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182 telefonista do Centro de Emprego.

I: Hum, hum.

P4: Levava ela todos os dias para o Centro de Emprego. I: Hum, hum...

P4: Para o trabalho. Ia-lhe buscar. Ficava no meu trabalho. Até eu despachar para eu trazer ela para casa e ainda para ir às compras, para fazer tudo, ainda para vir para casa fazer as minhas coisas. Nunca me cansei de ajudar as pessoas.

I: Hum, hum. E os outros vêem isso.

P4: Vêem isso, por acaso sabem, vêem e dizem mesmo, comentam mesmo, dizem “a P4 gosta de ajudar e de apoiar as pessoas” e por acaso eu gosto (ri-se).

também é reconhecida pelos outros.

I: E diga-me uma coisa, se pudesse mudar alguma coisa em si, mudaria alguma coisa?

P4: Mudaria sim. I: Então?

P4: É assim, eu mudaria também em ser um bocadinho mais... não sei como hei-de dizer. Porque também sou muito, hum... meiga, muito coiso, também queria ser um bocadinho mais forte para eu ser um bocadinho autoritária comigo mesma, para começar também a levar as coisas e a ver de outra maneira, da maneira que eu via dantes com as pessoas.

I: Hum, hum.

P4: Quero ver também de outra maneira. A pensar primeiro em mim e a começar a gostar mais primeiro de mim e depois gostar dos outros. Porque eu sempre gostei mais dos outros do que de mim.

I: Hum.

P4: Sempre fui uma pessoa que não pensava em mim, só pensava nos outros. Nos outros. E eu quero mudar isso feitio que eu tenho.

I: Gostava de pensar mais em si e sentir-se bem consigo. P4: Sim, comigo, e depois ajudar os outros.

I: Hum, hum.

P4: Não vou dizer que não vou ajudar. Não vou ser aquela P4 que não ajudava, ajudo, mas também não é da maneira que eu fico prejudicada. I: Hum. Às vezes prejudicava-se.

P4: Sim, muitas vezes fico prejudicada em ajudar. Depois sinto na altura às vezes que eu preciso, na altura que eu tive esse problema, algumas pessoas me deram costas. Nem todas mas algumas eu senti.

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P4 refere que uma mudança que gostaria de alcançar remete para um maior investimento em si mesma, não estando tão disponível para os outros que, de certo modo, comprometiam o estar mais centrada em si e nas suas necessidades.

Eu até cheguei de falar com algumas, cheguei a dizer porque eu sou uma pessoa que eu sou frontal, digo na cara. Aquilo que eu tenho para dizer, aquilo que eu sinto, parece que eu penso e penso alto, porque sai tudo para fora, não fica cá dentro porque eu não gosto de guardar mágoas nem rancores. Gosto de dizer.

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P4 diz que para não se permitir a reprimir sentimentos assume uma postura sincera e honesta com os outros dizendo-lhes o que pensa. Sei que muita gente, na altura que me aconteceu aquilo, muita gente

me virou as costas, começaram-me a ver de outra maneira e em vez de me apoiarem como eu apoiava as pessoas.

I: Hum, hum.

P4: Por isso quero mudar isso. Eu quero. Não quero ser, quero pensar primeiro em mim, gostar de mim, dos meus filhos, depois os outros vêm a seguir.

I: Hum, hum.

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P4 refere que na altura em que precisou da ajuda de algumas pessoas estas não a apoiaram sentindo de alguma forma que estas não tiveram

P4: Mas dantes, deixava os meus filhos dentro de casa, todos pequeninhos, com o F. que foi disso também que a minha relação começou a ter problemas. Porque eu saio para ir ajudar as pessoas quando têm festas, tem isto, tem aquilo, vou desde Sexta, venho só no Sábado. Deixo a minha família, deixo tudo. Eu também às vezes sinto uma bocadinho culpada nessas coisas. Sinto um bocadinho culpada porque ele fica em casa sozinho. E ele tem tempo para fazer tudo aquilo que ele quer.

