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I - E sobre os outros? Houve assim algumas ideias sobre si própria e sobre os outros que acha que a terapia lhe

trouxe?

P1 - Sobre mim... só aquelas coisas... como é que tá a dizer, os 7 anos de vida que tens, a criança, não sei como

dizer... Que conta o meio onde cresceste... o meio...

I – A M. cresceu sobre o medo?

P1 – Não, não , não medo. Não sei como é que explicar eu... Como eu fui crescida na casa pia, como dizer casa

pia, não sei é uma casa...

I – Eu conheço a casa pia... P1 – Não há aqui.

I - Há, há. Não, mas em Lisboa. P1 – Não.

I – Não é a casa pia.

P1 – Não, eu só quero dizer como são aquelas crianças. Como é que se chama onde... I – Um orfanato?

P1 – Um orfanato. I – Crianças. P1 – Abandonados.

I – A M. cresceu numa instituição.

P1 – Sim, isto te trás, não sei, não é para toda a gente eu tenho outras colegas que foram comigo e não me

parecia assim como eu... só aquele meio... não sei como explicar... I – Tente-me fazer com gestos.

P1 - Aquele sitio te dá... vai ficar toda a vida contigo, vai...

I - Uma ideia que retirou é que a instituição onde a M. cresceu vai estar sempre consigo, dentro de si. P1 - Sim... não sei como a senhorita Dr.ª T1 sabia como...

I – Não precisa de dizer tal e qual como ela disse. Basta dizer aquilo que achou, aquilo que acha que ela tentou dizer.

P1 – Eu queria dizer que...

I – Ou seja, que a instituição, de alguma forma...

P1 – Aquela forma de vida me vai acompanhar toda a minha vida. I - E que forma de vida era essa, só para eu perceber.

P1 - Sempre com trabalho, sempre para estar tudo em ordem. I - Na instituição era assim, tinha que estar tudo em ordem.

P1 - Sim, queria estar eu mais desarrumada, queira estar eu mais... como dizer, para não ficar sempre com as

coisas como deve ser.

I – Queria ficar sempre com as coisas como deve ser? P1 - Eu sou assim, eu queria estar mais desarrumada, mais... I - Queria estar mais descontraída?

P1 - Sim, sim, para não estar sempre. Acho que isso não é assim muito bom para mim. I – E acha que isso vem desde a altura da instituição?

P1 – Ah, sim. Isto queria dizer. Na minha vida. I - Tem estado sempre presente.

P1 - Sim, sim.

I – E isso é que a faz estar sempre arrumada e a querer as coisas sempre organizadas? P1 – Sim, sim, sim, sim...

I - Isso foi uma ideia da terapia?

P1 – Sim, para saber que de lá só assim para ajudar todas as coisas assim, para agradar as pessoas, para ficar

toda a gente contente.

I - Para agradar aos outros... quase arranjar as coisas e trata tudo bem para os outros valorizarem e gostarem.

Isso foi a psicoterapia que trouxe, essa ideia?

P1 – Sim, sim, esta ideia.

I - O significado quase, dar significado, o sentido.

P1 - É, aquele sentido. Que nunca me pensava que estas coisas me vão... acompanhar assim. I - Houve mais alguma coisa que retirou? ... Não está a ver?

P1 - Não, não.

I - Ideias que tenha retirado da terapia... e os outros chamarem a atenção para, ou seja,... chamarem a atenção

para uma mudança que tenha acontecido com a M., alguém conseguiu perceber que havia uma mudança em si, estas mudanças que a M. fala os outros perceberam, disseram?

P1 – Sim, o meu marido, o meu filho. I – Ai é?

P1 - Eles me disseram que sou mais calma, não mais sou assim, sempre... nervosa com eles, ah... tenho vontade

de esperar para escutar eles, sempre quando chegava em casa ia tomava banho, ia olhar na televisão, nunca estava, o meu filho sempre chamava mãe e eu não estava lá... agora ele está a dizer que sou diferente, olha mãe viste que foi bom para ir fazer terapia com a senhorita Dr.ª T1... e gostaram e eu com tempo pensei quando vou ter eu mais um dinheiro assim, eu queria fazer esta terapia com a senhorita Dr.ª T1 agora...

