considera a produção do quintal

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 A ba cat e A ba cax i A bó bo ra A çaí Ariá A rr o z B an ana B at at a C acau Café Caj u C an a de açuc ar C ar á C upu aç u Fei jã o M ac ax ei ra Man di o ca Mar acujá Max ix e Me lan ci a Mi lho P im enta P upun ha PAE Botos PDS Realidade RDS do Madeira Floresta Tapauá

este número aumenta. Na Floresta Tapauá há uma maior diversidade, com 14 espécies de importância agrícola (gráfico 16).

A mandioca é o produto de maior importância na região estudada, sendo observada sua produção nas quatro áreas analisadas. Este resultado segue o padrão do Estado do Amazonas que tem a mandioca como o produto mais cultivado nas roças, produzida tanto em áreas de várzea quanto em roças de terra firme (IBGE, 2012). Comumente é comercializada na forma de farinha, produzida a partir de técnicas manuais tradicionais.

O cultivo de mandioca na Amazônia remonta de atividades realizadas por indígenas que viviam há cerca de 11.200 anos na região, conforme registros apresentados pela antropóloga Ana Roosevelt (apud HOMMA, 2001). Assim, o cultivo foi incluído dentre os produtos cultivados pelos portugueses após sua vinda para o Brasil e a tecnologia para produção da farinha foi paulatinamente sendo adaptada. Mais recentemente, o beneficiamento vem sendo ampliado em escala de competição mercadológica nas unidades familiares dominantes (HOMMA, 2001).

A colheita na várzea é mais precoce (1 ano para terra firme e até 7 meses na várzea) dado o menor tempo disponível devido à enchente. FRAXE (2007) explica que não raro os agricultores da várzea processam a mandioca assim que colhem (descascam, trituram e torram) para não perder a produção em virtude de enchentes inesperadas. Na terra firme, as espécies tardias permitem a armazenagem dos tubérculos para propagação do próximo cultivo e na várzea o material é conservado em prateleiras suspensas, fincadas ao solo assim que aparecem as primeiras porções de terra, evitando a perda do material.

Destaca-se o caso da mandioca como principal produto agrícola do PDS Realidade, uma vez que sendo 76,9% migrantes vindos principalmente da região Sudeste, atraídos pela facilidade de aquisição de terras no Amazonas, boa parte dos agricultores quando chegou ao assentamento não tinha experiência na produção de farinha. Incentivados pela oportunidade do mercado, já que a farinha é um dos principais produtos consumidos pelos amazonenses, os agricultores iniciaram seus roçados e aprenderam com os vizinhos nativos da região o processo de fabricação, reforçando nesse exemplo a capacidade dos agricultores migrantes em adaptar-se a novos contextos sociais, econômicos e ambientais.

Na produção de grãos (milho e arroz), destaca-se que os plantios foram incentivados pelo governo do Estado durante o programa Zona Franca Verde na gestão de Eduardo Braga. O programa incentivou a produção de arroz, soja e milho na região do Madeira, custeando a compra de insumos e maquinários, porém, a entrega das sementes, adubos e equipamentos em

desacordo com o calendário agrícola, impossibilitou a manutenção dos cultivos e levou os agricultores ao endividamento. Muitos desistiram da atividade, e os cultivos remanescentes são mantidos com recursos próprios.

Conhecer a quantidade produzida na agricultura com importância econômica é necessário ao planejamento das atividades, uma vez que deve ser considerada a capacidade produtiva de cada área. A tabela 10 apresenta a capacidade média de produção de cada família por ano, de acordo com as espécies cultivadas. Os dados apresentam diferenças de produtividade, quando é possível comparar entre as áreas a produção da mesma espécie.

Tabela 10: Produção familiar anual das espécies comercializadas entre 2011 e 2012 nas unidades analisadas.

Produto PAE Botos PDS Realidade RDS Rio Madeira

Floresta Tapauá

Abacate - - - 500 frutos

Abacaxi - 50 frutos - 150 frutos

Abóbora - 180 kg 480 kg -

Açaí 176 latas 40 latas 42,49 latas 90 latas

Ariá - - - 70 kg

Arroz - 2.100 kg - -

Banana - 50 cachos 99,16 cachos 150 cachos

Batata - - - 35 kg

Cacau - - 148 kg -

Café 538 kg 900 kg - -

Caju - - - 150 frutos

Cana de açúcar - 10 feixes - 12 feixes

Cará - - - 130 kg

Cupuaçu - - -

Macaxeira - 30 sacas 75 sacas 50 sacas

Mandioca 95,75 sacas 19 sacas 42,85 sacas 20 sacas

Maracujá - - 3.400 unidades -

Maxixe - - - 10 kg

Melancia - - 10 frutos 200 frutos

Milho - - - 33,33 sacas

Pimenta - - - 4 kg

Pupunha - - - 20 cachos

Fonte: dados coletados em campo (NUPEAS/UFAM e NUSEC/UFAM) – Elaboração da autora. *Latas= 20 litros, sacas = 60kg.

