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184 P4: Dúvidas Não quero mais acreditar mais nele.

I: Não.

P4: Não.

I: E isso já mudou. Ou quer ainda mudar?

P4: Quero mudar ainda mais. Já estou a começar a mudar. Mas quero mudar ainda mais.

I: Hum, hum.

P4: (Silêncio). Eu não quero estar a pensar só nele, nem naquilo que ele faz. Quero pensar em mim. E já cheguei de ter essa conversa com ele. “Agora não penso mais em ti e nas tuas coisas que tu fazes, porque isso está-me só a prejudicar, só a me pôr a fazer mal a mim mesma, por isso antes de eu gostar mais de ti, vou gostar mais da minha pessoa, depois é que gosto de ti.” Porque com ele também é a mesma coisa. Gostar mais dele do que propriamente de mim.

I: Hum, hum.

P4: Fazia tudo o que ele queria que eu fizesse. Tudo o que ele me pedia, fazia. “Vai-me ali, trata-me deste documento, trata-me daquilo,” tudo, tudo, tudo. Eu é que tratava de tudo. Eu disse “agora, anda pelas tuas pernas, com os teus pés, vai, que agora eu estou doente da coluna e ninguém está-me a ajudar.”

I: Hum, hum.

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P4 refere que atualmente tem uma atitude mais centrada em si mesma, pensando primeiro em si e depois no marido, tendo em conta as suas necessidades e vontades e só depois as do marido, também no sentido de reeducar o marido na sua independência.

P4: Por andar, por correr. Andava em Local B parecia uma maria maluca. Sempre a correr para trás e para a frente porque estou no trabalho estão-me a chamar, estou a sair, a correr, apanho o carro, vou para ali, vou para Local C em todo o lado.

I: Hum.

P4: A P4 está metida em todo o lado. Depois as pessoas são assim: quando eu digo que sim, que faço, eu sou amiga. Mas quando não faço, já não sou amiga. Por isso é que disse, eu tenho essas coisas e tentei não ligar, fazia tudo. Fazia, dizia “deixa estar” para as pessoas não levarem a mal, mas só que agora eu não quero ser aquela P4 que eu era dantes. Eu não quero magoar ninguém, não quero fazer mal a ninguém. Quero ser amiga de todos, mas tem que ser também da minha maneira, não é da maneira deles.

I: Hum, hum.

P4: Porque eu sempre fui um pau mandado. Agora não pode ser. Não vou ser a mesma pessoa.

I: Então tem a ver com esta questão do dizer que “não”, e de pensar em si.

P4: Sim, sim.

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P4 refere que sempre esteve disponível para o outro, para apoiar o outro, mas que este facto começou a interferir com as suas necessidades e que agora, numa mudança de atitude para com os outros e consigo mesma, pensa primeiro em si, continuando a ajudar e a estar disponível para o outro mas à sua maneira.

I: Ok. Entretanto queria-lhe perguntar, hum, caso existam, que mudanças é que viu em si desde o inicio da terapia até ao final da terapia. Ou seja, o que é mudou na P4?

P4: Para mim mudou tudo. (Ri-se). I: Sim.

P4: Eu já não me vestia como deve de ser. Vestia toda mal vestida. Às vezes até tinha casacos rasgados com o armário todo cheio de roupa para vestir, não queria saber de vestir. Só fazia a minha higiene. A minha higiene nunca deixei de fazer.

I: Hum, hum.

P4: Mas vestir, comecei a vestir muito mal. Comecei a meter lenço na cabeça, parecia aquelas malucas que andavam com (30:09 ?)

I: Hum.

P4: Mas, mudou-me bastante isso. Que eu agora estou a sentir mesmo que eu estou outra P4, estou-me a vestir, estou, estou...

I: A cuidar de si. P4: Sim.

I: Então isso é uma mudança que a P4 vê. P4: Sim.

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P4 refere que por estado em terapia que tudo mudou na sua vida revelando que naquela fase da sua vida deixou de cuidar de si, não manifestando preocupação com a sua imagem.

outra forma, sente as coisas de outra forma? P4: Sim, sim.

I: Gostava de que me dissesse, uma a uma, as mudanças que vê em si. P4: Então, eu já não queria nem saber da minha casa.

I: Hum, hum.

P4: Que eu sempre gostei de ter a minha casa toda arrumadinha, toda limpinha, toda coiso, e não queria saber, os miúdos é que faziam tudo. I: Hum.

P4: Comecei agora a gostar da minha casa, a querer estar dentro da minha casa.

I: Hum, hum.

P4: Dantes não queria estar dentro de casa porque tinha fobia. Parecia que ouvia vozes e via vultos dentro de casa. Não queria porque a minha casa parecia uma casa assombrada.

I: Tinha medo.

