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AGROECOLOGIA, SISTEMAS AGROFLORESTAIS E SUA

CONTRIBUIÇÃO PARA

A SUSTENTABILIDADE

NO NORDESTE PARAENSE

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Henderson Gonçalves Nobre, Francisco Sérgio Neres da Silva, Daiane Silva Oliveira, Paulo Renato Benevides e Eduardo Rodrigues Araújo

Introdução

A região Amazônica se caracteriza, além de sua extensão geográfica, pela diversidade de agriculturas, bem como variadas expressões e formas dos atores sociais se relacionarem com o meio ambiente e seus recursos naturais. Populações indígenas, ribeirinhas, agricultores tradicionais, seringueiros, e outros grupos étnicos, desenvolveram sistemas de coexistência com a floresta, para dela retirarem os bens necessários para sua reprodução social.

Porém, com a expansão de políticas públicas, que tinham como objetivo “integrar” a Amazônia ao cenário político e econômico nacional, a complexidade destas relações socioculturais e dos modos de fazer agricultura pelas populações tradicionais foi colocada à margem das estratégias de desenvolvimento pautadas pelo Estado (CAVALCANTE, 1994; COSTA, 1998; MORÁN, 1990).

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

Esta estratégia desenvolvimentista adotada nas últimas décadas vem se caracterizando pela gradual transformação da identidade amazônica (COSTA, 1998), dando lugar a processos de degradação e de perda de sua funcionalidade como reguladora do clima no continente (NOBRE, 2014).

A região onde está inserido o Território do Nordeste Paraense é uma das mais antigas áreas de colonização Amazônica, oriundas das expedições exploratórias dos portugueses no interior do Estado durante os tempos da Colônia via os cursos dos rios Guajará, Guamá e Capim. O Território do Nordeste Paraense é o mais populoso dos Territórios do Estado do Pará, com 446.856 habitantes, sendo predominante a população rural, contanto dentre elas as comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e de assentamentos de reforma agrária.

A agricultura convencional vem avançando floresta adentro, substituindo os sistemas de produção e de relações socioculturais camponesas mais resilientes, pela frágil adoção de monocultivos, promovendo assim, a degradação dos recursos naturais.

Como alternativa para promover esta mudança e proporcionar bases para o desenvolvimento mais sustentável na região amazônica, se faz necessário fortalecer a Agroecologia como estratégia de se fazer agricultura e de induzir ações transformadoras do cenário atual (SÁ; SILVA, 2014).

A Agroecologia é aqui entendida como enfoque científico transdisciplinar que utiliza conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis, proporcionando as ferramentas teóricas e práticas necessárias para a transição da agricultura convencional para outra mais ecológica e menos impactante, passando pelo redesenho dos agroecossistemas de modo que os mesmos alcancem seu equilíbrio dinâmico (ALTIERI, 2002; GLIESSMAN, 2009; MARCO..., 2006; SEVILLA GUZMÁN, 2013).

Segundo Guzmán Casado et al. (2000), a Agroecologia requer, ao menos, a articulação de três componentes básicos: o técnico-agronômico, modelado desde uma perspectiva ecológica; o sociocultural, visto desde

a perspectiva histórica; e o político, construído através do projeto de busca da igualdade.

Sob essa perspectiva, é possível enfatizar o componente técnico- agronômico (ecológico) através dos Sistemas Agroflorestais – SAFs, os quais conseguem reunir uma grande parte ou a totalidade de princípios agroecológicos, colocando-os como uma das principais estratégias de construção de um sistema de produção agrícola sustentável na Amazônia.

A origem dos SAFs na Amazônia remete aos povos indígenas, pois provavelmente representam tecnologias que evoluíram gradualmente desde a domesticação de plantas silvestres até os sistemas de produção de alimentos contemporâneos (MILLER; NAIR, 2006).

De forma similar, May e Trovatto (2008) afirmam que os SAFs são uma tentativa de resgatar os conhecimentos de agricultores tradicionais, indígenas e dos povos da floresta, que manejam os recursos naturais locais e a sociobiodiversidade associada, mantendo seus sistemas produtivos por gerações e gerações. Ademais, conforme cita Peneireiro (1999), os SAFs “apresentam-se como um sistema de produção que, além de produzir matérias-primas de interesse para o ser humano, conservam os recursos naturais, inclusive a biodiversidade, sem a necessidade de insumos externos” colaborando para uma agricultura mais sustentável. Assim, adotamos como definição principal de Sistemas Agroflorestais, sistemas e tecnologias de uso da terra em que espécies lenhosas e perenes são usadas deliberadamente na mesma unidade de manejo da terra junto com cultivos agrícolas e/ou criações animais, sob variadas formas de arranjo espacial e sequência temporal (NAIR, 1993 citado por AMADOR, 2003).

De acordo com Dubois (2004), sistema agroflorestal é uma expressão “guarda-chuva”, que abrange diversas classificações em função de sua estrutura no espaço, seu desenho através do tempo, a importância relativa e a função dos diferentes componentes, assim como os objetivos da produção e suas características sociais e econômicas.

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

Götsch (1996) afirma que os SAFs devem ser conduzidos pelo processo sucessional, em que plantas tipicamente pioneiras, secundárias e transicionais crescem juntas e, em cada fase da sucessão, haverá uma comunidade dominando, direcionando a mesma. Assim os indivíduos das espécies mais avançadas na sucessão não se desenvolvem enquanto as iniciais não dominam, fazendo o papel de criadoras das sucessoras. Assim, os Sistemas Agroflorestais configuram-se como um grande potencial de confrontar os sistemas convencionais de uso da terra, melhorando as condições atuais, fornecendo bens e serviços e integrando outras atividades produtivas. Os SAFs são uma boa opção para os agricultores familiares, principalmente na amazônia, pois representam um novo enfoque de desenvolvimento rural, uma nova perspectiva de modelo de uso da terra (FRANCO, 2000).

A partir dessa abordagem, o presente trabalho pretende relatar e refletir sobre os processos de construção do conhecimento em Agroecologia através da implantação de Sistemas Agroflorestais no Nordeste do Pará.

Construção do conhecimento agroecológico integrado ao