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CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL E DEMOGRÁFICA DA ÁREA DE

1.1 A região sul amazonense

O Estado do Amazonas (figura 02) está localizado na Região Norte do Brasil e possui como capital a cidade de Manaus. Sua área total é de 1.559.161,682 km2 e possui população de 3.483.985 habitantes (IBGE, 2010). É constituído de sessenta e dois municípios, agrupados geograficamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em quatro mesorregiões (quadro 01): Centro Amazonense, Norte Amazonense, Sudoeste Amazonense e Sul Amazonense e treze microrregiões (figura 03): Alto Solimões, Boca do Acre, Coari, Itacoatiara, Japurá, Juruá, Madeira, Manaus, Parintins, Purus, Rio Negro, Rio Preto da Eva e Tefé (IBGE, 2009).

Figura 02: Divisão política do Amazonas

Quadro 01: Subdivisões do Estado do Amazonas segundo o IBGE

Mesorregiões Microrregiões Municípios

Centro

Amazonense Coari Itacoatiara Anamã, Anori, Beruri, Caapiranga, Coari, Codajás Itacoatiara, Itapiranga, Nova Olinda do Norte, Silves, Urucurituba

Manaus Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru, Manaquiri, Manaus

Parintins Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués, Nhamundá, Parintins, São Sebastião do Uatumã, Urucará

Rio Preto da Eva Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo Tefé Alvarães, Tefé, Uairini

Norte Amazonense

Japurá Japurá, Maraã

Rio Nlegro Barcelos, Novo Airão, Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira

Sudoeste

Amazonense Alto Solimões Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamim Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Tonantins

Juruá Carauari, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Juruá

Sul

Amazonense Boca do acre Madeira Boca do Acre, Pauni Apuí, Borba, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã Purus Canutama, Lábrea, Tapauá

Fonte: IBGE (2009)

Figura 03: Microrregiões do Estado do Amazonas.

Seguindo a política de colonização da Amazônia, posta em prática pela ditadura instalada no Brasil desde 1964, em que o incentivo à ocupação de terras, provocou a movimentação de grande contingente de trabalhadores rurais entre as regiões do país (IANNI, 1979), o Estado do Amazonas tem baseado seus projetos de desenvolvimento, nas políticas de transformação de posseiros em latifundiários ou peões, e na expansão das fronteiras agropecuárias, de mineração e extrativismo. Sob diferentes formas, as populações rurais do Estado têm sofrido como base de experimentação de projetos que pouco contribuíram para permanência das famílias nas áreas rurais, ao contrário, aumentaram a miséria no campo e incentivaram atividades ilícitas, como venda de madeira ilegal e garimpo (VIANA e RIBEIRO, 2004).

As políticas elaboradas a fim de maximizar a produção e ajustar-se às características locais, como abundância de terras e escassez de trabalho e capital, (COSTA, 2007) influenciaram a constituição de uma estrutura fundiária no Estado baseada em relações de apropriação, uso e alienação da terra, admitindo-se inclusive a posse ilegítima de terras públicas (ALLEGRETTI, 2008). Aliados a este quadro estão os conflitos entre posseiros, grileiros, proprietários e extrativistas, além da questão do uso inadequado da terra, seja pela exploração desordenada dos recursos, pela baixa produtividade ou por improdutividade (BECKER, 2004).

Outro importante fator que contribuiu para estruturação fundiária atual do Estado do Amazonas foram os três grandes ciclos econômicos. O primeiro ciclo atraiu intensa migração pela pujança do ciclo da borracha, que se estendeu desde fins do século XIX até a década de 1920. O segundo ciclo iniciou-se na década de 60, com a criação e a implementação da Zona Franca de Manaus, atraindo muitas famílias que vieram em busca de trabalho, sobretudo no Distrito Industrial localizado na cidade de Manaus. Já o terceiro ciclo foi baseado em ações governamentais orientadas para a implementação de novos pólos de desenvolvimento agropecuário e industrial no interior do Estado (ARAÚJO e PAULA, 2009).

