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CAPÍTULO 2 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

2.1 O IAD framework

A coleta e análise das informações foram estruturadas tomando-se como base o método Institutional Analysis and Development (IAD) Framework criado por Elinor Ostrom (OSTROM et al, 1994) para análise de Common-Pool Resource (OSTROM, 1990). O IAD Framework de Ostrom tem como unidade de análise a arena de ação, cujo desenho é apresentado pela identificação dos atores envolvidos e a situação da ação (processos de decisão), conforme apresenta a figura 08.

Figura 08: Quadro lógico para análise institucional – IAD FRAMEWORK.

Fonte: OSTROM (2005).

Os resultados do framework de Ostrom são apresentados a partir de critérios de avaliação previamente definidos, analisando-se a arena de ação segundo a influência de variáveis externas (condições biofísicas e materiais, cultura e regras de uso) e os processos de interação entre os atores. Neste estudo, as variáveis externas consideradas como influenciadoras e influenciáveis pela arena de ação, foram as condições socioeconômicas

Variáveis externas Condições biofísicas e materiais Atributos da comunidade (cultura) Regras de uso Interações Situação da ação (processos de decisão) Atores Resultados Critérios de avaliação Arena de ação

(X1), os sistemas produtivos (X2), os arranjos institucionais (X3) e os fatores ambientais (X4), como mostra a figura 09.

Figura 09: Quadro lógico para análise das variáveis independentes (X).

Fonte: Adaptado do IAD FRAMEWORK de OSTROM (2005).

Para operacionalização do IAD e do QCA, adotou-se como nomenclatura dos fatores que compõem o fenômeno estudado, partindo-se de uma visão da parte para o todo, ou seja, da análise micro para observação macro: os sub-indicadores, os indicadores, os parâmetros5 e as variáveis, conforme sequência apresentada na figura 10.

5 O termo parâmetro utilizado neste trabalho significa “ter conhecimento a respeito de alguma coisa”. Não é utilizado no sentido de norma, padrão ou constante utilizado nas ciências exatas.

SISTEMA PRODUTIVO ARRANJOS INSTITUCIONAIS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS FATORES AMBIENTAIS Variáveis externas (X) Situação da ação (processos de decisão) Atores Resultados Critérios de avaliação Interações Arena de ação

Figura 10: Conjunto de variáveis, parâmetros e indicadores componentes do IAD framework e do QCA.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os sub-indicadores e indicadores foram utilizados apenas quando os parâmetros explicativos das variáveis são formados por um conjunto de fatores, cujo detalhamento em conjuntos menores é necessário para compreensão da macro arena de ação.

Os parâmetros utilizados para avaliação do grau de influência de cada variável independente (X) sobre a variável dependente (Y) são: 1) Para avaliar a situação socioeconômica foram consideradas as condições de infraestrutura, educação, saúde e renda. 2) A dinâmica de uso dos recursos naturais, observada a partir da organização dos sistemas produtivos, foi analisada por meio dos fatores tecnológicos envolvidos na produção, das formas de organização do trabalho e dos canais de comercialização.3) Para análise dos arranjos institucionais foram observados como parâmetros as regras formais e informais de uso dos recursos, as relações de propriedade, as formas de organização social e as relações institucionais existentes. 4) Nos fatores ambientais foram analisadas a conservação dos recursos naturais e do modo de vida dos usuários por meio da percepção ambiental dos moradores. Variáveis Socioeconomia Produção Instituições Ambiente Parâmetros Infraestrutura Saúde Educação Renda Fatores tecnológicos Organização do trabalho Fatores de comercialização Regras de uso Relações de propriedade Organização social Relações institucionais Moradia Transporte e comunicação Energia elétrica Equipamentos e serviços coletivos Saneamento básico

Destino dos dejetos

Abastecimento e qualidade da água Destino dos resíduos sólidos

Quantidade produzida Diversidade dos sistemas

Indicadores Sub-indicadores

Agricultura Extrativismo vegetal não

madeireiro Práticas agroecológicas

Tamanho da família Número de membros aptos

Parcerias Canais de comercialização

Relações institucionais formais

Relações institucionais informais

Manutenção do modo de vida

Conservação dos recursos Práticas conservacionistas Percepção ambiental

O uso do IAD Framework como método de análise institucional e de ações coletivas envolvidas no uso de recursos comuns confere vantagem devido à possibilidade de uma definição mais precisa de conceitos que são generalizados em outras abordagens (SILVA FILHO et al, 2004). O quadro 02 apresenta a definição dos principais conceitos envolvidos na construção do IAD Framework.