I - Quê, durante mais tempo? P1 - Sim, para durar mais tempo. I - Mas achou que foi pouco, é isso?

P1 – Não, só para ter, como dizer... eu penso que preciso de alguém para ter assim na minha cabeça... que tenho

alguém que me pode ajudar... com uma palavra.

I – E até gostava de ter uma terapia mais longa para ter alguém assim que a acompanhasse a pensar nas sua

coisas.

P1 – Sim, sim. Se preciso de alguém para me ajudar, ou falar de, se tenho algum problema assim, para me

ajudar com palavras.

I – E para além das mudanças que a M. falou, que o seu marido e o seu filho identificaram, houve assim mais

alguma que não tenha dito?

P1 - A minha colega diz que sou mais calma assim, que não me importo que quando ela chega e me está a dizer

que a minha patroa deixou umas calças que eu passei e não estava bem passadas, e antes estava preocupada, ansiosa porque me deu as calças, agora sou muito calma, deixa lá que passo.

I - Hum, hum... mais relaxada?

P1 – Sim, mais relaxada... o que se passa contigo ela diz, estás muito... ela viu que sou diferente. Nada... estou

bem.

I - Ou seja, várias pessoas identificaram isso?

P1 – Identificaram, estou mais tranquila, mais calma, não me incomoda quando ... que eu sempre que me

chamava ficava ansiosa... não fez bem, não passei bem as calças ou camisa do senhor ou... agora não, não me preocupei deixa lá que passo... e ela fica assim olhando, o que é que se passa M. Nada, estou bem, deixa lá que passo quando tiver tempo passo.

I - E houve assim mais alguma?

P1 - Não tive... só o meu marido, o meu filho. I - Ok, mesmo assim já foi muita coisa... P1 – É.

I – M. agora queria fazer uma coisa consigo, que era anotarmos as mudanças que falou neste bocadinho,

anotarmos as várias mudanças que a M. apontou. Vamos recapitular e pôr as mudanças, cada uma em cada numerozinho. Então, gostaria de começar por qual?

P1 - Aquela com o meu filho, de estar com o meu filho... tempo para estar com o meu filho. I - Tempo e vontade, ou vontade também tinha antes, ou não?

P1 - Não tinha, não tinha vontade para ninguém. I - Tempo e vontade para estar com o filho, não é?

P1 - Sim, para brincar... Agora com o meu marido, não sei como é que fazer as palavras... I – Diga-me só a ideia que eu posso ajudá-la.

P1 – Que comecei, consegui ter uma comunicação melhor...

I - Um melhor diálogo com o marido... Ou seja, exprimir aquilo que sente, tem a ver com isso? P1 - Sim, é isso.

I - Está bom assim? Outra... A M. também tinha falado duma que era o gostar mais de si própria. P1 – Sim.

I - Quer pôr, ou não? Ou não lhe az sentido pôr?

P1 – Sim, pode pôr. Penso que toda a gente precisa de gostar de si própria se quer gostar de outras pessoas. I - Claro, é mesmo.

P1 - Se não gostas tu, ninguém vai gostar.

I – Sim, acho que isso faz algum sentido não é M., acho que é muito importante cuidar de si... gostar mais de si

própria... A M. também falou de uma mudança, mas não sei até que ponto quer referi-la, que era aquela de estar mais calma, que as pessoas dizem que está mais calma, menos irritada...

P1 – Consegui.

I - Acha que isso é uma mudança que faz sentido pôr? P1 - É, faz, faz, é precisa.

I - Sente-se mais calma?

P1 – Sim, mais calma, não tenho aquela... tinha aqui sempre no estômago uma coisa que não me deixava assim

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