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CAPÍTULO 3 CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS

3.7 Educação

3.7.3 RDS Rio Madeira

Devido ao maior número de comunidades existentes na RDS Rio Madeira (36 comunidades), a Unidade possui 23 escolas em funcionamento (60% do total de comunidades). Nos locais que não possuem escolas, os pais enviam as crianças e adolescentes para estudar nas comunidades mais próximas. Das escolas existentes, 78% oferecem apenas o ensino fundamental até o 5º. Ano, 13% oferece o ensino fundamental completo, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) e 4% oferece apenas o ensino fundamental e o EJA (FDB, 2011).

A estrutura do prédio das escolas é variável geralmente em função do número de alunos e do tamanho da comunidade (figuras 33 e 34). As escolas que oferecem apenas as séries iniciais do ensino fundamental (até o 5º ano) são constituídas de uma sala e possuem 1 professor que trabalha com classe multiseriada, com número de alunos variando de 9 até 40. As escolas que oferecem o ensino médio possuem maior número de salas e funcionam também no turno noturno, com número de professores chegando até 8 e número de alunos até 150.

Figura 33: Escola na RDS Rio Madeira (Polo IV).

Foto: NUSEC (2013).

Figura 34: Escola na RDS Rio Madeira (Polo I).

A maioria das escolas apresenta estrutura física precária (44,82%), com prédios construídos de madeira necessitando de reformas, salas pequenas e sem ventilação. Em 6,89% das escolas não há nenhuma fonte de energia e nas demais, o fornecimento não é regular, pois depende do combustível fornecido pela prefeitura para acionamento do gerador, o que não atende satisfatoriamente a demanda das comunidades. Em 10,34% das escolas a água fornecida aos alunos não recebe nenhum tipo de tratamento, sendo coletada do rio ou igarapés mais próximos e armazenadas em potes de barro.

Outro problema apontado pelos moradores é a irregularidade do fornecimento da merenda escolar por parte da prefeitura, tanto no que se refere à pontualidade quanto na quantidade enviada, sendo insuficiente para alimentar satisfatoriamente os alunos. Nas escolas menores, não há lugar adequado para armazenamento dos alimentos, cozinha ou equipamentos para fazer as refeições, ocasionando problemas na conservação e na qualidade da merenda.

Os moradores destacam também a insuficiência do material didático, a baixa qualificação e má remuneração dos professores e o abandono das escolas da Reserva por parte da Secretaria Municipal de Educação. Além disso, o transporte escolar ausente também é indicado como uma dificuldade para permanência dos alunos na escola, pois somente é oferecido pela prefeitura para 37,5% das comunidades, e àqueles que possuem o serviço são transportados em embarcações precárias que não atendem as normas de segurança do transporte fluvial.

Este cenário reflete sobre a baixa escolaridade encontrada entre os moradores. A maioria (74,5%) possui apenas o ensino fundamental incompleto. No entanto, esta Unidade é a única que possui moradores com nível superior, encontrados nas comunidades mais próximas às cidades de Manicoré e Novo Aripuanã. O curso superior foi oferecido por meio de convênio entre as prefeituras e a Universidade Federal do Amazonas, exercendo estes moradores os cargos de professores das escolas ou outros cargos públicos nas comunidades como agentes de saúde. Ressalta-se, porém, que estes profissionais não receberam nenhum tipo de qualificação voltada à educação do campo.

3.7.4 Floresta Estadual Tapauá

Na Floresta Tapauá, 60% das comunidades possui escola, onde é oferecido apenas o ensino fundamental do 1º ao 5º ano. Nas escolas da Unidade não há ensino formal para educação infantil, séries finais do ensino fundamental ou Ensino Médio. Além do baixo nível de ensino oferecido, as estruturas físicas existentes são precárias, com prédios construídos de madeira em péssimo estado de conservação, representado na fala de um morador: “a escola tá pra cair em cima dos alunos”.

