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Fortalecimento do uso de Sistemas Agroflorestais como alternativa de produção sustentável no Assentamento

Sepé Tiaraju

Cooperativa Agroecológica de Manejo e Conservação da Biodiver- sidade dos Agricultores Familiares do Assentamento Sepé Tiaraju (Cooperecos)

O Assentamento Sepé Tiaraju está localizado no interior de São Paulo entre os municípios de Serrana e Serra Azul, na região de Ribeirão Preto. Foi criado pelo Incra como um PDS para aliar a reforma agrária com a sustentabilidade e conservação dos recursos naturais. O local é o primeiro do estado de São Paulo que contou, desde sua criação, com um Plano de Manejo Sustentável, na qual concilia a produção com a recuperação de áreas degradadas pela monocultura canavieira, a preservação de espécies nativas e a proteção de recursos hídricos (CAMARGO et al., 2014).

Este pioneirismo gerou desde o início do assentamento uma parceria com a Embrapa Meio Ambiente e a Associação Ecológica e Cultural Pau Brasil para a implantação de um Centro Irradiador de manejo da Agrobiodiversidade (Projeto Cimas), com atividades como a realização de um Diagnóstico Agroflorestal no assentamento, a implantação de uma Unidade de Observação Participativa em SAFs e a realização de vários cursos e “dias de campo” sobre o tema (RAMOS FILHO et al., 2010).

Como parte das ações de parceria, a Embrapa começou a atuar junto aos assentados e líderes do MST, realizando um diagnóstico participativo, no qual foram avaliados parâmetros relativos à situação da vegetação nativa, solos e água. Essas ações culminaram na criação, em 2005, de

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

uma unidade Experimental de SAF, implantada em uma área coletiva do assentamento (RAMOS FILHO et al., 2010). Após alguns anos dessa iniciativa, foi possível notar que alguns agricultores internalizaram os princípios agroflorestais e implantaram agroflorestas em seus lotes.

Com o objetivo de expandir as áreas de SAF dentro do assentamento, a Cooperecos (Cooperativa Agroecológica de Manejo e Conservação da Biodiversidade dos Agricultores Familiares do Assentamento Sepé Tiaraju) teve seu projeto submetido e selecionado no 2º Edital do PDRS- SMA em 2014. O projeto contou com parceria da Embrapa, Unesp, UFSCar e IBS (Instituto BioSistêmico).

O projeto intitulado “Fortalecimento do uso de Sistemas Agroflorestais como alternativa de produção sustentável no Assentamento Sepé Tiaraju” tinha como objetivo a implantação de 21,86 ha e enriquecimento de 3,5 ha de SAFs já existentes, beneficiando 35 famílias. Além disso, foram previstas diversas melhorias em três barracões de pós colheita e o fortalecimento técnico administrativo da Cooperativa, com aquisição de veículo utilitário, computadores, impressoras e mesas.

As parcerias firmadas para este projeto foram fundamentais para o desenvolvimento e alcance das metas estabelecidas. As parcerias institucionais com os órgãos públicos que já tinham trabalhos dentro do assentamento, no caso Embrapa, Unesp e UFSCar foram as responsáveis por delinear e escrever o projeto junto com os agricultores.

O desenvolvimento da gestão do projeto ocorreu por meio da criação de um Grupo Gestor, formado por agricultores representantes das Cooperativas parceiras, Pesquisadores da Embrapa, UFSCar, Unesp– Jaboticabal, IBS, CBRN/SMA e Consultoria técnica contratada – Mutirão Agroflorestal. Cada ator dentre esse rol de instituições possuía um papel bem definido de atuação dentro do projeto e a fim de facilitar o trabalho criaram subgrupos para a distribuição das tarefas de logística e planejamento de implantação, orçamentos, compras e assessoria técnica.

Grande parte das demandas era resolvida em reuniões realizadas quinzenalmente e as decisões de ordem geral e comunicados eram repassados nas Assembleias Gerais realizadas mensalmente. Este

esquema de trabalho foi fundamental para o bom desenvolvimento do projeto, pois se formou um grupo bastante multidisciplinar em suas atribuições, sempre havendo muito comprometimento e respeito entre os integrantes.

Em relação às capacitações, no escopo do projeto estavam previstos cursos, treinamentos em implantação e manejo de SAF, visitas a outras experiências e dias de campo.

Apesar de haver parceiros no projeto com experiência em SAFs e uma assistência técnica oficial para todo assentamento, prestada até então pelo IBS, percebeu-se que haveria necessidade de um agente contratado especificamente para auxiliar certas demandas técnicas, em especial as capacitações e desenhos dos SAF (Figuras 5 e 6). Com o intuito de suprir essa necessidade foi realizada a contratação de uma Consultoria Técnica especializada em SAFs. As principais demandas desta consultoria seriam, portanto, a realização de Oficinas para os desenhos individuais de cada lote, focando nas espécies que os próprios agricultores escolhessem, treinamentos e a prestação assistência técnica lote a lote aos agricultores participantes do projeto no decorrer dos dois anos.

Figura 6. Oficina desenho de SAF. Figura 5. Oficina desenho de SAF.

Cabe salientar que a experiência da consultoria contratada foi de grande importância para as oficinas de criação dos desenhos de SAF,

Foto: Edson A. Rodrigues Filho (CBRN/SMA)

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

visto que a opção do projeto foi para que cada agricultor tivesse seu próprio desenho, a partir das espécies que ele escolhesse. Com isso os consultores montaram os desenhos focando na distribuição espacial no lote, posição das linhas e função ecológica de cada espécie. Toda essa etapa foi realizada de forma participativa, com objetivo de que o agricultor se empoderasse do desenho de SAF em seu lote.

Com relação às capacitações de implantação e manejo de SAF focou- se na abordagem dos conceitos agroflorestais na prática, por meio de visitas técnicas e dias de campo em lotes de agricultores que já haviam implantado experiências de SAF ou em áreas de SAFs da Fazenda São Luiz em São Joaquim da Barra-SP.

Em alguns lotes os plantios foram feitos por meio de mutirões (Figuras 07 e 08).

Figura 8. Mutirão de implantação –

2016.

Figura 7. Mutirão de Implantação –

2015.

Foto: Edson A. Rodrigues Filho (CBRN/SMA)

Foto: Edson A. Rodrigues Filho (CBRN/SMA)

As experiências obtidas com o projeto consolidam a vocação agroecológica do Sepé Tiaraju. Após, um extenso processo político conduzido pelos agricultores, lideranças e inúmeros parceiros, tem- se hoje uma ampla rede de instituições atuantes e focadas na difusão participativa dos conceitos agroecológicos junto aos agricultores.

Implantação e Enriquecimento de SAFs no Assentamento