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Segundo informações constantes na página de internet AGENDAMUS (2017):

O Mutirão Agroflorestal “é um movimento iniciado em 1996 a partir do contato com as ideias e princípios trazidos por Ernst Götsch, agricultor suíço, pesquisador e difusor das ideias da Agrofloresta sucessional e da Agricultura sintrópica. Pessoas diversas se encontraram para “aprender fazendo” e seguiram juntos compartilhando sonhos e ações, produzindo alimentos nas agroflorestas e espalhando esta semente.

Trata-se de um trabalho coletivo, que se realiza através de mutirões, cursos, processos de formação, consultorias, produzindo alimentos nas agroflorestas e espalhando esta semente. De acordo, ainda, com informações da página AGENDAMUS (2017):

Em 2003 foi fundada uma ONG com mesmo nome que segue atuando espalhada no Brasil, unindo profissionais comprometidos e atuantes na educação, pesquisa, comunicação e produção agroflorestal, sempre baseada em mutirões e processos coletivos.

A motivação para a formação do movimento foi aprender praticando a observação, exercitando a percepção, com muitas experimentações e sempre realizando uma riquíssima troca de experiências. O Mutirão é um grupo com organização e dinâmica próprias que desde o início trabalha de forma autogestionária. O que mantém o grupo unido é a cumplicidade no caminho da utopia real que é a Agrofloresta e o amor incondicional que enxergamos na natureza e passamos a viver em nossas relações. Nos momentos de inspiração todos estão juntos criando, experimentando, aprendendo, ensinando, cultivando a terra e colhendo frutos e nos momentos de expiração os componentes do grupo estão separados, cada um espalhando a semente da Agrofloresta em diversos lugares do Brasil e do mundo.

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

Diversos membros do Mutirão já trabalhavam com Extensão Rural e Educação Ambiental e a metodologia desenvolvida pelo grupo pode contribuir muito para trabalhos de extensão agroflorestal. A adoção do método de “aprender fazendo” gera o aprendizado a partir da aplicação dos conceitos em diversos contextos, a partir da realidade local e dos anseios dos agricultores, num processo construtivista e dialógico. A observação dos resultados das ações práticas torna vivo o conhecimento. Nas palavras de Pinho (2008):

É necessária a criação de um novo processo educativo que sempre ocorra no coletivo, e que, portanto, o diálogo seja a atividade pedagógica fundamental, favorecendo a reflexão cooperativa, a observação da experiência vivida, e a busca da melhoria da comunicação entre os interlocutores e a produção de percepções e ideias novas.

Entendemos que a Agrofloresta faz parte de um contexto bastante amplo, que abrange aspectos ambientais, socioculturais, econômicos, políticos e filosóficos. Trata-se de uma postura de relação com a natureza e a sociedade, dentro de uma nova ordem socioeconômica, onde as relações sociais mais igualitárias entre homens e mulheres, a economia solidária, a reforma agrária, a justiça social e a organização comunitária são tão importantes quanto os conhecimentos técnicos.

Todas as atividades do Mutirão tentam contemplar as

[…] diferentes formas e dimensões do saber humano: de conhecimento científico, tecnológico, filosófico, artístico (arte também se conhece, quando se pratica ou não) e de um conhecimento ainda mais propriamente espiritual, de conhecimento místico, confessadamente religioso ou não (BRANDÃO et al., 1998) […]

para propiciar a transformação integral do ser humano, onde o aprendizado transcende a formação técnica em Agrofloresta. O Mutirão promove aprendizados em relação às práticas agroflorestais, além de processos participativos de gestão de grupos, metodologias para compartilhar os

conhecimentos adquiridos e, principalmente, contribui para a construção de valores e princípios éticos mais profundos (PINHO, 2008).