Como resultado do primeiro ciclo teve-se um rápido crescimento econômico da região, acompanhado de significativo desenvolvimento urbano. O comércio interno aumentou consideravelmente e a renda dos habitantes melhorou. Porém, na década de 1920 a concorrência, principalmente com a Malásia, e a dificuldade de adaptação do sistema de produção da borracha na Amazônia (aviamento e extrativismo) às exigências do modo de produção capitalista (produção em larga escala), fez com que a exportação da borracha

brasileira caísse significativamente, levando à decadência o ciclo da borracha no Brasil e consequentemente às cidades que haviam se beneficiado com ele (BEZERRA, 1998).

No segundo ciclo, os trabalhadores atraídos ao Amazonas pela grande oferta de emprego da época, sofreram com o fim da reserva de mercado da Zona Franca de Manaus, decretado pelo presidente Fernando Collor de Melo, ocasionando em significativa perda de emprego e aumento da miséria no Estado (BEZERRA, 1998).Seguindo o mesmo caminho de consequências negativas, o terceiro ciclo, contrariamente ao que preconizava seus objetivos, como fixação da população residente em áreas rurais e interiorização da economia de base primária resultou na permanência de um modelo econômico baseado numa matriz de importações e incentivos fiscais, que transforma cada vez mais o interior do Estado em bolsões primitivos de pobreza (ARAÚJO e PAULA, 2009).

Neste sentido, a região Sul do Amazonas representa uma importante referência para estudar a questão agrária e do ordenamento territorial e ambiental no Estado, bem como, as consequências dos incentivos governamentais de ocupação e dos ciclos econômicos. Constituído de dez municípios: Boca do Acre, Pauni, Apuí, Borba, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Canutama, Lábrea e Tapauá, fundados no período áureo da borracha (período em que só a Amazônia possuía seringueira – Hevea brasiliensis) sua população é remanescente dos grandes seringais existentes na região no fim do século XIX e que foram desbravados para industrialização da borracha. Os conflitos entre remanescentes dos seringais pela posse de terra e os impactos negativos dos programas governamentais (especialmente o terceiro ciclo) marcam a região com problema de grilagem de terras e desmatamento.

Para amenizar estes problemas o governo investiu na implantação de Assentamentos Rurais e Unidades de Conservação no Estado, intensificando a reforma agrária e o combate de ilícitos ambientais e fundiários como agenda política (SDS, 2005). O incremento no número de unidades de conservação e assentamentos na região pode caracterizar uma experimentação para o início de um “quarto ciclo” de desenvolvimento no Estado.

As peculiaridades geográficas da região Sul do Amazonas dificultam a locomoção e estratégias de integração entre os municípios, realizadas principalmente via fluvial. As estradas que existem tornam-se intrafegáveis durante o período chuvoso, o que gera uma demanda maior de tempo e custo para realização de pesquisas e/ou implantação de programas de desenvolvimento. O município com maior facilidade de acesso aos outros municípios da região e a outros Estados é Humaitá, localizando-se relativamente de forma central. A integração e articulação entre os municípios da região Sul é uma condição necessária para a

implantação de estratégias de comercialização dos produtos agrícolas e extrativistas, bem como para permuta de tecnologias, considerando a falta de condições materiais, de recursos humanos e de organização administrativa destes municípios, o que se constitui num entrave para o desenvolvimento econômico e social, de acordo com dados levantados no “I Seminário da produção agrícola familiar e extrativista vegetal no Vale do Rio Madeira” realizado em junho de 2011, pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Socioeconomia, Ambiente e Agroecologia, da Universidade Federal do Amazonas. Tal situação confirma a necessidade de medidas unificadas, também entre os municípios e os órgãos de execução das políticas de desenvolvimento agrário e ambiental.

Os resultados deste trabalho apontam características comuns entre as Unidades analisadas, pertencentes a diferentes municípios do Sul do Amazonas, que poderão ser utilizadas para integração produtiva e reprodutiva entre atores e a região. Além disso, os resultados elucidam atividades potenciais que podem ser elencadas nos Planos de Desenvolvimento dos assentamentos e Planos de Gestão das UCs, documentos norteadores da condução de todas as atividades desenvolvidas, bem como, apontam fragilidades a serem observadas e superadas para o sucesso dos projetos e programas implantados. Nenhuma das Unidades tem o plano elaborado, sendo este instrumento essencial para o acesso dos moradores aos benefícios previstos nas políticas de reforma agrária.