Em relação ao açaí e mandioca, espécies cultivadas em todas as Unidades, observa-se que o PAE Botos detém a maior produção média familiar anualmente (176 latas e 95,75 sacas respectivamente). A Floresta Tapauá é a segunda maior produtora de açaí (90 latas), entretanto, a segunda maior produtora de mandioca é a RDS Rio Madeira (42,85 sacas). A

Unidade menos produtiva em relação a estas duas espécies é o PDS Realidade, com produção de 40 latas de açaí e 19 sacas de mandioca anualmente por família.

A tabela 11 apresenta o número médio de membros envolvidos na produção familiar de mandioca, o tamanho médio da área dos roçados e a produtividade. Tomando como base a produção desta espécie, pode-se notar que as diferenças na capacidade produtiva entre as Unidades não estão apenas relacionadas aos fatores físicos e tecnológicos da produção, tais como, qualidade do solo, insumos, ferramentas disponíveis, entre outros, visto que, estes fatores mantém um padrão entre as áreas. A produtividade dos cultivos está também diretamente relacionada ao nível de organização social e do trabalho de cada área.

Tabela 11: Fatores da produção familiar de mandioca entre 2011 e 2012.

Unidade Número médio de membros envolvidos

no trabalho

Tamanho médio da área dos roçados

(ha) Produtividade de mandioca (kg/ha) PAE Botos 4 1,34 4.287,3 PDS Realidade 3 2,5 456 RDS Madeira 2 2,0 1.285,5 Floresta Tapauá 3 2,65 452,83

Fonte: dados coletados em campo (NUPEAS/UFAM e NUSEC/UFAM) – Elaboração da autora.

O PAE Botos tem a maior produtividade de mandioca por área, assim como o maior número de membros da família envolvido no trabalho, o que poderia significar que quanto maior o número de trabalhadores envolvidos, maior a capacidade produtiva da área. Porém, ao serem comparados os valores entre as demais unidades, nota-se que a RDS Rio Madeira que possui o número médio de 2 membros da família envolvidos no trabalho, tem produtividade superior ao PDS Realidade e à Floresta Tapauá, ambos com 3 membros.

Neste caso, os fatores institucionais podem explicar estas diferenças. A RDS Rio Madeira tem um maior nível de organização social13 e, portanto, maior envolvimento dos moradores em atividades coletivas. Os moradores estão organizados em um maior número de associações comunitárias e possuem maior proximidade com instituições governamentais e não governamentais (CEUC e FAS). Além disso, o envolvimento é maior em atividades coletivascomo mutirão, troca de dia e outras parcerias que minimizam o efeito da baixa disponibilidade de mão de obra da família para trabalhar na roça. Já o PDS Realidade e a

13

O capítulo sobre instituições detalha o nível de organização social das unidades e na seção sobre trabalho, são explicitados mais detalhes sobre as formas de organização do trabalho coletivo.

Floresta Tapauá tem um baixo nível de organização social, representado por uma associação enfraquecida no primeiro caso e completa ausência desta no segundo.

Dificuldades de escoamento da produção também completam este quadro, no caso do PDS Realidade dada à péssima condição de tráfego da BR 319 que liga o assentamento à cidade de Humaitá, e no caso da Floresta Tapauá pela distância das comunidades até a área urbana, levando o transporte no mínimo três dias de motor rabeta14. Estas situações desestimulam os cuidados dos agricultores com a roça, que dificilmente realizam os tratos culturais necessários ao bom desenvolvimento das plantas. A RDS do Rio Madeira também tem dificuldades de escoar a produção, mas os efeitos são minimizados pelo apoio das associações locais e melhor relação destas com instituições externas.

Diante do cenário apresentado, é possível notar que as questões relativas à produção agrícola nas Unidades revelam uma inter-relação entre o modo de vida e as formas de cultivo. Assim, este parâmetro constitui-se em um elemento definidor da variável produção, pois a observação de formas específicas de agricultura associadas aos subsistemas de cultivos (roças, quintais, capoeiras) aproximam o especialista da realidade vivenciada nas Unidades (que necessita do conhecimento deste parâmetro para quantificação dos valores fuzzy), embasando a interpretação da variável produção associada às demais variáveis.

A quantificação desse parâmetro no QCA apresentado no capítulo 8 permitiu inferir que a política tem pouca ou nula influência nas formas de produzir, assim como no volume da produção em todas as Unidades. A discriminação dessa análise é detalhada na análise fuzzy set e é realizada de forma comparada e multivariada, incorporando-se as demais variáveis (socioeconomia, instituições e ambiente) na análise.