As escolas são geralmente constituídas de uma única sala (figura 35), com aulas ministradas por 1 professor que possui ensino médio ou fundamental completo. As classes são multiseriadas e o material didático existente para subsidiar as aulas é insuficiente (não é fornecido livro didático). Além disso, os professores não receberam nenhum tipo de formação voltada à educação do campo.

Figura 35: Sala de aula na Floresta Tapauá.

Foto: NUSEC (2013).

A maioria das escolas não possui fornecimento de energia elétrica, exceto nas comunidades onde há gerador e nestas, a energia depende do combustível fornecido pela prefeitura que é insuficiente, dificultando o funcionamento das escolas no turno noturno. A água consumida pelos alunos é coletada diretamente do rio ou igarapé e fornecida sem nenhum tipo de tratamento. Ademais, a merenda escolar também é apontada como problema,

pois não há regularidade no fornecimento por parte da prefeitura, chegando a algumas escolas os produtos a serem enviados apenas uma vez ao ano.

Outro agravante observado na Unidade é o período letivo constituído de apenas seis meses. As escolas da Floresta Tapauá funcionam somente de junho a dezembro, época da vazante e seca dos rios da região. Como os moradores não dispõem de transporte escolar, os pais relataram não ter condições financeiras para arcar com os gastos diários de combustível para levar as crianças até a escola, uma vez que neste período o descolamento é feito por via fluvial. Outro fator que influencia este quadro é que no período da cheia os moradores se deslocam para os castanhais e levam os filhos para ajudar na coleta da castanha. Aqueles que permanecem nas comunidades e poderiam frequentar a escola ficam desprovidos do transporte (geralmente canoa motorizada) levado pelos pais para o castanhal.

A ausência de escolas e a falta de continuidade do ensino público implicam no baixo nível escolar dos moradores. Na Floresta Tapauá foi encontrado o maior índice de moradores não alfabetizados quando comparado às demais Unidades analisadas neste estudo. Cerca de 32% não sabem ler e escrever, 25% lê e escreve pouco, 38% possui o ensino fundamental incompleto, 3% tem o ensino fundamental completo, 2% tem o Ensino Médio e não foram encontradas pessoas com nível superior. Ressalta-se que os moradores que possuem ensino fundamental completo ou ensino médio, cursaram ou estão cursando (quando se trata dos filhos) estas séries na cidade de Tapauá.

Os principais motivos apontados para falta de continuidade do ensino escolar ou a ausência deste, foram a necessidade de trabalhar para sustentar a família e a falta de escolas ou do ensino nas comunidades. A ausência de escolas implica também na presença de “moradores sazonais” na Unidade. Para possibilitar o acesso à educação dos filhos, parte dos moradores possui casa na cidade de Tapauá e utiliza a residência da Floresta sazonalmente para trabalhar na coleta de castanha, no roçado ou na pesca. Observa-se também situações onde o marido permanece na residência da Floresta para provê o sustento da família e a esposa e filhos deslocam-se para cidade para ter acesso à escola.

Observando-se o quadro geral da educação na região, ressalta-se que discussões a respeito das metodologias e formas de concepção mais adequadas ao ensino no campo são extremamente necessárias e válidas para promoção de uma educação que atenda as reais necessidades das populações rurais. Entretanto, sem os instrumentos e ferramentas necessárias para execução das propostas, ou seja, sem a disposição de uma infraestrutura adequada e condições de trabalho aos profissionais, os avanços desejados serão incipientes. A

precariedade do capital financeiro e sociocultural decorrente do abandono histórico das populações do campo, representada na baixa escolaridade dos moradores das áreas rurais, torna os investimentos na educação formal uma ação prioritária para melhoria dos indicadores sociais e econômicos destas áreas e um caminho para promoção de um desenvolvimento baseado no uso sustentável dos recursos naturais.

A arena educacional observada permitiu classificar qualitativamente as condições de educação nas Unidades como “parcialmente insatisfatórias” no PAE Botos e na Floresta Tapauá e “mais ou menos insatisfatórias” no PDS Realidade e na RDS Rio Madeira, considerando-se as diferenças e similaridades acima apresentadas.