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Planejamento segundo grupos funcionais

Para simplificar e lidar com a grande diversidade de espécies disponíveis buscamos definir um método de trabalho em que tal diversidade fosse sistematizada em grupos funcionais. Além da função de produção, incluindo espécies frutíferas e madeireiras, damos atenção especial para as espécies com função de ciclagem de nutrientes, produção de biomassa e sombreamento, as quais denominamos “funcionais” ou “produtoras de biomassa”. Obviamente que uma espécie cumpre muito mais do que uma única função no sistema, mas para o planejamento buscamos eleger um papel principal para cada espécie. Além das funções de produção ou produção de biomassa, consideramos o estágio sucessional e a estrutura/estrato de cada espécie.

Foram definidos oito agrupamentos funcionais, a partir da percepção e experiência da equipe de técnicos envolvidos no projeto, os quais detêm experiência prévia com projetos de restauração florestal e Sistemas Agroflorestais na região. Portanto, o agrupamento proposto é uma síntese, validada localmente a partir da percepção de um grupo, não fundamentada em estudos aprofundados, cujo valor reside na proposição de uma forma de se trabalhar a biodiversidade local, que assim pode servir como exemplo para classificações feitas por outros grupos em outras regiões.

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

As espécies foram enquadradas segundo seu principal produto, de interesse econômico direto, que pode ser fruta ou madeira, ou para produção de biomassa, que compreende as espécies destinadas à função ambiental e de recuperação do solo, que proverão sombreamento e sofrerão podas com vistas à ciclagem de nutrientes, suprir matéria orgânica e cobertura para o solo. A essa classificação combinam-se três classes que consideram o estágio sucessional e porte de cada espécie (números 1, 2 ou 3). A Tabela 1 abaixo demonstra, a título de exemplo, os agrupamentos funcionais com algumas espécies utilizadas no projeto Plantando Águas.

Tabela 1. Exemplo de grupos funcionais das espécies utilizadas no projeto.

Agrupamento Funcional de Espécies

Grupos Espécies

Napier, Guandu, Mamona, Margaridão, adubações verdes em geral, etc.

Biomassa - B

B1: espécies de adubação verde, não lenhosas ou de ciclo rápido, que já serão podadas a partir do 1º ano.

Fumo Bravo, Amora, Grevilea, fedegoso, Tumbergia, Embaúba, Tefrosia, Urucum, etc. B2: plantas de crescimento rápido, arbustivo-

arbóreas, que serão podadas a partir do 2º a 3º ano.

Ingá, Tamboril, Angico, Canafístula, mulungu, sabão de soldado, algodoeiro bravo, tapiá, saguaragi, crindiúva, etc.

B3: espécies arbóreas, pioneiras e secundárias, de crescimento rápido-médio.

Guapuruvu, Pau-Viola, Pau-d’alho, Araribá, Eucalipto, etc.

Jaca, Manga, Abacate, Noz pecã, etc.

Madeira - M

M1: espécies de crescimento intermediário, madeiras brancas.

F3: plantas de porte grande, dominantes.

Cedro, Mogno Africano, Peroba, Guanandi, Ipê- Roxo, Jequitibá, Teca, Cedro, Jatobá, etc. M2: espécies de crescimento mais lento, de ciclo

de corte com 18 a mais anos, madeiras nobres.

Banana, Mamão, Abacaxi, Maracujá.

Frutíf

era - F

F1: espécies de ciclo rápido, que iniciam a produção a partir de 1 ano, não lenhosas.

Citrus, Atemóia, Acerola, Caqui, Café, Uvaia, Cerejeira, Pitanga, Figo, Nespera, Pêra, Pêssego, guamirim, pitanga, araçá, jaracatiá, etc. F2: plantas de porte intermediário, arbustivas

e arbóreas, incluindo a grande maioria das espécies frutíferas comerciais e nativas.

A partir desse agrupamento funcional, pudemos trabalhar na elaboração de alguns desenhos prévios de SAFs com a vantagem de permitir o uso de grande diversidade de forma mais simplificada, ou seja, resumida a 8 grupos. As listas de espécies disponíveis em 8 viveiros foram reunidas e essa diversidade foi classificada dentro dos grupos funcionais.

Note-se que este trabalho foi realizado principalmente para espécies já arbustivas ou arbóreas, enquanto na fase inicial dos sistemas as plantas de início de sucessão, ainda não lenhosas, foram consideradas somente nos grupos B1 e F1. Seria interessante também realizar um trabalho mais aprofundado para as espécies de início de sucessão, pelo papel fundamental que estas desempenham no estabelecimento dos sistemas e que, no caso do presente projeto, foram delegadas para cada agricultor, com orientação dos técnicos, mas sem um acordo mais assertivo de quais seriam utilizadas, diferentemente da definição dos componentes arbóreos.

Para o planejamento prévio dos modelos de SAF, utilizamos como critérios:

a. Separação espacial de espécies com grupo funcional similar (estrutura, função, ritmo de crescimento), de acordo com seu porte;

b. Ordem de distribuição dos grupos funcionais: iniciando pelas espécies mais longevas e de maior porte (maior “dominância” na área ao longo do tempo) para espécies de menor porte;

c. Equilíbrio entre a quantidade de espécies de produção e as espécies funcionais, de modo a garantir um bom retorno econômico para o agricultor e também garantir elementos para ciclagem de nutrientes e outros atributos desejáveis em SAFs (sombreamento, criação de microclimas, entre outros);

d. Possibilidade de introdução de maior quantidade de espécies funcionais de ciclo curto a longo, uma vez que essas podem ser podadas intensamente e serem retiradas do sistema sem prejuízo

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econômico pro agricultor, intensificando a reposição natural da fertilidade dos sistemas, pela incorporação de biomassa.

Cada família foi sensibilizada quanto aos tipos e finalidades dos modelos de SAFs inicialmente propostos, definindo o tipo de SAF de seu interesse e, considerando sua força de trabalho e outros critérios, definindo também o tamanho de cada área de plantio.

O pomar agroflorestal foi o tipo de SAF de maior interesse para os agricultores dentre as possibilidades apresentadas. Assim, tomando este caso como exemplo, é apresentado no croqui abaixo o desenho básico de plantio do Pomar Agroflorestal (Figura 1).

Figura 1. Pomar agroflorestal.

Madeira e frutas F2 F2 F2 B3 B3 B2 B2 F2 F2 F2 B3 B3 B2 B2 F3 F3 M2 M2 F1 F1 F1 F2 F2 M1 M1 F1 F1 F1 F3 F1 F1 M2 M2 F1 F3

Frutas grandes e madeira

F2 F2 F2 B2 B3 B3 B2 Biomassa e frutas F2 F2 F1 M1 M1 F1 F1 3 metros 2 metr os

Tabela 2. Quantidade relativa dos elementos dos grupos funcionais utilizados

Grupos Espaçamento Densidade

B1 À vontade B2 6 x 8 208 B3 6 x 8 208 F1 4 x 6 417 F2 4 x 6 417 F2 12 x 8 104 F3 12 x 8 104 M1 12 x 8 104 M2 Total Biomassa Total F1 Total F2 e F3 Total Madeiras Total Total 12 x 8 104 417 417 625 208 1.667

Na Tabela 2 a seguir é apresentada a quantidade relativa de elementos de cada grupo funcional.

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