A formação de grupos como o “Mutirão” cria vínculos entre indivíduos com identidades comuns, possibilita a sinergia, a cooperação, a integração, tanto de esforços quanto de conhecimentos, e a ampliação da capacidade e potencialidade das atividades e das pessoas. Todas as formas de parceria como associações, cooperativas e grupos possibilitam a convergência para determinado objetivo, fortalecendo as ideias e as ações. As redes entre organizações e pessoas desempenham função de grande importância para as Sociedades Sustentáveis ao fortalecer os movimentos e conectar informações e atividades, embasando o movimento transformador. Educar para um outro mundo possível é educar para ter uma relação sustentável com todos os seres da Terra, sejam eles humanos ou não (GADOTTI, 2006).

O Mutirão, ao longo dos vinte anos de atuação, tem desenvolvido trabalhos com diversos públicos, sempre usando os mutirões agroflorestais como eixo dos processos educativos. Nos trabalhos de formação de técnicos, agricultores e estudantes, em cursos e acompanhamentos, os mutirões tomam papel chave para a construção do conhecimento e a união das pessoas em cooperação. Com crianças e adolescentes o trabalho coletivo e a integração à natureza promovem, juntos, um envolvimento muito forte com a Terra e com o grupo, transformando e gerando oportunidades para as gerações futuras criarem outras relações com o planeta e a sociedade.

A Arte esteve sempre presente nas atividades educativas do Mutirão e se integra completamente como estratégia importante no fazer pedagógico. Penereiro (2013) afirma:

A partir da Arte emerge o olhar transdisciplinar, uma vez que emergem compreensões que transcendem o racional, o mental. A arte expõe a subjetividade em sua complexidade, emerge o conhecimento não fragmentado, com as emoções, os sentidos de significados, a essência de um aprendizado significativo.

Sistemas Agroflorestais: experiências e reflexões

Nos mutirões, o teatro, as músicas, as danças circulares, as poesias e as dinâmicas ganham enorme importância em vários aspectos: sensibilização, integração, vivência, compartilhamento das experiências, avaliação, representação, reflexão, entre tantas outras vertentes da aprendizagem. A arte desperta a união mente – corpo – espírito – alma e contribui para a visão integral. “O fazer integra-se ao sentir, o que estimula o pensar, e uma inteireza na ação do aprender se estabelece” (BRANDÃO et al., 1998).

Em um dos mutirões foi criada uma música (paródia do MST) que descreve as etapas do mutirão com alegria e significado. Essa é uma das músicas que vem sendo usada em cursos, mutirões e palestras:

MUTIRÃO & FESTA Só só sai

Só sai agrofloresta Quando houver Mutirão e muita festa

Nossa primeira tarefa é observar

Com a capina seletiva as nativas vão ficar Nossa segunda tarefa é plantar

Semente muda e estaca para a vida semear Nossa terceira tarefa é manejar

O capim e as pioneiras muita vida vão nos dar E a nossa quarta tarefa é difundir

Agrofloresta prá criança e o produtor poder sorrir E a nossa quinta tarefa é praticar

Produzir agrofloresta e a natureza conservar

Diversos projetos e instituições trabalham a partir de mutirões como forma estrutural de formação e organização, dentre elas o consagrado trabalho da Cooperafloresta em Barra do Turvo, SP. Segundo Corrêa Neto et al. (2016)

O resgate dos mutirões, uma prática tradicional na cultura local, tem contribuído de forma decisiva para tornar os valores da solidariedade, ajuda mútua e da construção coletiva do conhecimento a base da organização da Cooperafloresta. No âmbito do PDRS (Projetos de Desenvolvimento Rural Sustentável) promovido pela SMA/SP (Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo), alguns projetos conduziram os processos de implantação de Sistemas Agroflorestais e formação dos agricultores através de mutirões. No Assentamento Sepé Tiaraju em Serra Azul/SP, em projeto do PDRS acompanhado pela ONG Mutirão Agroflorestal, o processo de implantação das áreas se deu através de mutirões, formados por grupos de agricultores, técnicos e estudantes em sinergia. Um processo muito rico que envolve a eficiência dos plantios, as trocas, a construção do conhecimento, o empoderamento e a união. Alguns grupos dentro do Assentamento mantiveram a prática dos mutirões constantemente mantendo-se fortalecidos e unidos pela Agrofloresta.

Agrofloresta nas escolas e grupos de jovens urbanos em