P4: Tinha medo de estar em casa. À noite então não conseguia dormir. O G. é que era, coiso que... eu tinha que ir... como é que se diz? Quando sentia medo, em vez de eu acolher o G., o G. é que me acolhia. Ficava comigo, é que me agarrava. Parecia que ele é que era meu pai em vez de eu ser a mãe dele. Porque eu não conseguia dormir e ia buscar ele na cama dele e metia ele comigo, agarradinho a mim para dormir e ele “mãe, dorme, dorme.” Até a Dr.ª T2 me disse que isso faz mal ao G. porque ele também está na psicologia. Que ele assim sente- se que ele é que é o meu pai, que não pode ser. Que ele ainda é pequeninho. Depois comecei a habituar, a habituar, a habituar, lá consegui.

I: E agora já não tem este medo.

P4: Não, não. Não tenho. Durmo dentro de casa, pode ser sozinha. Não podia nem ficar dentro de casa sozinha.

I: Hum, hum.

P4: Agora deito, durmo. De dia também, se eu quiser dormir, durmo. Dantes nem para dormir durante o dia. Não dormia nem de dia nem de noite.

I: Hum, hum. P4: Por acaso...

I: Acaba por ser muito diferente, não é? E mais coisas? Que possam ter a ver com o agir, o pensar. De outra forma.

P4 identifica que adoptou uma atitude de desleixo no cuidar da sua casa, não revelando preocupação em arrumá-la ou limpá-la, estando estas tarefas a cargo dos seus filhos. Refere ainda que durante aquele período sentia medo da sua própria casa não conseguindo estar sozinha nem dormir sozinha. Dormi com o filho mais novo concluindo que não era uma atitude adequada que o estava a afectar.

P4: Não pensei mais em fazer mal a mim mesma. I: Hum, hum.

P4: Não fiz mal aos meus filhos. Que eu ia fazer. E também mudou-me bastante que eu comecei a compreender que não posso,

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P4 identifica uma nova atitude em que já não sente vontade fazer mal a si mesma nem aos seus filhos. porque eu já estava com rancor do F., só queria-lhe fazer mal.

I: Hum...

P4: Às vezes dava-me na cabeça de dizer “ele está a dormir, agarro numa almofada e ponho em cima da boca dele” como vejo nos filmes! (Ri-se). Já estava a imaginar coisas que eu não podia. Mas depois quando comecei aqui na psicologia é que comecei a ver que as coisas não eram da maneira que eu estou a pensar, tinha que ser de outra maneira.

I: Hum, hum.

P4: Não tinha lógica nenhuma ir tentar fazer mal para uma pessoa depois ir presa, e os meus filhos ficavam sozinhos. Comecei a pensar nisso. Porque eu dizia, comecei a pensar “se eu lhe matar, eu vou presa, os meus filhos ficam sozinhos, para que é que eu vou, que eu nunca fiz mal nem a uma mosca, para que é que eu vou fazer mal às pessoas por causa de uma coisa que já passou?” Para mim, fica aqui dentro, sempre ficar marcado aqui dentro mas quanto mais eu começar a esquecer o

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P4 relata os sentimentos maus que tinha em relação ao marido e também identifica uma vontade de lhe fazer mal, sendo que estas questões se alteraram na terapia onde começou a pensar de outra forma, com outras perspectivas. Identifica que as questões da raiva e vontade de fazer mal ao marido já não estão presentes.

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ainda...

P4: Não, não. Desapareceu.

I: Hum, hum. Esta é outra mudança. P4: É.

I: Há assim mais alguma? Que se lembre... P4: Não.

I: Falou do seu marido, não é? Da questão de lhe querer fazer mal e do rancor que sentia que deixou de acontecer.

P4: Sim.

I: Falou dos seus filhos. Falou do fazer mal aos seus filhos. Isto tinha a ver com o quê?

P4: Eu gritava tanto. I: O gritar.

P4: Tanto com eles, mesmo. Que eles às vezes nem tinham culpa de nada do que se passava, não têm, não é? Mas eu, pronto, tinha que ter um saco de boxe, como dizia o J.

I: Hum, hum.

P4: “Mãe, chega, não sou teu saco de boxe.” I: Sim.

P4: Porque qualquer coisa gritava e era mais para cima dele. I: Hum, hum.

P4: Ele é que estava comigo em casa, os outros iam para a escola. Ia mais para cima dele até que ele chegou e disse “mãe, pára, chega, eu não sou o teu saco de boxe, tu começas a discutir com o pai e depois vens acabar em mim, não pode ser. Se o pai é que te faz mal tens que falar com o pai até vocês se compreenderem um ao outro. Agora não é acabar de falar com o pai, o pai diz as coisas, tu não dizes o que tens a dizer e depois vens rebentar para cima de mim. Chega. Basta.” Foi daí que eu comecei a pensar também “não, chega, não posso estar a mandar para cima do meu filho aquilo que ele não tem nada a ver.” Comecei já com ele, mandava vir com ele, ele me dizia que eu mandava vir com ele, até que realmente ele viu que eu, coiso, começou também a não me responder. O J. disse “pai, não responde à mãe. Quanto menos nós respondermos aquilo que ela diz é melhor para ele e é melhor para nós, assim não há discussão.” Ele começou também a responder, ninguém me respondia, até que eu cheguei um dia e disse “está todo o mundo de mal comigo, ninguém quer falar comigo dentro de casa. Comecei a chorar.” (Ri-se). Depois o G. veio e disse “mãe, anda cá, eu sou teu filho, eles são maus. Eu gosto de ti, eu vou falar contigo sim senhor, eu falo contigo.” “Podes falar com o teu filho, o teu filho vai-te ouvir.” Eu cheguei a dizer, o Fb. não me respondia, o F. não me respondia, o J. não me respondia. Porque o J. diz “mãe como é que tu queres que nós respondemos? Se nós respondemos tu exaltaste. Se não respondemos tu exaltaste. Mas o que é que queres que nós façamos? O nosso coiso é ficar caladinhos e não dizer nada porque não queremos contrariar aquilo que tu dizes.”