Quadro 02: Conceitos usados como base para o IAD Framework.

VARIÁVEIS CONCEITOS

Arena de ação Cenário formado por indivíduos ou organizações que tomam decisões baseados na relação custo-benefício de determinadas ações sobre possíveis resultados.

Condições socioeconômicas

Conjunto de fatores que garantem o atendimento aos direitos e necessidades básicas do indivíduo conforme a constituição federal de 1988: saúde, educação, moradia, segurança e transporte.

Sistema produtivo Arranjos produtivos formados por um conjunto de elementos materiais (insumos e condições naturais) e imateriais (crenças, culturas, relações sociais) que resultam na produção de bens e/ou serviços a partir de mão de obra essencialmente familiar, destinados à venda e ao consumo das famílias.

Arranjo institucional

Estrutura de relações entre as instituições formais e informais que compõem a arena de ação.

Fatores ambientais Situação ambiental representada pela percepção dos moradores em relação à conservação dos recursos naturais e do modo de vida das famílias.

Fonte: elaborado pela autora.

As informações obtidas a partir do IAD Framework são descritas nos capítulos de 3 a 7 e os dados são analisados de forma comparada (método comparativo) no capítulo 8 pelo método QCA, operacionalizado pela lógica fuzzy por meio do programa fuzzy set QCA (fsQCA 2.0).

As informações foram coletadas a partir de dados quantitativos e qualitativos de fontes primárias e secundárias. Os dados secundários foram coletados em fontes bibliográficas e documentais de instituições governamentais e não governamentais (INCRA, ICMBio, Associações, Cooperativas e outros). Os dados primários foram coletados por meio da aplicação de formulários estruturados junto aos chefes de família, além da observação direta, conversas informais com os moradores das Unidades e coleta de informações em reuniões com as comunidades (figuras 11 a 14).

Figura 11: Reunião no PAE Botos.

Figura 12: Entrevista no PDS Realidade (2011).

Figura 13: Reunião na RDS Rio Madeira. Foto: NUPEAS (2012)

Figura 14: Entrevista na Floresta Tapauá.

Foto: NUSEC (2013) Foto: NUPEAS (2012)

Foram entrevistados 30% dos domicílios de cada Unidade e o (a) informante era o (a) chefe de família. As questões dos formulários referiam-se a informações socioeconômicas, produtivas, institucionais e ambientais das comunidades. Durante a entrevista, foi dado espaço para expressão de percepções pessoais do (a) entrevistado (a) a respeito dos temas questionados. Quando havia mais de uma família por domicílio, apenas o (a) chefe mais velho (a) foi entrevistado (a).

A coleta de dados ocorreu entre julho de 2011 e julho 2013. As viagens às comunidades e a aplicação dos formulários foram viabilizadas conjuntamente com ações desenvolvidas pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ambiente, Socioeconomia e Agroecologia (NUPEAS) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), localizado no Instituto e Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), campi da UFAM no município de Humaitá e pelo Núcleo de Socioeconomia (NUSEC) da UFAM localizado na sede de Manaus. A aplicação dos formulários contou com o auxílio e colaboração de alunos de graduação e pesquisadores vinculados aos Núcleos.

O estudo foi vinculado ao projeto “Desenvolvimento de Tecnologias Sociais e Agoecológicas em comunidades rurais do Sul do Amazonas” desenvolvido pelo NUPEAS, financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, onde foram coletadas as informações referentes ao PAE Botos e RDS do Rio Madeira. No NUSEC, a coleta de informações ocorreu em conjunto com as ações do projeto “Programa de Implantação das Unidades de Conservação na área de Influência da BR 319 no Estado do Amazonas” financiado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT) e executado pelo NUSEC, em parceria com a Fundação Rio Solimões (UNISOL) e Centro Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas (CEUC), onde foram coletadas as informações da RDS do Rio Madeira, Floresta Tapauá e PDS Realidade.