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P4 menciona que o facto de estar sempre disponível para os outros comprometia a sua dinâmica familiar o que resultava no

surgimento de alguma

culpabilidade. Também eu gosto de ser sincera naquilo, quando acontece as coisas 32

gosto de dizer, é isso que eu disse lá na GNR quando eu fui, eu disse tudo. Eles disseram “mas você é sincera, você diz as coisas”, eu disse “não, eu digo as coisas quando for no tribunal para não mentir, porque eu gosto de dizer a verdade.” Se eu faço mal digo que faço mal. Se eu faço bem também digo que faço bem.

P4 refere que assume uma postura honesta e sincera afirmando reconhecer tanto quando faz as coisas de forma correta como quando tem atitudes menos corretas.

I: E nessas coisas é que se sentia prejudicada, quando deixava os seus filhos com o seu marido em casa porque pensava mais nos outros e em ajudar os outros.

P4: Sim, nos outros.

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P4 diz que estando mais disponível para os outros acabava por prejudicar o bem-estar e as necessidades dos seus filhos e marido.

I: Também me falou no ser forte. Pode-me explicar um bocadinho isso do ser forte, P4?

P4: Pronto, quero ser mais forte do que aquilo que era dantes porque o meu coração nunca diz que não.

I: Custa-lhe dizer que não às pessoas.

P4: Custa. Mesmo que eu não tenha tempo, custa-me dizer. Alguém me diz “P4, depois faz-me isso” eu tenho que deixar as minhas coisas, às vezes saio do trabalho um bocadinho mais cedo, faço o trabalho a correr (25:45 ?) as costas também.

I: Hum, hum.

P4: Saio do trabalho a correr, chamam-me para aqui, já aconteceu isto, já aconteceu aquilo, saio a correr. Deixo o trabalho, saio a correr atrás das pessoas.

I: Então o ser forte tem a ver com isto, é isso? P4: Sim.

I: Com o dizer que não.

P4: Que não. Tenho que começar também a dizer “não posso.” Não é dizer, assim, “não faço.” É “agora não posso.” Pelo menos para começar assim com o “agora não posso.”

I: Sim.

P4: Depois, mais tarde começar no “não”, mesmo “não.” Porque não consigo dizer “não, não.” Porque a minha irmã também me diz, mesmo a minha irmã já diz mesmo “não, não.” Mas eu sou diferente. Aquilo que eu digo que eu não faço, que eu não ajudo, é aquilo que eu faço mesmo.

I: Hum, hum.

P4: Que eu ajudo. Se eu disser “ah, não vou ajudar, não vou fazer, não vou fazer” só faço barulho.

I: Sim...

P4: Eu chego e faço. Mas tenho que começar a fazer menos.

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P4 afirma que outra mudança que gostaria de alcançar prende-se com o trabalhar a capacidade de dizer que não aos outros, assumindo uma postura mais rígida.

I: Então dado essa questão, não é? Há assim mais alguma coisa que mudava? Para além disto.

P4: É isso e também do meu marido, também. I: Como assim?

P4: Hum... Tenho que mudar também, pronto daquilo que ele às vezes me diz. E eu digo “ah fizeste isso, e fizeste aquilo, não sei quê” e ele diz que não e eu acredito muito nele. Tenho que mudar também é acreditar naquilo que ele me diz.

I: Hum.

P4: Que às vezes ele me diz “é mentira” e afinal as coisas são verdade. Eu acredito sempre nele mas depois venho a saber que aquilo que ele diz que é mentira é sempre a verdade.

I: Hum, hum.

P4: tenho que mudar nisto também com ele e começar também a impor com ele, também.

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P4 refere que a sua atitude para com o seu marido já mudou no sentido em que já começa a questionar o que o este lhe diz ou conta, o que antes não acontecia pois acreditava e aceitava tudo sem questionar. Menciona que apesar de já se impôr quer que este mudança seja ainda mais acentuada, que é uma coisa que vai continuar a trabalhar.

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