I: Hum, hum.

P4: Porque para mim qualquer coisa que eu dizia e eles me respondiam, eu achava que já estava-me a contrariar.

I: Mas eles agora já respondem?

P4: Agora já estamos tudo normal. Já falamos, já rimos. Dentro de casa, brincamos.

I: E já não grita?

P4: Não, não. Eu já não grito (ri-se). Eu falava sempre a gritar, a gritar, mas já não...

I: Sim. Esta foi outra mudança.

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P4 refere que lidava de uma forma agressiva com as situações e nos diálogos com os seus filhos, gritando muito com eles.

A postura destes para consigo alterou-se o que a fez também

entrar num processo de

consciencialização de que estava a adoptar a atitude errada.

Depois disse o fazer mal a si mesma. Que já não quer fazer. O medo de estar em casa. O não tratar da casa e não gostar de estar lá. E o não cuidar de si, ou seja, não se vestia bem, achava que não cuidava bem de si.

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A investigadora faz um resumo das mudanças identificadas por P4 sendo que os outros também

P4: Sim, não cuidava não.

I: Excepto a higiene que isso continuava a tratar. P4: Sim (ri-se).

I: Há assim mais alguma coisa, P4? P4: Hum, não.

identificam mudanças nela, nomeadamente ao nível de cuidar de si, de ser vestir melhor.

I: Não. (Silêncio). Estas são as mudanças que a P4 sente em si. E as outras pessoas foram-lhe dizendo que a P4 mudou em alguma coisa? Que exemplos é que a P4 tem das pessoas mostrarem que a P4 estava diferente. Tem algum?

P4: Tenho, tenho. Agora disseram-me que estou a vestir também melhor.

I: Hum, hum.

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P4 refere que os outros identificam um maior cuidado consigo numa maior preocupação em se vestir.

P4: Quer dizer já estou com outra cara, que eu tinha uma cara que parecia pessoas que estavam com o demónio em cima. Que eu tinha a cara de (37:47 ?), tinha a cara pesada. Que agora tenho a cara mais alegre.

I: Hum, hum.

P4: Que estou aquela P4 que ria sempre com as pessoas.

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Os outros identificam que P4 está mais calma e tranquila o que se reflete também no seu semblante.

E que também não me ouvem a gritar.

I: Falou há pouco da sua vizinha que a ouvia a gritar. P4: É. Sim.

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Os outros identificam ainda menos agressividade na comunicação de P4.

E também na rua, às vezes, passava pelas pessoas, não queria mesmo falar com as pessoas.

I: Hum, hum.

P4: Passava e fingia que não via as pessoas só para não me criticarem. I: Sim.

P4: Só para não me dizerem “ah, não sei quê, o que é que se passou?” e eu às vezes passava, mas agora não.

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P4 refere que antes da terapia não conseguia enfrentar as pessoas por receio das criticas e do que estas pensassem de si mas que agora isso já não acontece.

I: E o que é que as pessoas lhe dizem em relação a isso? Que está diferente em que aspecto?

P4: Em tudo. Eles disseram que eu estou diferente em tudo. Que eu parecia mesmo um demónio em pessoa. Foi o que eles me disseram. I: E como é que é isso?

P4: O demónio em pessoa (ri-se)

I: O que é que eles queriam dizer com isso? P4: Que eu estava mudada, não sei. I: Hum, hum.

P4: Que não estavam a reconhecer. E agora já vêem que eu estou aquela P4 que conheceram sempre, aqui as pessoas que vieram aqui para o bairro, as pessoas que viviam comigo já há vinte e tal anos, também disseram a mesma coisa, que nós não morávamos aqui. I: Disseram que?

P4: Que agora estou mudada. I: E dizem em quê?

P4: Em tudo. Em tudo. I: Dizem assim que é em tudo. P4: Em geral.

I: Não lhe dizem nada especifico?

P4: Que eu estou mais alegre. Que estão-me a ver andar melhor com as pernas, assim que eu estou a andar melhor. Porque agora também já vou até ao Local D. Que não ia.

I: A pé?

P4: Sim, a pé. Que agora já estou a conseguir algum objectivo de ter andado na psicologia, foi o que elas me disseram.

I: Falaram nisso?

P4: Sim. Uma amiga que me disse.

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P4 refere que as pessoas partilham consigo que está melhor em todas as áreas da sua vida, que na altura do problema já não a reconheciam como a pessoa que ela era.

Identificam mudanças tanto ao nível psicológico como físico.

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